terça-feira, 4 de setembro de 2012

Relator e revisor condenam o Rural

Ex-diretores do banco culpados por empréstimos fictícios ao PT

Segundo Joaquim Barbosa, "grupo criminoso organizado" repassou fraudulentamente R$ 32 milhões ao partido e a Marcos Valério

Depois de divergirem abertamente sobre os crimes atribuídos ao petista João Paulo Cunha, o relator Joaquim Barbosa e o revisor Ricardo Lewandowski concordaram ontem em praticamente tudo. Ambos votaram pela condenação de ex-dirigentes do Banco Rural por gestão fraudulenta na concessão de empréstimos fictícios ao PT e a agências de publicidade de Marcos Valério. Lewandowski chegou a dizer que, da forma como foram feitos, os empréstimos "se assemelharam mais a negócio de pai para filho".

Voto de Lewandowski aponta elo de Valério com Banco Rural

Para revisor, operador exercia influência junto a setores do governo

Thiago Herdy

UM JULGAMENTO PARA A HISTÓRIA

BRASÍLIA Ao julgar os ex-dirigentes do Banco Rural, o ministro revisor Ricardo Lewandowski antecipou ontem más notícias para Marcos Valério, apontado pelo Ministério Público Federal como operador do mensalão. Em seu voto, o ministro já adiantou seu julgamento sobre a relação entre o Rural e Valério, atribuindo a ele o papel de "peça chave para exercer influência junto ao governo federal".

A menção reforça a tese do Ministério Público Federal, de que Valério fazia lobby do banco junto ao governo federal e, em troca, a instituição concedia empréstimos irregulares para alimentar o valerioduto. Esse vínculo é destaque na parte da denúncia do MPF que trata do crime de formação de quadrilha.

- As práticas delituosas dos dirigentes (do Banco Rural) restaram evidenciadas sobretudo pela relação promíscua que a cúpula da instituição financeira mantinha com os corréus Marcos Valério, Ramon Hollerbach e Cristiano Paz - especialmente com o primeiro deles. Marcos Valério agia como uma espécie de agente de negócios e de relações públicas do Banco Rural, encarregando-se de intermediar contatos entre a instituição financeira e alguns setores do governo - afirmou Lewandowski.

Bons contatos, bons serviços

O ministro citou depoimento de Kátia Rabello, ex-dirigente do Rural, no qual ela diz que Valério garantia ter bons contatos com o governo federal e, por isso, estaria apto a "prestar bons serviços" à instituição financeira.

- O relacionamento do Banco Rural com as agências de publicidade capitaneadas por Marcos Valério repassava, de longe, uma relação normal, bancária, porque haviam aí, aparentemente, alguns interesses não muito esclarecidos - disse o revisor.

Para reforçar seu argumento, Lewandowski fez referência a encontro intermediado por Valério entre representantes do Banco Rural e do Banco Central. Ofício enviado pelo Banco Central à CPMI dos Correios, que investigou o mensalão, atesta, inclusive, que Marcos Valério participou da reunião. Segundo informou o Banco Central na época, o encontro seria para tratar do interesse no Rural no processo de liquidação do Banco Mercantil de Pernambuco.

O revisor citou ainda outra reunião marcada por Valério nos Correios. Ele teria ido tratar do interesse do Rural na movimentação de recursos pela estatal.

- Inexiste no mercado instituição que atue da forma como a aqui observada. Os bancos não são instituições filantrópicas, cobram caro pelos serviços que prestam. Afigura-se evidente que os empréstimos só foram aprovados em virtude da troca de favores existente entre os dirigentes do Banco Rural e Marcos Valério - concluiu Lewandowski.

Marcos Valério e seus sócios já foram condenados por corrupção ativa e peculato. As penas ainda não estão definidas. Valério ainda poderá receber novas penas, se condenado pelas acusações de lavagem de dinheiro, evasão de divisas e formação de quadrilha.

FONTE: O GLOBO

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