quinta-feira, 27 de setembro de 2012

São Paulo se torna trincheira agora do ex-presidente Lula - Jarbas de Holanda


Numa disputa nacional das prefeituras que se prefigurava meses atrás como consistente passo para o reforçamento do PT nas diversas regiões do país, inclusive nas capitais (que favoreceria a ampliação de sua influência no Congresso e no comando do governo Dilma, bem como para a montagem da sucessão presidencial de 2014), num pleito assim previsto, uma vitória de Lula no embate eleitoral pela prefeitura de São Paulo era avaliada não só pela importância em si mesma mas sobretudo como etapa decisiva da derrubada pelo ex-presidente e seu partido, daqui, a dois anos, da principal trincheira do PSDB e da oposição no país – o governo estadual paulista. Mas, às vésperas do 1º turno desse pleito – e já ao longo dos últimos meses, na montagem das alianças e no encaminhamento das campanhas – o cenário nacional correspondente configura-se contrário a tal reforçamento, e o objetivo tático paulistano está posto em xeque, sob a ameaça de que o candidato do PT seja excluído do 2º turno. Num contexto em que, ao invés da preservação do governo paulista pelos tucanos, é a necessidade de comprovação do peso declinante, de Lula no eleitorado de São Paulo a trincheira a ser defendida.
A relevância atribuída inicialmente a esta disputa foi recuperada – para o campo governista federal e também para a oposição – pelo inesperado desempenho precário dos candidatos do PT e suas alianças em quase todas as capitais, em especial no Recife e em Belo Horizonte. Nesta implicando derrota pessoal da presidente Dilma, que articulou a candidatura do petista Patrus Ananias para confrontar diretamente seu adversário de 2014, Aécio Neves, principal respaldo da de Márcio Lacerda, do PSB, à reeleição. E na capital pernambucana, com a ultrapassagem do petista Humberto Costa pelo candidato do PSDB, Daniel Coelho, para a provável disputa do 2º turno com o líder nas pesquisas, Geraldo Júlio, do PSB, ligado ao governador Eduardo Campos. No novo cenário (da retomada de tal relevância), a eleição de José Serra segue sendo importante para o PSDB paulista e nacional mas sem a dimensão de defesa da “grande trincheira que restará aos tucanos”, como os petistas previam. Enquanto para Lula a vitória de candidato de sua escolha pessoal, Fernando Haddad, ou, ao menos, a passagem dele ao 2º turno, são essenciais, estando bem mais próximas da defesa de uma trincheira política – a do peso de transferência de prestigio eleitoral do ex-presidente.
Por isso, os 11 dias que nos separam do 1º turno serão marcados por intensos e agressivos esforços de Lula, das direções do PT e da presidente Dilma (os dela mais, ou menos agudos, em função das pesquisas) para a passagem de Haddad ao turno final. Esforços que podem estar incluindo pressões para a retirada, em favor do petista, das candidaturas de Paulinho do PDT e de Gabriel Chalita, do PMDB. No caso deste, envolvendo promessas de nomeação para um ministério – o da Educação – que seria um segundo ato do gênero da presidente Dilma, semelhante ao da entrega do ministério da Cultura à ex-prefeita Marta Suplicy. Promessas, ou articulações, negadas veementemente pelo candidato e pela direção nacional do PMDB. E esses esforços terão pela frente o agravamento de um obstáculo que já vem sendo explorado pelo adversário José Serra: o processo do mensalão, com sua chegada à fase do julgamento dos réus do núcleo político – José Dirceu, José Genoíno e Delúbio Soares.

Jarbas de Holanda é jornalista

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