quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Sindicatos em defesa de Lula

Paulo de Tarso Lyra

Os movimentos sociais e os sindicatos vão divulgar uma nota defendendo o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A exemplo do documento divulgado na semana passada pelos partidos da base aliada, a intenção é contrapor-se às acusações de que o ex-presidente seria o verdadeiro chefe do esquema do mensalão. Para não contaminar o debate eleitoral — e evitar que a oposição diga que o protesto está ligado ao pífio desempenho dos candidatos governistas nas eleições municipais —, o manifesto só será divulgado após o primeiro turno das eleições de outubro.

Outro cuidado para não dar brechas às reclamações é evitar a pressa na redação do documento. Segundo apurou o Correio, os articuladores do protesto pretendem procurar o maior número possível de representantes dos movimentos sociais e sindicais, para não repetir as falhas do texto dos partidos, que deixou PR, PP e PTB de fora e ainda foi alvo de críticas por não ter sido amplamente debatido no meio político.

A organização está sendo feita pelo ala do PT ligada aos movimentos sociais e pela Central Única dos Trabalhadores (CUT). Em 2005, quando o escândalo do mensalão estourou e o ex-presidente Lula decidiu viajar pelo país para defender-se das acusações que assolavam seu governo, a CUT foi a primeira entidade a defender abertamente o petista. Criou um botom com a frase: "Lula é meu amigo, mexeu com ele, mexeu comigo", gerando uma dívida de gratidão que o ex-presidente já disse que levará pelo resto de sua vida.

A ação complementar dos movimentos sociais e dos partidos tem como objetivo suprir o silêncio que Lula se impôs após a matéria da revista Veja na qual é apontado, com base em supostos desabafos do empresário Marcos Valério a familiares e amigos, como o principal responsável pelo mensalão. O manifesto conjunto também foi pensado para não deixar o PT isolado na defesa do governo anterior e mostrar a coesão da aliança governista.

Manifesto

Além disso, os aliados do PT pretendem contrapor-se aos partidos de oposição, que defendem a reabertura do caso em primeira instância, incluindo Lula como um dos possíveis investigados. "É um absurdo. Estão fazendo acusações sem base na tentativa de destruir todo o legado social deixado pelo ex-presidente Lula", disse ao Correio o presidente da União da Juventude Socialista (UJS), André Tokarski.

Ontem foi divulgado um manifesto de intelectuais e artistas criticando o tom de euforia da sociedade diante das recentes condenações de réus do mensalão pelos ministros do Supremo Tribunal Federal. Eles esperam que o julgamento não se torne um espetáculo. A maior parte dos signatários tem relação de amizade com o ex-chefe da Casa Civil José Dirceu, que deverá começar a ser julgado na próxima semana por corrupção ativa — ele também é acusado de formação de quadrilha, mas esse capítulo do processo deverá ser analisado em outro momento.

O texto dos intelectuais afirma que "parte da cobertura na mídia e até mesmo reações públicas que atribuem aos ministros (do STF) o papel de heróis nos causam preocupação". O documento prossegue explicitando que "somos contra a transformação do julgamento em espetáculo, sob o risco de se exigir — e alcançar — condenações por uma falsa e forçada exemplaridade. Repudiamos o linchamento público e defendemos a presunção da inocência".

Os signatários — 267 ao todo — afirmam que "a defesa da legalidade é primordial". E completam, apesar do desconforto inicial, que confiam no "senhores ministros, membros do Supremo Tribunal Federal, que saberão conduzir esse julgamento até o fim sob o crivo do contraditório e à luz suprema da Constituição".

Fonte: Correio Braziliense

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