quarta-feira, 10 de outubro de 2012

Dirceu, o ‘mentor’ do mensalão, quer se transformar em ‘mártir’


Um dia após condenação, ex-ministro da Casa Civil cogita ir a reunião do PT para dizer ter sido ‘vítima de julgamento político’ e fazer do encontro um ato de desagravo

Fausto Macedo e Vera Rosa

José Dirceu, que o Supremo Tribunal Federal condenou como mentor do mensalão, passou o dia alimentando a ideia de ir nesta quarta-feira, 10, à reunião do Diretório Nacional do PT para reiterar que é vítima de um julgamento político. Os velhos companheiros o receberiam como a "um mártir".

A ida do réu ao PT, que ainda não está certa, poderá se transformar na primeira reação do ex-ministro chefe da Casa Civil que, por esses dias, tem demonstrado forte abatimento.

Perdeu-se no tempo a imagem daquele jovem ousado que não se curvou em Ibiúna, nos idos de 1968, quando a polícia política varreu o famoso congresso da União Nacional dos Estudantes (UNE). Restaram-lhe os cabelos longos, agora grisalhos.

Desde que o Supremo passou a condenar, um a um, os réus da ação penal 470, Dirceu foi se convencendo de que também não escaparia.

Aos poucos, ele perdeu a eloquência do ministro mais poderoso do primeiro governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

A esperança por uma absolvição, amparada nos argumentos de sua defesa e na esperança de que ainda teria alguma influência na toga, logo virou decepção ante o voto do ministro Joaquim Barbosa, que lhe atribui o papel de mentor de organização criminosa.

No domingo, quando foi votar em um bairro de classe média de São Paulo, escoltado por uma militância hostil que não permitiu a aproximação dos jornalistas, o ex-ministro já carregava com clareza a condenação - uma sanção contra a qual não caberá recurso, exceto embargos que podem atenuar eventual medida restritiva de liberdade.

À noite, ele retornou a Vinhedo, onde possui residência e tem recebido amigos e familiares. Seu filho, Zeca Dirceu, deputado federal pelo Paraná, lhe tem feito companhia.

O que mais angustia o ex-ministro é o silêncio a que se impôs, orientação expressa de seus defensores, José Luís Oliveira Lima e Rodrigo Dall'Aqua.

Prudência. Os advogados agem com prudência. Eles não querem que um eventual pronunciamento de Dirceu soe como uma afronta à Corte. Amordaçado, é como afirma se sentir, logo ele, que se notabilizou como um contestador aguerrido.

Fonte: O Estado de S. Paulo

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