segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Em causa própria - Ricardo Noblat


 “É de ‘poste’ em ‘poste’ que o Brasil vai ficar iluminado” - Lula, sobre sua política de bancar candidatos novos

Que tal? Fica combinado assim: Lula foi o vencedor da eleição para prefeito da cidade de São Paulo. Lula, e não Fernando Haddad, que jamais disputara eleição. O PT? Não, gente — Lula. Porque o PT reagiu à arriscada proposta de Lula de ir à luta com um candidato jovem e desconhecido dos paulistanos. Lula foi obrigado a arquivar os bons modos: espancou a mesa e forçou o PT a se render à sua vontade.

FICA COMBINADO também que Lula nada tem a ver com as derrotas colhidas pelos candidatos que apoiou em outras cidades. Nem mesmo por aqueles que Lula se empenhou de fato em eleger — gravou mensagens para os programas de propaganda eleitoral no rádio e na televisão, pontificou em comícios e passeatas, e repetiu a dose ao perceber que a primeira não fora suficiente.

VOCÊS IMAGINAM o que de Lula? Que ele é milagreiro para acender qualquer tipo de poste? Lula acreditou que Vanessa Grazziotin, candidata do PCdoB a prefeita de Manaus, não era um poste. E não era. Foi vereadora, deputada estadual e federal. E há dois anos se elegeu senadora derrotando Arthur Virgílio, na época líder do PSDB no Senado. Contava com fortes apoios.

LULA PENSOU: por que não pegar carona numa vitória quase certa para assim poder humilhar Arthur? Foi direto e franco. No bairro mais popular de Manaus, disse que estava ali menos por Vanessa e mais por Arthur. Acusou Arthur de um dia tê-lo ameaçado com uma surra. E pediu para que ninguém votasse nele. Pediu, não, cobrou, ordenou. Os manauaras não gostaram.

A CIDADE TINHA dado a Arthur a maioria dos seus votos para reconduzi-lo ao Senado. Vanessa acabara eleita com os votos do interior. Manaus emitia todos os sinais de que votaria de novo em Arthur. Lula despachou Dilma para lá há uma semana. Deu chabu. Vanessa subiu um pontinho. Arthur ganhou com folga.

A PEDIDO DE Lula, que lá esteve duas vezes, Dilma desembarcou em Salvador para tentar barrar a eleição de ACM Neto (DEM). E atacou-o sem dó. Ao lado de Nelson Pelegrino, candidato do PT que mede mais de 1m85cm, Dilma bateu da cintura para baixo: “Aqui não pode ter um governinho”. E insistiu: “Aqui não pode ter um governo pequenininho”. ACM Neto mede menos de 1m65cm.

PESQUISAS PARA consumo interno da campanha do candidato do PT mostraram que os moradores de Salvador se irritaram com o que ouviram de Dilma. Mexer com uma característica física do adversário? O que é isso, meu irmão? E se ACM Neto tivesse respondido: “Precisamos em Brasília de um governo mais enxuto, mais leve, mais ágil...”?

A MAIOR LAMBANÇA promovida pelo PT nesta eleição foi em Recife, cidade que governa há quase 12 anos. Como o prefeito era mal avaliado, Lula indicou o senador Humberto Costa para concorrer à vaga dele. Esqueceu de combinar com Eduardo Campos, governador de Pernambuco e presidente do PSB. Eduardo rompeu com o PT e elegeu seu candidato no primeiro turno. Lula fez cara de paisagem. Eduardo fez cara de candidato a presidente da República.

O DESASTRE DO PT em Recife, Salvador, Fortaleza, Diadema e Campinas, e a vitória do PSDB em Manaus não significam que Lula e Dilma estejam em baixa nas cidades onde apostaram o grosso de suas fichas. Significa que eleição municipal é um fenômeno local. As pessoas votam em quem possa governar bem o lugar onde vivem. Em São Paulo, cansadas de Serra, o trocaram por Russomano. Mais tarde aderiram a Haddad. Não foi por Lula que procederam assim. Foi por elas.

Fonte: O Globo

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