sábado, 27 de outubro de 2012

Entrevista foi feita com Marcos Valério, diz revista

Direção de "Veja" afirma que fez acordo com publicitário e só divulgará material se ele quiser

Thiago Herdy

SÃO PAULO - O diretor de Redação da revista "Veja", Eurípedes Alcântara, disse ontem ter provas capazes de demonstrar que as declarações atribuídas a Marcos Valério em reportagem publicada pela revista são do próprio Valério. Eurípedes afirmou ter feito um acordo com Valério que previa a divulgação das provas apenas caso o publicitário desmentisse a reportagem, fato que, para ele, não ocorreu.

De acordo com a revista, Valério atribui ao ex-presidente Lula papel central no mensalão. A reportagem, porém, afirmava que ele havia feito as declarações a amigos. Na verdade, Valério falou com repórteres da revista. O diretor não especificou se a comprovação está guardada em "áudio, vídeo ou, por exemplo, a transcrição de um depoimento registrado em cartório".

- Temos as provas necessárias para demonstrar que as afirmações são o que no STF se chamaria de "verbis" - ou seja, transcrições ao pé da letra do que ele disse. Marcos Valério decide se as provas serão divulgadas, apenas porque nossa combinação com ele foi a de que se ele desmentisse a reportagem estaria quebrando o que foi acordado e, assim, ficaríamos dispensados de cumprir nossa parte - disse ontem Eurípedes, em entrevista por e-mail.

Em 15 de setembro, data em que a revista foi para as bancas, o advogado Marcelo Leonardo disse que negava "o teor das declarações atribuídas a Marcos Valério". Ontem, informado sobre as declarações de Eurípedes, disse que nada tinha a falar sobre o assunto. Perguntado se a negativa anterior valia, não comentou.

O diretor de "Veja" não explicou por que as provas não foram divulgadas quando Leonardo negou pela primeira vez as declarações de Valério. A primeira entrevista de Eurípedes sobre o tema foi publicada na noite de quinta-feira pelo portal "Comunique-se".

Oposição quer nova investigação

Na reportagem de "Veja", o publicitário trata Lula como chefe do esquema montado para arrecadar recursos e financiar petistas e aliados. "O PT me fez de escudo, me usou como um boy de luxo. Mas eles se ferraram porque agora vai todo mundo para o ralo", disse o publicitário, de acordo com "Veja".

Valério afirma que o PT movimentou R$ 350 milhões em caixa paralelo e que o Banco Rural teria emprestado recursos apenas depois de receber o aval de Lula. Na reportagem, Valério não apresenta provas para sustentar suas afirmações. Segundo a revista, ele teria ficado em silêncio sobre o envolvimento do ex-presidente porque acreditava que ficaria impune ou receberia pena mais branda. Para Eurípedes, a situação de Valério requer cuidados:

- O fato de um indivíduo estar condenado não dá direito ao jornalista de, aproveitando-se de fragilidade inerente a sua situação, abusar da sua confiança. Pessoa nessa situação merece a mesma consideração ética e humana que ele dispensaria a celebridade ou autoridade no auge da fama ou do poder.

A assessoria do Instituto Lula informou que o ex-presidente não comentaria a política editorial da revista. Em nota divulgada quando a reportagem foi publicada, seis partidos aliados do governo a trataram como "fantasiosa". A oposição planeja requerer nova investigação.

Fonte: O Globo

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