domingo, 14 de outubro de 2012

PSDB e PT disputam espólio religioso


Cobiça tem como alvo eleitor de Chalita e Russomanno; Serra reúne mais líderes, mas Haddad ganha em votos

Gustavo Uribe, Silvia Amorim

SÃO PAULO - Numa disputa municipal que ganhou contornos de "guerra santa", PT e PSDB deflagaram no segundo turno em São Paulo uma corrida pelo espólio religioso deixado pelas candidaturas de Celso Russomanno (PRB) e Gabriel Chalita (PMDB). O segmento evangélico é o mais cobiçado, alvo das principais investidas das duas legendas. Por um lado, o candidato tucano José Serra tem arregimentado um maior número de líderes evangélicos. Mas, por outro, o petista Fernando Haddad hoje concentra a maior parte do voto religioso.

A última pesquisa Datafolha, divulgada na semana passada, indicou que os votos dos candidatos do PMDB e do PRB migraram em maior parte para a campanha do PT. Haddad lidera entre os eleitores evangélicos pentecostais (52% contra 33%), não pentecostais (47% contra 31%) e católicos (46% contra 41%). O tucano somente vence entre os espiritualistas, que representam apenas 2% dos eleitores.

O segundo turno começou com o discurso religioso sendo um dos temas de acirramento da disputa. Na semana passada, o petista acusou o adversário de "instrumentalizar" igrejas para desgastar a candidatura petista. O tucano revidou dizendo que o PT tem um líder evangélico: o senador Marcelo Crivella (PRB), ministro da Pesca de Dilma.

Desde o primeiro dia do segundo turno, integrantes das duas campanhas garimpam o apoio de lideranças evangélicas. Na última década, esse segmento saltou de 15,9% para 22,1% da população e, em 2012, representa quase um quarto dos habitantes da cidade.

Os dois candidatos disputam, até mesmo, espaço nas mesmas igrejas. Iniciaram conversas com líderes da Assembleia de Deus Santo Amaro, que afiançou apoio a Celso Russomanno no primeiro turno, e da Assembleia de Deus Brás, que ficou com Gabriel Chalita. Na semana passada, o tucano e o petista mediram forças junto a lideranças da Renascer em Cristo, comandada pelo apóstolo Estevam Hernandes e pela bispa Sônia. José Serra obteve uma declaração de apoio do casal, enquanto Haddad conquistou núcleos da Igreja.

A corte ao setor evangélico garantiu a Serra o apoio do líder da Assembleia de Deus da Vitória em Cristo - liderada pelo pastor Silas Malafaia, que tem comandado uma cruzada contra o candidato do PT. Serra também esteve em missas, como a capitaneada pelo padre Marcelo Rossi, da Renovação Carismática da Igreja Católica. Já Haddad foi a duas missas. Em maio, esteve no Santuário do padre Marcelo e ontem celebrou o Dia de Nossa Senhora Aparecida numa igreja na periferia da cidade.

Multa de R$ 5 mil por campanha em templo

A ofensiva de Serra a templos rendeu ao candidato uma multa da Justiça Eleitoral de R$ 5 mil por ter avançado o sinal na Igreja Apostólica Maravilha de Cristo no primeiro turno. No segundo turno, estão previstas visitas dele a templos religiosos, mas em ritmo inferior ao do início da campanha. A campanha também discute se distribuirá material de divulgação específico para o eleitorado evangélico.

O coordenador do núcleo inter-religioso do PT em São Paulo, Marcos Cordeiro, tem promovido reuniões com alas das igrejas evangélicas e católicas. Nos últimos dias, a campanha petista iniciou ofensiva pelo apoio de igrejas pentecostais de pequeno porte.

O apoio do PT junto à Igreja Católica se dá, sobretudo, entre as pastorais sociais e comunidades eclesiais de base, com as quais a sigla tem uma ligação histórica. Nas paróquias, o apoio é arregimentado por deputados e vereadores.

- Os vereadores costumam ter relação com os religiosos de suas respectivas regiões. Mas não existe orientação por parte da coordenação da campanha eleitoral - explica o vereador Paulo Fiorilo (PT-SP).

O PT esperava obter o apoio do PRB, de Celso Russomanno e, com isso, angariar votos na Igreja Universal do Reino de Deus (Iurd). Com a neutralidade do partido, PT e PSDB buscam aliados na corrente evangélica. O principal interlocutor dos tucanos é o vereador Sousa Santos (PSD), que é integrante da igreja. Os petistas conseguiram fechar aliança com outros dois partidos ligados a evangélicos: PSC e PTC, apoiadores de Chalita no primeiro turno.

Fonte: O Globo

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