quinta-feira, 25 de outubro de 2012

Sociólogo: julgamento consolida democracia


Para Luiz Werneck Vianna, controles republicanos se afirmaram

Juliana dal Piva

ÁGUAS DE LINDÓIA, SP - Os significados do julgamento do mensalão para a política brasileira movimentaram mesas de debate e conversas pelos corredores no terceiro dia do encontro anual da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Ciências Sociais (Anpocs), em Águas de Lindoia, no interior de São Paulo. Em entrevista ao GLOBO, o sociólogo da PUC-Rio Luiz Werneck Vianna é categórico ao dizer que o julgamento do mensalão significou a consolidação da democracia.

- A Carta de 1988 foi consagrada no julgamento da Ação Penal 470. A Constituição vinha sendo progressivamente assentada nas instituições, nas mentalidades e na cultura política. Esses três meses foram um seminário público que desnudou os mecanismos perversos. As referências à Constituição foram muito poderosas, especialmente no que diz respeito à vida republicana. Esse fato, de os controles republicanos terem sido fortes o suficiente para limitar o poder do Executivo, é inédito na nossa Historia - defendeu o pesquisador.

Para Vianna, as decisões no julgamento também foram o "batismo de fogo" da Lei da Ficha Limpa, e o Ministério Público saiu fortalecido, sem que outras instituições fossem ameaçadas. Por isso, de acordo com ele, é natural que os réus e o próprio PT protestem.

- As pessoas podem protestar, mas não podem interromper o jogo. Vão interromper o jogo com quem? Com os militares? Os militares estão em outra, e mesmo os sindicatos estão fragmentados - afirmou.

O sociólogo fez questão de ressaltar que, apesar de ser difícil de medir no momento, o efeito do julgamento foi pequeno nas eleições municipais. Para ele, o PT sai não só fortalecido das eleições, como deixa visível uma renovação partidária, com quadros distantes dos réus condenados:

- Olhando o dado bruto, o PT cresceu. São Paulo é um termômetro importante. Lula está introduzindo mudanças importantes ao elevar o Haddad e não os quadros que estão na raiz da Ação Penal 470. Esses estão deslocados. E, nos detendo em outro aspecto, a Dilma manteve-se numa posição de observação em relação ao julgamento.

Luiz Werneck Vianna também fez apostas para o cenário eleitoral de 2014. O sociólogo acredita, como outros pesquisadores, que ficou evidente na eleição municipal deste ano que há uma renovação geral da política brasileira em curso. O PSDB, por exemplo, poderá ter no senador Aécio Neves um candidato com forte potencial.

- A oposição vai ter um candidato (Aécio) com uma plataforma forte de lançamento, que é o estado de Minas, que tem radiação em São Paulo. Se tudo permanecer constante, ele concorrerá para perder em 2014, mas marcará posição e vai ganhar em 2018 - analisou o sociólogo, ao dizer que o cenário pode mudar se a economia "desandar".

Vianna acredita que as grandes incógnitas da próxima eleição presidencial são a posição a ser tomada pelo governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), e qual será o candidato da situação.

- O enigma real é quem será o candidato da situação: Lula ou Dilma? O Eduardo Campos tem muitas dificuldades do ponto de vista do futuro. Se ele não sair candidato à Presidência ou não vier como vice da Dilma, vai ficar sem posições fortes. Ele poderia se candidatar em 2014, impedindo que Aécio se credencie para 2018. Imagino que esse seja o jogo infernal que passa pela cabeça dele.

Fonte: O Globo

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