O STF retoma hoje o
julgamento do ex-ministro José Dirceu, do ex- presidente do PT José Genoino, do
ex-tesoureiro do partido Delúbio Soares e de outros 10 réus por formação de
quadrilha, crime que mais tem provocado divergências entre os ministros.
Cúpula do PT na
berlinda
Dividido, STF julga hoje Dirceu, Genoino e outros 11 réus do mensalão por
formação de quadrilha
André de Souza
UM JULGAMENTO PARA A HISTÓRIA
BRASÍLIA - O Supremo Tribunal Federal (STF) retoma hoje, dividido, o
julgamento de 13 réus do mensalão acusados de formação de quadrilha, entre
eles, membros que integram a cúpula do PT: o ex-ministro da Casa Civil José
Dirceu, o ex-presidente do PT José Genoino e o ex-tesoureiro do partido Delúbio
Soares. Na semana passada, o ministro relator, Joaquim Barbosa, votou pela
condenação de 11 dos 13 réus, mas o revisor, Ricardo Lewandowski, absolveu
todos. Assim, o placar está empatado em um a um.
O julgamento por formação de quadrilha é o que mais tem provocado divergências
no STF. Outros oito réus - ligados ao PP e ao PL (atual PR) - foram julgados
pelo crime. Para sete, o placar foi apertado: dois empates; três condenações
por 6 votos a 4; e duas absolvições, também por 6 a 4.
Dos oito réus já julgados, nenhum integra a quadrilha principal, acusada de
estar no comando do esquema criminoso. Cinco deles são ligados ao PP e três ao
PL, e foram acusados de compor o que os advogados chamaram de
"quadrilhinhas", ou seja, de se associarem de forma estável para receber
os recursos do mensalão.
Já o "quadrilhão" - composto pelos réus que integravam a cúpula do
PT, o grupo de Marcos Valério e o Banco Rural - é justamente o que está sendo
julgado agora. Eles são acusados de, sob a liderança de Dirceu, e mediante a
divisão de tarefas, usar recursos públicos para comprar apoio político no
Congresso Nacional para o governo Lula. A pena para formação de quadrilha é
reclusão de um a três anos.
Rosa Weber será a primeira a votar. Se os ministros forem rápidos como na
semana passada - quando os dez votaram num dia o capítulo de evasão de divisas
- o STF poderá decidir amanhã como será o desempate nos seis casos em que o
julgamento terminou em 5 a 5.
Barbosa quer que todo o julgamento - incluindo o desempate e a dosimetria,
ou seja, o cálculo das penas - termine quinta-feira. Ele tem viagem marcada
para a Alemanha, na semana que vem, para tratamento de saúde. Mas não há
consenso de que isso será possível. O decano da Corte, ministro Celso de Mello,
já disse esperar um intenso debate sobre os empates, o que empurrará a
dosimetria para novembro.
Dos oito réus das "quadrilhinhas", o ex-assessor parlamentar do PL
Antônio Lamas, contra quem o Ministério Público não encontrou provas, foi o
único absolvido por unanimidade. Dos outros sete, Barbosa e os ministros Luiz
Fux, Celso de Mello e Ayres Britto votaram pela condenação. Gilmar Mendes e
Marco Aurélio foram os mais divididos, votando pela condenação de alguns e pela
absolvição de outros.
O relator Ricardo Lewandowski havia condenado parte deles, mas mudou seu
voto e absolveu todos. Também votaram pela absolvição dos sete Rosa Weber,
Cármen Lúcia e Dias Toffoli.
Semana passada, Lewandowski, ao mudar de posição, citou o voto de Rosa e
Cármen Lúcia no julgamento dos réus de PP e PL. Segundo ele, pessoas que
praticaram crimes em conjunto não necessariamente formam uma quadrilha. É
preciso haver estabilidade e permanência na associação, além de risco à
sociedade como um todo.
Para Lewandowski, no caso do mensalão, os réus teriam desviado dinheiro público,
lavado dinheiro e corrompido agentes para satisfazer desejos pessoais, não para
prejudicar o resto da sociedade. Ele aplicou essa mesma tese para absolver os
13 réus da quadrilha principal.
O "quadrilhão" foi dividido em três núcleos na denúncia da
Procuradoria Geral da República: o político, o operacional ou publicitário e o
financeiro. Dos 13 réus, apenas Geiza Dias, ex-funcionária de Marcos Valério, e
Ayannna Tenório, ex-executiva do Banco Rural, foram absolvidas tanto por
Barbosa quanto por Lewandowski. Elas também já foram absolvidas de todos os
outros crimes de que eram acusadas.
Do núcleo político, faziam parte Dirceu, Delúbio e Genoino. Os três foram
condenados por corrupção ativa. O núcleo operacional ou publicitário era
liderado por Valério. Para o STF, ele usou agências de publicidade para
distribuir recursos a pessoas indicadas por Delúbio. Além de Valério, são
acusados seus sócios Ramon Hollerbach e Cristiano Paz, o advogado Rogério
Tolentino e as funcionárias de uma das agências Simone Vasconcelos e Geiza
Dias. Com exceção de Geiza, eles foram condenados por corrupção ativa,
peculato, lavagem de dinheiro e evasão de divisas.
O núcleo financeiro era integrado pelos então dirigentes do Rural: Kátia
Rabello, José Roberto Salgado, Vinícius Samarane e Ayanna Tenório. Os três
primeiros foram condenados por lavagem de dinheiro e gestão fraudulenta. Kátia
e Salgado ainda foram considerados culpados por evasão de divisas. O STF
entendeu que os empréstimos do banco para o PT e as agências de Valério eram
fictícios e ocultavam a origem e a distribuição de recursos a aliados da base
do governo Lula.
Fonte: O Globo
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