terça-feira, 6 de novembro de 2012

Com quem será? - Celso Ming

É grande a probabilidade de que os Estados Unidos saiam rachados das eleições presidenciais de desta terça-feira.

As pesquisas indicam empate técnico na preferência popular e ainda é preciso ver como se dividirão os votos que indicarão os delegados que, afinal, serão os que elegerão o novo presidente.

Seja quem for o escolhido, a divisão continuará no Congresso. O Senado terá maioria democrata e a Câmara dos Representantes persistirá controlada pelos republicanos.

O presidente Barack Obama até recentemente tentou ser o presidente de todos. Ao longo da administração, e no início da campanha, chegou a fazer um discurso conciliador. Mas há algumas semanas entendeu que a proposta da unidade não tem viabilidade eleitoral. No último debate, sua proposta derradeira mudou. Deixou claro que ambos os candidatos têm visões de mundo distintas e que caberia ao eleitor escolher a que mais lhe convém.

Obama avisou que, uma vez reeleito, seguirá fortalecendo o setor público como a principal alavanca de saída da crise. Fará questão de manter elevadas as despesas orçamentárias cujo financiamento será feito com o aumento de impostos sobre os mais ricos.

Mitt Romney pretende derrubar fortemente as despesas públicas e reduzir impostos, para que o consumo e o emprego se recuperem com o mínimo de intervenção do governo. Também disse que não gosta da política monetária, que considera excessivamente expansionista, conduzida por Ben Bernanke (paradoxalmente, um republicano). Isso sugere que não o reconduziria à presidência do Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos) em 2014.

Por motivos diferentes, suas críticas à atuação do Fed convergem com as da presidente Dilma (do tsunami monetário) e do ministro da Fazenda, Guido Mantega (da guerra cambial). Entende que, além de não tirarem os Estados Unidos do sufoco, as excessivas emissões de dólares não ajudam o setor privado a reagir contra a paradeira da economia.

Mas muito dificilmente haverá a escolha definitiva de uma saída como a pretendida por Obama. A população americana está dividida, seguirá dividida e tão cedo não superará sua divisão.

Quem tomar posse enfrentará um país dividido também em relação ao maior desafio imediato: o abismo fiscal (fiscal cliff). O atual acordo, arrancado arduamente dos republicanos, impôs severa redução de despesas e aumento de impostos a partir do ano que vem, cujo resultado será o aumento da recessão e do desemprego.

Obama não conseguiu se apresentar como um grande negociador. Não tem a mesma capacidade mostrada pelo democrata Bill Clinton, de distribuir afagos também a seus opositores e deles obter concessões. Romney é mais ambíguo e parece muito frágil em suas convicções. Mas tem mais cintura política do que Obama. Mostrou isso na condição de governador do Estado de Massachusetts, quando obteve a aprovação dos democratas, especialmente do patriarca Ted Kennedy, para seu projeto de extensão dos planos de seguro-saúde para toda a população.

No brasão nacional dos Estados Unidos está escrito, em latim: "E pluribus unum" ("de muitos, um"). Desta vez, não há unidade. O país está implacavelmente rachado.

Como se sabia... O ministro da Fazenda, Guido Mantega, reconheceu nesta segunda-feira que o governo Dilma não cumprirá a meta cheia do superávit primário (sobra de arrecadação de 3,1% do PIB, para pagamento da dívida). Meta cheia é aquela que não recorre à criatividade conceitual e estatística para ser cumprida. Antes assim. Melhor assumir e expor sinceramente e pagar o preço político do problema do que cumprir o prometido às custas de contorcionismos administrativos.

Fonte: O Estado de S. Paulo

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