terça-feira, 6 de novembro de 2012

Eles e nós - Tereza Cruvinel

Aqui, há reformas que precisam ser enfrentadas, mas a democracia americana, que já foi um farol para o mundo, hoje é mais devedora de mudanças para se atualizar e aprofundar

A eleição de hoje nos Estados Unidos é crucial para o mundo inteiro, especialmente para emergentes como o Brasil. A escolha que os americanos fizerem impactará o crescimento global nos próximos anos e definirá a atuação da nação mais rica e poderosa no plano internacional. Para o presidente democrata Barack Obama, o papel de chicote do mundo não é mais adequado aos Estados Unidos. Em seu discurso, a prioridade deve ser a recuperação da economia, a geração de empregos e a superação dos problemas sociais. Para o candidato republicano Mitt Romney, a recuperação econômica passa pelo fortalecimento do poder militar. Essa é a música que embala os corações conservadores, embora os mais pobres e os imigrantes, que apoiam Obama, bem como parte da classe média, rejeitem o gasto astronômico com defesa e segurança. Mas a crise de 2008 corroeu a popularidade de Obama e dissipou parte da esperança despertada pelas palavras de ordem “We can”. Os sinais recentes de recuperação e ironicamente até o furacão Sandy o ajudaram nesta reta final. As pesquisas, incluindo as que foram feitas ontem com os eleitores que votaram antecipadamente, continuam indicando que a diferença entre os dois será apertadíssima.

A eleição americana é bom momento para aferirmos, comparativamaente, os parâmetros de nossa democracia, que em alguns aspectos deixa a desejar, mas em muitos outros é mais avançada e moderna que a deles. Uma diferença começa pelo dia do voto. Aqui, fazemos sempre eleições aos domingos, para que todos cumpram o dever de votar. Lá, o voto é facultativo e a eleição deste ano ocorre numa terça-feira, com todo mundo trabalhando. Não é feriado. O voto facultativo e a eleição em dia útil não ajudam Obama. Seu eleitorado pode ter mais dificuldades para ir às cabines.

Aqui, temos eleições informatizadas que nos dão o resultado no dia do pleito. Lá, podemos demorar até semanas para saber quem ganhou. Apenas quatro dos 50 estados usam urnas eletrônicas. Por outro lado, aqui, embora a Constituição preveja o plebiscito e o referendo, fizemos apenas duas consultas populares depois da promulgação da Carta de 1988. Uma em 2003 sobre o sistema de governo, quando o presidencialismo foi confirmado, e outra em 2005, sobre o uso de armas. Lá, quando ocorrem eleições gerais, todos os estados aproveitam para incluir na cédula várias consultas à população. Isso atrasa a apuração, mas aprofunda a democracia.

A diferença fundamental, entretanto, está no sistema eleitoral. Aqui, é como na Grécia. Cada cidadão vale um voto. Lá, não é exatamente assim. Pelo singular sistema americano, todos votam, mas escolhem delegados que irão eleger o presidente num seleto colégio eleitoral. Isso pode levar a situações como a de 2003, quando o democrata Al Gore teve mais votos populares na Flórida, mas perdeu para Bush em número de delegados, em meio a denúncias de fraudes praticadas pelos republicanos. A Suprema Corte garantiu a vitória de Bush.

Laços do futuro
No jantar que oferece hoje à cúpula do PMDB, a presidente Dilma começa a amarrar as pontas da coligação central para sua recandidatura em 2014. Acenará com a manutenção de Michel Temer como vice, a entrega de mais uma pasta ao partido e seu apoio à eleição de Henrique Eduardo Alves e de Renan Calheiros para as presidências da Câmara e do Senado. Aliás, os afagos começaram ontem, com a entrega da Grã-Cruz da Ordem do Mérito Cultural (uma promoção) ao senador José Sarney, avô da Lei Rouanet, com a então chamada Lei Sarney.

Apesar da crise
As economias brasileira e sul-americana vêm resistindo bem à crise internacional. Apesar do baixo crescimento, o nível de emprego não foi afetado. A CEPL e a OIT estão informando que o ano fechará, na região, com queda no desemprego de 6,7% para 6,4%.

Fonte: Correio Braziliense

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