A crise da distribuição dos royalties do petróleo chegou ao ponto que chegou
por falta de liderança. No Rio, o governador Sérgio Cabral apostou que o estado
seria salvo pela Presidência da República; não construiu coalizões políticas ou
com a opinião pública. Em Brasília, o governo não parece ter entendido que a
Presidência é a guardiã da paz federativa.
Este assunto é explosivo. Rio de Janeiro e Espírito Santo dizem que a
mudança na distribuição vai arruinar suas finanças e é uma forma de espoliação.
A maioria dos estados acha que há uma apropriação indébita da riqueza nacional
por apenas dois estados e alguns municípios.
É neste impasse que faz falta a liderança da presidente e do governador do
estado que produz mais de 80% do petróleo consumido no país. A presidente não
pode ser surpreendida por ações de políticos, até de sua base, contra a posição
que o governo alega defender. Precisa estar no comando; ter uma posição e
defendê-la com negociação e convencimento. Afinal, ela é chefe do governo da
União. Numa federação, a União tem o indelegável papel de ser o ponto neutro de
defesa dos interesses comuns.
O Rio não pode ficar deitado em praia esplêndida garantindo que toda a
riqueza é dele. Precisa convencer a opinião pública dos seus pontos. O
governador Sérgio Cabral chorou na primeira vez que perdeu no Congresso. Na
segunda, ameaçou com o fim das Olimpíadas. São argumentos emocionais.
Precisamos de racionalidade neste tema.
A posição dos que defendem a nova repartição está baseada nas seguintes
teses: o petróleo é de todos; aumentou muito a expectativa de arrecadação com a
descoberta do pré-sal; a riqueza não está nos territórios dos estados
produtores, mas sim no mar, que é de todos os brasileiros.
A Constituição estabelece no seu artigo 20 que o mar territorial é bem da
União. No parágrafo primeiro, no entanto, a Carta assegura que os estados e
municípios participem do resultado da exploração de petróleo, gás natural ou
outros recursos no respectivo território, plataforma continental, mar
territorial. Ou então que haja compensação financeira por essa exploração.
A União recebe grande parte dos royalties e redistribui para estados e
municípios. Mas a lei estabelece que os estados que tenham esses bens em seu
território ou plataforma continental participem do resultado. É por isso que
eles recebem diretamente royalties e participação especial.
O petróleo é tributado de maneira diferente. Recolhe-se o imposto no estado
que consome o produto e não no que produz. Ao contrário da maioria dos outros
bens. Isso prejudica os estados produtores. Portanto, há aí uma injustiça
tributária, que é compensada pelos royalties e pela participação especial.
A expectativa de arrecadação cresceu com o pré-sal e, diante disso, começou
o debate sobre a mudança na forma de distribuição dos royalties. Nessa
discussão, dois pontos deveriam ser considerados: não alterar o passado e
encontrar uso estratégico para esse excedente. Em vez de apenas aumentar a
distribuição para todos os estados e municípios não produtores, deveria se
pensar numa reserva de contingência ou num investimento no futuro.
Esse é um recurso finito que deveria financiar a transição para uma economia
de baixo carbono ou ser aplicada no mais estratégico dos investimentos no
futuro, que é a educação. Pensou-se nisso, mas não foi o que terminou aprovado.
Esta não deveria ser uma luta de todos contra o Rio e o Espírito Santo.
Deveria ser uma luta comum por uma estratégia de desenvolvimento sensata e de
longo prazo.
Fonte: O Globo
O governador fez tudo que podia. Mas era impossível ganhar uma votação em que a maioria vota a favor de ganhar mais um dinheirinho extra.
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