“Boa
parte dos que aderiram ao Partido dos Trabalhadores, nesses grupos, a ele
chegaram divididos quanto aos limites de transigência do partido com o Estado e
as leis. Todos lembram que o PT votou contra a Constituição de 1988, mas a assinou.
Essa ambiguidade custaria ao partido o distanciamento em relação ao poder e a
crescente consciência de que para chegar ao governo teria que pagar um preço
moral: a revogação de seu veto ao capitalismo e às leis que no entender de
muitos de seus membros eram apenas instrumentos da iniquidade social.
O PT chegou à Presidência em nome de uma
ambiguidade política fundante, a dessa cultura da legitimidade contra a
legalidade. Nos primeiros dias do governo Lula, um conspícuo representante dos
setores religiosos do PT deixou claro que o partido chegara ao governo, mas
ainda não conquistara o poder. O País já não tinha um projeto de nação. Mas o
PT tinha um projeto de poder. Essas fraturas demarcarão a tortuosa trajetória
do partido até os autos do processo judicial e o recinto da Suprema Corte.
Houve militantes que julgaram lícito o ilegal em nome do que consideravam
legítimo, o poder a ser conquistado e mantido. Maquiavel em versão de
província. Enveredaram pelo caminho do que à luz da lei é corrupção, supondo
que não o seria se em nome da legitimidade da revolução, na conquista da
equivocada eternidade do poder.”
José de Souza Martins é sociólogo,
professor emérito da Faculdade de Filosofia da USP, no artigo Maquiavel versão província, Aliás/ O Estado de S.
Paulo, 18/11/2012
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