terça-feira, 20 de novembro de 2012

PMDB teme política econômica de Dilma e inclui Eduardo como alternativa

Raymundo Costa

BRASÍLIA - A antecipação, em dois anos, do anúncio de que a chapa da reeleição da presidente Dilma Rousseff será a mesma da eleição de 2010 deixou o PMDB mais tranquilo em relação a sua parceria com o PT, nos próximos dois anos, mas não eliminou todas as desconfianças. O partido continua sentindo-se sub-representado no governo e "o alto grau de incertezas da economia" já leva alguns dirigentes a pensar numa alternativa ao nome da presidente, na sucessão de 2014.

Um ministro do PMDB disse ao Valor que, se algum incidente de percurso tirar o partido da chapa de Dilma nas eleições presidenciais, nada impede que a opção seja o governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB). Até bem pouco tempo os pemedebistas temiam que Eduardo cobiçasse o lugar de Michel Temer como vice da chapa governista. Atualmente, no próprio Palácio do Planalto acredita-se que Campos pode entrar na disputa em 2014. Ele não teria nada a perder. No mínimo se tornaria mais conhecido para a eleição seguinte.

As discussões sobre a opção a Dilma são sempre acompanhadas pela avaliação do quadro econômico. O PMDB está intrigado com a falta de investimento privado e considera o governo atado a medidas pontuais como as desonerações para a linha branca, automóveis e o estímulo ao crédito, "iniciativas de fôlego curto". E o investimento público não chegou à metade do previsto, segundo os pemedebistas.

A prudência do empresariado é que acendeu o sinal de alerta. Está claro para o PMDB que a equipe econômica abandonou - sem declaração oficial - o tripé meta de inflação, superávit primário e câmbio flutuante, ou seja, os fundamentos que sustentaram a estabilidade econômica. A dúvida dos políticos (essa é uma discussão não só no PMDB, mas também na oposição) é se essa política será um sucesso retumbante ou um desastre de igual proporção. Neste último caso, o governo Dilma chegaria ao final inviabilizado politicamente.

Embora digam que é muito cedo para traçar um cenário para daqui a dois anos, o fato é que os pemedebistas discutem alternativas. Um ministro aponta o reatamento político de Jarbas Vasconcelos com o governador de Pernambuco como um "bom indício", embora o senador seja dissidente da atual cúpula partidária. Entre os senadores, a mais forte opção ao nome de Dilma é o do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Em oito anos de governo, Lula construiu uma sólida relação de confiança com senadores do PMDB como José Sarney, presidente do Senado, e Renan Calheiros (AL), líder da bancada. A relação dos dois com Dilma começou fria, mas melhorou agora que a presidente passou a fazer mais política e afagos ao partido.

Essa relação - PMDB e Dilma - passará por alguns testes, até 2014. Há sempre um sobressalto. Os pemedebistas identificam no Palácio do Planalto a notícia segundo a qual Renan foi escolhido relator da MP 579 (que torna mais baratas as tarifas de energia) como um teste de sua fidelidade ao governo, logo, do apoio da presidente a sua candidatura a presidente do Senado. Em primeiro lugar, quem indica o relator é o líder da bancada. Depois, Renan assumiu a tarefa para atender um pedido do ministro Edison Lobão (Minas e Energia). Aliás, Renan já advertiu a presidente de que a comissão designada para analisar a MP é dominada por representantes das indústrias do setor elétrico.

De todos, o teste decisivo será a eleição para as Mesas da Câmara e do Senado, que por um acordo com o PT devem ficar com o PMDB. Para Renan, a relatoria da MP 579 e a eleição para a presidência do Senado não têm relação alguma, assim como não tem relação com a eleição da Câmara, prometida ao líder Henrique Eduardo Alves (RN) por um acordo assinado entre PT e PMDB. Qualquer coisa fora desse enquadramento causará problemas graves na relação do maior partido no Congresso com a presidente da República.

Na conversa que teve com a cúpula do PMDB, no início da semana, a presidente cortou rispidamente uma fala do presidente em exercício do partido, Valdir Raupp (RO) sobre a representatividade federativa do ministério. Ele considerou que Minas Gerais tem pouco espaço no governo, para o que representa para a federação. Em princípio, parecia a deixa para o partido falar com Dilma sobre o seu próprio espaço no ministério, que julga desproporcional a seu tamanho. Não era. O PMDB realmente ainda se julga sub-representado, mas não pretende fazer cobranças públicas. No máximo numa conversa ao pé do ouvido de Sarney, Renan ou o vice Michel Temer. Os caciques aprenderam cedo a se relacionar com Dilma: não adianta tentar emparedar a presidente. Ela reage mal.

O que o PMDB quer é mais um ministério, de preferência um que permita ao partido "fazer política". Um dos preferidos é o Ministério da Integração Nacional, atualmente ocupado, curiosamente, por um afilhado político do governador de Pernambuco, o ministro Fernando Bezerra Coelho. Uma hipótese levantada dentro do próprio PMDB é que a "lembrança" do nome de Campos para presidente possa ser apenas pressão - alguns falam de chantagem - de integrantes da cúpula para a presidente atender melhor o partido, quando mudar alguns ministros (fontes do PT e do Palácio do Planalto dizem que não haverá uma reformas, mas mudanças pontuais).

Uma alternativa à Integração Nacional seria o Ministério das Cidades. Na avaliação do PMDB, a Pasta ser ocupada pelo PP teve sentido quando o ex-deputado Severino Cavalcanti se elegeu presidente da Câmara e Lula atravessava a crise do mensalão. Hoje é apenas a quinta bancada na Câmara, com 39 deputados contra os 78 pemedebistas. Certamente, uma saída que atenderia aos apetites do PMDB.

Fonte: Valor Econômico

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