O governador do Espírito Santo, Renato Casagrande (PSB), aceita a sanção
presidencial da lei que prevê a redistribuição dos royalties do petróleo, desde
que a presidente da República vete a parte referente às concessões já
contratadas. "É fácil, basta vetar os artigos segundo e terceiro da
lei", dizia ontem, após conversa com o governador Sérgio Cabral (PMDB), do
Rio de Janeiro. São os dois Estados na linha de frente da oposição ao projeto
aprovado pelos deputados.
Para Casagrande, esse é um compromisso público da presidente, assumido em
maio no encerramento da 15ª Marcha a Brasília em Defesa dos Municípios. Na
ocasião, a presidente foi vaiada ao responder ao coro de "royalties!
royalties" entoado pelos prefeitos. Com a crueza habitual, Dilma rebateu
de pronto: "Vocês não vão gostar do que eu vou dizer: não acreditem que
vocês conseguirão resolver a distribuição de hoje para trás. Lutem pela
distribuição de hoje para a frente".
Para Casagrande, ficou claro que a presidente não quer mexer nos contratos
já firmados. Embora não considere a melhor solução, ele aceita a mudança nas
regras da distribuição dos royalties a partir da sanção (nas licitações
futuras). Mas esse é o nó que Legislativo e Executivo não conseguiram até agora
desatar. Cerca de 30% do pré-sal, por exemplo, já está licitado. Endividados,
prefeitos de todo o país, à exceção dos dois Estados, defendem a redistribuição
já.
Está nas mãos de Dilma desatar o nó que divide Estados
"Basta sancionar a parte referente à partilha e vetar os dois artigos
relacionados às concessões", diz o governador do Espírito Santo.
"Como a Advocacia Geral da União vai orientar de forma diferente o que
ela, em outra ocasião, mandou vetar"? No governo Lula, a AGU recomendou e
o presidente vetou qualquer revisão da distribuição dos royalties sobre o que
já está contratado".
Ao contrário de outros colegas de governo, Casagrande não vê na questão dos
royalties um problema federativo. "Foi uma votação da Câmara tomada no
calor do momento. A decisão mais fácil para fazer o debate político na base
eleitoral de cada parlamentar". Para Casagrande, qualquer outra decisão
que não seja para valer apenas em relação às futuras licitações será
"política, sem embasamento técnico e jurídico".
Desde a votação na Câmara, os dois governadores não têm tratado diretamente
com a presidente sobre o assunto. Limitam-se a municiar com dados os auxiliares
de Dilma encarregados da "exaustiva" análise do projeto votado e
aprovado pelos deputados federais. "Reitero: é possível sancionar o que
trata das novas licitações e vetar o que já está contratado". Dilma, de
acordo com Casagrande, nem precisa recorrer a medida provisória para manter o
que Rio e Espírito Santo atualmente recebem. Basta vetar os artigos dois e
três.
"Ninguém pode avançar sobre os outros Estados dessa maneira",
argumenta o governador. "A falta de solidariedade administrativa é muito
ruim para o equilíbrio da Federação". No caso do Espírito Santo, o
governador calcula que o modelo de distribuição dos royalties, no projeto
aprovado, significa um rombo de cerca de R$ 900 milhões para o Estado e seus
municípios. Em relação ao Rio, a conta chegaria aos R$ 3 bilhões anuais.
Inseguros sobre a arrecadação, os governadores se dizem sem condições de
planejar a administração. "Estamos confiantes e convictos de que a
presidente Dilma (Rousseff) vai tomar uma decisão equilibrada, sancionando o
que trata das novas licitações e vetando o que se refere ao que já está
contratado".
Está previsto para a próxima semana uma nova demanda dos prefeitos sobre
Brasília, de chapéu nas mãos. Calcula-se que as prefeituras deixaram de receber
cerca de R$ 7 bilhões, em decorrência da crise, sem falar das novas
desonerações da indústria, que alcançariam algo em torno de R$ 1,5 bilhão. Endividados,
os prefeitos temem cair na rede da Lei de Responsabilidade Fiscal. A demanda
pelo dinheiro atual e futuro do petróleo só tende a aumentar. Resta aguardar a
decisão da presidente Dilma, que deve ser técnica, sem deixar necessariamente
de ser política.
P; ara quem era vista como alguém sem cintura política, a presidente Dilma
Rousseff entrou no período pós-eleitoral com o molejo maior do que imaginavam o
ex-deputado Geddel Vieira Lima e o líder do PMDB na Câmara, Henrique Eduardo
Alves, quando lhe deram de presente um bambolê a fim de que ganhasse
"cintura política".
Contados os votos do segundo turno, Dilma primeiro convidou a cúpula do PMDB
para um jantar no Palácio da Alvorada. Para sinalizar que o partido é o
parceiro preferencial. Mas também não deixou o antigo estilo quando o senador
Valdir Raupp tentou enveredar por um assunto que acabaria na discussão sobre a
formação do novo ministério. Disse que não era hora para discutir o assunto. Em
seguida, jantou com Eduardo Campos, que parece ensaiar os passos de uma dança
presidencial para 2014, mas no dia seguinte almoçou com Cid Gomes, espécie de
contraponto à liderança do governador de Pernambuco no PSB. O Palácio do
Planalto está atento a todos os passos de Campos, mas a presidente não forçou uma
definição do governador nem fez uma risca de giz separando os lados. Em
princípio, Campos está no projeto da reeleição. Dilma também tomou a iniciativa
e telefonou para Geraldo Alckmin oferecendo ajuda federal para os problemas de
segurança de São Paulo. Surpreendeu o governador paulista. Ontem, para a
contrariedade do PT, recebeu o ministro Joaquim Barbosa e confirmou que estará
presente em sua posse, no dia 22, na presidência do Supremo Tribunal Federal.
Também recebeu Gilberto Kassab para acertar a adesão do PSD. Na última
sexta-feira a presidente foi à reunião da Sudene, em Salvador, onde anunciou o
pacote de ajuda do governo federal no combate à seca. A verba começa a sair a
partir desta semana. Enquanto a economia não reage às medidas de incentivo do
governo, Dilma tenta se manter na iniciativa política.
Fonte: Valor Econômico
O governador do ES concorda com Sérgio Cabral de que o projeto é um absurdo e já fez uma solicitação oficial pedindo o veto da presidente.
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