quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

Ano-chave para o PT - Paulo Diniz

A crônica política nacional tem abordado, de forma parcial e fracionada, os grandes acontecimentos de 2012 que exerceram influência profunda sobre o Partido dos Trabalhadores, que completa uma década no comando geral da nação. É preciso, assim, traçar um quadro global, como forma de prever os obstáculos que o partido terá pela frente em 2013.

As eleições municipais, grande aposta petista de 2012, trouxeram resultados decepcionantes nas maiores cidades, sobretudo nas capitais. São Paulo, cavalo-de-batalha pessoal do ex-presidente Lula, só foi conquistada mediante a formação de uma coligação emergencial, que dividiu o poder e ressuscitou os combalidos Paulo Maluf e Marta Suplicy. Uma vitória relativa, pois cria um governo repleto de flancos expostos para os adversários.

O mais duro golpe, entretanto, vem da condenação dos principais réus no processo do mensalão, membros históricos do PT e figuras de destaque do primeiro mandato de Lula. Sendo impossível relegar o caso ao campo da fantasia oposicionista, o PT se encontra diante do dilema de encarar o problema de frente, refundando-se em lideranças e métodos, ou passar a viver sob o estigma de que é mesmo igual a outro partido qualquer. Considerando o sempre alardeado ineditismo petista em comparação às demais agremiações políticas, essa perspectiva equivale ao atestado de óbito de uma das mais significativas bandeiras do PT.

Também alguns fantasmas pessoais do ex-presidente Lula têm marcado presença, ameaçando afetar o PT como um todo. As novas denúncias de Marcos Valério e a rede de corrupção gerenciada pela chefe de gabinete paulista da Presidência atingiram Lula em cheio, o que se percebe por seu incomum silêncio. Partido nascido de amplas bases populares, o PT deve agora refletir se conclui de vez sua metamorfose para a categoria de agremiação "com dono", como foi o PDT de Leonel Brizola. Permitir que o partido compartilhe a sorte incerta de seu mais ilustre membro vai levar, certamente, o PT para um 2013 marcado por fortes emoções e, sobretudo, de parcas chances de sucesso.

Por fim, merecem destaque os índices de popularidade obtidos recentemente pela presidente Dilma Rousseff, recordes absolutos nas últimas décadas. A mensagem popular é clara, no sentido de que a população é mesmo fiel ao desempenho do governo, e não necessariamente ao carisma pessoal do mandatário. Tímida diante das massas, Dilma tem mostrado resultados que a colocam como opção político-eleitoral para o PT, além de contribuir com a consolidação institucional do partido, pela renovação de suas lideranças. Apesar de muitos falarem sobre o surgimento de um "novo PT", a postura das principais lideranças não tem apontado nesse sentido.

O futuro do PT é, assim, em larga medida, uma questão das escolhas que serão feitas. Longe do fim do mundo, a catástrofe petista se desenha mais como uma perspectiva de caudilhismo sindical, cada vez mais auto-referenciado e estéril.

Professor

Fonte: O Tempo (MG)

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