sábado, 15 de dezembro de 2012

Relatório mostra livre acesso de acusado a gabinete presidencial

Ex-diretor da ANA aparece em gravação marcando um encontro para o escritório chefiado por Rosemary Noronha

Áudios também trazem conversa do advogado-geral da União com assessor investigado, no dia da operação

Erich Decat, Andréia Sadi, Matheus Leitão, Breno Costa e Filipe Coutinho

BRASÍLIA - Apontado pela Polícia Federal como líder da quadrilha descoberta pela Operação Porto Seguro, o ex-diretor da ANA (Agência Nacional de Águas) Paulo Vieira tinha livre acesso para reuniões no gabinete da Presidência da República em São Paulo.

É o que revela um telefonema gravado pela PF, em junho deste ano, entre Paulo e o deputado federal Valdemar Costa Neto (PR-SP), condenado no mensalão.

As informações constam em áudios, e-mails e relatórios da PF obtidos pela Folha, com citações a autoridades com foro privilegiado.

O documento foi enviado para a Procuradoria-Geral da República e para a Câmara dos Deputados.

Ele afirma que as autoridades, "salvo melhor juízo, não figuram com envolvidos" no esquema. Em sua maioria, há citações indiretas.

Na conversa, Valdemar pede que Paulo receba um "amigo que precisava de um negócio seu" pessoalmente.

Vieira então pede que ele o encontre no escritório da Presidência em São Paulo, "onde geralmente o pessoal do governo despacha".

O escritório era chefiado por Rosemary Noronha, indicada ao cargo por Lula e denunciada por envolvimento com a quadrilha.

Vieira demonstra ter livre trânsito no gabinete. O delator do esquema, Cyonil Borges, já havia relatado ter se reunido com ele no local.

Dirceu

Nas conversas com Vieira, Rosemary relata uma tentativa frustrada de José Dirceu em se reunir com um ministro do Supremo Tribunal Federal, antes do início do julgamento do mensalão.

No dia 10 de junho Rosemary diz a Vieira, mencionando Dirceu, que uma conversa "foi marcada à revelia, sem o cara saber". Não é dito quem é o "cara".

Na sequência, diz que Evanise Santos, mulher de Dirceu, encontrou com o ministro do STF José Dias Toffoli em um voo de Brasília para São Paulo, no mesmo horário em que Dirceu deveria, segundo Rose, estar se reunindo com um ministro.

No dia 12 de novembro, horas antes de Dirceu ser condenado, Vieira sugere pedir ajuda a alguém apelidado de "Deus". Rosemary responde: "Ele não vai fazer absolutamente nada".
Rosemary remete o caso a Santo André, cidade cujo prefeito petista Celso Daniel foi assassinado em 2002. "É! Ou vai ver que ele sabe de muita coisa. Tem uns problemas aí, lá de Santo André".

Tranquilidade

Outra conversa gravada às 6h43 de 23 de novembro, dia que foi deflagrada a operação, o advogado-geral da União, Luís Inácio Adams, e o seu braço direito, José Weber, um dos alvos da PF, conversam sobre a operação.
No telefonema, Weber demonstra tranquilidade e adianta que o objetivo da operação deve "ser alguma coisa ligada com a Ilha de Cabras", negócio de um dos envolvidos do escândalo.

Adams disse à Folha que foi acordado por uma ligação da PF e pediu a Weber que acompanhasse a busca na AGU. "Foi quando ele me contou que os policias estavam em sua casa e percebi que ele era o envolvido."

Fonte: Folha de S. Paulo

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