domingo, 1 de janeiro de 2012

OPINIÃO DO DIA – Fernando Henrique Cardoso: feliz 2012

E aqui, na pátria amada? Por enquanto, vamos escapando da derrocada da crise financeira. Mas, atenção: o que foi postergado, as reformas (as que vão da porta da fábrica para fora – a tributária, as de flexibilização do mercado trabalhista, as parcerias para acelerar as obras de infraestrutura etc., sem esquecer a sempre lembrada e pouco entendida "revolução educacional" ), está se tornando incontornável, se quisermos realmente competir com os polos mundiais de crescimento.

Como poderemos enfrentar tamanho desafio com o arranjo político vigente, baseado em pluralidade de legendas e escassez de partidos e no butim do Estado para permitir o que se está chamando de "governabilidade" num sistema de coalizões entre grupos de interesse?

Tenha coragem, senhora presidente, e trate de se livrar do entulho herdado, uma teia de corrupções, clientelismos e conivências. Ou melhor, tenha habilidade e competência política para jogar fora de sua "base" a ganga que parece indispensável, mas que pesa menos quando se defronta com uma vontade nacional alimentada com a energia de quem propõe uma agenda nova. É preciso grandeza para dar rumo ao país. São meus votos.

Fernando Henrique Cardoso, sociólogo e ex-presidente da República. Feliz 2012. Zero Hora (RS), 31/12/2011.

Manchetes de alguns dos principais jornais do Brasil

O GLOBO
Portos do país movimentarão carga recorde
Após um ano à frente do BC, Tombini passa no teste do mercado
Partidos já se armam para as eleições

FOLHA DE S. PAULO
Economia brasileira terá retomada frágil em 2012
Documento da Infraero omite loja em aeroporto

O ESTADO DE S. PAULO

Dilma tenta mudar imagem ampliando programas sociais
Perspectivas para a economia em 2012
Arrocho para cortar R$ 60 bi

CORREIO BRAZILIENSE
Vencer o analfabetismo é meta quase impossível em 32 cidades
Impunidade
O Pibão de Dilma
A força da economia nas mãos dos idosos
Todo Poder às mulheres

ESTADO DE MINAS
Uma bomba bilionária no colo da União

ZERO HORA (RS)


JORNAL DO COMMERCIO (PE)
Família inteira deve planejar gastos de casa
Brasileiro assume órgão em crise

Um feliz olhar novo para todos:: Carlos Drummond de Andrade

O grande barato da vida é olhar para trás e sentir orgulho da sua história.

O grande lance é viver cada momento como se a receita de felicidade fosse o aqui e o agora.

Claro que a vida prega peças. É lógico que, por vezes, o pneu fura, chove demais…, mas, pensa só: tem graça viver sem rir de gargalhar pelo menos uma vez ao dia? Tem sentido ficar chateado durante o dia todo por causa de uma discussão na ida pro trabalho?

Quero viver bem! Este ano que passou foi um ano cheio. Foi cheio de coisas boas e realizações, mas também cheio de problemas e desilusões. Normal. As vezes a gente espera demais das pessoas. Normal. A grana que não veio, o amigo que decepcionou, o amor que acabou. Normal.

O ano que vai entrar vai ser diferente. Muda o ano, mas o homem é cheio de imperfeições, a natureza tem sua personalidade que nem sempre é a que a gente deseja, mas e aí? Fazer o quê? Acabar com o seu dia? Com seu bom humor? Com sua esperança?

O que desejo para todos é sabedoria! E que todos saibamos transformar tudo em boa experiência! Que todos consigamos perdoar o desconhecido, o mal educado. Ele passou na sua vida. Não pode ser responsável por um dia ruim… Entender o amigo que não merece nossa melhor parte. Se ele decepcionou, passe-o para a categoria 3. Ou mude-o de classe, transforme-o em colega. Além do mais, a gente, provavelmente, também já decepcionou alguém.

O nosso desejo não se realizou? Beleza, não estava na hora, não deveria ser a melhor coisa pra esse momento (me lembro sempre de um lance que eu adoro): cuidado com seus desejos, eles podem se tornar realidade.

Chorar de dor, de solidão, de tristeza, faz parte do ser humano. Não adianta lutar contra isso. Mas se a gente se entende e permite olhar o outro e o mundo com generosidade, as coisas ficam bem diferentes.

Desejo para todo mundo esse olhar especial.

O ano que vai entrar pode ser um ano especial, muito legal, se entendermos nossas fragilidades e egoísmos e dermos a volta nisso. Somos fracos, mas podemos melhorar. Somos egoístas, mas podemos entender o outro. O ano que vai entrar pode ser o bicho, o máximo, maravilhoso, lindo, espetacular… ou… Pode ser puro orgulho! Depende de mim, de você! Pode ser. E que seja!!!

Feliz olhar novo!!! Que o ano que se inicia seja do tamanho que você fizer.

Que a virada do ano não seja somente uma data, mas um momento para repensarmos tudo o que fizemos e que desejamos, afinal sonhos e desejos podem se tornar realidade somente se fizermos jus e acreditarmos neles!”

Revoluções de 2011 'me lembram 1848', diz Hobsbawm

Para o historiador, é a classe média e não os operários quem impulsiona as revoltas como as da Primavera Árabe.

O prestigiado historiador britânico Eric Hobsbawm comparou as revoltas no mundo árabe em 2011 às revoluções que explodiram na Europa no fatídico ano de 1848.

Em entrevista à BBC, Hobsbawm ressaltou que desta vez os movimentos de contestação são impulsionados pela classe média, e não pelo proletariado.

"Foi uma grande alegria redescobrir que é possível que as pessoas saiam às ruas para se manifestar e derrubar governos", disse o historiador, que passou toda sua vida ligado às revoluções.

Hobsbawm nasceu poucos meses antes da Revolução Russa, de 1917, e foi comunista a maior parte de sua vida, assim com um influente pensador marxista. Um de seus livros mais conhecidos, a Era das Revoluções, que retrata justamente as revoltas de 1848, é um clássico da historiografia.

Além de escrever sobre as revoluções, Hobsbawm também apoiou algumas revoltas. Com mais de 90 anos, sua longa paixão pela política aparece no título de seu mais novo livro: How to change the World (Como mudar o mundo) e em seu enorme interesse pela Primavera Árabe.

"A verdade é que eu tenho um sentimento de excitação e alívio", disse, ao receber a reportagem em sua casa em Hampstead Heath, bairro no norte de Londres.

Democracias árabes?

Para Hobsbawm, 2011 lembra outro ano de revoluções.

"Me lembra 1848, outra revolução impulsionada de forma autônoma, que começou em um país e depois se estendeu por todo um continente em pouco tempo", diz.

Naquele ano, um levante popular em Paris acabou se alastrando pela área da atual Alemanha e Itália e pelo Império Habsburgo (hoje Áustria).

Para quem ajudou a encher a praça Tahir, no Cairo, derrubando o regime de Hosni Mubarak, em fevereiro, e agora teme pelo destino da revolução egípcia Hobsbawm tem uma palavra de alento.

"Dois anos após 1848, tudo parecia como se houvesse fracassado. Mas no longo prazo não houve fracasso. Conseguiu-se uma boa quantidade de avanços liberais. De modo que foi um fracasso imediato, mas um êxito parcial no médio prazo, ainda que não tenha sido na forma de revolução", diz.

Talvez com exceção da Tunísia, Hobsbawm não vê grandes possibilidades da democracia liberal ou governos representativos ao estilo ocidental triunfarem no mundo árabe.

O historiador ressalta ainda as diferenças entre os vários países varridos pela atual onda revolucionária.

"Estamos no meio de uma revolução, mas não de uma única revolução", diz.

"O que une (os árabes) é um descontentamento comum e forças de mobilização comuns: uma casse média modernizadora, sobretudo jovem, estudantes e, principalmente, uma tecnologia que permite que hoje seja muito mais fácil mobilizar os protestos", afirma.

Indignados e 'Occupy'

A importância das redes sociais também ficou evidente em outro movimento que marcou 2011: os protestos dos indignados e as ocupações que ocorreram na Europa e na América do Norte.

Segundo Hobsbawm, o movimento remonta à campanha eleitora de Barack Obama, em 2008. Na ocasião, o então candidato mobilizou com sucesso uma juventude até então apática à política por meio da internet.

"As ocupações, em sua maioria, não foram protestos de massa, não foram os 99% (da população), mas de estudantes e membros da contracultura. Em momentos, isso encontro eco na opinião pública. É o caso dos protestos contra Wall Street e as ocupações anticapitalistas", afirma.

De todo modo, a velha esquerda, da qual Hobsbawm tomou parte, manteve-se às margens das manifestações.

"A esquerda tradicional estava orientada para um tipo de sociedade que já não existe mais ou está deixando de existir. Acreditava-se sobretudo no movimento operário como o grande responsável pelo futuro. Bem, nos desindustrializamos e isso já não é possível", destaca o historiador.

"As mobilizações de massa mais efetivas hoje são aquelas que começam em meio a uma classe média moderna e em particular em um grupo grande de estudantes. São mais efetivos em países onde, demograficamente, os jovens são mais numerosos", diz.

Compreender o passado

Eric Hobsbawm não espera que as revoluções árabes tenham maiores ecos no mundo, ao menos não como uma antessala de uma revolução mais ampla.

Será mais provável, assegura, uma dinâmica que compreenda reformas graduais do estilo das que "ocorreram na Coreia do Sul nos anos 1980, quando uma classe média jovem passou a disputar o poder com os militares".

Sobre o drama político que ainda se desenrola nos países árabes, o historiador diz que vale a pena recordar o Irã de 1979, cenário da primeira revolução que teve o Islã como elemento político.

Esse aspecto da revolução iraniana teve reflexos na Primavera Árabe.

"Quem fez concessões ao Islã sem ser religioso acabou marginalizado. Dentre eles os reformistas, liberais e comunistas", diz, destacando outros grupos que se somaram aos religiosos para derrubar a monarquia iraniana alinhada ao Ocidente.

"A ideologia das massas não é a ideologia dos que começaram as manifestações", pontua.

Embora diga que a Primavera Árabe lhe tenha causado alegria, Hobsbawm diz que o elemento religioso no movimento é "desnecessário e não necessariamente bem-vindo".

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Partidos já se armam para as eleições

Convictos de que as eleições deste ano serão decisivas para a corrida presidencial de 2014, os partidos políticos já traçam planos para a disputa pelas prefeituras. O PT é o mais pressionado a não criar obstáculos aos aliados. No Rio, o prefeito Eduardo Paes (PMDB) fechou acordos e terá o apoio de 16 legendas na tentativa de reeleição.

No jogo de 2012, cartas de 2014

Em ano de eleição municipal, partidos reforçam alianças de olho na corrida presidencial

Silvia Amorim

Mal chegou 2012 e os principais partidos políticos do país começarão o novo ano de olho numa eleição municipal que servirá de pano de fundo para um projeto maior: a corrida pela Presidência, daqui a dois anos. Nos próximos meses, as mais expressivas legendas reforçam a articulação de alianças e as metas de crescimento, ao mesmo tempo em que trabalham nos bastidores para evitar o esvaziamento das bancadas municipais.

No alvo desde que assumiu o governo federal, o PT é o partido que mais sofrerá pressão. Com aliados como o PMDB e o PSB, ambos com planos eleitorais ambiciosos, as disputas municipais de 2012 vão dar trabalho ao partido da presidente Dilma Rousseff. O PT terá de conciliar interesses locais com o projeto de fortalecimento da base do governo.

A pressão para que os petistas não criem obstáculos na articulação das alianças país afora promete ser grande. Oficialmente, a direção nacional do PT diz que não fará mais concessões neste ano do que em eleições anteriores. O partido, entretanto, tem concluído levantamento das cidades onde poderá abrir mão de candidatos a prefeito para agraciar aliados.

PMDB: candidato em 20 capitais

Maior partido da coalizão, o PMDB já avisou a lideranças do PT que pretende lançar candidato a prefeito em 20 a 22 capitais, um aumento significativo em relação a 2008, quando teve 13 candidaturas. No caso do PSB, as metas eleitorais ainda não foram divulgadas, mas os petistas sabem que estreitar as relações neste ano com o parceiro é um passo estratégico para não perdê-lo em 2014. A legenda tem um leque amplo de alianças pelo país - incluindo o recém-criado PSD e os oposicionistas PSDB e DEM - e não descarta voo solo para a Presidência.

No início deste mês, a posição do PT em relação a alianças nas grandes cidades começará a clarear. Nas capitais onde há possibilidade de o partido não ter candidato próprio e apoiar o indicado de uma legenda aliada, a direção local do PT tem que oficializar até o dia 15 a proposta de aliança para iniciar uma discussão internamente. Para as demais cidades o prazo é março.

Para os petistas, o caso mais problemático no país é o de Belo Horizonte, onde o PSB do atual prefeito, Marcio Lacerda, tentará a reeleição, mas os petistas estão divididos quanto a apoiá-lo. A direção nacional, interessada em aproximar cada vez mais o PSB do projeto da reeleição de Dilma em 2014, pressiona para que os petistas reeditem neste ano a aliança firmada em 2008 com Lacerda e o PSDB do senador Aécio Neves. Mas o projeto encontra resistência de lideranças locais num movimento encabeçado pelo vice-prefeito Roberto Carvalho.

O secretário-geral nacional do PT, Elói Pietá, nega que o partido, em nome da governabilidade de Dilma, vá fazer mais concessões de cabeças de chapa a aliados:

- A regra é ter candidatura própria em mais de cem cidades prioritárias. Mas teremos o bom senso de fazer alianças sem que a cabeça de chapa seja do PT em alguns lugares.

A prefeitura do Rio é um desses casos. Em nome do fortalecimento dos laços PT-PMDB, os petistas apoiarão a reeleição do prefeito Eduardo Paes (PMDB). O PMDB espera o mesmo gesto em Manaus, se o senador Eduardo Braga oficializar a candidatura.

O presidente nacional do PMDB, senador Valdir Raupp (RO), explica os interesses que orientam o partido:

- Se você quiser chegar forte a 2014 tem que chegar firme em 2012. O PMDB se fortaleceu muito com o Michel Temer na vice-presidência. Queremos aproveitar esse momento importante para fortalecê-lo ainda mais.

Os peemedebistas projetam um aumento de 12% de prefeituras sob seu comando. Hoje são 1.154, e a meta é chegar a 1.300 municípios.

Segundo Pietá, o PT não fez projeções sobre número de candidaturas majoritárias, mas decidiu que seu espaço no mapa será ampliado:

- O PT elegeu 558 prefeitos e prefeitas em 2008. Este ano vamos continuar a trajetória ascendente.

A prioridade do PT em 2012 será avançar nas capitais, em cidades com mais de 150 mil eleitores e em municípios considerados polos regionais.

Principal partido da oposição, o PSDB aposta na influência de seus governadores para recuperar o espaço perdido. Para 2012, os tucanos projetam um crescimento acima de 20% do número de prefeituras administradas pelo partido. Segundo o presidente nacional do PSDB, deputado Sérgio Guerra, a meta é eleger mil prefeitos. Hoje a sigla tem 793. Em 2004, eram 870.

- Temos condições de eleger mais prefeitos em parte por conta do resultado na eleição estadual, quando elegemos oito governadores, melhor resultado da história - diz Guerra.

O PSD do prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, terá neste ano o primeiro teste eleitoral, mas as preocupações estão voltadas para 2014. O pleito deste ano tem sido encarado apenas como um meio de chegar mais fortalecido à próxima eleição.

FONTE: O GLOBO

Com máquina nas mãos, Paes monta estrutura de campanha

Oposição a prefeito do Rio ainda não fechou alianças

Cássio Bruno, Juliana Castro

Os candidatos de oposição ao prefeito do Rio, Eduardo Paes (PMDB), vão enfrentar um rolo compressor para ter chances de levar ao segundo turno as eleições municipais. Enquanto Paes já tem a estrutura de campanha montada, que inclui integrantes do governo do estado e um leque amplo de partidos aliados, os adversários do peemedebista ainda patinam neste início de ano eleitoral, sem ao menos terem alianças definidas.

Paes tem nas mãos para a reeleição a máquina da prefeitura e cabos eleitorais de peso: a presidente Dilma Rousseff - o vice na chapa será o vereador Adilson Pires (PT) - e o governador Sérgio Cabral (PMDB). Além disso, o grupo de Paes fechou acordo com uma tropa de choque de 16 partidos, total que pode aumentar. O prefeito aposta todas as fichas na adesão do PV e do PPS. As duas siglas estudam lançar candidaturas próprias e são cortejadas pela oposição.

A pré-campanha de Paes tem três núcleos. Um funciona no PMDB, com o presidente do partido, Jorge Picciani; o vice-prefeito Carlos Alberto Muniz; o presidente da Assembleia Legislativa (Alerj), deputado Paulo Melo; e o presidente da Câmara Municipal, Jorge Felippe. Na administração de Cabral, os coordenadores são o vice-governador Luiz Fernando Pezão e o secretário de Governo, Wilson Carlos. O chefe de Gabinete de Paes, Luiz Antônio Guaraná, e o chefe da Casa Civil, Pedro Paulo, fecham a estrutura na prefeitura.

A situação de Paes é considerada tão folgada que ele só fará corpo a corpo nas ruas nos fins de semana, estratégia de Cabral em 2010, quando foi reeleito no primeiro turno. A ampla aliança dará a Paes pelo menos 14 minutos de programa eleitoral na TV. Para evitar constrangimentos, Paes não pedirá votos para candidatos a vereador.

- O momento é favorável, sem dúvida. Mas nosso salto está baixo. O Paes faz a parte dele - diz Picciani.

O pré-candidato do PSOL e deputado estadual Marcelo Freixo tentou, sem sucesso, se aproximar do ex-deputado federal Fernando Gabeira (PV) e do deputado federal Romário (PSB). Sem alianças, Freixo investe agora em Marina Silva, que somou 20 milhões de votos na última eleição à Presidência e foi a segunda mais votada no Rio, com 2.693.130 votos. O deputado, que presidiu a CPI das Milícias, está de volta ao Rio após uma temporada na Europa, motivada por ameaças de morte feitas por grupos paramilitares.

- Minha oposição não será a mesma do DEM e do PSDB. São caminhos diferentes. Não vou ter o dinheiro nem os partidos que apoiam o Paes. A proposta é de mobilizar a sociedade, a juventude. Ele (Paes) terá os recursos e, eu, a criatividade. O objetivo é chegar ao segundo turno. Se isso ocorrer, já será uma derrota para ele - afirma.

Antigos adversários, Cesar e Garotinho costuram aliança

Para tentar derrotar Paes, o deputado federal Anthony Garotinho (PR) e o ex-prefeito Cesar Maia (DEM) se uniram. Mas a ideia de lançar como candidato a prefeito o deputado federal Rodrigo Maia - filho de Cesar -, e como vice na chapa a deputada estadual Clarissa Garotinho - filha do ex-governador -, ainda não se concretizou.

- Não a quero como vice por imposição do PR. Quero conquistar a Clarissa pelas nossas propostas. Ela é jovem, tem talento, e pode acrescentar. Disse a ela que, se houver uma união, podemos chegar ao segundo turno - afirmou Rodrigo Maia.

Clarissa reconhece que não queria "de jeito nenhum" a aliança. Mas hoje, diz ter menos resistência à coligação. Tudo será decidido até o carnaval.

- É desigual concorrer com quem está na máquina. Mas a máquina também pode trabalhar contra. Não se pode prometer, porque houve tempo para fazer - declara.

A deputada aposta numa desestabilização da aliança PT-PMDB, como ocorreu em 2008, quando os dois partidos tinham selado uma parceria, mas os peemedebistas lançaram Paes de última hora. Hoje há uma corrente no PT, liderada pelo deputado federal Alessandro Molon, contra a coligação.

Um dos pré-candidatos à Prefeitura do Rio pelo PSDB, o deputado federal Otavio Leite, também aposta numa reviravolta da aliança PT-PMDB:

- Essa história do PT ainda tem uma estrada. Tem as coisas internas e o julgamento do mensalão em 2012.

Otavio Leite ainda trava disputa com a vereadora Andrea Gouvêa Vieira para ser o candidato do PSDB. Alguns tucanos avaliam que a situação de Andrea se complicou após a prisão do ex-líder comunitário da Rocinha William de Oliveira, flagrado em vídeo supostamente negociando um fuzil com o traficante Nem. William trabalhava com a vereadora desde 2008. Procurada pelo GLOBO, a assessoria de Andrea informou que a vereadora está de férias e que ainda aguarda a decisão da Executiva Nacional sobre a vaga.

FONTE: O GLOBO

No 2º ano, aperto maior e corte de até R$ 60 bi

Por ordem da presidente, Fazenda planeja bloqueio rigoroso de gastos, mesmo sendo ano eleitoral, para atingir meta de superávit e reduzir juros

Vera Rosa

BRASÍLIA - O governo vai promover severo corte de gastos, em 2012, para cumprir a meta cheia de superávit primário, de 3,1% do Produto Interno Bruto (PIB), e facilitar a queda mais acentuada das taxas de juros. O bloqueio das despesas orçamentárias poderá ser maior do que os R$ 50 bilhões anunciados em fevereiro. Técnicos do Ministério da Fazenda calculam, em conversas reservadas, que a tesourada ficará na faixa de R$ 60 bilhões.

O plano original da presidente Dilma Rousseff era dar um freio de arrumação na economia em 2011, para ter mais tranquilidade nesse segundo ano de governo, mas o agravamento da crise internacional mudou o quadro. Apesar da pressão por aumento de gastos, por causa das eleições municipais de outubro, o discurso da equipe econômica vai na contramão da gastança.

O desafio de Dilma, em 2012, é pôr em movimento os programas sociais, acelerar os investimentos e, ao mesmo tempo, cumprir a meta cheia de superávit. É uma conta difícil de fechar.

Na Esplanada dos Ministérios, auxiliares da presidente já preveem tensões com o funcionalismo, uma vez que o Orçamento de 2012 não contempla aumento salarial para servidores.

Mesmo assim, o projeto que recebeu sinal verde do Congresso inflou as despesas do governo em R$ 32 bilhões. "Todo o excedente será limado", disse ao Estado um integrante da equipe econômica. "A crise nos Estados Unidos tende a piorar depois do primeiro trimestre, a da Europa será muito longa e a China deve reduzir a projeção de crescimento. Então, temos um cenário pessimista para 2012 e de completa incerteza para 2013."

Diante da turbulência internacional e da freada brusca na economia brasileira, nem mesmo a Fazenda e o Banco Central se entendem sobre as perspectivas de crescimento para 2012. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, avalia que a expansão do PIB ficará entre 4% e 5%, mas o Relatório de Inflação do Banco Central estima alta menor, de 3,5%.

Para o público externo, a ordem é demonstrar otimismo e Dilma não perde a oportunidade de pedir à população que continue consumindo. "Eu confio muito que a iniciativa privada também produzirá uma taxa de investimento importante", afirmou ela, em café da manhã com jornalistas, no último dia 16.

Nos bastidores do governo, porém, o clima é de apreensão com a turbulência mundial e seu impacto no Brasil. "Se o PIB vai ser de 2,5%, 3% ou 3,5% isso não é o mais importante nessa altura do tiroteio", comentou um ministro, demonstrando que, internamente, auxiliares da presidente admitem crescimento mais baixo. A principal preocupação da equipe é em "manter o padrão" das ações adotadas em 2011.

Na prática, Dilma enfrenta hoje o dilema entre priorizar o crescimento ou controlar a inflação com mão de ferro. Em novembro de 2005, quando era chefe da Casa Civil do governo Lula, ela definiu como "rudimentar" o ajuste fiscal de longo prazo proposto por Antonio Palocci, então ministro da Fazenda. "Para a dívida pública não crescer, é preciso ter uma política de juros consistente, porque senão você enxuga gelo", disse Dilma, à época.

Quase sete anos depois, até mesmo no governo há divergências sobre o tamanho do ajuste, batizado pela Fazenda de "consolidação fiscal". A ala rotulada como "desenvolvimentista" - no passado integrada por Mantega e pela própria Dilma - alega que a atual política de austeridade também equivale a enxugar gelo. O argumento é que, ao mesmo tempo em que é feito todo o esforço para poupar (superávit primário), as despesas com juros aumentaram.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Economia brasileira terá retomada frágil em 2012

País deve crescer em torno de 3,5% no segundo ano do governo Dilma Rousseff

Após baixo crescimento em 2011, o Brasil terá em 2012 modesta recuperação. O país deve crescer cerca de 3,5% no segundo ano do governo Dilma, indica projeção da consultoria Economist Intelligence Unit.

O segundo mandato do presidente Lula (2007-2010) registrou média de 4,5%.

País terá expansão modesta em 2012, preveem analistas

Consultoria britânica afirma que Brasil registrou o 5º pior desempenho entre 24 nações emergentes em 2011

Média do crescimento em 2011-2012 perderá do segundo mandato de Lula e deve ficar pouco acima de 3%

Érica Fraga, Mariana Schreiber

SÃO PAULO - O Brasil encerrou 2011 com um dos crescimentos mais baixos entre os emergentes. O país é o quinto que menos cresceu, em um grupo de 24 analisados, estima a consultoria britânica EIU (Economist Intelligence Unit). E deve repetir, em 2012, uma expansão ainda moderada.

Analistas projetam que o ano que começa será de recuperação, porém modesta e frágil. Traduzindo em números, o país deve crescer pouco mais de 3%, em média, nos dois primeiros anos do governo Dilma Rousseff.

O balanço é pior do que os celebrados 4,5% médios do segundo mandato do presidente Lula (2007-2010).

Embora a crise externa seja uma das causas da desaceleração, analistas dizem que os motores domésticos do crescimento começam a dar sinais de fadiga.

O enfraquecimento do setor fabril, por exemplo, é um problema de difícil conserto.

A EIU estima que o crescimento da indústria do país caiu de 10% em 2010 para 0,8% no ano passado.

Em 2011, o setor industrial teve o segundo pior desempenho entre 24 nações emergentes. Segundo a EIU, o Brasil só superou a Tailândia, afetada por graves enchentes.

Fatores como a valorização do real (que barateira os produtos importados), tributação pesada e deficiência de infraestrutura têm feito a indústria perder terreno para concorrentes externos.

"As dificuldades do setor são um problema estrutural preocupante", afirma Robert Wood, analista sênior da EIU.

Consumo

A expansão do crédito, que incentivou o consumo nos últimos anos, tem perdido fôlego. É uma tendência de difícil reversão no curto prazo porque o endividamento das famílias tem crescido, diz Luiz Carlos Mendonça de Barros, da Quest Investimentos.

Analistas ressaltam ainda que o Brasil tem fragilidades estruturais que limitam a capacidade de crescimento.

Aurélio Bicalho, economista do Itaú Unibanco, cita a baixa capacidade de investimento do governo, que tem o orçamento muito amarrado com gastos previdenciários:

"Esse é o grande diferencial dos países asiáticos. O investimento elevado aumenta a capacidade de produção e permite crescer a taxas maiores sem gerar inflação alta."

O quadro no Brasil é o oposto. O baixo nível de investimento ao longo dos anos criou empecilhos -como na infraestrutura- que impõe um teto baixo à capacidade de crescer sem gerar inflação.

A expansão de 7,5% de 2010, por exemplo, pressionou muito os preços e forçou o governo a tomar medidas para frear o crescimento.

Segundo Wood, a necessidade dessa freada ajuda a explicar porque o Brasil foi um dos países emergentes com menor expansão em 2011.

A piora da crise nos países desenvolvidos tende a agravar o cenário. Um dos canais de contágio já percebidos é a redução da confiança de empresários e consumidores, que acabam cortando gastos.

Uma menor demanda pelos produtos exportados pelo Brasil e uma queda no fluxo de investimentos externos também devem limitar a retomada econômica em 2012.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

Dilma tenta mudar imagem ampliando programas sociais

Atrás de uma marca que vá além da faxina administrativa, presidente investirá no papel de "mãe dos pobres"

Dilma Rousseff inicia o segundo ano na Presidência com a disposição de criar uma marca de governo que vá além da “faxina" administrativa, informa a repórter Vera Rosa. Depois de demitir sete auxiliares e ganhar apoio na luta contra a corrupção, mas tropeçar na gestão, Dilma pretende turbinar programas sociais, apostando na imagem de “mãe dos pobres". O cenário econômico, porém, é carregado, por causa do agravamento da crise internacional, que a presidente promete combater com um drástico corte de despesas. De qualquer forma, ela sabe que a lua de mel da população com a primeira mulher presidente acaba em 2012. "Dilma, em vez de administrar o Brasil, só administrou problemas com o PT e os aliados", critica o senador Aécio Neves (PSDB).

Dilma, a "Evita do tablet", mira gestão eficaz em 2012

Pós-faxina. Com o 1º ano de governo marcado pela queda de 7 ministros, presidente quer agora turbinar programas sociais e vencer crise econômica

Vera Rosa

BRASÍLIA - Doze meses depois de subir a rampa do Planalto como herdeira do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Dilma Rousseff chega ao segundo ano de mandato com o desafio de construir uma marca de governo que vá além da "faxina" administrativa. Após enfrentar uma temporada de sobressaltos políticos, que culminaram com a queda de sete ministros, ela vestiu figurino mais popular, ganhou apoio na luta contra a corrupção, mas tropeçou na gestão do governo.

Na tentativa de desatar os nós que amarram os investimentos, Dilma vai remodelar a Casa Civil, redistribuir tarefas e turbinar os programas sociais. A construção da imagem de "mãe dos pobres" também já está em andamento. No Planalto, Dilma virou a "Evita de tablet", uma referência bem-humorada a Evita Peron, primeira-dama da Argentina de 1946 a 1952.

"Como é que eu faço para ir até ao alambrado cumprimentar o povo?", pergunta ela com frequência, agora, nas viagens pelos rincões do País. Mais solta e menos carrancuda, Dilma parece encarnar a mãezona no contato com a população. Mas é o seu inseparável iPad a testemunha silenciosa das broncas federais.

"Você não sabe nada disso!" e "Esse projeto não para de pé" são os bordões preferidos da presidente, na hora do pito. Quem a acompanha há muito tempo sabe até decifrar sinais: o primeiro gesto de fúria aparece quando ela cruza os braços e chama o interlocutor de "meu querido".

Implacável nas cobranças, Dilma tem agora mais uma aflição: o agravamento da crise internacional e seu impacto sobre a economia. Diante do cenário de incertezas, ela fará corte drástico de despesas, apesar da pressão por gastos neste ano eleitoral.

Ao menos por enquanto, porém, a ordem é para acelerar o programa Brasil Sem Miséria e ações destinadas aos mais carentes. Figuram nessa lista a criação de postos de cadastramento do cartão SUS para moradores de rua, mais cisternas no plano Água para Todos e investimentos de R$ 125,7 bilhões no Minha Casa, Minha Vida, até 2014.

"Eu tenho compromisso ético e moral com os pobres deste País", disse a presidente. "Se fracassar nesse compromisso, terei fracassado em minha missão."

Mudança. Escolhida para administrar o espólio de Lula, o "pai dos pobres", Dilma reforça cada vez mais, em seus discursos, os laços com o padrinho. No Planalto, porém, a avaliação é a de que os quatro fóruns de gestão do governo, lançados em 2011 (Desenvolvimento Econômico, Infraestrutura, Desenvolvimento Social e Direitos e Cidadania), não funcionaram. Pior: programas ali discutidos acabaram ofuscados por uma crise atrás da outra.

Prestes a promover uma reforma ministerial, após demitir seis auxiliares sob suspeita de corrupção e um por incompatibilidade política, a presidente quer que a Casa Civil volte a ter musculatura como na época em que ela a comandou, de 2005 a 2010.

Preocupada com a gerência das ações e, sobretudo, com o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), que não deslancha, Dilma encomendou um estudo à Câmara de Gestão. Deseja melhorar a eficiência da máquina pública e enxugar estruturas "viciadas" nos ministérios.

Responsável pela coordenação da equipe, a Casa Civil foi desidratada quando Antonio Palocci assumiu o cargo. De lá saíram o PAC e outros programas importantes porque Palocci, homem forte do governo, tinha a tarefa de imprimir perfil mais político à articulação do Planalto.

Desde junho, no entanto, quando Palocci inaugurou a lista dos defenestrados - acusado de multiplicar o patrimônio -, Dilma vem "ruminando" uma ideia: quer que a Casa Civil, pouco a pouco, retome antigas funções.

No desenho em estudo para o núcleo do governo, os fóruns de gestão podem ser assumidos pela Casa Civil vitaminada, sob a chefia de Gleisi Hoffmann.

Dilma sabe que a lua de mel da população com a primeira mulher presidente acaba em 2012. Até aqui, ela se aproximou da classe média e foi a governante mais bem avaliada na estreia: seu desempenho teve 56% de aprovação, segundo pesquisa CNI-Ibope. De agora em diante, porém, o discurso de intolerância com o malfeito não basta.

"Depois de um ano, cai a máscara do governo que falava em eficiência da gestão. Dilma, em vez de administrar o Brasil, só administrou problemas com o PT e com os aliados do PMDB, PC do B, PR e PDT", criticou o senador Aécio Neves (PSDB), ex-governador de Minas.

As trombadas do PT com o PMDB foram as que mais irritaram Dilma. Houve cotoveladas por espaço na diretoria da Caixa Econômica Federal e no comando de estatais poderosas, como Furnas. "Há um déficit de atenção à política por parte do nosso governo", admitiu o senador Jorge Viana (PT-AC). "Estamos bastante desorganizados para lidar com as eleições de outubro, que, por serem paroquiais, dividem a base aliada e deixam sequelas."

Sem paciência para esse varejo, Dilma parecia mais interessada, nos últimos dias de 2011, em desvendar outras histórias. Uma delas, contada por Gabriel García Márquez em O General em Seu Labirinto, livro que ganhou do presidente da Venezuela, Hugo Chávez. A outra, descrita por Candice Millard em O Rio da Dúvida, presente da ministra das Relações Institucionais, Ideli Salvatti. Nada de reforma nem de arrocho. "Quando leio, viajo para outro mundo", resume Dilma.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Encruzilhadas mundiais :: Fernando Henrique Cardoso

O predomínio do Ocidente é contestado por fatores "asiático-cêntricos"

Diante dos horrores da Segunda Guerra Mundial, os vencedores se dispuseram a criar a ONU e outras instituições internacionais para impedir as grandes conflagrações e regular, dentro do possível, certas matérias de interesse geral, como o comércio, com a Organização Mundial do Comércio, e os desequilíbrios financeiros globais e o socorro a países endividados, com o Fundo Monetário Internacional. Outras, ainda, para promover o desenvolvimento (o Banco Mundial) ou para remediar as questões básicas dos povos em matéria de saúde (a Organização Mundial da Saúde) e de educação (a Unesco). Embora longe do ideal, é inegável que essas organizações alcançaram algum progresso. Em pelo menos um ponto crucial, a ONU foi vitoriosa: apesar da Guerra Fria, não se deu um choque direto entre os Estados Unidos e a União Soviética. No período pós-Guerra Fria, tampouco se veem riscos de confronto militar entre a China e as potências ocidentais.

Ocorre, entretanto, que já se passaram mais de 50 anos da formação da ONU, e os fundamentos econômicos e políticos da ordem mundial se transformaram enormemente. Pelo menos quatro fatos significativos impõem uma revisão dessas instituições internacionais: o fim da União Soviética, a incrível expansão econômica da China, a reaparição do mundo islâmico na cena internacional e a emergência de novos polos de poder econômico e político no mundo (não apenas os Brics, mas a Turquia, o Irã, a África do Sul, a Coreia do Sul e outros países asiáticos). Sem esquecer que Japão e Alemanha, que não têm assento no Conselho de Segurança, colocaram-se no topo da economia mundial.

No mundo ocidental, a transformação de maior significado foi a construção da União Europeia, por seu alcance político-civilizatório. Esse movimento unificador foi consequência do mesmo impulso que levou à formação da ONU: cansados de guerrear, Alemanha e França tornaram-se o sustentáculo da Comunidade Europeia, conjunto de nações cujas relações devem basear-se na solidariedade entre a Europa mais rica e a mais pobre, em um arranjo supranacional que busque a paz fundamentada na prosperidade comum.

Considerados em conjunto, os acontecimentos político-econômicos pós-guerra mundial foram capazes de substituir a guerra pela luta por melhores posições na produção, no comércio e nas finanças mundiais. Os conflitos refluíram para o âmbito regional e muito frequentemente tiveram, depois do desabamento da União Soviética e dos ideais comunistas, mais fundamentos culturais e religiosos do que propriamente econômicos. As transformações no sistema produtivo, nos últimos 40 anos, com uma série de avanços tecnológicos, permitiram uma expansão econômica à escala global sem guerras nem anexações territoriais. A atual globalização difere, portanto, da anterior expansão capitalista, denominada geralmente de imperialismo, que supunha o poder dos Estados, com exércitos, guerras e ocupações coloniais.

Que modificações advirão do quadro de poder que vai se desenhando no mundo, somado à crise financeira iniciada em 2007 e que perdura? Uma coisa parece certa: o predomínio do Ocidente se vê contestado pela emergência de fatores econômicos, demográficos, e mesmo culturais, sino-cêntricos, ou, melhor, "asiático-cêntricos". Está reaberta a rota para o Extremo Oriente. Dominique Moïsi, analista francês da cena internacional, vem insistindo na tese, exposta no livro "A geopolítica da emoção". Em artigo mais recente, mostrou que a América está tentando se adaptar ao que chama de "século da Ásia", formando uma comunidade econômica com países daquela região. Alguns países emergentes, como o próprio Brasil, desde a década de 1990 vêm se aproximando da China e da Ásia em geral, sendo que, em nosso caso, as relações com o Japão são mais antigas e já foram mais próximas. Países africanos, mesmo não sendo "economias emergentes", do mesmo modo se vinculam crescentemente à China como exportadores de matérias-primas, tendência seguida por vários países da América Latina.

Com as consequências econômicas da crise financeira atual, é natural que a tendência de depender da Ásia se reforce. Dela escapa a Europa, embora não tenha sido capaz de tomar decisões que interrompam a débâcle econômico-financeira. Velhas tensões voltam a incandescer os corações europeus. Berlim quer se manter na ortodoxia financeira, não aceita que o Banco Europeu empreste aos Tesouros nacionais, teme que os eleitores reajam negativamente a ajudar países que, ao ver deles, não souberam ser previdentes. Por isso se recusa a emitir bônus salvadores em troca de títulos das dívidas dos bancos e países europeus. É como se, de alguma maneira, voltássemos, figurativamente, à linguagem das guerras. Em alguns países europeus se deu a falência da política: enquanto os povos protestam indignados, os "mercados" indicam e conseguem impor primeiros-ministros, tal a desmoralização dos partidos e da classe dirigente.

Neste panorama, é premente que apareçam lideranças globais do calibre das que conseguiram criar a ONU e suas diferentes organizações, e daquelas que construíram a velha-nova Europa. Os governos norte-americanos já erraram muito ao não perceber o significado do mundo árabe e islâmico e tentar impor-lhe o seu estilo de democracia, quando eles próprios já se retorciam em dificuldades econômicas e políticas. O mundo todo paga o preço da expansão do terrorismo e da quase impossibilidade de manter unidas comunidades religiosas, culturais e nacionais diversas sob o domínio de um mesmo Estado. Caiu o Iraque, mas a paz não veio. O Afeganistão padece entre a corrupção e os senhores da guerra e do ópio. Na Líbia, uma intervenção que tinha propósitos humanitários percorreu o caminho das atrocidades e por aí vamos, sem mencionar as áreas mais quentes como Palestina/Israel, Irã ou Paquistão.

Com realismo, mas sem perder de vista os ideais universais desenhados em 1948, é urgente que as potências dominantes reconheçam as novas realidades e convidem à mesa os que têm vez e voz no mundo. Tomara que Dominique Moïsi tenha razão e que a liderança americana esteja mesmo construindo as bases para um relacionamento estável, de paz, prosperidade e respeito aos direitos humanos com a Ásia, sem ambicionar difundir sua ideologia política nem, muito menos, aceitar a generalização do modelo chinês.

FONTE: O GLOBO

Lembrando os anos 1930 :: Luiz Sérgio Henriques

No fim de um ano dramático, que fez desfilar diante de nós os penosos desdobramentos da crise iniciada com as hipotecas podres americanas e, agora, atinge em cheio o projeto de unificação europeia, seria irresistível a tentação do pessimismo e até a adoção de tons apocalípticos, não fosse a lição do poeta, mineiro e universal, a nos advertir que o último dia do ano não é o último dia do tempo, muito menos o último dia de tudo.

Feita a ressalva poética, cuja ironia nos autoriza a manter, apesar dos pesares, o otimismo da vontade, cabe admitir em sua abrangência os efeitos de uma situação que começa a extravasar poderosamente da economia para a política, suscitando opiniões que aludem, por analogia, a um dos períodos mais críticos do século 20. De fato, o que agora crescentemente se toma como referência é o período que testemunhou a longa guerra civil europeia, iniciada em 1914 e concluída com o conflito generalizado entre 1939 e 1945. No meio de tudo isso, a Grande Depressão dos anos 1930.

Então, como agora, havia um diagnóstico generalizado em diversas áreas políticas e vocalizado de modo semelhante por intelectuais do amplo espectro democrático, com exceção, naturalmente, dos adeptos das soluções corporativas e nacionalistas representadas pelo fascismo e pelo nazismo. O diagnóstico considerava que o século 20, além de assistir à emergência irresistível das massas, padecia de uma contradição insanável: por um lado, os laços econômicos internacionalizavam-se e tornavam os diferentes sistemas nacionais cada vez mais dependentes uns dos outros; por outro, a incapacidade de governar politicamente tal internacionalização fazia nações-chave se fecharem nas próprias fronteiras, estimulando um nacionalismo agressivo ou, no caso do nazismo, abertamente belicoso.

O contexto crítico dos nossos dias, com a depressão econômica que se aprofunda, parece suportar a analogia. Pode-se hoje falar, sem metáfora de nenhum tipo, de uma economia-mundo, ou seja, de um sistema econômico mundial, formado, no entanto, a partir de forças de mercado livres de qualquer regulação democrática. O esvaziamento da política ou a sua irrelevância como expressão da soberania popular assumem por vezes níveis inéditos. Para dar um exemplo dessa irrelevância, veja-se a Bélgica, um país que, de resto, é a "capital" da Europa unificada. Pois esse país emblemático, das eleições parlamentares de meados de 2010 até há poucas semanas, esteve sem governo formalmente constituído, como se isso fosse rigorosamente dispensável.

Deixemos de lado a especificidade belga, constituída pela fratura interna entre flamengos e francófonos, que não é o caso de analisar aqui. O exemplo só nos interessa como sintoma de que, uma vez mais, os fatos da economia parecem um "processo histórico natural", não governado ou pobremente governado por instâncias políticas incapazes de propiciar segurança social e garantir aos cidadãos, seja no plano nacional, seja no das instituições supranacionais, um mínimo de participação e sentido de pertencimento.

A mais recente voz a fazer soar o alarme foi Paul Krugman, ao sublinhar a precária situação da democracia em outro pequeno, mas representativo, país da mítica Mitteleurope. Na Hungria, diz-nos Krugman, o partido Jobbik comporta-se segundo o ritual e os "valores" do nazismo, a começar pelo antissemitismo e o patrocínio de um "braço armado". E o partido de governo Fidesz, amplamente majoritário, desenvolve políticas de ocupação permanente do poder - anulando a diferença entre partido e Estado -, partidariza e "aparelha" o Judiciário, além de promover a inviabilização da alternância e estatizar a mídia, tornando-a veículo de propaganda dos donos eventuais do poder. Um quadro no qual, segundo Krugman, embora não haja um Hitler à vista, a possibilidade de colapso do euro seria um problema relativamente menor para as elites políticas europeias e o projeto de unificação.

Nos anos 1930, como se sabe, havia uma esquerda comunista à frente de um Estado poderoso que, num percurso acidentado de todos os envolvidos, terminaria, felizmente, por se associar às democracias ocidentais para derrotar o desafio nazi-fascista à civilização. Ainda no Ocidente, especialmente na França e Espanha, comunistas e socialistas puderam se encontrar em trincheiras comuns, ao lado de democratas "burgueses", como então se dizia, a partir das políticas de "frente popular". (E até no Brasil, em contexto diverso, a experiência da ANL, em 1935, sem contar o desastrado desfecho violento, merece figurar como sinal de aglutinação das massas urbanas e tentativa de ampliar a democracia.)

Tudo isso é verdade e deve ainda inspirar aqueles que, à esquerda, se preocupam hoje com o destino de seus próprios países e, ao mesmo tempo, mantêm como horizonte uma sociedade mundial cosmopolita, culturalmente articulada e socialmente mais justa.

É verdade, mas não toda a verdade. O comunismo histórico, portador de reivindicações de mudança substantiva comandada por uma "classe universal", nascera de uma ruptura com a democracia política, cujo sistema de garantias deveria ser suspenso na hipótese de uma tomada revolucionária de poder e construção da nova sociedade sem classes. Aí, como ficaria sempre mais claro, o seu "pecado oriental", de que derivariam sociedades fechadas, as quais seriam repudiadas pelas respectivas populações nos acontecimentos sintetizados simbolicamente na derrubada do Muro de Berlim.

Para evitar esse resultado catastrófico e, também, atuar produtivamente na crise atual uma estratégia sensata deveria levar as esquerdas a dialogar com a tradição liberal, reformando-se para incorporar, entre outras, a dimensão do pluralismo.

Tradutor, ensaísta, é um dos organizadores das obras de Gramsci no Brasil, site: www.gramsci.org

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

2012: receita caseira:: Valdo Cruz

Lá se foi 2011, sem grande brilhantismo, com crescimento econômico despencando e inflação ainda elevada. Bem feijão com arroz, sem agenda de reformas estruturais e inovadoras.

A despeito desse cenário adverso, a popularidade da presidente Dilma e de seu governo não foi afetada. Pelo contrário, melhorou. Para desgosto de aliados, que, maltratados pelo Palácio do Planalto, preferiam uma comandante mais fraca.

Dilma fechou 2011 bem na foto porque, no imaginário popular, foi a responsável pela faxina que derrubou sete ministros, imposta muito mais pelo noticiário da mídia. E porque evitou o pior na economia, garantindo queda no desemprego.

Entra em 2012 com pinta de que manterá uma administração sem surpresas e ousadias, seguindo a linha de administradora de crises e gerente do dia a dia. Deu certo com Lula, pode dar com ela também.

Está convencida de que precisa apertar alguns parafusos que ficaram bambos por conta das seguidas crises ministeriais e da inapetência de alguns auxiliares. Sinal de que mais cabeças podem estar a prêmio na reforma ministerial.

A tensão com a base aliada tende a subir. Segundo assessores, quer reduzir, e não aumentar, o espaço de indicações políticas no governo. Se terá condições de fazê-lo, é outra história -tomara que tenha.

Deseja viabilizar seu sonho de derrubar a taxa de juros para a casa de um dígito, quem sabe 9,5% ao final do ano. O Banco Central já avisou, porém, que, se a inflação não seguir caindo, para nos 10% ao ano.

Para dar uma mãozinha ao BC, terá de manter forte rigor fiscal. Enfrentará resistências de aliados e equipe, desejosos de aumentar os gastos públicos em ano eleitoral.

Enfim, se 2012 repetir 2011, um assessor tem uma receita caseira pronta para preservar a imagem presidencial. Basta Dilma dar uma olhada na sua equipe, escolher os mais enrolados e trocar sete ministros.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

Do tango ao tangolomango:: Ferreira Gullar

A América Latina vive hoje, por determinadas razões, a experiência do neopopulismo

Os anos que vivi em países latino-americanos levaram-me a perceber que entre eles e o Brasil há importantes diferenças.

Isso não significa que eles, por sua vez, sejam todos iguais; não obstante, há, entre eles, traços que os distinguem de nós.

Não é que sejamos melhores ou piores que eles, mas há diferença. Já me referi a isso aqui, faz algum tempo, mas agora essa observação me volta à lembrança, ao saber das medidas francamente antidemocráticas tomadas por Cristina Kirchner, recentemente reeleita presidente da Argentina. E foi na Argentina que passei a maior parte de meu exílio.

Mais precisamente em Buenos Aires, cidade que adoro e que, apesar dos pesares, muito ajudou a enfrentar a barra pesada daqueles anos.

Cheguei ali no mesmo dia em que morrera o presidente Perón e, por isso, tive que aturar, durante três dias, a exposição do velório dele, ininterruptamente exibido na televisão.

Ali estava, enfim, morto, o homem que governara a Argentina por duas vezes e que, em seu primeiro governo, transformara sua mulher, Evita, numa mitificada mãe dos pobres e que, morta, teve seu cadáver posto em exposição na sede da CGT até ser ele apeado do poder pelos militares.

Levou consigo o cadáver dela para a Espanha e o instalou na casa onde passou a viver com a nova mulher, Isabelita. Esta penteava os cabelos da morta todos os dias, conforme a vontade do marido.

De volta à Argentina, fez de Isabelita sua vice, de modo que, morto ele, assumiu ela o governo do país, embora nada entendesse daquilo, cantora de cabaré que havia sido. Não faz muito tempo, seu herdeiro político, Néstor Kirchner, fez de Cristina também sua vice; assim, morto ele, passou ela a governar o país.

País estranho é a Argentina. Se é verdade que também no Brasil tivemos a ditadura de Getúlio Vargas, igualmente travestido de pai dos pobres, jamais adquiriu a aura mistificante que até hoje mantém o peronismo como força política atuante no país.

Lembro que, quando Isabelita assumiu o governo, sem qualquer qualificação para isso, a CGT difundiu pelo país um cartaz em que ela aparecia vestida como Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, tendo ao alto, de um lado, o rosto de Perón, e do outro, o de Evita, lançando luz sobre ela, e embaixo a seguinte frase: "Se sente, se sente, Perón e Evita estão presentes".

Ninguém teria coragem de fazer coisa semelhante no Brasil, mas na Argentina pode, e tanto pode isso como pode sequestrar do túmulo o cadáver de um general, levado para a Itália por razões políticas; e também pode, no dia da chegada de Perón, em 1973, peronistas enforcarem peronistas sob o palanque em que discursava o líder recém-chegado.

Se soube de tudo isso com perplexidade, igualmente perplexo leio agora as notícias, que me chegam de lá, após a vitória eleitoral de Cristina Kirchner.

Ao que tudo indica, estamos diante de uma personalidade surpreendente que, ao contrário de Isabelita, que não sabia a que viera, sabe muito bem o que pretende e está disposta a levar suas pretensões às últimas consequências.

A América Latina vive hoje, por determinadas razões, a experiência do neopopulismo, que tem como principal protagonista o venezuelano Hugo Chávez.

É um regime que se vale da desigualdade social para, com medidas assistencialistas, impor-se diante do povo como seu salvador. Lula seguiu o mesmo caminho, mas, como o Brasil é diferente, não conseguiu o terceiro mandato.

A solução foi eleger Dilma para um mandato tampão.

Porque o neopopulismo se alimenta de uma permanente manipulação do setores mais pobres da população, o seu principal adversário é a imprensa, que traz a público informações e críticas, que desagradam o regime.

Por isso mesmo, Chávez faz o que pode para calar os jornalistas, enquanto Lula e sua turma tentaram criar aqui um órgão para controlar os jornais.

Não o conseguiram, mas Cristina, na Argentina, talvez o consiga, já que acaba de aprovar uma lei que põe sob controle do Estado a produção de papel de imprensa. O jornal que insistir em criticar seu governo, deixará de circular.

Temo pelo que possa acontecer à Argentina, nas mãos de uma presidente embriagada pelo poder.

FONTE: ILUSTRADA/FOLHA DE S. PAULO

A indústria brasileira na encruzilhada:: José Roberto Mendonça de Barros

Nossa indústria está virtualmente estagnada desde 2008: enquanto o PIB total acumulou alta de 16 % em 4 anos, o PIB da indústria de transformação cresceu só 4 %

O ano de 2011 vai se encerrando com uma expressiva desaceleração na atividade econômica. Como a maior parte dos analistas, a MB projeta um crescimento de 2,7% para o Produto Interno Bruto (PIB) do ano. Entretanto, na ponta, o crescimento dos últimos meses tem sido próximo de zero.

Na composição do PIB, serviços e construção civil crescem na faixa dos 3%, agropecuária e extrativa mineral entre 2,0 e 2,5% e, bem atrás a indústria de transformação deverá se expandir entre zero e 0,5%.

Na verdade, o mal desempenho da indústria de transformação não ocorreu apenas neste ano; a realidade é que nossa indústria está virtualmente estagnada desde 2008. Enquanto o PIB total acumulou uma alta de 16 % nos últimos 4 anos, o PIB da indústria de transformação cresceu apenas 4 %.

Por que isso está ocorrendo? Por que o crescimento da demanda não levou a uma rápida elevação da produção, ao contrário do que vem ocorrendo em boa parte dos serviços e do agronegócio?

De uma maneira bem geral, podemos dizer que a expansão do agronegócio apresenta as seguintes características: farta produção de pesquisa e inovações, transformadas em pacotes tecnológicos, que tem elevado sistematicamente a produtividade. Ao mesmo tempo, as cotações internacionais foram bastante boas, o que permitiu compensar a valorização do real e elevar a produção.

No setor de serviços, a expansão decorreu em parte da contínua introdução de melhorias tecnológicas, como nos casos de telecomunicações, de finanças e de grandes áreas de comércio, como os supermercados, onde as cadeias de suprimentos e distribuição se sofisticaram de forma significativa.

Ao mesmo tempo, a natural ausência de competição externa (com exceção do turismo), permitiu uma sistemática elevação de preços, acima da média da inflação, de sorte a compensar as elevações nos custos de produção. Entre 2008 e este ano, até novembro, a inflação acumulou 25% e os serviços tiveram alta de 33%.

Na indústria, ao contrário, o cenário foi muito mais áspero. O efeito deflacionário da produção chinesa e a valorização do real puseram uma extraordinária pressão dos setores mais tradicionais, como calçados, têxtil e vestuário, neste caso agravado por sistemáticas práticas desleais de comércio.

Entretanto, as elevações generalizadas de custos de produção me parecem a chave para entender o fraco desempenho na produção industrial nestes anos, mais ainda do que a questão cambial.

Na verdade, um largo conjunto de fatores está destruindo a competitividade sistêmica do nosso aparelho produtivo, inclusive porque a produtividade tem crescido muito pouco neste período, de sorte que a elevação de custos bate direto nas margens.

Ao contrário do setor de serviços, a possibilidade de importar limita demais o repasse de custos para preços. Espremida entre altos custos e importações muito competitivas, nossa indústria buscou, em massa, o caminho da importação de partes, peças, conjuntos e até bens acabados, como forma de elevar a oferta e competir com o concorrente produzido no exterior. Como resultado, boa parte do estímulo do crescimento da demanda vazou para fora do País.

O espaço é curto para uma elaboração mais detalhada das pressões de custos, mas os suspeitos são bem conhecidos: transportes precários, energia cara, aguda escassez de mão de obra treinada, custo do capital de giro e um sistema tributário pesado.

Neste caso, por exemplo, basta pensar nos créditos de impostos não devolvidos, nos custos das obrigações parafiscais e no fato que o sistema penaliza a terceirização e o alongamento das cadeias produtivas, exatamente na contramão do que é necessário para dar foco às empresas e elevar a produtividade. Nessas circunstâncias, a indústria tem de escolher entre dois caminhos.

O primeiro caminho, que estamos namorando perigosamente, é defender o emprego e a produção nacionais com protecionismo e favores a campeões escolhidos, com subsídios que apenas mascaram e postergam problemas e que acabam resultando em maiores elevações da própria carga fiscal, colocando a busca de maior produtividade, de fato, em segundo plano.

O caminho alternativo é manter a economia aberta e aproveitar os estímulos que o mundo nos oferece e simultaneamente enfrentar a dura agenda de elevar a competitividade sistêmica, olhando as causas dos nossos problemas.

Não tenho dúvida que o desenvolvimento de longo prazo é cada vez mais resultado da introdução sistemática de conhecimento, de qualidade e eficiência no sistema produtivo.

É economista

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

No intervalo:: Míriam Leitão

Hoje é domingo, primeiro dia do ano, e por dever de ofício tem que haver aqui uma coluna de previsões, mas sinceramente acho que estamos vivendo tempos imprevisíveis. Ademais, se o texto for sobre as sombras que rondam a Europa, a paralisia decisória do ano eleitoral dos Estados Unidos, quem lerá? Hoje, primeiro dia do ano de 2012, domingo, as pessoas talvez prefiram o descanso.

Melhor seria fazer uma coluna sobre coisa alguma, como se fosse um parênteses, em que as leitoras e os leitores pudessem apenas descansar da sucessão de eventos deste tempo das conexões globais, um silêncio para acolher quem está preferindo uma pausa depois de tanta informação.

Tempos de mídia digital ajudam o jornalista a ouvir quem nos ouve, ler quem nos lê. Isso ensina que estão todos sabendo daquilo que antes ocupavam facilmente os espaços em branco nesta época do ano. O mundo hoje é bem informado, mesmo as pessoas que não se dedicam ao nervoso mercado da informação buscam notícias incessantemente nos seus sites preferidos, nos dados que cruzam, nas dúvidas que alimentam, nas escolhas que fazem.

Por isso é ocioso dizer coisas como: neste ano, ou a Europa encontra uma solução para seu problema monetário ou a crise se agravará, e em qualquer cenário o continente não ajudará o crescimento mundial, pelo contrário, estará em longa hibernação.

A Europa, como todos sabem a esta altura, está num beco sem saída no qual entrou ao iniciar um projeto monetário por razões políticas sem ter pensado no cenário de desequilíbrio econômico. Reunir países diferentes, com níveis diversos de responsabilidade fiscal e de desenvolvimento, e amarrá-los todos na mesma moeda pode ser muito bom ou muito ruim. E a Europa experimentou os dois lados dessa moeda. Foi bom quando deu tudo certo, e os países foram financiados a um custo baixo; ficou ruim quando os problemas apareceram e não há a taxa de câmbio para absorver os choques. Aprendemos no Brasil, nas nossas muitas crises, que países altamente endividados tem como ponto de partida a desvalorização do câmbio para começar a se reorganizar.

Grécia, Irlanda, Portugal e Espanha não têm como fazer isso. E até a Itália deve estar com saudades da sua desvalorizada lira. Sair de um projeto de moeda comum é muito mais difícil do que entrar. Os reflexos são desconhecidos. Frisada nesse dilema, a Europa entra em 2012. Mas isso você sabe.

Também não desconhece as dúvidas sobre os Estados Unidos. O sonho do "Sim, nós podemos" se desfez na dificuldade de Barack Obama de dissolver o caroço deixado pela quebra do Lehman Brothers e a explosão da bolha imobiliária. A sociedade americana voltou aos extremos no debate político. O Partido Republicano reapresentou ideias com data de validade vencida. O Partido Democrata abandonou sua vocação de renovação. E assim os Estados Unidos entram no ano eleitoral de 2012. Como vocês sabem, juntar um ambiente político desses e uma crise que exige decisões rápidas e ousadas não faz bem à maior economia do mundo.

A China continua a ser o que é: uma incógnita. Se seu motor engasgar o mundo inteiro enfrentará solavancos. Mas quem pode dizer exatamente o que se passa na China do silêncio imposto aos dissidentes, dos controles autoritários sobre tudo? Não se compra pelo valor de face números da economia chinesa, nem as notícias da agência oficial. O centro da dúvida da economia atual é que o país que mais cresce tem um sistema político opaco. Com o muito que não se sabe sobre a China quem pode fazer previsão? Há quem diga que a bolha imobiliária que explodiu em outras economias sobrevoa aquele imenso país.

O Brasil continuará aqui nas suas diversas travessias em 2012 e disso também sabemos todos. O ano é eleitoral e por isso será mais difícil aprovar mudanças relevantes. O país faz a colheita dos acertos passados e por isso se sente próspero, mas está plantando pouco futuro.

Não ocuparei seu tempo dizendo que precisamos de um sistema político mais protegido contra as fraudes que sangram os cofres públicos, de uma educação que alimente o salto que o Brasil quer dar, e de mudanças no ambiente de negócios que incentivem a produtividade e inovação no competitivo mundo atual. Nossa agenda é conhecida e a cada fim de ano sonhamos que no ano seguinte ela andará.

É o primeiro dia do ano e calhou de ser domingo, primeiro dia da semana. Por isso melhor não ficar pensando em cada incerteza da economia global. Melhor é curtir os amigos, amar a família, ler um bom livro, recuperar-se da comemoração da noite, esperar o novo com otimismo. E fazer novos propósitos porque é boa a sensação de recomeço. Quem não está de plantão nos serviços que não param pode ficar no ócio nesse intervalo entre o tumultuado ano que acabou e o que começará de fato amanhã quando for o primeiro dia útil. Porque hoje é domingo e primeiro dia do ano vamos visitar a preguiça sem culpa. E em sossego estaremos recarregando as baterias para as inevitáveis batalhas do ano.

Hoje, apenas descanse. Tudo o que tiver que ser feito esperará o dia de amanhã.

FONTE: O GLOBO

Melhor para a Alemanha:: Celso Ming

Há duas semanas, o portal da revista alemã Der Spiegel, das mais importantes do mundo, mostrou surpresa com o fato de que o empresário alemão mostra alto grau de confiança em relação a seus negócios em 2012. Enquanto os dos outros países do euro estão prostrados na recessão e no desemprego, sem ver o fundo do poço, os empresários alemães contam com mais lucros.

A conclusão foi tirada após pesquisa feita com 7 mil executivos de empresas da Alemanha. Eles mantêm a expectativa de que, apesar da crise, seus negócios aumentarão nos próximos 12 meses não só com os emergentes mas, também, com os demais europeus.

É uma condição que reflete a crescente elevação da competitividade do setor produtivo alemão (e não apenas da indústria) em relação a dos demais países da Europa.

Graças à sua maior disciplina sindical e à sua capacidade de conter o avanço dos salários e das aposentadorias, os custos de produção na Alemanha sobem menos do que os dos vizinhos. Por isso, a Alemanha não só exporta mais para o resto do euro, como, também, abocanha fatia maior da renda produzida no bloco.

Esse fenômeno, cujo maior propagador é o analista do Financial Times de Londres Martin Wolf, já havia sido detectado por outros economistas da Europa. Eles preferem dizer que a Alemanha tem mais capacidade de gerar superávits no balanço de pagamentos. Mas, no fundo, a diferença é mesmo de maior competitividade, que não é coisa recente. Vem lá de trás, intensificada na década de 50, durante o chamado Milagre Alemão.

Enquanto cada país europeu teve sua própria moeda, a melhor condição competitiva alemã foi compensada com a valorização do marco alemão e as desvalorizações relativas das outras moedas, movimentos que ajudaram a restabelecer o equilíbrio. E, mesmo a valorização do marco, que tendia a elevar preços de produtos alemães em moeda estrangeira - e, assim, jogar contra a capacidade alemã de exportações -, foi enfrentada como desafio nacional para produzir ainda mais barato.

C0mo a moeda agora é comum, o ajuste puramente cambial já não é mais possível. No entanto, antes ou depois do euro, com ou sem crise, o efeito mais relevante é de que a economia alemã acabe tirando mais proveito do que as demais e se torne ainda mais competitiva.

Em parte, essa capacidade de contenção de salários e de aposentadorias se deve ao regime trabalhista alemão, que dá participação aos funcionários na diretoria das maiores empresas. Os sindicatos não só acompanham melhor o desempenho das empresas, mas mantêm comprometimento mais estreito com o futuro delas (e da economia).

O problema de fundo é que a apropriação desigual do bolo do euro tende a criar novas distorções e a acirrar as já existentes. Alguns analistas advertem que o alemão terá mesmo de se conformar em ter de pagar parcelas cada vez maiores das contas dos países deficitários. O difícil é convencê-lo a repassar aos vizinhos que levam a vida cigarreando o fruto criado ano após ano com tanto sacrifício.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

O Pibão de Dilma

Apesar da crise internacional, a presidente está otimista para 2012. Entre as metas do governo figuram aprovação da Lei Geral da Copa, criação do Fundo de Previdência dos Servidores Públicos, privatização dos aeroportos de Brasília, Guarulhos e Campinas, manutenção da inflação em torno de 4,5% e, para coroar o ano, crescimento de 5% na economia.

Os desejos de Dilma para 2012

Presidente espera consolidar perfil do governo neste ano que se inicia, mas para isso precisa conter a inflação, estimular o crescimento econômico e contar com um Congresso atuante em período de eleições municipais

Paulo de Tarso Lyra

Depois de passar 2011 promovendo trocas de ministros a cada 45 dias no segundo semestre, fechando a torneira orçamentária para conter a inflação herdada do governo anterior e tentando brecar a influência da crise financeira internacional, a presidente Dilma Rousseff espera que 2012 seja um ano para consolidar o mandato. Aos poucos, ela vai liberar os investimentos públicos para que o país possa crescer 5%, tomando cuidado para que a inflação se aproxime do centro da meta de 4,5%. Para isso, precisa torcer, e muito, para que o trem chinês não saia dos trilhos, o que afundaria o mundo em uma prolongada depressão.

No Congresso, a despeito do ano "mais curto" por causa das eleições municipais, Dilma quer aprovar o Fundo de Previdência dos Servidores Públicos Federais; o Plano Nacional de Educação; o projeto que combate a lavagem de dinheiro e o Código Florestal. Neste último caso, Dilma quer sancionar o projeto para ter uma plataforma política a ser apresentada na Conferência Rio + 20, que tratará de meio ambiente e desenvolvimento sustentável e será realizada em junho no Rio de Janeiro.

O ano que começa deve ser um período de poucos lançamentos de programas de expressão — Dilma quer acelerar a execução das iniciativas apresentadas em 2011. O Pronatec, espécie de Prouni para as escolas técnicas federais, deve ter suas matrículas massificadas em 2012. Mesmo caso do Ciência sem Fronteiras, que concede bolsas de estudo no exterior para graduandos, mestres e doutores.

Dilma quer inserir o Brasil na chamada "era do conhecimento". Para isso, luta para aumentar o intercâmbio de estudantes brasileiros com outros países. No planejamento da presidente, não adianta o país crescer se permanecer desigual. Por isso escolheu "País rico é país sem miséria" como slogan de governo. Dilma acredita que só o aumento do nível educacional brasileiro permitirá um crescimento consistente, sem sobressaltos ou recuos tão comuns em outros períodos.

Recursos ara combater a desigualdade, a presidente deve acelerar a liberação de recursos para os programas sociais, sobretudo o Brasil sem Miséria, que sofreu com a necessidade de contingenciamento de verbas nesse primeiro ano de mandato. E intensificar as assinaturas de contratos com a Caixa Econômica para a construção de residências do Minha Casa, Minha Vida faixa 1 — destinada a famílias com renda de até R$ 1,6 mil. A intenção do governo é construir 1,2 milhão de moradias para essa faixa de renda até 2014, o que representa 60% do programa total.

A presidente também quer ver a máquina pública funcionando azeitada. Ela cobrará mais eficiência de todos, especialmente na área da saúde. No primeiro ano à frente do Planalto, Dilma deu atenção especial ao setor: tornou gratuitos medicamentos para hipertensão e diabetes; lançou a Rede Cegonha; e o programa "Melhor em Casa" para que os pacientes possam ter um tratamento de alto nível em suas residências.

Em 2012, a presidente quer estabelecer metas com estados e municípios para assegurar o fluxo de recursos federais. Governadores e prefeitos que firmarem convênios com a União deverão ter um nível de excelência mínimo, planejamentos criteriosos e elaborados, para que as verbas possam, de fato, ser bem empregadas. Aqueles gestores que se revelarem mais eficientes, terão os repasses fortalecidos.

Com a proximidade da Copa do Mundo — em 2013 será realizada a Copa das Confederações —, Dilma sonha em anunciar a entrega dos estádios até dezembro deste ano. A diretoria do Internacional de Porto Alegre frustrou esses planos e anunciou que o Beira Rio só ficará pronto em 2014. Ainda assim, a presidente espera aprovar o mais rapidamente possível a Lei Geral da Copa e lançar, em fevereiro, o edital de concessão de três aeroportos — Brasília, Guarulhos e Viracopos (Campinas). Se a iniciativa for exitosa, como espera o Palácio do Planalto, a próxima etapa será apresentar editais para o Galeão, no Rio de Janeiro, e Confins, em Belo Horizonte.

Mesmo com os percalços neste primeiro ano no cargo, a presidente chegou a dezembro com uma popularidade maior do que as obtida por Fernando Henrique Cardoso e Luiz Inácio Lula da Silva no mesmo período — respectivamente 1995 e 2003. "Apesar das dificuldades, graças a Deus, esse foi um ano bom. E, com certeza, o próximo será ainda melhor", apostou Dilma, no pronunciamento de Natal em cadeia de rádio e televisão.

Crise com a Fifa

A Lei Geral da Copa está para ser votada na Comissão Especial da Câmara e transformou-se em uma das principais crises do governo brasileiro com a Fifa. A presidente Dilma insiste na liberação de meia-entrada para idosos e transferiu os debates sobre a extensão dos benefícios aos estudantes para os governadores. Mas o governo brasileiro cedeu e permitirá a venda de bebidas alcoólicas nos estádios, como queria a entidade máxima do futebol.

Pedidos de réveillon

Pacote econômico

» Assegurar o crescimento da economia em 5%

» Convergir a inflação para próximo do centro da meta (4,5%)

» Torcer para que o trem da China não descarrilhe

Pacote da Copa

» Concluir as obras nos estádios

» Lançar os editais de concessão dos aeroportos de Guarulhos, Brasília e Campinas

» Aprovar a Lei Geral da Copa

Pacote do Congresso

» Aprovar o Fundo de Previdência dos Servidores Públicos Federais; o Código Florestal; o marco civil da internet; o Plano Nacional de Educação e o projeto de banda larga nas escolas rurais; e o projeto de combate à lavagem de dinheiro

Pacote de ações de governo

» Massificar as inscrições no Pronatec e no Programa Ciência sem Fronteiras

» Profissionalizar a máquina pública federal

» Melhorar a gestão na Saúde

» Acelerar a construção de imóveis no Minha Casa, Minha Vida na faixa de até R$ 1,6 mil de renda

» Articular os vários programas lançados ao longo de 2011. Será um ano mais de consolidação do que de grandes anúncios de medidas

FONTE: CORREIO BRAZILIENSE