sábado, 5 de maio de 2012

OPINIÃO DO DIA – Karl Marx: duas teses contra Feuerbach

Tese 10
O ponto de vista do materialismo antigo é a sociedade civil, o do materialismo moderno, a sociedade humana ou a humanidade social.

Tese 11
Os filósofos se limitaram a interpretar o mundo diferentemente, cabe transformá-lo.

MARX, Karl (5/5/1818-14/3/1883), filósofo, alemão.Teses contra Feuerbach, p. 162. Os pensadores: Marx. Nova Cultural, São Paulo 1987.

Manchetes de alguns dos principais jornais do Brasil

O GLOBO
Após mudar poupança, Dilma vai atacar juros da habitação
Honoris Lula
‘Quem está livre de ser preso?’

FOLHA DE S. PAULO
Governo já prevê juros abaixo de 8% neste ano
Justiça autoriza acesso da Folha a dados do BNDES
Valores milionários pagos a juizes de SP serão investigados
RJ deve R$ 300 mi à Delta, diz o seu novo presidente

O ESTADO DE S. PAULO
Depois da poupança governo quer atacar juro de banco privado
Emoção e cobrança
Procurador apura ganho irregular no TJ
Presidente do PT ataca a mídia
Vacinação contra a gripe começa hoje

CORREIO BRAZILIENSE
Juros mais baixos. É hora de...
Gurgel ataca mensaleiros petistas

ESTADO DE MINAS
Queda de juro embala feirão de imóveis
Xerife de Minas na CPI

ZERO HORA (RS)
Pós-câncer: Por que Lula usou bengala em cerimônia
PMDB apoia Fortunati mas adia vice
BB corta ainda mais a taxa de juro

JORNAL DO COMMERCIO (PE)
Estado de emergência atinge todo o Sertão
Poupança ainda é um bom negócio
Delta começou suas atividades em Pernambuco

Marx, 194 anos: Convite para que se releia Marx*::Norberto Bobbio

Nosso seminário nasceu do propósito de dar uma resposta à questão que aflora com uma freqüência sempre maior nos debates sobre as razões e sobre o destino da esquerda: “O que se passa com Marx e com o marxismo?” Uma resposta bem argumentada, que seja capaz de se contrapor à refutação muitas vezes emotiva, irritada, passional e acrítica que se seguiu aos acontecimentos de 1989, por ocasião da derrocada do universo soviético, do qual a doutrina marxista, com todos os seus sucessores autorizados, havia sido o grande motor.

Em sua história já mais que secular, o marxismo conheceu freqüentemente, quando foi assumido de modo fideísta, fenômenos de conversão e inversamente de abjuração; quando foi acolhido como a única ciência possível da sociedade, foi seguido por afastamentos graduais mediante processos de questionamento guiados pela observação da história real. No primeiro caso, poder-se-ia falar de uma verdadeira inversão de rota, de uma brusca passagem de uma difusa e acrítica Marxlatria a uma igualmente difusa e acrítica Marxfobia. No segundo caso, poder-se-ia dizer que o resultado foi obtido por meio de uma contestação das pretensas verdades do marxismo. Como exemplos de afastamento crítico, penso em Lucio Colleti na Itália, em Leszek Kolakowski na Polônia, em Agnes Heller e, em geral, na Escola de Budapeste, na Hungria.

O que quando muito distingue a situação presente das passadas é que o movimento rumo à abjuração ou rumo ao afastamento crítico ficou sempre mais acelerado, e ao que parece mais irreversível, em relação à excepcionalidade da situação histórica. Tal movimento, além do mais, não parece até agora contrabalançado por um movimento inverso: à passagem do marxismo ao antimarxismo não corresponde, como em outras épocas, a passagem inversa do não-marxismo ao marxismo. Refiro-me à grande crise histórica precedente, ocorrida por ocasião da queda do fascismo, quando, na Itália mas também em outros lugares, filósofos originariamente idealistas, neokantianos e existencialistas, abraçaram o marxismo, em um processo tão rápido de transformação que fez que essa transformação parecesse ser quase uma conversão. Penso em personagens não menores como Antonio Banfi, Galvano della Volpe e Cesare Luporini. Na ausência do movimento contrário, hoje a área do marxismo tornou-se mais restrita, porque o não-mais-marxismo dos velhos marxistas não foi compensado pela conversão de não marxistas ao marxismo.

Porém é preciso resguardar-se de declarações de morte apressadas. Em nosso direito civil, para que se possa declarar a morte presumida de uma pessoa são necessários dez anos a partir do dia ao qual remonta a ultima notícia do ausente. À parte o fato de que ainda não se passaram dez anos do grande evento, na história das idéias, os tempos são mais longos e a morte é freqüentemente aparente: vale sempre o mote horaciano multa renascentur com aquilo que segue. Deus também foi dado por morto, mas nunca esteve tão vivo como hoje.

Quantas vezes Marx foi dado como morto! No inicio do século quando a prenunciada derrocada do capitalismo não se deu; depois da Primeira Guerra Mundial, quando a primeira revolução inspirada pelo pensamento de Marx ocorreu em uma região na qual, segundo este mesmo pensamento, ela não deveria ocorrer, uma vez ocorrida a revolução, quando o Estado, em vez de se preparar para a própria extinção, reforçou-se até se transformar na figura sem precedentes do Estado totalitário. Nos momentos decisivos da história contemporânea ocorrera, portanto, exatamente o oposto do que Marx havia previsto. Era natural que os fideístas começassem a se perguntar se Marx não seria por acaso um falso profeta e os cientistas se pusessem inquietos a questão: “Foi mesmo ciência?”.

Também é verdade que as razões dos antimarxistas são hoje bem mais graves. O capitalismo não somente não morreu, mas venceu de modo categórico, tanto que já houve quem sentenciasse que a história terminou: afirmação no mínimo insensata porque pode ser interpretada como o reconhecimento de que o sistema capitalista e democrático, que consegue fazer que a liberdade de mercado conviva com a liberdade política, não parece ulteriormente superável e todo o mundo está destinado a se uniformizar. Nenhuma revolução comunista é previsível no mundo de hoje, mesmo no mundo dos mais pobres e oprimidos, e muito menos nos países capitalistas (segundo a previsão de Marx). Nenhum Estado em nenhuma parte do mundo está em vias de extinção: quando muito, hoje existem Estados que se desagregam mas isso é uma espécie de extinção que não dá lugar a uma sociedade livre sem Estado, e sim a um estado de guerra permanente, à anarquia de Hobbes, não dos anarquistas.

Há uma razão bem mais grave para que consideremos a crise atual do marxismo como excepcional. As crises precedentes, como sempre se disse, derivavam da constatação de um defeito de previsão por parte da doutrina marxista: um defeito que colocava em discussão Marx, seja como profeta, seja como cientista. Mas uma falsa profecia ou uma falsa previsão podem ser salvas com uma operação muito simples, qual seja, deslocando para a frente no tempo o momento da verificação. Diz-se: não era equivocado o anuncio da mudança, mas não havido sido calculado exatamente o tempo em que isso se daria. Trata-se de um argumento recorrente em todas as visões apocalípticas da história, tanto se for anunciado o advento do reino da liberdade quanto se for anunciado o advento do Espírito Santo. Permanece a certeza de que o evento prenunciado ocorrerá. Resta incerto o momento: Certus na, diria um jurista, incertus quando.

A crise atual não deriva de um erro de previsão, mas da constatação cabal de um fato real: a falência catastrófica da primeira tentativa de realizar uma sociedade comunista em nome de Marx e do marxismo, ou melhor, de Marx em companhia de Engels, seguidos por Lenin e depois por Stalin por meio de uma sucessão interpretada como uma filiação ou uma derivação do mesmo pai. A comparação entre as Igrejas tradicionais e a Igreja comunista foi feita tantas vezes que parece uma banalidade ou uma maldade de adversários irredutíveis. Mas também sob esse aspecto, isto é, sob o aspecto da verdade fundada em um princípio de autoridade e de sucessivas autorizações de outras autoridades é surpreendente. Houve quem, diante de fatos reais, igualmente, perturbadores como Auschwitz tenha falado até mesmo em” derrota de Deus” (Sergio Quinzio). Porque é que diante dos gulags Stalinianos não poderia falar em derrota de Marx?

Diante dessa imensa derrota real, que não é somente um erro de previsão mas uma prova de fato da conseqüência perversas de um programa de ação e de transformação social derivado de uma doutrina , não basta fazer o relógio andar para traz para salvar a obra do fundador. São necessárias outras estratégias de interpretação e de correção que não tem qualquer analogia com as velhas estratégias: nem com o revisionismo, que considerava poder salvar o marxismo enxertando-o em uma outra filosofia - ora o positivismo, ora o neo-kantismo, ora a fenomenologia -, nem com o retorno ao Marx genuíno, ao “verdadeiro” Marx, mal compreendido pelos maus discípulos. Apesar disso, ambas as estratégias foram novamente tentadas – a primeira nos Estados Unidos com o enxerto da filosofia de Marx na filosofia analítica, a segunda com a recorrente operação de libertar Marx dos vários marxismos. É como dizer que o barbudo que foi belamente exibido durante anos em toda a iconografia soviética era somente a face, o rosto externo, do fundador, não sua alma oculta que esperava ainda ser revelada.

Hoje são necessárias, eu dizia, estratégias de salvação mais fortes. Vejo principalmente duas delas. A primeira: não obstante a conclamada derivação marxiana do comunismo soviético, Marx, o “verdadeiro” Marx não é de modo algum o responsável pelo que ocorreu no país, ou melhor, nos país do assim chamado socialismo realizado. E não é responsável porque não existe uma relação imediata entre teoria e práxis. O mesmo discurso tem sido repetido a anos com respeito à responsabilidade de Nietzsche perante o nazismo. O fato de que Hitler considerasse Nietzsche um de seus mestres, tanto que deu as obras completas do profeta de Zaratustra de presente para Mussolini quando Mussolini o libertou da prisão em que estava recolhido depois do 25 de julho de 1943 não significa nada porque é natural que um chefe político queira embelezar e engrandecer a própria obra fazendo que ela pareça como inspirada por um grande filósofo. Ao longo dos séculos, sempre foi difícil distinguir Cristo do Anti-Cristo: muitas vezes o Anti-Cristo foi visto como sendo Cristo. O que Marx tem a ver, objeta-se, com o sistema político e policialesco instaurado na União Soviética? Vamos reler Marx, dizem os novos revisores, e nos daremos conta de que as idéias de Marx são precisamente o oposto das que puderam inspirar um Estado tirânico. Marx é um pensador libertário, até mesmo um individualista, de modo algum um organicista, e sua doutrina não é a inversão da grande tradição liberal, mas sua única possível realização.

Uma segunda estratégia é a que parte da constatação de que existem muitos Marx e de que, à distância de mais de um século, não dá para salvar a todos eles nem para jogá-los todos fora. É a estratégia que eu chamaria de” dissociação”. Há um Marx economicista, um Marx historiador, um Marx sociólogo, um Marx filósofo. Estas diversas faces do mesmo e único personagem servem à estratégia da recuperação mediante a dissociação. Marx morreu como filósofo? Pode-se dizer o mesmo do Marx economista? E assim por diante. Marx foi até agora o crítico mais radical do capitalismo. O capitalismo venceu sua batalha contra a primeira tentativa de organizar um sistema social fundado não na economia de mercado mas na economia de comando. Mas a vitoria do capitalismo é definitiva? A economia de mercado, enquanto resolve certos problemas como o da produção dos bens, cria outros problemas, como o da distribuição. Um dos maiores economistas italianos Paolo Sylos Labini, participando do debate em curso na revista Il Ponte, intitulado Carlos Marx: é tempo di um bilancio (Karl Marx: é tempo de balanço), escreveu entre outras coisas:

Quanto mais diretamente as teses de Marx estão associadas ao seu programa revolucionário, mais é preciso desconfiar delas, ao passo que as teses mais afastadas daquele programa, ou seja, as teses verdadeiramente analíticas, são consideradas valorizadas, sempre com olhos críticos MS com menor suspeita (1991 pag24)

Ao comentar amigavelmente este seu artigo, se não considerava que ao menos duas teses fundamentais do Marx economista deveriam estar sempre presentes: (a) o primado do poder econômico sobre o poder político (que constatamos todo dia também na Itália) e (b) a previsão de que por meio do mercado tudo pode se tornar mercadoria, donde a chegada inevitável à sociedade da mercadorização universal.

Outra dissociação mencionada já no início, marca toda a história do marxismo: a dissociação entre o Marx cientista e o Marx profeta, cuja crítica caminha puri passu com o descrédito de toda forma de utopismo que pressupõe uma concepção perfeccionista do homem Essa crítica está particularmente presente no atual debate filosófico italiano por meio da descoberta ou da redescoberta da obra de Augusto Del Noce Mas a refutação do perfeccionismo pertence a pleno direito também à tradição do pensamento liberal. Refiro-me à critica da filosofia da história do pensamento de Croce, à famosa tese da “pobreza do historicismo” de Popper e à obra global de Isaiah Berlin na qual é recorrente a refutação dos autores que alimentaram visões perfeccionistas da história. Observo de passagem que em um dos últimos números da Biblioteca della Libertá, o órgão mais representativo do pensamento liberal na Itália, lê-se um artigo de Michele Marsonet, que considera como erro fundamental de Marx a sua antropologia, segundo a qual o homem é um ser capaz de infinita perfectibilidade (1991 pag. 39-58). O autor remete a pensadores como Voegelin, que tiveram muito sucesso também na Itália, entre outros, também mediante Del Noce, e à crítica do gnosticismo, segundo o qual o mundo presente é mau e deve ser radicalmente modificado.

No entanto, ainda que o profetismo não goze hoje de muito prestígio, não é verdade que tenha sido totalmente abandonado. Escolho dois exemplos dele: Luciano Canfora, em seu pequeno livro Marx vive a Calcutta (Marx vive em Calcutá) (1992, pag21) reavalia o marxismo precisamente como utopismo escrevendo: “São os impulsos utópicos que movem a história: a utopia cristã da redenção universal, a utopia iluminista da paz perpétua... a utopia comunista”. É supérfluo observar que uma afirmação deste gênero caminha em direção oposta à indicada por Marx e sintetizada por Engels. Não mais “o socialismo da utopia à ciência” mas, com uma inversão total e um retorno às origens, “o socialismo da ciência à utopia”. Em uma entrevista e Emmanuel Levinas feita por Barbara Spinelli e publicada em La Stampa há poucos dias (6 de maio de 1993), o filósofo diante da questão de saber se as democracias venceram, responde:

A mim parece que as democracias perderam muito. Não obstante todos os excessos e os horrores, o comunismo sempre representa uma espera. Espera de poder corrigir os equívocos e as injustiças cometidas contra os mais fracos, espera de uma ordem social mais justa. Não digo que os comunistas tivessem pronta a solução, nem que a tivessem preparando. Longe disso. Mas havia a idéia de que a história teria um certo sentido Que viver não seria um viver insensato. É uma idéia que os ocidentais tiveram no século XVIII e que Marx enraizou no pensamento do século XX. Não creio que perder essa idéia para sempre seja uma grande conquista espiritual. Até ontem, pelo menos, sabíamos para onde ia a história e que valor dar ao tempo. Agora vagamos perdidos perguntando-nos a todo instante: “Que horas são?” Fatalístamente, um pouco como costumam perguntar os russos. Que horas são? Ninguém mais sabe.

Como vocês podem ver, não faltam problemas para se discutir. Bom trabalho.

*Texto da conferência inaugural do seminário ‘Reler Marx depois do dilúvio’. Turim, 11-13 de março de 1992

BOBBIO, Norberto. Em ‘Nem com Marx, nem contra Marx’, p. 299-306. Editora UNESP, 2004.

Após mudar poupança, Dilma vai atacar juros da habitação

Governo estuda criar ranking de taxas cobradas para ajudar mutuário

Depois de mudar a remuneração da poupança para permitir a queda dos juros no país, o governo Dilma planeja agora reduzir os custos dos empréstimos da casa própria. Como 70% dos recursos que financiam a habitação vêm da poupança (que terá correção mais baixa quando a Taxa Selic chegar a 8,5%), a equipe econômica espera que os bancos repassem essa queda aos mutuários. Para isso, quer estimular a concorrência, facilitando a transferência do financiamento de um banco para outro que oferecer taxa menor. Poderá ser criado um ranking de juros e tarifas para o cliente buscar melhores condições de empréstimo. Ontem, o BB anunciou novas reduções de taxas do cheque especial e crédito pessoal.

Próximo alvo: juros da habitação

Governo estuda medidas para aumentar concorrência entre bancos e beneficiar mutuários

Martha Beck, Geralda Doca e Marcio Beck

O dilema dos juros

Após mexer na remuneração da caderneta de poupança para permitir a queda da taxa básica de juros (Selic), o governo quer agora reduzir os custos dos empréstimos habitacionais. Como cerca de 70% dos recursos que financiam a casa própria vêm da poupança - que passará a ter uma correção mais baixa quando a Selic chegar a 8,5% ao ano - a equipe econômica espera que os bancos repassem essa queda aos mutuários. Para isso, quer estimular a concorrência entre bancos, facilitando a transferência do financiamento de uma instituição para outra que oferecer melhores taxas, a chamada portabilidade.

Para o governo, uma vez que o retorno pago aos poupadores será menor, os bancos terão margem para cobrar menos nos novos financiamentos. Mas existe um problema nos contratos habitacionais antigos, fechados com taxas mais altas. A legislação brasileira já permite que os clientes de um banco migrem seu contrato habitacional para outra instituição que lhe ofereça condições melhores. Mas há tantos obstáculos que essas operações são raras. Com custos cartoriais e taxas, o mutuário pode ter de desembolsar mais de R$ 20 mil para migrar seu empréstimo para outro banco. Além disso, não há interesse dos bancos em divulgar essa alternativa. As instituições seguem procedimentos distintos, há documentos diferentes, e os bancos não dão publicidade a taxas e tarifas cobradas em todo o processo.

Equipe estuda criar ranking de taxas

Por isso, uma série de medidas estão sendo estudadas pela equipe econômica para facilitar a transferência dos contratos habitacionais. Uma delas é a criação de um ranking de juros e de tarifas que permita aos clientes monitorarem constantemente onde buscar melhores condições para seu financiamento. Por outro lado, cogita-se permitir a cobrança de algum pedágio de quem quiser migrar seu contrato de instituição no início do prazo, quando o banco ainda não amortizou o custo da operação.

Os técnicos do governo reconhecem que algum encargo terá que ser repassado aos clientes, uma vez que os empréstimos antigos foram concedidos com recursos captados a um custo maior. Esse pedágio poderia acabar com cobranças de taxas que hoje servem para desestimular a migração.

Apesar dos estímulos, o governo sabe que esse processo de migração é gradual e limitado, porque os bancos em geral não vão querer repassar a queda nos juros imediatamente aos clientes, como forma de se protegerem do descasamento entre as taxas. Ou seja, se os juros caírem para 8% ao ano no curto prazo, cai o custo de captação dos bancos para emprestar aos clientes. Mas, se as taxas subirem no futuro, esse custo aumenta. E os contratos habitacionais são de longo prazo.

- Portabilidade é algo bom e normal. Mas se você tiver demais, pode desequilibrar o sistema. Não é tão simples assim. Vamos estudar isso com cautela - disse um técnico.

Para o economista Bernard Appy, ex-secretário-executivo do Ministério da Fazenda e atual diretor da LCA Consultoria, o descasamento entre a caderneta e o crédito imobiliário já está acontecendo, porque o governo criou duas regras para a poupança - separando a velha da nova - mas manteve inalteradas as regras dos financiamentos habitacionais. Ou seja, parte do dinheiro que vai financiar a habitação terá um custo mais alto e outra parte, um custo mais baixo.

- Existe este descasamento, e os bancos vão querer fazer um hedge (lastro). Eles captam no curto prazo para emprestar no longo prazo. Daí a diferença - diz o ex-diretor do Banco Central Carlos Thadeu de Freitas Gomes.

Caixa: mais recursos para financiamento

Dependendo da evolução do estoque da antiga poupança (se cair mais rápido do que os financiamentos antigos, que levam em média 15 anos para acabar), os bancos terão lucro, cenário mais provável, explicou Appy. Caso contrário, poderão ter prejuízos. Esse descasamento não existiria, destacou, se as novas regras valessem para todos os depósitos (velhos e novos).

Para Carlos Thadeu, sem mudanças importantes não há como acabar com a inércia deste processo:

- Não é como a portabilidade de um celular, que pode ser feita pelo telefone mesmo. Os clientes precisam ter acesso a todas as informações para mudar do seu banco (para outro).

Se a Selic continuar em queda, a médio prazo, o crédito para financiamentos de habitação poderá ter impactos positivos, disse ontem o presidente da Caixa, Jorge Hereda, em entrevista após a abertura do 8 Feirão da Caixa, no Riocentro. Segundo ele, a redução da Selic acabará tornando a aplicação de recursos próprios do banco em crédito para compra de imóveis tão vantajosa quanto em títulos públicos.

- Com a Selic caindo a 7,5%, 7%, poderemos viver uma situação inédita no Brasil, que é a de ter que colocar recursos de tesouraria no financiamento habitacional. Vamos ter o mesmo comportamento que no resto no mundo. Só aqui não se financia habitação com recursos próprios. O ambiente de juros altos faz com que não compense - explicou.

Hereda crê que, a médio prazo, a obrigatoriedade de uso de 65% dos recursos da poupança no financiamento da habitação pode se tornar desnecessária. No caso da Caixa, diz ele, isso implicaria em aumento da oferta de crédito para casa própria.

Com expectativa de alcançar até R$ 18 bilhões em negócios, valor 20% superior ao do ano passado, o 8 Feirão da Casa Própria oferecerá 430 mil imóveis em 13 cidades. Na cerimônia de abertura, no Riocentro, Hereda disse que o resultado será impulsionado pelo pacote de redução de juros. A superintendente da Caixa no Rio, Nelma Souza Tavares, diz que serão negociados cerca de 46 mil imóveis, sendo 29 mil na planta, quatro mil novos prontos e 13 mil usados. O Feirão vai funcionar hoje das 10h às 21h, e no domingo, das 10h às 18h.

FONTE: O GLOBO

Governo já prevê juros abaixo de 8% neste ano

Com o cenário econômico atual e após as mudanças na remuneração da caderneta de poupança, o governo de Dilma Rousseff acredita que haja espaço para que a taxa básica de juros da economia, a Selic, fique abaixo de 8% já no final deste ano. Isso porque o ritmo da economia brasileira ainda é lento e só deve se acelerar no segundo semestre

Planalto já vê taxa de juros abaixo de 8% até fim do ano

Cenário só foi possível com alteração na regra de rendimento da poupança

Expectativa do governo é que economia ainda fraca permita redução da Selic sem risco de pressão inflacionária

Valdo Cruz e Sheila D'Amorim 

BRASÍLIA - Com as mudanças feitas na remuneração da caderneta de poupança e um crescimento econômico ainda lento, a equipe da presidente Dilma Rousseff já avalia que é possível que a taxa básica de juros (Selic) fique abaixo de 8% até o fim do ano.

Segundo assessores presidenciais, isso será possível porque a atividade só vai acelerar, de fato, no segundo semestre, o que abre espaço para o Banco Central dar sequência à redução da Selic, hoje em 9% ao ano.

Reservadamente, a equipe econômica já avalia como impossível atingir um crescimento de 4% neste ano, como deseja Dilma, principalmente depois do anúncio do desempenho negativo da indústria no primeiro trimestre.

A expectativa é que o crescimento da economia fique em pelo menos 3,5%, estimativa com a qual o Banco Central vem trabalhando e que é ainda superior à de boa parte do mercado, que fala em algo entre 2,5% e 3,5%.

Neste cenário de economia enfraquecida, os assessores presidenciais destacam que só a trava da poupança segurava a taxa de juros e que é possível testar um novo piso.

O Palácio do Planalto já dá como certo que, sem nenhuma reviravolta no cenário traçado atualmente, o Banco Central irá reduzir a taxa Selic dos atuais 9% para 8,5% na próxima reunião do Copom (Comitê de Política Monetária), no final de maio.

Nas reuniões seguintes, a avaliação é que o BC tem condições de fazer uma redução de 0,50 ponto percentual e mais uma ou duas de 0,25 ponto percentual -fechando 2012 com taxa de 7,5% a 7,75%.

Ontem, um dia após as mudanças no rendimento da poupança, analistas e investidores derrubaram suas estimativas para a taxa básica de juros neste ano e também em prazos mais longos.

Contribuiu para este movimento o pessimismo com o crescimento das economias avançadas. Se o mundo todo cresce menos, é menor a chance de o Brasil alavancar a sua economia.

As taxas para janeiro de 2017 recuaram 0,30 ponto percentual, de 9,81% para 9,50%, comportamento incomum neste mercado, acostumado a oscilações de 0,01 ponto.

As apostam indicam que os investidores preveem taxa básica de 8% no fim do ano. Mas este pode não ser o piso.

O economista David Becker, do Merril Lynch, reviu de 9% para 7,75% sua projeção para a Selic neste ano.

Segundo ele, o governo não enfrentaria o risco político de mexer na poupança se não fosse para tentar alcançar patamares de baixa inédita para os juros.

"A mudança institucional claramente sinaliza que o governo vê espaço para a taxa continuar caindo", afirmou.

Na sua avaliação, a inflação está sob controle neste momento e a maior preocupação é a atividade fraca.

Assessores presidenciais dizem que Dilma decidiu antecipar as mudanças na remuneração da caderneta de poupança depois de uma reunião com o ministro Mantega e o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, há duas semanas.

Nesta reunião, os dois concordaram que, diante da demora na recuperação da economia e da piora do cenário externo, era possível reduzir mais os juros.

O ex-secretário do Tesouro e hoje economista-chefe do Banco Safra, Carlos Kawall, observa que, diante do desempenho da indústria até abril, os analistas do mercado passarão a rever para baixo suas projeções de crescimento "para menos de 3%".

Para o economista-chefe do Banco Fator, José Francisco Gonçalves, existe o risco de a inflação reacelerar no ano que vem. Mas, na sua opinião, o BC deverá optar por medidas de restrição para conter o crédito antes de voltar a aumentar a taxa básica de juros.

"Baixar a Selic não é garantia de que a demanda vai se recuperar. Mas não fazer nada é garantia de que a economia não vai crescer", disse.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

Depois da poupança governo quer atacar juro de banco privado

Fazenda vai retomar negociação com instituições para diminuir o spread

Depois de mexer no rendimento da poupança para facilitar a queda da taxa básica de juros, o próximo passo do governo será negociar a redução do spread, a diferença entre o que os bancos pagam para tomar recursos e o que eles cobram dos clientes. Na visão do secretário executivo do Ministério da Fazenda, Nelson Barbosa, mesmo sem novas medidas do governo há espaço para reduzir essa margem. O raciocínio é que, com o spread menor, os bancos vão aumentar o volume de crédito e diminuir a inadimplência, criando um ciclo virtuoso que permitirá novos cortes de juros. "O Brasil pode conviver com taxas de juros menores", disse Barbosa.

Depois da poupança, governo aumenta pressão para bancos baixarem spread

Técnicos do Ministério da Fazenda e dos bancos já discutem quais medidas podem ser adotadas para reduzir custo dos empréstimos

Renata Veríssimo, Lu Aiko Otta

BRASÍLIA - Depois de eliminar a caderneta de poupança como empecilho para a redução da taxa básica de juros (Selic), o próximo passo do governo para diminuir o custo dos empréstimos será dar sequência às negociações com os bancos privados para reduzir o spread - diferença entre o que as instituições pagam para tomar recursos e o que cobram dos clientes.

As equipes técnicas do Ministério da Fazenda e dos bancos já discutem quais medidas podem ser adotadas. A base da discussão é a lista apresentada pela Federação Brasileira de Bancos (Febraban) ao governo no mês passado. O secretário executivo do Ministério da Fazenda, Nelson Barbosa, disse que é preciso construir as condições para que a redução da Selic seja transmitida para toda economia. Ele antecipou que nos próximos dias será publicado um decreto que permitirá o funcionamento mais efetivo do Cadastro Positivo.

O mecanismo, que também está na lista de pedidos da Febraban, permite que os clientes transfiram seus dados de uma instituição financeira para outra para negociarem juros mais baixos. Barbosa disse será possível avançar em alguns tópicos apresentados pelos bancos.

"O que vai acontecer provavelmente é que a gente vai chamar os bancos para discutir alguns pontos especificamente. Cada ponto merece uma reflexão. Alguns podem avançar, outros não. Mas uma grande reunião para discutir lista de lavanderia, de novo, acho que não, até porque fica improdutivo", afirmou. O secretário deixou claro, no entanto, que medidas com impacto fiscal têm menos possibilidades de ser adotadas.

Taxas menores. Na visão de Barbosa, mesmo sem novas medidas há espaço para a queda do spread. O raciocínio do governo é que, ao reduzirem essa margem, os bancos vão aumentar o volume de crédito e reduzir a inadimplência, criando um ciclo virtuoso que permitirá novas reduções de juros. "O Brasil pode conviver com taxas de juros menores", disse.

O secretário informou também que estão em estudo no governo mudanças nas regras da portabilidade do crédito. Segundo ele, há reclamações sobre a burocracia e o custo da operação. "Resolvida a questão da poupança, vamos nos debruçar sobre esse assunto", afirmou. "Há pedidos para tornar mais simples e mais barata a portabilidade. Não atuamos de imediato porque estávamos focados na (mudança da) poupança", explicou Barbosa.

Segundo ele, a questão da portabilidade precisa ser resolvida principalmente para que a queda da taxa básica de juros se transmita ao financiamento imobiliário, mas as mudanças em estudo envolvem também outros tipos de financiamentos, como crédito consignado e para a compra de automóvel.

Popularizar a portabilidade do crédito é um movimento considerado fundamental pelos técnicos do governo na ofensiva deflagrada para aumentar a concorrência no mercado bancário. A avaliação é que a difusão da portabilidade pode ser um mecanismo poderoso nessa batalha.

Uma das medidas em estudo retira os entraves para a portabilidade do crédito consignado, com desconto direto na folha, para os trabalhadores que estão na ativa em empresas da iniciativa privada. O consignado já responde por mais da metade do crédito direto ao consumidor, mas 85% desses empréstimos são feitos a servidores públicos e beneficiários da Previdência Social.

A associação que representa os bancos médios e pequenos vai propor ao governo mudanças no consignado, para levar esse instrumento aos trabalhadores do setor privado. O presidente da Associação Brasileira de Bancos (ABBC), Renato Oliva, defende a aprovação de lei que obrigue as empresas a fazer o desconto em folha de acordo com a escolha do trabalhador. Outra medida é permitir que o desconto seja feito não na folha de pagamento pela empresa, mas na hora em que o salário for depositado no banco.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Gurgel ataca mensaleiros petistas

Depois da negativa de ir à CPI e virar alvo do PT, que pretende convocá-lo como investigado, procurador-geral, Roberto Gurgel, diz que pressão é temor quanto ao mensalão.

Gurgel abre guerra a mensaleiros do PT

Procurador-geral da República reage à pressão para depor na CPI do Cachoeira e diz que movimento é feito pelos que temem o julgamento do mensalão

Júnia Gama

Incomodados com a negativa do procurador-geral da República, Roberto Gurgel, em aceitar o convite para depor na CPI do Cachoeira, parlamentares petistas falam em convocá-lo como investigado à comissão, o que, em tese, obrigaria seu comparecimento. A atitude fez a PGR acusar, pela primeira vez, aqueles que defendem a convocação de Gurgel de estarem provocando o procurador-geral por temor ao julgamento do mensalão, tese defendida por parlamentares da oposição desde o início da CPI.

A ideia de um grupo petista ligado aos acusados no escândalo do mensalão é analisar o conteúdo das interceptações telefônicas do inquérito enviado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) e tentar detectar subsídios para que Gurgel seja investigado pela suposta demora em pedir o indiciamento do senador Demóstenes Torres (sem partido-GO) em 2009, quando o PGR teve acesso às investigações.

Por meio de assessoria, a PGR repudiou a ação: “O Ministério Público vê esse tipo de afirmação absurda como uma provocação dos que temem muito o julgamento do mensalão, agora próximo”. Além do próprio procurador-geral, diversos membros do MP estariam incomodados com os esforços de petistas para levar Gurgel à CPI, uma estratégia que, segundo alguns procuradores, seria “coisa de mensaleiro” com o objetivo explícito de desgastar o PGR.

O deputado Cândido Vaccarezza (PT-SP), integrante da CPI, está na linha de frente dos que defendem uma manobra para trazer Gurgel à comissão. “Temos que ouvir as fitas para saber o motivo de Gurgel ter escondido essas informações da sociedade e não ter tomado as medidas que deveriam ser tomadas. Se houver indicação de que ele está envolvido em algum ilícito, aí será convocado. Se foi por má-fé que não pediu o indiciamento de Demóstenes em 2009, isso cria as condições para que ele seja convocado como investigado no âmbito da CPI. Quero saber o que ele escondeu da sociedade”, insinua o deputado. Segundo Vaccarezza, as denúncias que o procurador-geral apresentou em março ao STF seriam de conhecimento de Gurgel desde 2009 e já seriam, segundo o deputado, suficientes para a denúncia contra Demóstenes. “Por que ele não fez? Por inépcia ou por má-fé?”, indaga.

Cortina de fumaça

O senador Álvaro Dias (PSDB-PR), que esteve com Gurgel na última quinta-feira para tratar das articulações de parlamentares aliados para levá-lo à CPI, criticou a manobra do grupo de petistas: “Isso é um absurdo, ele não é investigado e não há sentido nessa insistência”. O tucano reforça que a meta dos parlamentares governistas que trabalham pela convocação de Gurgel é política. “Há aí outro objetivo, que é diminuir a autoridade do procurador-geral no momento em que ele é o advogado de acusação no julgamento do mensalão”, afirma.

O senador Humberto Costa (PT-PE) é mais cauteloso em seu discurso. Segundo ele, que também integra a CPI, a suposta demora de Gurgel poderia ser criticada, mas não deve ser apontada, a priori, como indicação de ato ilícito. “Acho prematuro levantar esse tipo de questão. A demora pode ter sido um deslize da parte dele, mas é difícil afirmar que há indício de conivência. Para ser convocado como investigado, teria que haver esse indício de irregularidade”, diz.

Para o senador Pedro Taques (PDT-MT), que também é membro da comissão, as pessoas que desejam levar o magistrado à CPI devem revelar, antes, qual fato será investigado. “Quem tem essa acusação contra Gurgel, que tenha a coragem de apresentar”, desafia. Para Taques, também fica claro que a intenção é desgastar o procurador-geral. Ainda por meio da assessoria, a PGR reforçou a existência do impedimento jurídico para Gurgel comparecer à CPI, conforme adiantou o Correio no domingo, e informou que, se houver convocação no sentido de investigação, o tema será analisado no momento oportuno.

"Se foi por má-fé que não pediu o indiciamento de Demóstenes em 2009, isso cria as condições para que ele seja convocado como investigado na CPI"

Cândido Vaccarezza (PT-SP), deputado federal

"O MP vê esse tipo de afirmação absurda como uma provocação dos que temem muito o julgamento do mensalão"

Resposta da Procuradoria-Geral da República

O bloco do procurador

Gabriel Mascarenhas

A tentativa frustrada dos governistas de convocar o procurador-geral da República, Roberto Gurgel, para depor na CPI do Cachoeira trouxe à tona a cr iação de um
bloco informal no colegiado, uma espécie de grupo dos dez, em referência ao número de parlamentares que o compõem. Independentes e oposicionistas se uniram
para, segundo eles, atuar sem amarras nas investigações. A primeira vitória foi exatamente barrar a convocação de Gurgel.

O bloco é formado por senadores e deputados. Entre eles estão Pedro Taques (PDT-MT), Jarbas Vasconcellos (PMDB-PE) e Randolfe Rodrigues (PSol-AP), além dos deputados Bruno Araújo (PE), líder do PSDB na Câmara; Duarte Nogueira (PSDB-SP), Rubens Bueno (PPS-PR) e Miro Teixeira (PDT-RJ). Há uma avaliação majoritária de que é necessário atrair mais parlamentares, principalmente petistas de peso para aumentar o número de votos e, consequentemente, o poder decisório na CPI. O primeiro nome ventilado foi o do senador Humberto Costa (PE), relator do processo contra o Demóstenes Torres no Conselho de Ética.

O movimento que abafou a convocação de Gurgel teria sido acertado na primeira reunião, num tradicional restaurante em Brasília, na noite anterior à sessão da CPI, terça-feira passada. "Jogamos a isca, e o (senador Fernando) Collor caiu direitinho", afirma um dos membros do grupo. A ida de Gurgel à comissão poderia comprometer a conclusão da CPI, já que, como procurador-geral, ele receberá o relatório final elaborado pelos parlamentares. Comparecendo a uma sessão como testemunha, futuramente, ficaria impedido de analisar o documento e encaminhar denúncia à Justiça.

No posicionamento, arquitetado na noite anterior, Randolfe pediu a palavra para defender que a convocação dos procuradores poderia colocá-los sob impedimento. Collor afirmou que não só os procuradores, mas o PGR deveria ser convocado. Pedro Taques deu sequência ao teatro e interveio, afirmando que não haveria risco para os procuradores, ao contrário do PGR. Outros integrantes do bloco se manifestaram em favor da opinião de Taques e, ao menos, adiaram o chamado a Gurgel.

FONTE: CORREIO BRAZILIENSE

Presidente do PT ataca a mídia

O presidente do PT, Rui Falcão, sinalizou que, após enfrentar os bancos, o governo se prepara para o marco regulatório da comunicação. "Esse poder nós temos de enfrentar."

Falcão diz que governo vai "peitar" mídia

Para o presidente do PT, próximo passo de Dilma, após enfrentar bancos, deve ser consulta pública sobre marco regulatório da comunicação

Guilherme Waltenberg , Daiene Cardoso

O presidente nacional do PT, Rui Falcão, afirmou ontem que o governo da presidente Dilma Rousseff, após endurecer o discurso contra os altos juros cobrados pelos bancos e reduzir o rendimento da poupança, poderá colocar em discussão outro tema polêmico: o marco regulatório da comunicação.

"Este é um governo que tem compromisso com o povo e que tem coragem para peitar um dos maiores conglomerados, dos mais poderosos do País, que é o sistema financeiro e bancário. E se prepara agora para um segundo grande desafio, que iremos nos deparar na campanha eleitoral, que é a apresentação para consulta pública do marco regulatório da comunicação", disse o dirigente petista durante encontro em Embu das Artes, na Grande São Paulo, para discutir estratégias eleitorais do partido.

No discurso, ele frisou que "(a mídia) é um poder que contrasta com o nosso governo desde a subida do (ex-presidente) Lula, e não contrasta só com o projeto político e econômico. Contrasta com o atual preconceito, ao fazer uma campanha fundamentalista como foi a campanha contra a companheira Dilma (nas eleições presidenciais de 2010).

Segundo Rui Falcão, a imprensa produziria matérias e comentários para atacar o PT . "O poder da mídia, esse poder nós temos de enfrentar", afirmou.

A presidente Dilma herdou do governo Lula o anteprojeto de criação do marco regulatório das comunicações, elaborado pelo então ministro da Secretaria de Comunicação Social Franklin Martins, e apresentado durante a Conferência Nacional de Comunicação (Confecom), em 2010, determinando a "criação de instrumentos de controle público e social" da mídia.

Em razão da polêmica que o tema gerou, a presidente Dilma determinou que o ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, fizesse um pente-fino no texto para evitar tópicos que possam indicar censura ou controle de conteúdo.

Cachoeira. O dirigente petista afirmou ainda que a Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do Cachoeira deverá ter também como alvo paralelo de investigação o trabalho da imprensa. "Essa CPI vai desvendar também quais são os caminhos de ligação com esses contraventores nos setores da mídia brasileira", disse.

Ao falar das relações entre o contraventor Carlinhos Cachoeira e o senador Demóstenes Torres (sem partido-GO), apontadas no vazamento da investigação da Operação Monte Carlo, Rui Falcão criticou: "Esse fariseu, que é o senador Demóstenes Torres, é apresentado pela imprensa como sem partido, mas vamos nos lembrar sempre que até um mês atrás ele era senador do DEM".

Segundo o petista, a redução no rendimento da poupança, anunciada anteontem pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega, e a declaração da presidente Dilma em rede nacional na véspera do feriado do Dia do Trabalho, afirmando ser "inadmissível que o Brasil, que tem um dos sistemas financeiros mais sólidos e lucrativos, continue com os juros mais altos do mundo", mostram o estilo do governo.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

A tunga na poupança

A partir de hoje, o pequeno poupador passa a receber menos pelas parcas economias que guarda nos bancos. Ontem, o governo apresentou a redução dos ganhos das cadernetas como sendo necessária para a diminuição dos juros. Caberá, agora, entregar o que prometeu: taxas civilizadas.

Dilma Rousseff aproveitou a gordura que sua cruzada retórica contra os bancos está lhe rendendo para investir no bolso dos poupadores. Argumenta que, em troca, levará o país a ter juros reais na casa de 2% ao ano. É bom que consiga cumprir a palavra.

A tunga na poupança foi vendida pelo governo como a retirada do último empecilho para a derrubada dos juros. Mas, de concreto, ainda somos os vice-campeões mundiais na modalidade usura. Nossas taxas só perdem para as russas. Nada mudou, ainda.

A partir de agora, os depósitos realizados pelos poupadores nas cadernetas passarão a ter rendimento menor do que o atual sempre que a Selic ficar igual ou abaixo de 8,5% ao ano. Quando isso ocorrer, a remuneração da poupança será de 70% da taxa básica de juros mais TR.

Ou seja, pela mudança anunciada ontem pela equipe econômica de Dilma, o pequeno investidor da caderneta será brindado sempre com o menor rendimento. Como se vê, um baita negócio para o poupador, não?

Banqueiros, empresários e políticos aliados aplaudiram. Obviamente porque nenhum deles, possivelmente, tem dinheiro guardado na poupança. Mas quem entende de finanças pessoais não tem dúvida: o poupador perdeu, e muito. Segundo O Estado de S.Paulo, o rendimento da poupança cairá dos atuais 6,53% para cerca de 5,95% ao ano.

"Caso o juro real chegue a 2%, como é o objetivo declarado de Dilma, o rendimento da poupança para os novos depósitos ficará cerca de 18% menor do que o previsto hoje", calculou a Folha de S.Paulo. Quanto mais a inflação se distanciar da meta fixada pelo governo, maior será a perda da poupança.

"O investidor da poupança saiu perdendo", atesta Rafael Paschoarelli, professor da FEA/USP. "A medida, infelizmente, vem para piorar o rendimento da poupança", completa Fábio Colombo, administrador de investimentos - ambos ouvidos por O Globo.

O jornal fez simulações que quantificam as perdas em moeda sonante. Com as novas regras, um poupador que guardar R$ 10 mil na caderneta terá R$ 10.582,91 ao fim de um ano, considerando uma Selic de 8,5%. Pelas regras antigas, teria R$ 10.616,78. Isso significa que ele perderá R$ 33,87.

À medida que a taxa básica cair, a diferença entre a rentabilidade antiga da poupança e a da nova se ampliará, sempre em prejuízo do pequeno poupador. Com uma taxa de 8,25%, por exemplo, a perda de rendimento da caderneta, para a mesma aplicação de R$ 10 mil, sobe para R$ 50,81 ao fim de um ano.

Quem conhece de finanças também tem outra convicção: o cenário mais provável é que os bancos lucrarão com a tunga na poupança. Isso porque, a partir de agora, terão dinheiro mais barato para emprestar na forma de crédito imobiliário - 65% dos depósitos em caderneta são direcionados, por lei, a financiamentos habitacionais. E continuarão cobrando por isso tão caro quanto cobram hoje.

Haverá também, do lado de quem toma financiamento, o risco de descasamento entre o valor das parcelas e a capacidade de pagamento. A alteração na regra de remuneração das cadernetas também pode modificar a forma de definição dos juros da casa própria e as prestações podem até subir. Os mutuários que se cuidem.

Tudo considerado, fica o recado de que o governo terá de tombar os juros de qualquer jeito. Primeiro, porque assumiu, implicitamente, este compromisso ontem, ao tentar justificar a redução da remuneração das cadernetas de poupança. Segundo, porque, de fato, a economia está necessitando disso.

A debilidade do setor produtivo tem ficado cada vez mais evidente, como comprovado pela nova queda na indústria, divulgada ontem: 3% no trimestre. O comércio exterior também perde força: teve em abril o pior resultado para o mês desde 2002, isto é, em dez anos. Como consequência, estão desabando as expectativas em torno do crescimento da economia brasileira.

Todos, sem exceção, somos a favor de juros mais baixos. A bola da queda das taxas está com o governo, que começou cortando-a na cabeça do pequeno poupador. Não é possível que os que sempre ganharam continuem com seus privilégios. Mas, por ora, eles permanecem intocados pela gestão petista.

Fonte: Instituto Teotônio Vilela

Em crise, Delta pode ser comprada por empresa

Operação ainda está em fase inicial; com possível compra, grupo JBS aumentaria participação no ramo da construção

Gustavo Uribe

SÃO PAULO. A J&F Holding, grupo que controla o frigorífico JBS, manifestou a disposição na última semana de adquirir a Delta Construções, empresa alvo de investigação na CPI do Carlinhos Cachoeira, no Congresso Nacional. A informação é de agentes envolvidos na negociação de compra, segundo os quais as operações ainda estão em estágio inicial. Em abril, o colunista do GLOBO Ancelmo Gois antecipou que a empreiteira estava à venda, após passar por problemas de caixa em virtude da divulgação de irregularidades em contratos com o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit), em 2011.

O conselho consultivo da J&F Holding, presidido pelo ex-presidente do Banco Central Henrique Meirelles, estaria à frente das negociações com a empreiteira. A Delta Construções e a J&F Holding, procuradas pelo GLOBO, não se pronunciaram.

A aquisição da empreiteira pela holding representa a expansão dos negócios da J&F para o ramo da construção civil. Em abril, em entrevista ao jornal "Folha de S. Paulo", o presidente licenciado da Delta Construções, Fernando Cavendish, reconheceu o risco de a empreiteira passar por problemas financeiros após a divulgação do conteúdo da Operação Monte Carlo, da Polícia Federal.

Na semana passada, a construtora deixou o consórcio responsável pelo projeto da Transcarioca, após ter se retirado das obras de reforma do estádio do Maracanã. O ministro-chefe da Secretaria Geral da Presidência da República, Gilberto Carvalho, afirmou, no 1 de Maio da CUT, que o Ministério do Planejamento estava se preparando para uma eventual saída da Delta Construções das principais obras do governo federal, em especial as do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).

Um diretor de uma das cinco maiores empreiteiras do País, ouvido pelo GLOBO, avaliou que a eventual venda da Delta Construções, a sexta maior construtora nacional, tem caráter mais político que econômico, uma vez que, por meio dos atuais contratos firmados, a empresa não quebraria a curto prazo.

O executivo pondera, contudo, que há o risco de o patrimônio da empreiteira "derreter" com o passar do tempo, sobretudo com o aprofundamento das investigações no âmbito da CPI do Cachoeira.

A professora de engenharia civil da Universidade Mackenzie, de São Paulo, e especialista em mercado imobiliário Denise Batalha Vasconcelos observa que a suposta aquisição não deve alterar as atividades ou diretrizes da Delta Construções. A compra pode ainda contribuir na capacitação interna da empreiteira.

- Eu não vislumbro alteração nas atividades ou diretrizes da empresa. Os contratos atualmente assinados devem também ser cumpridos. Não há perspectiva da empreiteira assumir uma nova cultura e, com isso, mudar a postura em relação aos contratos - afirmou a professora Denise.

FONTE: O GLOBO

Em Paris e sem constrangimento

Primeiro secretário a falar do caso, Julio Lopes diz que viagem foi importante

Cássio Bruno, Natanael Damasceno

O secretário estadual de Transportes, Julio Lopes, disse ontem não ter se sentido constrangido com as fotos e os vídeos divulgados pelo deputado federal Anthony Garotinho (PR). Antes de participar da cerimônia de homenagem ao ex-presidente Lula promovida por universidades públicas, no Rio, Lopes afirmou que o grupo liderado pelo governador Sérgio Cabral (PMDB) em viagem a Paris, em 2009, estava fazendo um trabalho importante. Lopes, Cabral e outros secretários aparecem ao lado de Fernando Cavendish, dono da Delta Construções.

- Não fiquei constrangido. De forma alguma. Não me parece que eu estivesse em um momento constrangedor. Nós estávamos fazendo um trabalho importante para a divulgação da cidade e para o próprio desenvolvimento do estado - afirmou Lopes, o primeiro integrante da caravana do governo a se manifestar publicamente sobre o caso.
Em uma das fotos, Lopes e o chefe da Casa Civil, Régis Fichtner, estão abraçados com Cavendish. Fichtner é o responsável pela auditoria anunciada pelo governo nos contratos assinados com a Delta, investigada na CPI do Cachoeira.

- Estávamos em um evento muito importante, com os maiores empresários franceses. Ele (Garotinho) esqueceu de citar que também estavam lá (em Paris) os presidentes da Federação das Indústrias da França e do Rio. Ou seja: muitas autoridades - destacou Lopes.

Cabral argumentou que foi a Paris em missão oficial em setembro de 2009. Outros integrantes do governo não falaram sobre o assunto. Sorridente enquanto esperava na fila de convidados para entrar no teatro, o secretário estadual de Governo, Wilson Carlos, que também estava nas fotos, foi um deles.

- Falo com você depois - disse Carlos ao GLOBO.

Já um dos ministros de Dilma Rousseff revelou que Cabral encomendou pesquisa para avaliar o estrago provocado pelo episódio. Segundo ele, o resultado foi o pior possível:

- O episódio provocou um choque na administração. Foi declarada guerra (a Garotinho) - disse o ministro.
Cabral, novamente, não deu entrevistas no evento de homenagem a Lula. Aliados do governador afirmaram que ele pediu cautela. A ordem é esperar o caso esfriar para só então contra-atacar. Além da tropa de choque do governo, Cabral já recrutou deputados estaduais da base aliada. A avaliação é de que, ao menos no Rio, a oposição não conseguirá abrir uma CPI para investigar o caso.

O vice-governador Luiz Fernando de Souza, o Pezão, saiu em defesa de Cabral e disse que o governador tem recebido solidariedade:

- Mas o clima agora está melhorando. Todos os líderes de partidos no país ligaram para o Sérgio, prestando solidariedade. Todos. Lula e a presidente Dilma também.

Na avaliação do vice-governador, o desgaste provocado pelas fotos faz parte da política.

Colaborou Antônio Werneck

FONTE: O GLOBO

RJ deve R$ 300 mi à Delta, diz o seu novo presidente

Delta afirma que Rio lhe deve R$ 300 mi

Carlos Verdini, que substituiu Cavendish, atribui as dificuldades da empreiteira a problemas de caixa do governo

Executivo diz que a construtora mantém R$ 4,7 bi em contratos e que não é "empresa de fundo de quintal"

Claudia Antunes

RIO - A Delta não está falida. Tem R$ 4,7 bilhões em contratos em execução e R$ 450 milhões a receber de obras já concluídas, dos quais cerca de R$ 300 milhões deveriam ter sido pagos em abril pelo governo do Estado do Rio.

É o que afirma Carlos Alberto Verdini, que substituiu Fernando Cavendish na presidência do Conselho de Administração da construtora, investigada pela Polícia Federal por suposta relação ilícita com Carlos Cachoeira.

"Não é questão de atraso [do Rio]. Acho que é problema de caixa do governo", disse Verdini, 65, à Folha.

Segundo ele, a Delta não ganhou nada "de mão beijada" com a amizade entre Cavendish e o governador Sérgio Cabral (PMDB) e é a "terceira ou quarta" empreiteira em contratos no Estado.

A assessoria do governo do Rio disse que precisa de tempo para levantar valores devidos à Delta e o ranking dos pagamentos a construtoras.

No Estado, a Delta deixará as obras do Maracanã e da via expressa Transcarioca, mas Verdini disse que segue executando todos os demais 200 contratos, 130 com o Dnit (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes).

A empresa não seria facilmente substituída: "Em muitas obras teria de ser feita nova licitação, com preços mais caros. O processo é demorado, o prejuízo seria grande. E quero saber como fica a responsabilidade social. Quem vai assumir o ônus de pôr 30 mil funcionários na rua?"

Ele disse que a GMW foi contratada para uma auditoria na Delta e que o resultado das investigações "já vai ser um passo" para melhorar a imagem da empreiteira.

"Não somos uma empresa de fundo de quintal. Estamos cumprindo nossas obrigações, e esperamos que cada cliente cumpra a sua e nos pague quando a fatura chegar."

Na Delta há nove anos, Verdini atuou 13 anos na Queiroz Galvão e 14 na Camargo Corrêa. Não comentou a possibilidade de venda da empresa: "Não é decisão minha".

Disse que foi "surpresa total" a relação do diretor da Delta no Centro-Oeste, Cláudio Abreu, com Cachoeira, e que não conhece Cachoeira nem o senador Demóstenes Torres, apontados pela PF como sócios ocultos da Delta.

A Delta se expandiu para 25 Estados a partir de obras para o Dnit. Segundo Verdini, os aditivos nos contratos do órgão federal se deveram a vícios de origem: "Anunciaram que a partir de agora só haverá licitações a partir de projetos executivos. Antes eram projetos básicos. Ao executá-los, você se depara com serviços não previstos".

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

Jogada política:: Merval Pereira

Não é possível garantir que tenha sido assim, mas há quem aposte que o objetivo principal da campanha de redução dos juros que o Palácio do Planalto desencadeou contra os bancos privados era criar um clima político que favorecesse a mudança das regras das cadernetas de poupança sem desencadear grandes protestos na população, como aconteceu em 2009 quando o presidente Lula, também muito popular, teve que desistir das mudanças.

De resto, brigar pela redução dos lucros dos bancos sempre é uma disputa muito popular.

Teria sido uma notável jogada política da presidente Dilma, que precisaria mudar as regras da poupança para continuar com a redução da taxa Selic.

Tanto é assim que em 2009, quando a Selic estava em 8,75%, portanto já abaixo dos níveis atuais, Lula viu que chegara a hora de mexer na poupança mas, em nenhum momento, nem ele nem o mesmo ministro da Fazenda, Guido Mantega, esboçaram uma campanha contra os spreads bancários, independentemente do fato de serem escorchantes.

Pelas novas regras, o rendimento da poupança será reduzido sempre que os juros básicos da economia atingirem patamar igual ou inferior a 8,5%, remunerando a caderneta em 70% da taxa Selic. A partir dessa regra, o Banco Central ficará liberado para cortar os juros sem transformar a poupança num investimento mais atraente para os grandes investidores, prejudicando os fundos.

O ambiente político está tão mais favorável ao governo hoje que o oposicionista PPS, que fez uma campanha escandalosa na televisão, comparando a mudança na poupança de Lula com o confisco promovido nas finanças populares por Collor, hoje protesta bem mais moderadamente.

Em 2009, um anúncio na televisão dizia que o governo "vai mexer na poupança como Collor", embora apenas os rendimentos fossem afetados pela cobrança de imposto de renda, sem confisco dos depósitos existentes.

Uma diferença fundamental, que fez com que a denúncia do PPS tenha sido tratada pelo próprio presidente Lula como "irresponsável" e "insana".

Mas também o presidente Lula, ao anunciar que o governo mexeria nas regras da poupança, disse que assim agia "para proteger o pequeno poupador", distorcendo a situação e tentando amenizar as críticas dos depositantes das cadernetas de poupança.

Desta vez, o deputado Roberto Freire, presidente do PPS, colocou-se contra a medida, que, para ele, poderá resultar em "graves prejuízos" aos poupadores das classes populares, em benefício do setor financeiro.

Também o senador tucano Álvaro Dias acusou o governo de estar atuando como "um Robin Hood às avessas, retirando de pequenos poupadores para preservar os poderosos. O porto seguro das pequenas economias pagará o pato da guerra santa deflagrada pela presidente Dilma, que, pelo jeito, não mostra coragem para mexer no que realmente interessa: tributos e ganhos de bancos".

O projeto de Guido Mantega era cobrar Imposto de Renda de todos os depósitos em poupança que ultrapassassem os R$ 50 mil, o que, diziam, representava uma parcela ínfima dos poupadores.

Mas a reação foi tamanha que o então presidente Lula teve que recuar. Na versão de Dilma, a caderneta continua sendo uma aplicação livre de impostos, e as mudanças só afetam as novas poupanças e os depósitos feitos a partir do anúncio da medida, evitando-se assim a acusação de quebra de contrato dos poupadores antigos, que continuarão a ser remunerados como sempre foram.

Essa é uma diferença básica, que enfraquece muito as críticas oposicionistas. Em 2009, o então deputado do PPS Raul Jungmann, autor da denúncia de que o governo iria "mexer na poupança", levantava uma questão importante, que ainda é válida hoje: por que o governo não deixa o mercado se ajustar, obrigando os bancos a reduzir as taxas de administração dos fundos de renda fixa, que podem chegar a até 4%, em vez de apenas reduzir os ganhos da poupança?

De qualquer maneira, tenha tido intenção ou não, o certo é que a presidente Dilma conseguiu montar uma estratégia que aparentemente levará a uma mudança na remuneração da caderneta de poupança sem provocar grandes traumas, inclusive porque teve o cuidado de só mexer nas novas cadernetas e nos novos depósitos.

Uma das principais preocupações dos políticos da base aliada, por sinal, foi a maneira de comunicar essa delicada decisão. Houve uma recomendação generalizada de não se falar em "mexer na poupança", para evitar mal-entendidos.

Colocando diante da população a redução dos ganhos da poupança como medida indispensável para que venhamos a ter taxas de juros "de Primeiro Mundo", o governo conseguiu um marketing político vencedor.

O procurador-geral da República, Roberto Gurgel, já tem uma estratégia montada para o caso de a CPI do Cachoeira resolver insistir na sua convocação para depor.

Ele já acertou com os ministros do Supremo Tribunal Federal uma liminar para respaldar sua ausência, mantendo assim a garantia de que poderá ficar distante dos debates da CPI para exercer seu papel constitucional.

Uma outra alternativa que chegou a ser debatida foi a de ele comparecer, mas se manter em silêncio, alegando a impossibilidade de depor.

Mas ponderou-se que, diante do que está sendo considerado uma "afronta" ao Judiciário, o melhor seria não colaborar para esticar demais a corda.

FONTE: O GLOBO

Dilma surfa:: Fernando Rodrigues

Três fatores serão determinantes para o sucesso da atual cruzada de Dilma Rousseff contra os bancos privados e a favor de uma queda nas taxas de juros.

Primeiro, a população terá de entender e apoiar a modificação na remuneração da caderneta de poupança. O modelo era simples e ficou menos inteligível para o cidadão médio. Mas, como a alteração foi minimalista, há chance real de o governo ganhar a disputa política. Os partidos anti-Dilma não encontraram um bom discurso até agora. Apenas resmungam que o governo está "tirando dos mais pobres".

O argumento da oposição é precário. A poupança inalterada seria o porto seguro para rentistas ricos num cenário de juros baixos.

A rigor, a oposição só se dará bem se Dilma fracassar na tentativa de forçar uma queda dos juros cobrados aos consumidores. Esse é o segundo fator relevante para a atual estratégia presidencial.

Mas já está claro que alguma queda de juros haverá -embora ninguém se arrisque a cravar qual será o patamar final. Se o efeito for sentido pelos brasileiros que pagam faturas atrasadas de cartão de crédito, estará neutralizado o discurso dos partidos anti-Dilma.

Nessa hipótese plausível de juros em queda, a presidente dirá que a poupança teve uma perda de rendimentos compensada pelos juros mais baixos cobrados pelo comércio e pelos bancos.

Chega-se então ao terceiro componente dessa equação imaginada no Palácio do Planalto: a economia terá de apresentar até dezembro um desempenho melhor na comparação com 2011. Essa é uma previsão sempre arriscada. Já há sinais de um Natal com vendas mais aquecidas, porém é notório como esses vaticínios são frágeis no Brasil.

Feitas as ressalvas de praxe, é visível a existência de uma conjuntura mais pró-Dilma do que contra ela. A presidente surfa uma boa fase.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

Discordância e cortesia :: Miguel Reale Júnior

Ao chegar ao jardim de infância experimenta-se a sensação de sentir simpatia por Juca e repugnância por Zico. Assim será pelo resto da vida: nos bancos escolares, no time de futebol do clube, no diretório do partido, no trabalho, na universidade. Identificação com um, rejeição de outro. Civilizar-se é aprender a conviver com os antipáticos sem publicizar agressões verbais.

Numa Corte como o Supremo Tribunal Federal (STF), que simboliza a Justiça, os ministros saudavelmente divergem, às vezes com veemência, quanto à correta interpretação dos fatos e do Direito. Mas a convivência com colegas por vezes desagradáveis é obrigatória, impondo-se que a cortesia e a urbanidade prevaleçam em público e pela imprensa em favor da preservação da própria da instituição.

O STF foi exemplo, ao longo do tempo, de ministros com temperamento forte e vontade firme de vencer o debate de ideias. Tal não prejudicou seu prestígio como Corte Suprema, muito ao contrário.

Nelson Hungria, nas palavras de outro ministro, Gonçalves de Oliveira, era intransigente na defesa de seus pontos de vista, mormente em matéria penal, mas voltava atrás quando convencido, tal como se deu no julgamento de habeas corpus em favor do jornalista Prudente de Morais Neto, ao reconhecer que não se aplicava aos jornalistas a Lei de Segurança Nacional, mas sim a Lei de Imprensa. Hungria mostrou sua contundência ao julgar, por exemplo, habeas corpus em favor de adolescente que fugira da internação no Serviço de Assistência ao Menor (SAM): "Trata-se de ameaça de internação num estabelecimento de assistência a menores que se transformou, na prática, numa fábrica de criminosos, onde não há ensino secundário senão para a perversão moral. É isto que se quer evitar a esse menor: o constrangimento de internação num reformatório falido, que, ao invés de reabilitá-lo, apenas o aviltará irremediavelmente... Todos os grandes criminosos da antiga Capital da República fizeram o noviciado no SAM, têm a marca do SAM".

Com a morte de Getúlio Vargas, assumiu a Presidência o vice Café Filho, que na eleição presidencial em 1955 apoiara Juarez Távora, derrotado por Kubitschek. A Café Filho, afastado por motivo de doença, sucedeu Carlos Luz, presidente da Câmara dos Deputados, deposto por haver conspirado com militares para impedir a posse do presidente eleito. Assumiu, então, a Presidência da República Nereu Ramos, presidente do Senado. Diante disso, Café Filho impetrou mandado de segurança no STF pretendendo voltar à Presidência, ocupada por Nereu Ramos. Relator do mandado de segurança foi, justamente, Nelson Hungria, cujo modo caloroso de ser não o impediu de ponderar, com grande prudência, em favor da permanência de Nereu Ramos como presidente da República: "Hoje é 14 de dezembro, faltam 48 dias para a posse do Presidente eleito. Se entregarmos o Poder novamente ao senhor Café Filho, serão 48 dias de incerteza. Deixando o senador Nereu Ramos, teremos 48 dias de tranquilidade e a certeza de que o presidente eleito tomará posse no dia marcado".

Outro homem de temperamento forte integrante da Suprema Corte foi Adauto Lúcio Cardoso. Conta-se, aliás, que, jovem advogado, procurado por um cidadão que acabara de cometer homicídio, indagou como era o morto, sendo-lhe dito que não era nem gordo nem magro, nem alto nem baixo, nem claro nem escuro, ao que interrompeu e disse: "Basta, já não mais suporto essa vítima!".

Apesar de nomeado ministro do Supremo pelo regime militar, disse o ex-deputado da UDN Adauto Lúcio Cardoso, em memorável julgamento de medida interposta pelo então MDB acerca da inconstitucionalidade do Decreto-Lei n.º 1.077/70, instaurador da censura prévia à imprensa, em confronto com a maioria de seus pares: "Até hoje não surgiu, e certamente não surgirá, ninguém, a não ser o Partido Político da Oposição, que a duras penas cumpre o seu papel, a não ser ele, que se abalance a arguir a inconstitucionalidade do decreto-lei que estabelece a censura prévia". E disse mais: "Ninguém quererá expor-se às represálias que uma tal demanda suscitará". Inconformado com o resultado, ao sair do plenário lançou a toga sobre a cadeira e no dia seguinte se aposentou. Mas nada de natureza pessoal comentou sobre seus colegas.

Aliomar Baleeiro, outro político da Banda de Música da UDN levado ao Supremo, também era homem de firmes convicções e se antepôs, como chefe do Judiciário, em 1972, ao Ato Institucional n.º 5. Em famoso julgamento de 1966, Baleeiro foi incisivo acerca da apreensão da revista Realidade, determinada por juiz de São Paulo ao considerar a edição contrária à moral e aos bons costumes por conter com matéria sobre o orgulho de ser mãe solteira e entrevista de Melina Mercury à conhecida jornalista italiana Oriana Fallaci, intitulada Esta mulher é livre. E já em 1966 Baleeiro afirmava, com ênfase: "O cidadão pode dizer e publicar o que pensa sobre nudismo, a igualdade dos sexos, a defesa jurídica e social da mãe solteira, a educação sexual, o divórcio, o comunismo e a existência de Deus, a pílula anticoncepcional. Não há ofensa aos padrões atuais do Brasil".

Em outro julgamento, sobre a prisão preventiva de emitente de cheque sem fundos pelo juiz de Carmo de Minas, que reteve em casa os autos por três anos enquanto o réu chafurdava no calabouço, Baleeiro reconheceu a responsabilidade civil do Estado: "Acho que o Estado tem o dever de manter uma justiça que funcione tão bem como o serviço de luz, de polícia, de limpeza ou de qualquer outro".

Magistrados dessa altivez e de tal impetuosidade, grandes polemistas, garantem a paz social com a sua atuação firme. Veemência e coragem dos ministros na defesa de suas convicções geram orgulho e tranquilidade aos jurisdicionados. Farpas de cunho pessoal só trazem descrédito e desconfiança.

Miguel Reale Júnior, advogado, professor titular da Faculdade de Direito da USP, membro da Academia Paulista de Letras, foi ministro da Justiça.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

A cor da elite :: Cristovam Buarque

Anos atrás, visitando o campus da Universidade de Brasília (UnB) com uma professora norte-americana, perguntei qual a diferença da paisagem arquitetônica do nosso campus para um campus nos EUA. Esperei que dissesse: "São parecidos." Mas, depois de olhar ao redor, ela disse: "Não têm negros." Respondi que no Brasil, como também nos EUA, os negros não têm boas escolas na educação de base. Ela perguntou: "Por que não adotam cota para negros, como nos EUA?"

Na próxima semana, o Brasil completará 124 anos da abolição sem ter embaixadores negros. Atualmente há no Congresso Nacional apenas um senador negro e 43 deputados federais que assumiram serem afrodescendentes; temos apenas 2% de médicos, 10% de engenheiros e 1% de professores universitários que podem ser considerados negros. Os Estados Unidos já elegeram um presidente negro, mas o Brasil dificilmente terá um presidente negro nas próximas décadas.

Na semana passada, depois de nove anos de adotadas pela UnB, as cotas raciais foram reconhecidas como legais pelo STF - Supremo Tribunal Federal. Nesse período, três mil alunos foram admitidos pela cota racial na UnB e mil concluíram seus cursos, graças ao ingresso usando as cotas. Todos os estudos mostram que esses alunos tiveram um desempenho, no mínimo, equivalente à média dos demais alunos. Isso se explica porque todos os alunos beneficiados pelas cotas são necessariamente aprovados no vestibular.

Apesar disso, por quase 20 anos, um intenso debate vem sendo feito entre os que são a favor e os que são contrários a esse sistema, porque até hoje não houve entendimento correto do instituto das cotas raciais e seu propósito, nem entre os favoráveis, nem entre os opositores.

Os opositores dizem, com razão, que este é um "jeitinho" equivocado, porque a verdadeira solução para resolver a desigualdade racial na universidade seria uma educação de base de qualidade para todos. Realmente a maneira correta de resolver esse problema é a educação de base com qualidade e igual para todos. Temos bons jogadores de futebol negros porque a bola é redonda para todos, mas nossas escolas são redondas apenas para os poucos que têm renda para cursar uma boa escola no ensino fundamental e no ensino médio. Mas para fazer todas nossas escolas redondas, com qualidade, e dar resultado na mudança da cor da cara da elite serão necessários 20 anos. Isso se nós estivéssemos fazendo hoje o nosso dever de casa para mudar a educação. E não estamos.

Tanto os que são contrários às cotas raciais quanto aqueles favoráveis enfocam o assunto pelo lado individualista de oferecer uma escada social a um jovem negro. Continuam pensando que as cotas visam a beneficiar o aluno que obtém a vaga. Não percebem o papel da cota racial como o caminho para o Brasil apresentar com orgulho uma sociedade com elite tão multirracial quanto seu povo.

A cota social beneficia o aluno, a cota racial beneficia o Brasil, possibilitando o ingresso de jovens negros na carreira profissional de nível superior. Certamente jovens escolhidos entre aqueles de classe média, que concluíram o ensino médio e passaram no vestibular porque foram bem preparados em uma boa escola, portanto provavelmente não pobres. Serão pessoalmente beneficiados, mas prestarão um serviço patriótico ao ajudarem, pelo estudo, a mudar a cor da cara da elite brasileira.

A cota racial para a universidade nada tem a ver com a cota social. Esta atenderia jovens pobres para compensá-los pelo que lhes negamos na infância. É um benefício justo; a cota racial não é um assunto de justiça, é um assunto de dignidade nacional; não é social, é patriótica.

Os que lutam pela cota racial nas universidades não lutam pela erradicação do analfabetismo entre adultos negros, nem para que os negros pobres tenham escolas com a mesma qualidade dos ricos brancos. E aqueles que defendem as cotas sociais no lugar das raciais não defendem cotas sociais no ensino fundamental e médio, nos colégios federais e mesmo nas escolas particulares de qualidade. Esta sim seria cota social. A cota social na educação de base nunca atraiu os defensores da cota racial nem aqueles que se opõem a ela e que usam a ideia de social contra a de racial. Os que defendem cotas sociais para as universidades, em vez das cotas raciais, provavelmente ficarão contra as cotas sociais nas boas escolas da educação de base, obrigando as escolas caras a receberem alunos pobres, sem mensalidade ou com uma bolsa do tipo Prouni.

Cristovam Buarque é senador (PDT-DF).

FONTE: O GLOBO

Adeus, simplicidade:: Celso Ming

Acabou a simplicidade das cadernetas de poupança. As que forem abertas a partir de agora terão rendimento de 70% da Selic.

- Selic? O que é essa Selic? - pergunta dona Maria.

- Ora, Selic é o Sistema Especial de Liquidação e de Custódia, que fica lá no Banco Central. É o esquema que controla a emissão, o resgate, o pagamento dos juros e a guarda dos títulos do Tesouro... Passou a ser também o valor dos juros que o Banco Central paga às instituições financeiras nas suas transações diárias de liquidez... E, enfim, Selic é também o tamanho dos juros básicos obtidos pela calibragem do volume de dinheiro na economia, determinada pelo Banco Central...

Vai ser complicado para dona Maria fazer os cálculos com 70% da Selic. Precisa saber em quanto está a Selic e, ainda, como fazer essa conta.

Uma comparação ajuda a entender a complexidade. O consumidor sabe que o poder energético do álcool é de só 70% do da gasolina. Portanto, sempre que o preço do álcool superar os 70% da gasolina, é melhor encher o tanque do carro flex com gasolina, não com álcool. Mesmo assim, no posto de gasolina ninguém consegue calcular de cabeça. Pois 70% da Selic é o que a caderneta vai pagar.

A complexidade não termina aí. O mercado terá agora três cálculos diferentes para determinar o rendimento da caderneta. Como nada muda para as cadernetas antigas, elas continuarão pagando 0,5% ao mês (ou 6,17% ao ano) de juros mais a Taxa Referencial de Juros (TR) - que quase não conta, de tão pequena que é. Com isso, a caderneta antiga segue remunerando por ano algo em torno dos 6,5%. E até aí as coisas ainda ficam relativamente simples para o povão.

O rendimento da nova caderneta, no entanto, terá dois cálculos. O primeiro deles será aplicado se os juros básicos (a tal Selic) ficarem acima de 8,5% ao ano. Nesse caso, prevalecerá o esquema antigo. E outra conta será feita se a Selic baixar a 8,5% ou menos, que é quando se aplicarão os 70% da Selic.

A simplicidade é uma qualidade inestimável que precisou ser sacrificada agora para permitir a derrubada dos juros para níveis internacionais.

Mas, se é assim, talvez fosse melhor, como na Europa e nos países avançados, deixar que os bancos definissem livremente a remuneração da caderneta, em vez de complicar tudo com fórmulas diferentes. Não é o que já acontece quando o investidor quer aplicar seus recursos em Certificados de Depósito Bancário (CDBs)?

Em todo o caso, a opção está feita. O caminho para a derrubada dos juros está aberto, sem risco de forte migração de aplicações em renda fixa para cadernetas. O único obstáculo para a queda dos juros seguirá sendo eventual cavalgada da inflação que, no momento, não dá sinais disso.

Nisso, a presidente Dilma teve mais coragem do que o presidente Lula, que evitou mexer na caderneta por medo de ser equiparado ao ex-presidente Collor, notabilizado pelos estragos a que submeteu a poupança popular.

Os tão temidos problemas políticos em decorrência do que foi feito parecem afastados. A própria presidente Dilma julgou necessário preparar o golpe. Primeiro, passou para a opinião pública a imagem de que está peitando os bancos. Depois, quando ganhou auras de dama de ferro com os cartolas do dinheiro, fez o que tinha de fazer com as cadernetas. As reações políticas são tímidas ou inexistentes.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO