quarta-feira, 30 de maio de 2012

OPINIÃO DO DIA - Fábio Pannunzio: quem falou demais

Foi Lula em pessoa quem cometeu a indiscrição de falar sobre a conversa com Gilmar Mendes, descendo ao nível dos detalhes que agora estão expostos por iniciativa do ex-presidente do STF.

Esta é a razão oculta por trás da “inconfidência” do ministro Gilmar Mendes. E também a justificativa para a incapacidade do ex-presidente da República de fazer um desmentido cabal, como o assunto exigiria caso o magistrado pudesse ser desmentido.

Não pode. Há testemunhas muito bem identificadas no caminho da informação que transitou entre o escritório de Jobim e as páginas de Veja.

Se alguém falou demais, não foi Gilmar Mendes. Foi Lula. Simples assim.

Fabio Pannunzio, jornalista. Blog do Pannnunzio, 29/5/2012.

Manchetes de alguns dos principais jornais do Brasil

O GLOBO
'Brasil não é a Venezuela, onde Chávez prende juiz’
Não vale o que está dito
CPI quebra sigilo da Delta em todo o país
Novo Cade provoca corrida por fusões
Exigir cheque-caução em hospital já é crime
Investimentos espanhóis no Brasil desabam

FOLHA DE S. PAULO
Meta de Lula é melar o julgamento, diz Mendes
CPI quebra sigilos da construtora Delta no país todo
Demóstenes nega lobby e diz que só queria testar Cachoeira
Governo prevê taxa de juros abaixo de 8% até agosto

O ESTADO DE S. PAULO
Lula ajuda ‘bandidos’ que querem ‘melar’ mensalão, diz Gilmar
CPI quebra sigilo da Delta e adia convocação de governadores
Demóstenes se complica
Cade alerta quem apressou negócio

VALOR ECONÔMICO
SuperCade apressa onda de aquisições de R$ 10 bi
Santander rejeita vender a operação brasileira
Ouro traz ganhos ilusórios
Investidor vê dívida do Brasil como aposta segura

CORREIO BRAZILIENSE
Carola, mas nada santo
Gilmar acusa Lula de espalhar boatos
Hospitais: Prisão para quem exigir garantias

ESTADO DE MINAS
Demóstenes se diz traído por Cachoeira
Ministro acusa Lula de espalhar boatos

ZERO HORA (RS)
RS busca modelo argentino
Contradições marcam fala de Demóstenes
Cristina fecha ainda mais a fronteira

JORNAL DO COMMERCIO (PE)
Transpetro acredita na reação do estaleiro
Transmissão de aids é criminalizada
Confusão no PT parece ainda longe de ter fim
Depoimento complica Demóstenes
Ministro diz que Lula tenta constranger STF

Gilmar Mendes: 'Brasil não é a Venezuela, onde Chávez prende juiz’

Num clima acirrado pela iminência do julgamento do mensalão, o ministro Gilmar Mendes, do STF, afirmou que existe uma tentativa de controlar e enfraquecer a Corte. Ao GLOBO, disse: “O Brasil não é a Venezuela de Chávez; ele mandou até prender juiz.” Para Gilmar, o objetivo é atingir a independência do STF: “O intuito, obviamente -, é afetar a própria instituição, trazê-la para a vala comum.” Repetiu que o ex-presidente Lula o pressionou a adiar o julgamento e o acusou de centralizar a divulgação de informações falsas contra ele, numa manobra que associou a gângsteres. O PT conclamou a militância a defender Lula, que não se pronunciou. A oposição quer o ex-presidente na CPI. A Procuradoria Geral mandou para o MP do DF o pedido de investigação sobre Lula

"Intuito é trazer STF à vala comum"

Ministro critica ex-presidente Lula e fala em ação orquestrada para enfraquecer instituição

Sergio Fadul, Carolina Brígido

O GLOBO: Como foi a conversa com o presidente Lula?

GILMAR MENDES: Começou de forma absolutamente normal. Aí eu percebi que ele entrava insistentemente com tema da CPMI, dizendo do controle, do poder que tinha. Na terceira ou quarta vez que ele falou, eu senti-me na obrigação de dizer pra ele: "Eu não tenho nenhum temor de CPMI, eu não tenho nada com o Demóstenes".

Isso soou a ele como provocação?

GILMAR: Isso. A reação dele foi voltar para a cadeira, tomou um susto. E aí ele disse: "E a viagem a Berlim? Não tem essa história da viagem a Berlim?" Aí eu percebi que tinha uma intriga no ar e fiz questão de esclarecer.

Antes disso ele tinha mencionado o mensalão?

GILMAR: É. Aqui ocorreu uma conversa normal. Ele disse que não achava conveniente o julgamento e eu disse que não havia como o tribunal não julgar neste ano. Visões diferentes e sinceras. É natural que ele possa ter uma avaliação, um interesse de momento de julgamento.

Isso é indício de que o presidente Lula não se desprendeu do cargo?

GILMAR: Não tenho condições de avaliar. Posso dizer é que ele é um ente político, vive isso 24 horas. E pode ser que ele esteja muito pressionado por quem está interessado no julgamento.

Na substituição de dois ministros, acha que as nomeações podem atender a um critério ideológico?

GILMAR: É uma pressão que pode ocorrer sobre o governo. Toda minha defesa em relação ao julgamento ainda este semestre diz respeito ao tempo já adequado de tramitação desse processo. O presidente Ayres Britto tem falado que o processo está maduro. Por outro lado, a demora leva à ausência desses dois ministros que participaram do recebimento da denúncia e conhecem o processo, que leva à recomposição do tribunal sob essa forte tensão e pressão, o que pode ser altamente inconveniente para uma corte desse tipo, que cumpre papel de moderação.

A partir da publicação da conversa do presidente Lula com o senhor, os ministros do STF estariam pressionados a condenar os réus, para não parecer que estão a serviço de Lula?

GILMAR: Não deve ser isso. O tribunal tem credibilidade suficiente para julgar com independência (...) O que me pareceu realmente heterodoxo, atípico, foi essa insistência na CPMI e na tentativa de me vincular a algo irregular. E de forma desinformada.

Quem está articulando o adiamento do mensalão dá um tiro no pé?

GILMAR: Acho que sim. E talvez não reparar que o Brasil não é a Venezuela de Chávez... ele mandou até prender juiz. Um diferencial do Brasil é ter instituições estáveis e fortes. Veja a importância do tribunal em certos momentos. A gente poderia citar várias. O caso das ações policialescas é o exemplo mais evidente. A ação firme do tribunal é que libertou o governo do torniquete da polícia. Se olharmos a crise dos jogos, dos bingos, era um quadro de corrupção que envolvia o governo. E foi o Supremo que começou a declarar a inconstitucionalidade das leis estaduais e inclusive estabeleceu a súmula. Eu fui o propositor da súmula dos bingos.

Depois que o ministro Jobim o desmentiu, o senhor conversou com ele?

GILMAR: Sim. O Jobim disse que o relato era falso. Eu disse: "Não, o relato não é falso". A "Veja" compôs aquilo como uma colcha de retalhos, a partir de informações de várias pessoas, depois me procuraram. Óbvio que ela tem a interpretação. O fato na essência ocorreu. Não tenho histórico de mentira.

O julgamento já está em curso?

GILMAR: Sim, de certa forma. Por ironia do destino, talvez essas tentativas de abortar o julgamento ou de retardá-lo acabou por precipitá-lo, ou torná-lo inevitável.

O momento é de crise?

GILMAR: Está delicado. O país tem instituições fortes, isso nos permite resistir, avançar.

Tem uma ação deliberada de tumultuar processos em curso?

GILMAR: Ah, sim.

Existe fixação da figura do senhor?

GILMAR: Isso que é sintomático. Ficaram plantando notícias.

Qual o motivo disso?

GILMAR: Tenho a impressão de que uma das razões deve ser a tentativa de nulificar as iniciativas do tribunal em relação ao julgamento desse caso.

Mas por que o senhor?

GILMAR: Não sei. Eu vinha defendendo isso de forma muito enfática (o julgamento do mensalão o quanto antes). Desde o ano passado venho defendendo isso. O tribunal está passando por um momento muito complicado. Três juízes mais jovens, recém-nomeados, dois dos mais experientes para sair, uma presidência em caráter tampão. Isso enfraquece, debilita a liderança. Já é um poder em caráter descendente.

Um tribunal com ministros mais recentes é mais fraco que um com ministros mais experientes?

GILMAR: Não é isso. Mas os ministros mais recentes obviamente ainda não têm a cultura do tribunal, tanto é que participam pouco do debate público, naturalmente.

Dizem que os réus do mensalão querem adiar o julgamento para depois das substituições.

GILMAR: Esse é um ponto de ainda maior enfraquecimento do tribunal. Sempre que surge nova nomeação sempre vêm essas discussões acerca de compromissos, que tipo de compromissos teria aceito. Se tivermos esse julgamento, além do risco de prescrição no ano que vem, vamos trazer para esses colegas e o tribunal esta sobrecarga de suspeita.

Haverá suspeita se a indicação deles foi pautada pelo julgamento?

GILMAR: Vai abrir uma discussão desse tipo, o que é altamente inconveniente nesse contexto.

O voto do senhor na época da denúncia não foi dos mais fortes...

GILMAR: Não. É uma surpresa. Por que esse ataque a mim? Em matéria criminal, me enquadro entre os mais liberais. Inclusive arquei com o ônus de ser relator do processo do Palocci, com as críticas que vieram, fui contra o indiciamento do Mercadante, discuti fortemente o recebimento da denúncia do Genoino lá em Minas. Ninguém precisa me pedir cautela em termos de processo criminal. Combato o populismo judicial, especialmente esse em processos criminais, denuncio isso.

Todas as figuras que o senhor citou são petistas proeminentes. Por que querem atacar o senhor agora?

GILMAR: Desde o início desse caso há uma sequência de boatos, valendo-se inclusive desse poder perverso, essa associação de vazamentos, Polícia Federal, acesso de CPI. Como fizeram com o (procurador-geral da República, Roberto) Gurgel, de certa forma.

Um ex-presidente empenhado em pressionar o STF não mostra alto grau de desespero com a possibilidade de condenação no mensalão?

GILMAR: É difícil classificar. A minha indignação vem de que o próprio presidente poderia estar envolvido na divulgação de boatos. E a partir de desinformação, esse que é o problema.

Ele pode ter sido usado?

GILMAR: Sim, a sobrecarga... Ele não está tendo tempo de trabalhar essas questões, está tratando da saúde. Alguém está levando esse tipo de informação. Fui a Berlim em viagem oficial. Por conta do STF. Pra que ficar cultivando esse tipo de mito? São historietas irresponsáveis. Qualquer agente administrativo saberia esclarecer isso.

Esses ataques não atingem o STF?

GILMAR: Claro, evidente. O intuito, obviamente, não é só me atingir, é afetar a própria instituição, trazê-la para essa vala comum.

FONTE: O GLOBO

Lula ajuda ‘bandidos’ que querem ‘melar’ mensalão, diz Gilmar

O ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal, disse que o ex-presidente Lula está dando vazão a boatos criados para abafar o julgamento do mensalão. Gilmar acusou "gângsteres", "bandidos" e "chantagistas" de tentar "melar" o processo ao disseminar informações segundo as quais ele teria recebido favores do contraventor Carlinhos Cachoeira. As declarações foram dadas um dia depois de Lula se dizer "indignado" com a acusação de Gilmar de que ele o teria pressionado a adiar o julgamento do mensalão. Em entrevista ao repórter Fausto Macedo, o ministro acusou Paulo Lacerda, ex-diretor da Polícia Federal, de divulgar as "fantasias" a seu respeito

Gilmar Mendes acusa Lula de ajudar "bandidos" a "melar" análise do mensalão

Cachoeira. Ministro do Supremo afirma que ex-presidente da República, ao pressioná-lo durante encontro, atuava municiado por "gângsteres" com objetivo de tumultuar julgamento do maior escândalo da gestão petista no Planalto, previsto para ocorrer neste ano

Mariângela Gallucci

BRASÍLIA - Um dia depois de o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva negar em uma nota de apenas 184 palavras ter feito pressão sobre ministros do Supremo Tribunal Federal para adiar o mensalão, o ministro Gilmar Mendes acusou o petista de irradiador da "central de divulgação" de boatos montada para minar o STF e abafar o julgamento dos mensaleiros. Em 19 minutos de entrevista, Gilmar Mendes afirmou que "gângsteres" e "bandidos" tentam "melar" o julgamento do mensalão e que o ex-presidente era a central de divulgação de informações, segundo ele, falsas, de que teria recebido favores do esquema comandado pelo contraventor Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira. "Chantagistas, bandidos, desrespeitosos", repetiu o ministro, com o tom de voz alterado, durante entrevista na entrada da sessão da 2.ª Turma do STF. Segundo ele, o objetivo do grupo de "gângsteres" era atrapalhar o julgamento do mensalão por meio da divulgação de informações mentirosas de que a Corte estaria envolvida em corrupção.

O ministro afirmou que os "bandidos" também tentaram fazer isso com o procurador-geral da República, Roberto Gurgel, que é o responsável pela acusação contra os réus do mensalão. Segundo ele, Lula seria a central das informações. "Eu acho que ele está sobreonerado com isso. Quer dizer, estão exigindo dele uma tarefa de Sísifo." Mendes disse que o STF tem de julgar agora o processo contra suspeitos de envolvimento no principal escândalo de corrupção do governo Lula. "Por que eu defendo o julgamento? Porque nós vamos ficar desmoralizados se não o fizermos. Vão sair dois experientes juízes (Carlos Ayres Britto e Cezar Peluso vão se aposentar no segundo semestre), virão dois novos, contaminados por uma onda de suspicácia. Por isso que o Supremo tem de julgar neste semestre, tem de julgar logo. E por isso essa pressão para que o tribunal não julgue."

Viagens. O ministro disse que nunca recebeu favores do esquema de Carlinhos Cachoeira e que tem suas viagens pagas pelo STF ou por ele próprio. Apresentando cópias de bilhetes, extratos de cartões e até de programa de milhagem, ele afirmou que as despesas da polêmica viagem a Berlim foram pagas pelo STF e por ele próprio. Mendes disse que tem dinheiro para bancar as viagens. "O meu livro Curso de Direito Constitucional vendeu de 2007 até agora 80 mil exemplares. Dava para dar algumas voltas ao mundo. Não viajei de jatinho coisa nenhuma." Mendes disse que viajou duas vezes num avião providenciado pelo senador Demóstenes Torres (sem partido-GO), em 2010 e 2011. Segundo ele, o avião era da empresa de táxi aéreo Voar. Afirmou ter viajado para participar de um jantar e de uma formatura. Nas duas ocasiões, o ministro Dias Toffoli também estava no avião, de acordo com Mendes. Em uma das viagens, também estaria Jobim e na outra, a ministra Nancy Andrighi, do Superior Tribunal de Justiça (STJ). "Vamos dizer que o Demóstenes me oferecesse uma carona num avião se ele tivesse. Teria algo de anormal?", perguntou Mendes.

Indagado sobre o fato de o ex-ministro Nelson Jobim não ter confirmado a suposta tentativa de Lula de intimidá-lo, respondeu: "Se eu fosse Juruna eu gravava a conversa, né? Ficaria interessantíssimo. Estou dizendo a vocês o que ocorreu. Posso ter uma interpretação errada, é um relato de uma conversa de quase duas horas. Mas os senhores sabem de uma coisa: eu não tenho a tradição de mentir. Eu posso até interpretar os fatos, mas os senhores não me viram me desmentindo ao longo da minha carreira."

Representação contra Lula vai para a 1ª instância

O procurador-geral da República, Roberto Gurgel, remeteu ontem para a Primeira Instância do Ministério Público a representação movida por partidos de oposição para investigar o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, acusado de pressionar o Supremo Tribunal Federal (STF) no julgamento do processo do mensalão. Gurgel nem sequer analisou o mérito do pedido e explicou, pela assessoria, que Lula, por não ser mais presidente, perdeu o foro privilegiado. A investigação refere-se à suposta pressão exercida pelo ex- presidente sobre o ministro Gilmar Mendes, do STF, durante encontro em abril na residência do ex-ministro Nelson Jobim, noticiado pela revista Veja desta semana. Ele teria insistido para adiar o julgamento do mensalão para depois das eleições de outubro deste ano, evitando danos eleitorais ao partido.

Segundo a oposição, Lula, que indicou oito dos atuais ministros da Corte, teria cometido os crimes de corrupção ativa, tráfico de influência e coação. Mendes confirmou que saiu do encontro constrangido com as colocações de Lula, que lhe teria oferecido blindagem na CPI do Cachoeira em troca do adiamento do julgamento. O ex-presidente qualificou a notícia como inverídica e disse, em nota, que a recebia com "sentimento de indignação". Ontem mesmo a Procuradoria da República no DF recebeu a representação remetida por Gurgel. / Vannildo Mendes

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

CPI quebra sigilo da Delta em todo o país

Em manobra apoiada por PT, PSDB e PMDB, a CPI que investiga a relação do bicheiro Carlinhos Cachoeira com políticos e empresários aprovou a quebra do sigilo bancário, fiscal e telefônico da matriz da empreiteira Delta. Mas abortou a tentativa de convocar os governadores Marconi Perillo (PSDB-GO), Agnelo Queiroz (PT-DF) e Sérgio Cabral (PMDB-RJ). A quebra do sigilo foi aprovada por 28 votos a um — o único voto contra foi do ex-líder do governo na Câmara Cândido Vaccarezza, ligado a Lula e flagrado há duas semanas tranqüilizando Cabral sobre a CPI. A quebra de sigilo vai de janeiro de 2003 até hoje. A convocação de governadores só volta à pauta após a CPI analisar se pode ou não investigar chefes do Executivo

CPI quebra sigilo da Delta em todo o país

Manobra de PSDB, PT e PMDB adia convocação dos governadores Marconi Perillo, Agnelo Queiroz e Sérgio Cabral

Roberto Maltchik, Jailton de Carvalho

BRASÍLIA. Em manobra que contou com apoio do PT, do PSDB e do PMDB, a CPI que investiga a relação do bicheiro Carlinhos Cachoeira com políticos e empresários aprovou ontem a quebra dos sigilos bancário, fiscal e telefônico da matriz da Delta, no Rio de Janeiro, mas abortou a tentativa de convocar os governadores Marconi Perillo, de Goiás; Agnelo Queiroz, do Distrito Federal, e Sérgio Cabral, do Rio. Os requerimentos de convocação dos governadores só serão votados depois que a assessoria técnica da CPI analisar se o Congresso pode ou não investigar os chefes de Executivo.

O sigilo da Delta já foi quebrado no início do mês pelo Tribunal de Justiça do Distrito Federal. Na CPI, a quebra do sigilo foi aprovada por 28 votos a um. O único parlamentar que votou contra foi o ex-líder do governo na Câmara, Cândido Vaccarezza (PT-SP), flagrado há duas semanas enviando torpedo ao governador do Rio, tranquilizando-o sobre os rumos da CPI: "A relação com o PMDB vai azedar na CPI, mas não se preocupe, você é nosso e nós somos teu (sic)", escreveu o deputado a Cabral.

- Seria hipocrisia da minha parte ter uma opinião política e ter votado de outra forma. A CPI não pode abrir o leque para fazer uma devassa na Delta. O foco é o esquema de Carlinhos Cachoeira - afirmou o petista ontem, depois que o relator, Odair Cunha (PT-MG), o constrangeu ao dizer que votaria pela quebra de sigilo porque "ninguém votou contra".

O pedido atinge todas as movimentações da Delta, de 1º de janeiro de 2003 até hoje, e foi aprovado depois que a CPI revelou que Cláudio Abreu recebeu autorização da Delta para movimentar recursos em contas que irrigaram as empresas de fachada usadas pelo grupo criminoso. Abreu recebeu autorização para movimentar dez contas da Delta, sendo que as operações nacionais teriam abastecido essas empresas com R$ 12 milhões.

- Na minha opinião, a quebra de sigilo dessas empresas é ainda mais importante do que a quebra de sigilo da Delta. Agora, poderemos saber as pessoas que receberem esse dinheiro - avaliou o senador Pedro Taques (PDT-MT).

Outro conjunto de requerimentos aprovado na sessão de ontem determinou a convocação de 31 pessoas na condição de testemunhas, e, portanto, com o dever de falar a verdade em plenário. Entre elas, o ex-diretor da Delta Heraldo Puccini e o assessor do governador de Goiás, Lúcio Fiuza. Também foi aprovado pedido à Justiça de bloqueio dos bens de Carlinhos Cachoeira, ainda que em nome de terceiros, e pedidos de informações aos tribunais de contas de todo o país sobre apurações que envolvam as entidades que receberam dinheiro das empresas de fachada.

Para impedir que os requerimentos de convocação dos governadores fossem aprovados, governo e oposição articularam uma questão de ordem, cujo porta-voz foi o pouco conhecido deputado Gladson Cameli (PP-AC), orientado a questionar se a Constituição permitiria à CPI investigar governadores. Em jogada ensaiada, o presidente Vital do Rêgo disse que precisava consultar a assessoria técnica antes de pôr os requerimentos em votação. Assim, sobrou a decisão dos requerimentos, que voltarão ao debate na próxima reunião.

As interceptações telefônicas das operações Monte Carlos e Vegas, da PF, revelaram uma série de contatos de Cachoeira com integrantes do governo de Marconi Perillo, que indicam influência sobre ocupação de cargos. Em um dos telefonemas, o governador liga para o bicheiro. A PF ainda flagrou assessores do governador do Distrito Federal, Agnelo Queiroz, em conversas com integrantes da organização. No caso de Cabral, o governador do Rio é amigo do ex-presidente da Delta, Fernando Cavendish.

Os senadores Pedro Taques e Randolfe Rodrigues (PSOL-AP) protestaram contra a manobra para barrar a convocação dos governadores, mas não encontraram respaldo no plenário.

- Uma CPI pode ouvir autoridades dos três poderes. Esta é uma CPI do Congresso. Governador pode ser ouvido em CPI, sim. O argumento não encontra razão na legislação e na Constituição. Falar que CPI não pode ouvir governador falece a qualquer legalidade - afirmou Taques.

Ainda ontem, a CPI escolheu Paulo Teixeira (SP), ex-líder do PT na Câmara, como vice-presidente da comissão. Teixeira foi indicado pelo presidente Vital do Rêgo (PMDB-PB), com o apoio da base governista. A oposição chegou a indicar o senador Pedro Taques como vice-presidente, porém DEM e PSDB foram derrotados no voto, por 21 a 8. O partido da presidente Dilma Rousseff ficou com a relatoria e a vice-presidência da comissão. Até ontem, passados mais de um mês do início dos trabalhos, a CPI ainda não havia escolhido o vice-presidente.

Pela manhã, a bancada do DEM acusou o comando da CPI de descumprir requerimento aprovado em plenário, com a solicitação da transferência de todos os sigilos bancários quebrados no âmbito da operação Saint-Michel, da Polícia Civil do Distrito Federal. De acordo com o deputado Onyx Lorenzoni (DEM-RS), no ofício encaminhado ao Ministério Público do Distrito Federal (MPDFT) e à 5ª Vara do Tribunal de Justiça do DF, o presidente Vital do Rêgo apenas solicita cópia dos autos da Operação, em desconformidade com o pedido aprovado em plenário.

FONTE: O GLOBO

Gilmar acusa Lula de espalhar boatos

O ministro Gilmar Mendes, do Supremo, acusou gângsteres de divulgar informações falsas contra ele — como a de que teria viajado à Alemanha por conta de Cachoeira — para atingir o tribunal e tentar melar o julgamento do mensalão. "As notícias que me chegaram era de que ele (Lula) era a central de divulgação disso", afirmou. E apresentou recibos para provar que a viagem foi paga pelo STF. "Para esclarecer tudo isso, bastava um telefonema para a embaixada. Não precisava se fazer essa rede de intriga."

A gente está lidando com gângsteres. Vamos deixar claro: estamos lidando com bandidos, que ficam plantando essas informações"

"Claro que isso é uma armação. Mas não é para me atingir. Era para atingir o tribunal, criar um clima de corrupção geral"

Gilmar Mendes critica ação de "gângsteres"

Diego Abreu

O ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF), atribuiu a "gângsteres", "bandidos" e "chantagistas" a plantação de informações que têm atingido a Corte e, inclusive, a de que ele teria usado avião fornecido pelo grupo do contraventor Carlinhos Cachoeira no retorno de uma viagem à Alemanha, em abril do ano passado. Mendes afirmou que essas pessoas, que agem com "uma lógica burra, irresponsável e imbecil", têm orquestrado ações para atingir a imagem da Suprema Corte com o objetivo de "melar" o julgamento do mensalão.

Em entrevista concedida a jornalistas na tarde de ontem, antes de ingressar no plenário da 2ª Turma do STF, o ministro apresentou documentos que comprovariam que ele viajou em voo da TAM no trecho Guarulhos-Brasília. As passagens entre o Brasil e a Europa foram custeadas pelo Supremo, uma vez que, conforme o ministro, ele foi proferir uma aula na Universidade de Granada, na Espanha, onde tem assento de professor.

Gilmar Mendes relata que arcou com os valores referentes aos deslocamentos internos que fez com a esposa entre Granada e Berlim, na Alemanha, onde o casal se encontrou com o senador Demóstenes Torres (sem partido-GO) e a mulher. "Estive com o embaixador Everton Vargas (em Berlim), que foi designado pelo Lula. Quem vai para Berlim clandestinamente vai à embaixada? Coisa de moleque e de baixa inteligência. É gente que não tem nem um neurônio. Para esclarecer tudo isso, bastava um telefonema para a embaixada. Não precisava se fazer essa rede de intriga que está se fazendo. Chega disso!", esbravejou Mendes.

Embora tenha negado a informação de que voltou da viagem à Europa em abril de 2011 na companhia de Demóstenes, o ministro admitiu ter viajado em duas ocasiões de Brasília para Goiânia em aeronaves particulares a convite do senador. "Se o Demóstenes me oferecesse uma carona naquela época, eu poderia aceitar tranquilamente. Eu estava relacionando com o senador que tinha o mais alto conceito na República. Até pouco tempo, nós discutíamos com ele todos os projetos, ele esteve aqui comigo para a reformulação da Corregedoria. Ele vinha para cá com projetos republicanos", disse Gilmar Mendes, sobre a relação que mantinha com o senador acusado de fazer parte do esquema comandado com Carlinhos Cachoeira.

"Central de divulgação"

Irritado e usando um tom de voz ríspido, o ministro afirmou que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva era a "central de divulgação" de informações falsas que circulam contra os ministros do Supremo. "Lula recebeu esse tipo de informação. Gente que o subsidiou com esse tipo de informação e ele acreditou nela. Vamos encerrar com isso. As notícias que me chegaram eram de que ele era a central de divulgação disso. O próprio (ex) presidente", frisou Mendes.

O ministro observou que há um nítido movimento de pessoas que tentam coagir o Supremo. "O objetivo era melar o julgamento do mensalão. Dizer que o Judiciário está envolvido em uma rede de corrupção. Tentaram fazer isso com o (procurador-geral da República, Roberto) Gurgel e estão tentando fazer isso agora."

Mendes alertou que tem se posicionado pela rapidez no julgamento do mensalão para que o Supremo não fique desmoralizado. Ele lembra que dois ministros vão se aposentar este ano: Cezar Peluso e o atual presidente da Corte, Carlos Ayres Britto. "Vão sair dois experientes juízes, que participaram do julgamento anterior (da recepção da denúncia do mensalão), virão dois novos, contaminados por uma onda de suspicácia. Por isso, o tribunal tem que julgar neste semestre e, por isso, essa pressão para que o tribunal não julgue. Vamos encerrar com isso."

O episódio repercutiu no mundo político após a publicação de materia na revista Veja, que relata um encontro de Gilmar Mendes com Lula no escritório de advocacia de Nelson Jobim, ex-presidente do Supremo e ex-ministro do governo Lula. Na reunião ocorrida no mês passado, segundo Mendes, Lula teria manifestado contrariedade em relação ao julgamento do mensalão e intimidado o ministro, ao citar a viagem a Berlim, dando a entender que o blindaria na CPI em troca do adiamento do mensalão. "É inconveniente julgar esse processo agora", teria dito Lula.

"O objetivo era melar o julgamento do mensalão. Dizer que o Judiciário está envolvido em uma rede de corrupção"

"Tentaram fazer isso com o (procurador-geral da República, Roberto) Gurgel e estão tentando fazer isso agora"

FONTE: CORREIO BRAZILIENSE

Para Dilma, há risco de crise institucional

Presidente ordenou silêncio aos auxiliares do governo e deu ao PT a tarefa de dar respostas

Vera Rosa, Tânia Monteiro

BRASÍLIA - Preocupada com o acirramento dos ânimos às vésperas do julgamento do mensalão, a presidente Dilma Rousseff disse que o governo não entrará na briga entre o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal. Dilma avalia que a situação é perigosa, tem potencial de estrago que beira a crise institucional nas relações entre Executivo e Judiciário, e transmitiu esse recado na conversa mantida ontem com o presidente do STF, Ayres Britto. O encontro durou uma hora e dez minutos, no Planalto. Embora petistas estejam fazendo desagravos públicos a Lula, a presidente ordenou silêncio aos auxiliares após falar com ele por telefone. A ordem é blindar o Planalto dos torpedos vindos da CPI do Cachoeira e dos ataques de Mendes. Lula chegou ontem à noite em Brasília, onde fará hoje uma palestra no 5.º Fórum Ministerial de Desenvolvimento, e vai se encontrar com Dilma. Pela estratégia definida até agora, o governo fará de tudo para se desviar da polêmica e repassará a tarefa das respostas políticas ao PT. O ministro do STF jogou ontem mais combustível na crise, ao responsabilizar Lula por uma “central de divulgação” de intrigas contra ele. Embora dirigentes do PT saiam em defesa de Lula, a cúpula do partido avalia que é preciso calibrar o contra-ataque, porque qualquer reação intempestiva contra o Judiciário prejudicaria os réus do mensalão.

Fora do foco. “Não acreditamos que Mendes nem nenhum integrante do Supremo esteja ligado ao crime organizado de Carlinhos Cachoeira”, disse o deputado Jilmar Tatto (SP), líder do PT na Câmara. “A CPI não foi instalada para apurar possíveis desvios de conduta de ministros do Supremo, mas, sim, para desbaratar o crime organizado de Cachoeira. Quem alimenta esse tipo de polêmica quer desviar o foco da CPI e vamos dar um basta nisso.” Mesmo ressalvando que não baterá boca com Mendes, o deputado André Vargas (PR), secretário de Comunicação do PT, achou “estranha” a versão do magistrado sobre o encontro. “Por que Lula iria falar com um ministro que foi indicado pelo PSDB e não com os oito que ele indicou?”, questionou. “E por que Mendes só divulgou essa conversa um mês depois, às vésperas do depoimento de Demóstenes Torres no Conselho de Ética?”

Sob o olhar do direito

Especialistas em direito constitucional preocupam-se com a crise entre Lula e o STF. “O julgamento do mensalão já está contaminado”, diz Dirceo Ramos, da OAB.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Oposição quer explicação de ex-presidente à CPI

Paulo Celso Pereira

BRASÍLIA. Deputados de oposição querem que o ex-presidente Lula explique à CPI mista do caso Cachoeira se pressionou ou não ministros do Supremo Tribunal Federal a mudarem a data de julgamento do caso do mensalão. O deputado Onyx Lorenzoni (DEM-RS) apresentou ontem um requerimento da CPI do Cachoeira pedindo que o ex-presidente explique como obteve informações da viagem do ministro Gilmar Mendes a Berlim, onde ele se encontrou com o senador Demóstenes Torres e sobre a qual se levantou suspeitas, como a de que teria sido paga pelo bicheiro Carlinhos Cachoeira - fato já negado pelo magistrado. A oposição reforça o discurso de que Lula e o PT queriam a CPI para atrapalhar o julgamento do mensalão.

O deputado vai tentar colocar o pedido em votação na sessão de hoje da CPI.

- Vamos dar a oportunidade que a CPI questione o presidente Lula da mesma maneira como questionou o procurador-geral da República. Vasculhando todas as operações Monte Carlo e Delta não tinha nenhuma informação de que o ministro viajou para Berlim. Quem são essas fontes que informaram ao presidente e não informaram à CPI? Daremos à esta CPMI a possibilidade de indagar por escrito por que o ex-presidente detinha informações que ninguém da CPMI tinha e que nem a Polícia Federal ainda nos havia informado - explicou Onyx.

FONTE: O GLOBO

Tucanos criticam Lula e dizem que PT controla CPI

Paulo Celso Pereira

O líder do PSDB, Bruno Araújo, também subiu à tribuna da Câmara para criticar a atuação do ex-presidente Lula. Segundo o tucano, desde o início da CPI o PT deixou claro que era seria usada politicamente:

- Fica claro quando se diz que havia o controle da CPI, que esse controle é o mesmo para o qual alertávamos desde o primeiro momento da construção dessa CPI. O verdadeiro propósito talvez fosse muito menos desarticular o crime organizado, mas de assustar o Supremo Tribunal Federal, de achincalhar o procurador-geral da República, de trazer os meios de comunicação do país para o debate da comissão. Porém essa parte do PT não teve o devido apoio na comissão.

O deputado Duarte Nogueira (PSDB-SP) também criticou duramente o ex-presidente.

- O impeachment de um presidente passa basicamente por duas agressões à Constituição: a primeira é o perjuro, que é mentir depois do juramento; a segunda, tão grave quanto a primeira, é obstruir a Justiça - defendeu.

O senador Mário Couto (PSDB-PA), um dos mais agressivos críticos do governo, discursou no Senado:

- Estamos caminhando para uma ditadura ou estamos dentro de uma ditadura. Como é que um ex-presidente, considerado um homem popular, pressiona o STF para absolver aqueles que estão envolvidos no mensalão?

FONTE: O GLOBO

Para ministros do STF, tanto petista como Mendes erraram

Valdo Cruz

BRASÍLIA - Um encontro em nada recomendável, da parte de ambos os lados, diante da conjuntura que cerca o Supremo Tribunal Federal no ano de julgamento do mensalão.

Tal comentário circula no STF em reprovação à iniciativa de Lula e de Gilmar Mendes de se reunirem no escritório de Nelson Jobim.

O ex-presidente, com interesses diretos no julgamento, deveria ter calculado melhor os riscos políticos de tal encontro. Deu no que deu, o tiro saiu pela culatra, seja lá o que tenha dito ao ministro.

Da parte de Gilmar Mendes, ele sabia muito bem que, ao aceitar trocar um dedo de prosa com Lula, o tema mensalão seria posto na mesa. A prudência recomendaria evitar tal abordagem, o que implicaria recusar o encontro.

Lula e Gilmar Mendes, porém, decidiram se encontrar em abril. Nenhum dos dois é neófito na política. Muito pelo contrário, conhecem de perto como manobrar o campo das intrigas brasilienses.

Sabem, muito bem, que ninguém solicita e vai a um encontro desses sem interesses particulares e específicos no colóquio. E que, se revelado, gera muito dissabor.

Ainda mais quando um dos personagens decide usá-lo como vacina por se sentir acuado por aliados da outra parte: Gilmar Mendes tem reclamado de rumores divulgados contra ele por petistas.

O episódio virou uma guerra de versões. Talvez nunca saibamos exatamente como o mensalão foi servido no encontro. Mas que foi servido, isso foi. Daí a reprovação de ministros do STF ao fato.

Não que os membros da corte devam viver isolados do mundo. Mas há temas que demandam total reserva e cautela. Tanto da parte do interessado como do julgador.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

Mendes ataca Lula, e PT mobiliza sua militância

Ministro do STF diz que ex-presidente é "central de divulgação de intrigas"

As repercussões da polêmica reunião entre o ex-presidente Lula e o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Gilmar Mendes ganharam ares de batalha partidária ontem. O presidente do PT, Rui Falcão, pediu aos militantes que se mobilizem para resistir ao que considera "manobra para desmoralizar" o partido.

Mendes – que diz ter ouvido insinuações de Lula na reunião induzindo-o a fazer com que o mensalão não seja julgado este ano pelo Supremo – voltou à carga contra o ex-presidente ontem.

Disse que o petista seria a "central de divulgação" de intrigas contra ele e que a tentativa de envolver seu nome no esquema do bicheiro Carlinhos Cachoeira tem como objetivo "constranger o tribunal" para "melar o julgamento do mensalão".

No encontro em que a pressão teria ocorrido – fato negado por Lula e pelo ex-ministro Nelson Jobim, também presente – Mendes diz que o ex-presidente se referiu a uma viagem a Berlim, supostamente paga por Cachoeira. Mendes disse não precisar de "fundo sindical, nem dinheiro de empresa" para viajar:

– Vamos parar de futrica. Não preciso ficar extorquindo van para obter dinheiro. O que é isso? Um pouco mais de respeito.

Já Falcão lançou um vídeo para os militantes petistas. Na gravação, ele considera os movimentos de Mendes uma estratégia:

– A militância do PT precisa estar atenta às manobras que transcorrem nesse momento tentando comprometer o presidente Lula com um encontro com o ministro do Supremo Tribunal Federal Gilmar Mendes, numa conversa já desmentida pelo Nelson Jobim, também ex-ministro do Supremo.

Em outro trecho, associou a divulgação do diálogo à possibilidade de o governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB), ser convocado para prestar depoimento à CPI do Cachoeira.

FONTE: ZERO HORA (RS)

Em posse no TSE, Toffoli evita falar de Lula e Gilmar

Outros ministros do STF no evento também se calaram sobre caso

BRASÍLIA. Em uma sessão esvaziada, com poucas autoridades, o ministro do Supremo Tribunal Federal Antônio Dias Toffoli tomou posse ontem como ministro do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). A recente revelação de que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva pode ter pressionado o ministro do STF Gilmar Mendes a pedir o adiamento do julgamento do mensalão foi um assunto evitado. Os ministros, quando questionados sobre o assunto, preferiram o silêncio.

- Não vou comentar, não - disse Toffoli.

- Não vou falar - afirmou Ricardo Lewandowski.

Ao todo, sete dos 11 ministros do STF estiveram presentes. Dois deles - Cármen Lúcia e Marco Aurélio Mello - também são membros do TSE. Apareceram ainda o presidente do STF, Carlos Ayres Britto, e os ministros Cezar Peluso e Luiz Fux.

A vontade de não falar nada era tal que os ministros Ayres Britto e Marco Aurélio Mello, afastaram-se dos jornalistas.

A presidente Dilma Rousseff também não foi. Único ministro do Executivo presente, Garibaldi Alves (Previdência) demonstrou surpresa quando questionado se ele estava representando o governo federal.

- Ninguém mais veio? - questionou.

Informado de que era o único ministro presente, disse que estava lá informalmente:

- Vim informalmente, mas posso fazer as vezes de representante do governo.

Do Congresso, poucos apareceram. Entre eles estavam o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), e o líder do PMDB no Senado, Renan Calheiros (AL). O procurador-geral da República, Roberto Gurgel, também foi à solenidade.

FONTE: O GLOBO

Por que não falas, Lula?

No recente episódio envolvendo a tentativa de chantagear o Supremo, a principal linha de defesa dos partidários de Luiz Inácio Lula da Silva tem sido tentar desacreditar o relato feito por Gilmar Mendes. Mas, enquanto o ex-presidente mantém-se mudo, o ministro do STF reitera o que diz, elevando, inclusive, o tom das revelações. Com atitudes assim, quem demonstra estar com a razão?

Nos últimos dias, Mendes falou à Veja; reiterou sua versão aos jornalistas que o procuraram no domingo, quando a revista começava a circular; voltou a falar com repórteres anteontem em Manaus e, ontem, deu uma entrevista coletiva de 19 minutos, além de atender jornais em separado. Não parece nem um pouco em dúvida de suas convicções.

"A gente está lidando com gângsteres. Vamos deixar claro: estamos lidando com bandidos. (...) O objetivo era melar o julgamento do mensalão. Dizer que o Judiciário está envolvido numa rede de corrupção", afirmou o ministro, quando foi abordado por repórteres ao se encaminhar para uma sessão da 2ª Turma do STF.

As palavras de Mendes fazem ou não sentido? Evidentemente. Desde que foi apanhado no escândalo do mensalão, o gigantesco esquema de desvio de dinheiro público para comprar apoio no Congresso, o PT bate na tecla de que age como os outros. Ou seja, tenta nivelar a todos por baixo. Exatamente como agora, ao buscar arrastar também o Supremo para a vala comum da escória.

Ao contrário do arrojo de Gilmar Mendes, o outrora palavroso ex-presidente limitou-se até agora a uma nota de 184 palavras emitida pelo instituto que leva seu nome. Microfones a seu dispor não faltam. Mas, por que, afinal, Lula não fala?

Se nada disse ao longo destes dias, o ex-presidente não se eximiu de sacar as armas de que dispõe: conclamar, por meio de Rui Falcão, a militância petista a resistir às "manobras" e, por intermédio de seus asseclas no Congresso, investir contra Mendes na CPI do Cachoeira, como mostra hoje a Folha de S.Paulo.

"Sem alarde, a CPI do Cachoeira requisitou ontem à Polícia Federal as transcrições de todos os diálogos envolvendo personagens com foro privilegiado captados nas operações Vegas e Monte Carlo. A iniciativa, subscrita pelos deputados Cândido Vaccarezza e Paulo Teixeira, é interpretada por integrantes da comissão como uma investida do PT para constranger Gilmar Mendes. (...) Petistas o elegeram como novo alvo das investigações."

Por que, afinal, Gilmar Mendes incomoda tanto os petistas? Porque a atitude do ministro do Supremo equivale a pôr o dedo numa ferida que está exposta em várias dimensões, momentos e situações, mas que, pela onipresença que vai tomando, às vezes começa a passar despercebida: o achincalhe perpetrado pelo PT, Lula à frente, às instituições da República.

Vale lembrar alguns episódios em que o então presidente tentou desacreditar órgãos de fiscalização e controle cuja função é zelar pelo bem público. Foi assim, por exemplo, com o Tribunal de Contas da União, com o Ministério Público e até com repartições ligadas à preservação do meio ambiente.

Sempre que se interpuseram no caminho de alguma vontade de Lula, foram alvo do escárnio do então presidente. O TCU foi acusado de retardar obras; o MP de proceder a investigações incômodas; os órgãos ambientais de zelar até por "bagres" em detrimento do interesse maior da marcha desenvolvimentista empreendida pelo PT.

Na realidade, o que estas instituições estavam fazendo, assim como o grito de Gilmar Mendes agora faz, é cuidar de impor algum freio ao desmesurado desejo de Lula e do PT de subverter toda a ordem constituída a seu inteiro favor.

Há mais uma penca de exemplos neste sentido: o uso de instituições públicas, como o BNDES, para beneficiar empresas amigas e, em contrapartida, arrancar-lhes gordas doações, como aconteceu em 2011; a montagem de uma rede de descarados propagandistas na internet, também alimentada por polpudos patrocínios públicos; os conluios com empresas favorecidas pelo PAC, como ficou evidente com a construtora Delta. E por aí vai.

A imprudência de Lula ao tentar chantagear Gilmar Mendes permite à sociedade brasileira defrontar-se, mais uma vez, com esta escalada de ilícitos. Reabre a possibilidade de que se dê um sonoro "basta" aos exageros e afrontas praticados pelo PT. Felizmente, este acerto de contas está próximo. Com sua soberba, Luiz Inácio Lula da Silva acabou fazendo um favor ao país: tornou inadiável o julgamento do mensalão e a punição de seus réus pelo STF.

Fonte: Instituto Teotônio Vilela. Carta de Formulação e Mobilização PolíticaQuarta-feira, 30 de maio de 2012Nº 477.

O papel da mídia:: Merval Pereira

Nos últimos dias tive a oportunidade de falar sobre o papel da imprensa em situações diversas: ontem, na Academia Brasileira de Letras, encerrei o ciclo de palestras coordenado pelo acadêmico Affonso Arinos de Mello Franco sob o tema geral de "Eleições e reflexões", falando sobre "os direitos e deveres" da mídia.

Na China, num debate promovido pela Academia da Latinidade com a Academia de Ciências Sociais de Xangai, analisei a relação da mídia com o Estado na América Latina.

Não há momento mais propício para discutir a imprensa, quando uma intensa luta política procura desacreditá-la no Brasil, como parte de um amplo movimento para tentar criar um ambiente favorável no Congresso à aprovação de uma legislação de controle social da mídia, como tentam radicais ligados ao governo petista desde que o partido chegou ao poder em 2002 com a eleição de Lula.

Lembrei que na América Latina enfrentamos um problema já superado na maioria dos países democráticos: a tentativa de restringir a liberdade de expressão. Espalha-se pela região um movimento de contenção da liberdade de imprensa em diversos países, como Venezuela, Argentina, Bolívia, Equador, onde televisões, rádios e jornais vão sendo fechados sob os mais variados pretextos, e muitos outros são ameaçados com diversas formas de pressão, sejam financeiras, sejam através de medidas judiciais.

Lembrei que no Brasil, uma democracia em processo de amadurecimento, somos uma exceção em um continente cada vez mais dominado por governos autoritários ou simples ditaduras.

Apesar disso, aqui também enfrentamos ameaças à liberdade de expressão. Depois de tentar criar diversos organismos, desde a Agência Nacional de Cinema e Audiovisual - que daria poderes ao governo de interferir na programação da televisão e direcionar o financiamento de filmes, e toda a produção cultural, para temas que estivessem em sintonia com as metas sociais do governo - até o Conselho Nacional de Jornalismo - com a finalidade de controlar o exercício da profissão e poderes para punir, até mesmo com a cassação do registro profissional, os jornalistas que infringissem normas de conduta que seriam definidas pelo próprio Conselho -, esse mesmo grupo político tenta viabilizar mecanismos de controle dos meios de comunicação.

Falei também na China sobre os problemas legais que cada vez mais surgem no caminho da livre expressão, com embargos de diversos feitios que tentam inviabilizar, até economicamente, os meios de comunicação, especialmente no interior do país, que enfrentam também a violência como arma de intimidação da liberdade de expressão, tendo sido registrados diversos casos de assassinatos e agressões a jornalistas.

Na Academia Brasileira de Letras, ontem, tratei de temas mais genéricos, de conceitos sobre a profissão de jornalista que são atemporais, valem para qualquer momento, mas especialmente para os tempos de eleição.

A imprensa enfrenta no mundo uma permanente batalha de credibilidade, que volta e meia é perdida. Embora aqui no Brasil ainda apareça entre as instituições mais respeitadas pela opinião pública, há um permanente desconforto na relação da imprensa com a sociedade.

Se de um lado ela ainda depende da imprensa para ter seus direitos respeitados e para que denúncias sejam investigadas pelos governos, de outro há questionamentos persistentes quanto à irresponsabilidade do noticiário, sobre as acusações veiculadas - o que muitos classificam de denuncismo - ou quanto ao superficialismo do noticiário.

No Brasil, há uma relação de amor e ódio típica de um país que ainda testa a solidez de suas instituições democráticas, e onde a Justiça não funciona plenamente.

A imprensa aqui, mais que em outras partes, transforma-se em Poder, por uma disfunção dos demais Poderes.

É disseminada pelos adeptos do governo uma tentativa de desacreditar os meios de comunicação na suposição de que a "opinião pública" representa apenas a elite da sociedade e não os cidadãos de maneira geral.

A "opinião pública" surgiu no fim do século XVIII, através principalmente da difusão da imprensa, como maneira de a sociedade civil nascente se contrapor à força do Estado absolutista e legitimar suas reivindicações no campo político.

Não é à toa, portanto, que o surgimento da "opinião pública" está ligado ao surgimento do Estado moderno. A gravidade do que aconteceu no "News of the World" na Inglaterra, com escutas ilegais e chantagens, liga perigosamente a prática de crimes comuns ao jornalismo, o que é inaceitável e põe em risco a própria essência da liberdade de expressão.

O jornalismo, instrumento da democracia, não pode se transformar em atividade criminosa.

Não obstante todos os novos recursos tecnológicos e as mudanças na sociedade que colocam o cidadão como protagonista, é o jornalismo, seja em que plataforma se apresente, que continua sendo o espaço público para a formação de um consenso em torno do projeto democrático.

A tese de que as novas tecnologias, como a internet, os blogs, o Twitter e as redes sociais de comunicação, como o Facebook, seriam elementos de neutralização da grande imprensa é contestada por pesquisas. Uma, recente, da Associação de Jornais dos Estados Unidos (NAA na sigla em inglês), mostrou mais uma vez que os jornais tradicionais são marcas confiáveis para as quais o leitor corre quando algo importante está acontecendo.

A pesquisa da NAA sobre o uso de multiplataformas mostra que três quartos de todos os usuários da internet têm os jornais como principal fonte de notícias e os leem em várias plataformas.

Não é à toa que os sites e blogs mais acessados tanto nos Estados Unidos quanto no Brasil são aqueles que pertencem a companhias jornalísticas tradicionais, já testadas na árdua tarefa de selecionar e hierarquizar a informação.

O jornalismo profissional tem uma estrutura, uma forma profissional de colher e checar informações que a vasta maioria dos blogueiros não tem.

Não há dúvida de que, com o surgimento das novas tecnologias, os jornais perderam a hegemonia da informação, mas continuam sendo fatores fundamentais para cidadania.

FONTE: O GLOBO

Um novo manual do crime:: Fernando Rodrigues

"Fui investigado clandestinamente", disse ontem Demóstenes Torres ao depor no Conselho de Ética do Senado.

Trata-se de uma referência oblíqua à decisão a ser tomada pelo Supremo Tribunal Federal sobre a validade das provas coletadas contra Demóstenes. Sob o aspecto institucional do país, essa decisão será talvez a mais relevante do atual escândalo.

Como senador, Demóstenes tem direito ao execrável foro privilegiado. Não pode ser investigado sem autorização do STF. Nos últimos cerca de dois anos, a Polícia Federal investigou Carlinhos Cachoeira. Com chancela da Justiça, telefones foram monitorados. A voz de Demóstenes surgiu em centenas de ligações.

O senador, agora encrencado, foi alvo indireto do trabalho da PF. Por causa do direito ao tal foro privilegiado, argumenta que as provas são ilegais. Tudo deveria ter sido interrompido quando sua voz foi captada nas conversas de Cachoeira.

A PF e o Ministério Público usam o argumento do encontro fortuito.

O investigado Cachoeira telefonou para Demóstenes. O senador, de fato, caiu no grampo, mas não era o alvo da investigação. Não haveria razão para interromper o inquérito.

Caberá ao STF julgar. Se vencer a tese de Demóstenes, o processo inteiro vai para o lixo. Por tabela, todos os réus saem livres. Um novo manual do crime será lançado.

Nesse novo contexto, o criminoso potencial deve antes de tudo comprar um celular. Depois, dá um jeito de ser atendido ao telefone com regularidade por um dos 513 deputados ou dos 81 senadores. Tarefa fácil. Muitos congressistas têm compulsão por tais contatos.

O criminoso então estará automaticamente blindado. Se for grampeado pela polícia, argumentará que tudo foi ilegal, pois um congressista estava no meio da conversa.

Ficará facílimo retardar e obstruir o trabalho da Justiça. O crime organizado, penhorado, agradecerá.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

Contradição em termos:: Dora Kramer

Em seu depoimento ao Conselho de Ética do Senado, durante cinco horas o senador Demóstenes Torres transitou entre dois papéis.

Ora mostrava profundo conhecimento do mundo e suas circunstâncias, exibindo credenciais de larga experiência nas áreas jurídica, política e administrativa, ora se apresentava como um néscio enganado durante 13 anos por um amigo íntimo, incapaz de se aperceber da impropriedade do uso de telefone, despesas de festas e viagens em aviões pagos por terceiros.

Como a figura do simplório não se coaduna com a atuação de ex-procurador-geral de Goiás, ex-secretário de Segurança Pública do mesmo estado e senador sempre alerta para assuntos de desvios éticos e corrupção, a versão que apresentou sobre suas relações com Carlos Augusto Ramos (Cachoeira) revelou-se inverossímil.

Demóstenes Torres disse ao conselho que conheceu o hoje presidiário em 1999, mas só veio saber de suas atividades ilegais em 29 de fevereiro de 2012 quando Carlos Cachoeira foi preso, acusado de chefiar uma organização criminosa envolvida em jogatina ilegal, lavagem de dinheiro, tráfico de influência, espionagem e corrupção.

Buscou confundir a cena recorrendo a uma frase de efeito – "quero ser julgado pelo que fiz não pelo que falei", como se a fala não traduzisse no mínimo a intenção do gesto – e ao argumento de que é vítima de um conluio entre o Ministério Público e a Polícia Federal, "para pegar um parlamentar e instituir um estado policialesco no Brasil".

Além de surrada, a alegação conspiratória, de largo uso entre alvos da cruzada ética em que o senador sustentou sua carreira, soa delirante diante do fato essencial.

E este é a natureza de suas relações com Carlos Cachoeira. O senador saiu do Conselho de Ética com elas mais complicadas do que quando entrou.

A opção pela negativa de total desconhecimento sobre as atividades do acusado de chefiar uma organização criminosa acabou conferindo inverosimilhança à defesa do senador, justamente pela contradição existente entre a argúcia marcante em sua trajetória profissional e a ingenuidade extrema que buscou exibir ao se defender.

Com o quê, então, o rigoroso senador que no próprio dizer frequentava todas as rodas de poder, defendia os interesses "republicanos" (discernia-os, portanto) que fosse instado a defender, não percebeu que o amigo próximo ao ponto de pagar pelos fogos de artifício da festa de formatura da mulher era o mesmo flagrado pagando propina a Waldomiro Diniz e depois indiciado pela CPI dos Bingos?

Segundo ele, acreditou quando Cachoeira lhe assegurou ter-se afastado dos negócios ilegais. Então sabia das ilegalidades, mas o teve como redimido? Justiça seja feita ao senador Demóstenes, não foi o único alegadamente crédulo nessa questão.

O governador de Goiás, Marconi Perillo, bem como vários outros empresários e políticos compraram a palavra de Carlos Cachoeira pelo valor de face deixando ao encargo do passado os fatos que, como logo se viu, estiveram sempre presentes.

No trânsito entre os dois personagens incorporados no depoimento, o senador Demóstenes deixou ao mais sagaz deles o cuidado de não envolver colegas, embora tenha acentuado as relações do réu com "dezenas de parlamentares", numa evidente aposta na salvação pelo voto secreto do plenário.

Ilegal, e daí?. Um trecho de telefonema entre Demóstenes Torres e Carlos Cachoeira publicado pelo jornal O Estado de S. Paulo e citado no Conselho de Ética pelo relator Humberto Costa, diz bastante sobre doações legais e ilegais para campanhas eleitorais.

Demóstenes demonstra receio de que a construtora Delta tenha feito "doação oficial" para ele. Tranquiliza-se quando Cachoeira garante que não.

Ou seja, caixa 2 tudo bem. Recursos devidamente contabilizados já são complicados, pois podem vir a servir de prova ou indício em eventuais investigações sobre ilícitos envolvendo doador e receptor.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Interesses, estratégias e constrangimentos:: Cláudio Gonçalves Couto

Um lugar comum da análise política, de que CPIs sabe-se como começam, mas não como terminam, acaba de confirmar-se cabalmente. O curioso é que a movida crucial do tabuleiro não se deu por um ator em princípio diretamente ligado à CPI do turno, mas por um agente externo: o ministro do Supremo Tribunal Federal, Gilmar Mendes. Afirmou ele à TV Globo: "Eu entendi, depreendi desta conversa, que ele estava inferindo que eu tinha algo a dever". É muita hipérbole para uma denúncia de tamanha gravidade.

De qualquer modo, a despeito do estupefato causado, alguns elementos deste enredo não são nada novos. Ao revelar ter sido supostamente alvo de chantagem por parte de um politicamente ativo ex-presidente da República, o magistrado reiterou um padrão de conduta que marcou sua trajetória à frente da Corte Suprema do país.

Primeiramente, apresentou-se de novo como campeão do Estado de Direito contra ataques supostamente desferidos por um líder carismático pouco afeito a formalidades. Tal postura marcou a passagem de Mendes pela presidência do STF, quando bradou contra excessos de Lula como presidente-em-campanha em prol da eleição de sua pupila. Em outubro de 2009, observou: "Estão testando a Justiça Eleitoral e o Ministério Público Eleitoral. É uma situação que, se se tornar repetida e sistêmica, há de merecer reflexão. É uma viagem feita com recursos públicos. Nem o mais cândido dos ingênuos acredita que isso é uma fiscalização de obras". Conclamava a Justiça Eleitoral a perscrutar os passos do presidente e sua candidata, falando da cadeira de juiz em termos próprios a um promotor.

Em segundo lugar, Mendes sempre foi um juiz loquaz, dentro ou fora dos autos, mas normalmente de forma crítica ao governo Lula e a seus procedimentos. Partiu dele a sugestão de que a oposição questionasse a licitude da troca de partido, num momento em que ela sangrava com a debandada de parlamentares para as agremiações conservadoras da base governista. Disse, numa sessão em que se discutia outro tema (a cláusula de barreira), em dezembro de 2006: "Se considerarmos a exigência da filiação partidária como condição de elegibilidade e a participação do voto de legenda na eleição do candidato, tendo em vista o modelo eleitoral proporcional adotado para as eleições parlamentares, essa orientação que admite não haver reflexo no mandato quanto à opção por uma nova agremiação partidária afigura-se amplamente questionável. Assim, a meu ver, o abandono de legenda deveria dar ensejo à perda de mandato". Logo depois, o PFL consultou o TSE sobre o tema - logo ele, partido tão beneficiado pelo troca-troca partidário à época em que era base de Fernando Henrique Cardoso.

Tendo Gilmar Mendes se destacado como o "líder da oposição no STF", sua disposição para embaraçar Lula neste momento não surpreende. Seu oposicionismo se coaduna com a intempestiva revelação do alegado fato apenas mais de um mês depois do ocorrido. Um timing como esse é mais propício à estratégia política que ao zelo republicano. Ademais, pode-se questionar: não seria dever legal do magistrado ter de imediato denunciado o suposto achaque? Submetida a chantagem, mas sem qualquer responsabilidade pública, Carolina Dieckmann foi mais rápida.

Lula, por seu turno, deve ter notado quanto seu estímulo à criação da CPI pode ter-se mostrado uma ação temerária. Mais do que isto: político ativo que é, empenhado na campanha eleitoral deste ano, não poderá furtar-se - mais cedo ou mais tarde - a dar de viva voz sua versão do ocorrido. Postar-se olimpicamente acima disto seria possível para um ex-presidente de pijamas, mas não para um que se empenha em seguir influente. Ora, se a versão da "Veja" é - como alega a nota da assessoria do ex-presidente - "inverídica", mas Gilmar Mendes a confirmou depois também à "Folha" e à "Globo", então alguém mente. Ou, pelo menos, distorce os fatos.

O imbróglio engolfou também a Nelson Jobim, patrocinador do encontro. Indicado ao Supremo por Fernando Henrique, de quem fora ministro, atuou na Corte por cinco anos, ainda durante a gestão tucana; presidente do STF já durante o governo Lula, aposentou-se da magistratura e foi, depois, incorporar-se ao ministério do petista. Assim como Mendes, em seus nove anos na Corte Jobim foi um ministro do Supremo ativista e loquaz, embora nem oposicionista, nem governista. Afinal, mais do que uma agenda partidária, Jobim tinha uma agenda própria. Ironicamente, a confusão lhe atingiu justo no momento em que iniciava de forma mais aberta um processo de construção de seu nome como uma possível alternativa do PMDB para as próximas disputas presidenciais. Poucas situações lhe seriam tão constrangedoras quanto esta, de ter de desmentir seu ex-colega de toga, porém dizendo que não formula juízo sobre quem diz a verdade no caso. Seja como for, única testemunha do encontro, até agora Jobim sustenta a posição de Lula, não a de Mendes.

Já para os oposicionistas assumidamente partidários, os do Congresso, a situação é de deleite. No momento em que a CPI dava sinais de que em vez de pizzas, enviaria tucanos ao forno, surge um evento retumbante que coloca petistas na defensiva. Em vez de apenas acuar seus adversários, passam a ter de defender seu líder máximo, apresentando suas credenciais de político que sempre respeitou a via institucional, rejeitou a tese do terceiro mandato etc. Com efeito, a jogada de Mendes logrou gerar algo novo no embate partidário. Pela primeira vez, desde 2002, Lula deixa de ser um trunfo para o PT, convertendo-se num peso. Até à época do mensalão ele pôde colocar-se antes como vítima de traições do que como promotor dos malfeitos. Esta mudança de status só aumentará a pressão sobre o ex-presidente, para que dê pessoalmente sua versão dos fatos. Caso não o faça, o peso da suspeição sobre si se fará sentir ao longo dos próximos meses, contagiando não só a CPI e o julgamento dos réus do mensalão, mas as eleições municipais. Lula corre o risco de sair deste processo menor do que entrou.

Cláudio Gonçalves Couto é cientista político, professor da FGV-SP

FONTE: VALOR ECONÔMICO

Distância do Poder está fazendo mal a Lula ;; Fabio Pannunzio

Ele está irreconhecível. Faltam-lhe racionalidade, jogo de cintura e bom-senso. Assim é Lula de pijama — um cidadão de espírito inquieto que parece inconformado com a distância entre São Bernardo do Campo e Brasília.

Desde que deixou a Presidência, um ano e meio atrás, o ex-presidente não para de fazer bobagens. Primeiro, impôs a sua sucessora um ministério contaminado por gente da pior qualidade. Dilma teve que defenestrar meia-dúzia para salvar o cofre da viúva do assédio incansável da malandragem com assento no primeiro escalão.

Enquanto isso acontecia — e a popularidade de Dilma crescia –, Lula pareceu não se conformar com os arroubos de autonomia de sua ex-secretária. O sucesso da criatura fez mal ao criador.

No momento seguinte, gastou parte de seu imenso capital político numa operação contra seu próprio partido. Enfiou goela abaixo a candidatura de Fernando Haddad à Prefeitura de São Paulo, cindindo a galeria de aliados de primeira hora como a senadora Marta Suplicy. Criou um candidato esquálido, cuja performance inquieta dos próprios companheiros.

Acometido por um câncer, não se deixou abater. Transformou a suíte do Hospital Sírio Libanês em uma central de conspirações e, antes mesmo de se recuperar, enfiou-se na trincheira do Mensalão ao lado de José Dirceu. Pelo que se viu, não foi um movimento de pouca importância.

Avesso à liturgia e às formalidades imposta pela condição de “ex”, Lula conspirou para que o PT tomasse a dianteira de um processo que todos imaginavam no que daria, a CPI do Cachoeira. Para vingar-se antigos desafetos, como o governador Marconi Perillo, que o advertiu sobre o Mensalão, entrou por um labirinto sem fim — e empurrou seu aliados para ele. Agora, nem o PT, nem Rui Falcão, seu artífice, sabem direito o que fazer para reverter o desgaste que se seguiu.

Como a desenvoltura de Lula só tem paralelo na sua falta de limites, era de se esperar, mais cedo ou mais tarde, uma inversão da lógica do Barão de Itararé segundo a qual “de onde nada se espera, daí é que não sai nada mesmo”. No caso do mais popular dos ex-presidentes brasileiros, espera-se tudo e tudo acontecerá. Até uma canhestra tentativa de constranger um ministro da Corte Constitucional para impedir o julgamento do maior escândalo de corrupção da história da República, o Mensalão.

Como candidato, Lula foi sábio a ponto de transformar a si mesmo para pavimentar a estrada segura que o levaria ao Palácio do Planalto. Como presidente, foi um notável administrador da própria imagem. Teve sabedoria para aproveitar dos antecessores o que era bom e apropriar-se de suas conquistas — e depois da própria história. Foi iluminado ao abandonar o jargão sindical e fiel a ponto de cumprir literalmente tudo aquilo com que se comprometeu na Carta aos Brasileiros. Foi um gênio da oratória. E ummarketeiro de primeiríssima.

Agora, falta-lhe sabedoria para ficar calado quando deve calar-se. Falta-lhe tirocínio para evitar as manobras ruins. Falta-se senso crítico para entender a posição que ocupa no cenário institucional. Falta-lhe também esperteza para evitar as ciladas que ele mesmo prepara. E grandeza para superar os rancores profundos e os pequenos ressentimentos amealhados em sua longa convivência com o Poder.

Assim, de tropeço em tropeço, o Lula de São Bernardo vai ganhando feições muito diferentes do Lula de Brasília. Acabou-se a graça, restou apenas a amargura. Acabou-se o charme brejeiro, ficou o histrionismo do ódio.

Será que algo de sua privilegiada inteligência política se perdeu no caminhão que transportou sua mudança do Planalto para a planície ?

FONTE: BLOG PANNUNZIO, 28/5/2012

Uma trinca do escracho:: Elio Gaspari

O que aconteceu no dia 26 de abril no escritório de Nelson Jobim, ex-ministro da Justiça, da Defesa, e ex-presidente do Supremo Tribunal Federal? Certo mesmo, só que lá se encontraram Lula, o ministro Gilmar Mendes e o dono da casa. Os repórteres Rodrigo Rangel e Otávio Cabral revelaram a lembrança de Mendes. Coisa tenebrosa. Lula recomendou que se adiasse o julgamento do mensalão: "É inconveniente julgar esse processo agora", e contou que estava caitituando votos da Corte. Cármen Lúcia? "Vou falar com o Pertence para cuidar dela." Referia-se ao ex-ministro Sepúlveda Pertence, por coincidência presidente da Comissão de Ética Pública da Presidência. Dias Toffoli? "Ele tem de participar do julgamento." (O ministro, como ex-advogado-geral da União, poderia dar-se por impedido.) Ricardo Lewandowski? "Ele só iria apresentar o relatório no semestre que vem, mas está sofrendo muita pressão." Joaquim Barbosa: "Complexado." Finalmente, Lula prensou Mendes com uma pergunta. "E a viagem a Berlim?" Por trás da curiosidade estava a maledicência de que o ministro fizera uma viagem a Berlim com o senador Demóstenes Torres e parte do paganini por conta de Carlinhos Cachoeira. O ministro rebateu a insinuação e dobrou a aposta: "Vá fundo na CPI."

O repórter Jorge Bastos Moreno ouviu a narrativa de Jobim: "Não houve nada disso." Ele contou que o encontro ocorreu por acaso, durou cerca de uma hora, e em nenhum momento os dois estiveram a sós. Dias depois, corrigiu-se e disse que marcou o encontro a pedido de Lula. O ex-presidente, por intermédio de sua assessoria, contestou, indignado, a reconstrução de Gilmar Mendes.

Alguém está mentindo. Ou mente Gilmar, ou mentem Lula e Jobim.

Pela narrativa de Gilmar, "fiquei perplexo com o comportamento e as insinuações despropositadas do presidente Lula". O ministro conta que narrou o episódio ao presidente da Corte, Carlos Ayres Britto, na quarta-feira da semana passada, 27 dias depois do ocorrido. Infelizmente, ambos mantiveram-no restrito ao mundo de confidências que alimentam a nobiliarquia de Brasília.

Se a narrativa de Gilmar é verdadeira, o escracho começou na própria conversa. Nem Lula poderia ter dito o que disse, nem Gilmar poderia ter ouvido. Sua perplexidade diante das "insinuações despropositadas" deveria ter sido expressa no ato. A comunicação do ocorrido ao ministro Ayres Britto deveria ter desencadeado uma imediata iniciativa pública. A essa altura era Britto quem não poderia ter ouvido o que Gilmar lhe contou. O cargo em que está investido recomendava que pedisse ao colega que narrasse o episódio na sala de sessões da Corte, ao vivo e em cores, como já fez o ministro Joaquim Barbosa quando julgou impertinente um telefonema que lhe dera um ex-ministro da Casa, advogando um caso milionário. Nessa ocasião, Barbosa começou a construir sua fama de intratável. Um Supremo Tribunal Federal com onze juízes intratáveis jamais acabaria metido numa história dessas.

P. S. A memória exige o registro de que em 2008 o ministro Gilmar Mendes, presidindo o STF, denunciou um "estado policialesco" a partir da leitura do que seria a transcrição de uma conversa que tivera com o senador Demóstenes Torres. Até hoje não apareceu o áudio desse grampo.

Elio Gaspari é jornalista.

FONTE: O GLOBO

O ânimo da finança com o varejo:: Vinícius Torres Freire

Líderes da finança entram em negócios no varejo, em alimentos e nos serviços; banqueiro prevê retomada

O pessoal da indústria e do ramo de imóveis parece desanimado. Mas seus colegas empresários da finança e do varejo parecem otimistas.

Considere algumas notícias de negócios desta semana e a visão de um grande banqueiro sobre o andar da carruagem brasileira.

Ontem, o presidente do Itaú, Roberto Setubal, expôs num seminário sua visão serenamente otimista para a economia brasileira. Sim, banqueiros costumam ser avessos a alarmismos.

Mas Setubal afirmou que, sim, claro, o crédito no Brasil vai crescer mais devagar, mas ainda ao ritmo de 15% a 20% ao ano (nos anos insustentáveis do boom luliano, chegamos ao ritmo de 30% ano).

Em termos reais, dá algo entre 10% e 15% ao ano, no mínimo o triplo do ritmo do crescimento da economia que a gente pode esperar para os próximos três anos.

Não dá, fica claro, para o crédito segurar a peteca do crescimento, como ocorreu nos anos Lula. Mas é claro também que não podemos esperar razoavelmente que a economia brasileira cresça apenas à base de crédito para o consumo.

O banqueiro disse ainda que o nível de inadimplência vai cair (até porque os bancos estão sendo mais rigorosos e concentrando empréstimos em linhas que têm mais garantias). Por fim, Setubal estima que no final de 2012 o Brasil vai estar crescendo ao ritmo de 4% ao ano.

Quanto aos negócios, o bancão de investimentos BTG anunciou que vai investir em outra firma de varejo, a rede Leader, do Rio, da qual deve comprar uma parte (por R$ 1 bilhão). O BTG já entrou no negócio de farmácias (Brazil Pharma), de estacionamentos (Estapar) e de serviços hospitalares (Rede d"Or).

O Gávea, de Armínio Fraga e cia., associou-se à Cosan (alimentos e energia) e à Camil (processadora de grãos, arroz & feijão) para criar uma grande empresa nacional de alimentos (enfim, o BNDES ficou fora de uma dessas "campeãs nacionais").

O GP Investimentos vendeu a Fogo de Chão (sim, a rede de churrascarias) para um fundo de investimentos em empresas americano, o Thomas Lee, por US$ 400 milhões (quase R$ 800 milhões). A FedEx (logística, entregas etc.) pretende comprar a Rapidão Cometa (distribuição, transporte e logística). As empresas farmacêuticas (os produtores de medicamentos) estão se fundindo e se reorganizando em firmas maiores.

Ou seja, o pessoal de peso da finança brasileira está ativo, colocando dinheiro em negócios de varejo e serviços, mesmo com a piora das perspectivas de crescimento da economia brasileira.

Aliás, note-se que a finança privada enfim se associa a negócios que, não faz muito tempo (uma década e pouco), eram de varejo no pior sentido da expressão, administrados "no varejo", em empresas familiares sem grande estrutura ou estratégia para crescer (vide o caso de farmácias e de alimentos).

De fato, os negócios de abertura de capital na Bolsa de Valores andam mal parados e tão cedo não verão dinheiro, dados a fuga de investidores estrangeiros e o preço baixo dos papéis, que não estimulam empresa nenhuma a vender novas ações.

Mas o mercado está vivo em outros cantos; os donos do dinheiro grosso parecem confiantes -pelo menos no consumismo brasileiro.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO