domingo, 3 de junho de 2012

OPINIÃO DO DIA - José Álvaro Moisés: Democracia em risco

"Nada sugere que a democracia esteja em risco no Brasil. O que está em questão é sua qualidade. Os déficits das instituições democráticas, como as distorções que afetam a competição eleitoral sob efeito do "caixa dois" e da influência de empresas no financiamento de campanhas, produzem questionamentos sobre os resultados da democracia. A estabilidade econômica e o controle da inflação permitiram a geração de empregos e o aumento do poder aquisitivo de algumas camadas sociais, mas isso não se confunde com desconcentração de renda e riqueza. Os desafios sobre as diferentes dimensões das desigualdades permanecem. E não sabemos em que direção o País caminha diante da crise internacional. Assim, ganha importância saber que meios a democracia oferece - partidos, Parlamentos, Judiciário? - para que a sociedade possa influenciar a agenda de enfrentamento dessas questões. Afinal, uma das principais promessas da democracia diz respeito à participação dos cidadãos nas decisões que afetam suas vidas."

MOISÉS, José Álvaro, cientista político, professor da USP. Em O Estado de S. Paulo / Aliás, 3/6/2012

Manchetes de alguns dos principais jornais do Brasil

O GLOBO
Novo pacote do governo vai reduzir tarifas de telefone
Enquanto isso...
Perillo omite bens e eleva patrimônio

FOLHA DE S. PAULO
Governo quer proibir venda de horário na TV
Dilma foi o meu maior amor
Emaranhado de 75 leis regula dois tributos federais
'Infalível', Lula dá duas bolas fora em cinco meses"

O ESTADO DE S. PAULO
Investimento da indústria deve cair R$ 35 bi, prevê BNDES
Ex-assessor de Perillo quer depor na CPI

CORREIO BRAZILIENSE
Fantasmas da Delta financiaram políticos
Morte de JK pode ter nova investigação

ESTADO DE MINAS
Morte de JK
Água Mineral mais barata que a da torneira

ZERO HORA (RS)
Por que a água é intragável

JORNAL DO COMMERCIO (PE)
Impasse deixa Humberto em 'sinuca de bico'

Investimento da indústria deve cair R$ 35 bi, prevê BNDES

Pesquisa do BNDES mostra que o País deve receber R$ 579 bilhões em investimentos em oito setores industriais entre 2012 e 2015. O valor é R$ 35 bilhões menor que os R$ 614 bilhões estimados em 2011 para o período 2011-2014. A queda dos investimentos foi um dos principais fatores do baixo crescimento do PIB do primeiro trimestre (0,2%) e preocupa o governo. Outra pesquisa, da Fiesp, indica que o volume de investimentos em máquinas e equipamentos será 11% menor neste ano que em 2011. Empresas de siderurgia foram as mais afetadas, mas os setores químico e de papel e celulose, entre outros, também adiaram projetos de ampliação de capacidade

Pessimismo com a crise deve fazer o Brasil perder R$ 35 bi em investimentos até 2015

Raquel Landim, Renée Pereira

O Brasil não vai poder contar com o entusiasmo das empresas para estimular a economia. Depois de crescimento de apenas 0,2% do Produto Interno Bruto no primeiro trimestre do ano, em grande parte por causa da queda dos investimentos, um mapeamento do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) aponta que as empresas vão investir R$ 35 bilhões a menos em quatro anos, uma retração que preocupa o governo.

Segundo os dados do BNDES, o País deve ter R$ 579 bilhões em investimentos em oito setores industriais entre 2012 e 2015 - valor 6% menor que os R$ 614 bilhões estimados no ano passado para o período 2011-2014. "Não dá para negar que fomos afetados pela crise mundial. Mas o Brasil ainda é um dos países onde há mais oportunidades", diz Fernando Puga, chefe do departamento de acompanhamento econômico do BNDES.

Outra pesquisa feita pela Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), com 1.202 empresas, aponta na mesma direção. O levantamento mostra que o volume de investimentos em máquinas e equipamentos será 11% menor este ano que em 2011, quando foram aplicados R$ 97,28 bilhões. As empresas vão deixar de investir R$ 7,6 bilhões na expansão da produção em 2012.

"Uma parte da indústria está ociosa por falta de demanda no mercado externo. Outra parte não consegue competir com os importados. Se você vende menos no mercado interno e a exportação cai, por que vai investir?", questiona José Ricardo Roriz Coelho, diretor do departamento de competitividade e tecnologia da Fiesp. Dos 14 setores pesquisados pela Fiesp, 11 vão reduzir os investimentos em 2012.

Vários fatores contribuem para o desânimo. No front externo, aumenta a expectativa sobre a saída da Grécia da zona do euro e a China desacelera mais forte que o previsto, derrubando os preços das commodities. No front interno, o crescimento baixo do PIB no trimestre também afeta o humor. "A indústria está estagnada, o que elevou a ociosidade e inibiu os investimentos", diz Júlio Sérgio Gomes de Almeida, consultor do Instituto de Estudos sobre o Desenvolvimento Industrial (Iedi).

Os especialistas estão mais receosos com o impacto da crise nos investimentos hoje do que quando a crise começou, em 2008. Naquela época, não houve cancelamento de projetos, porque a economia local se recuperou rápido e ainda havia esperanças que os países ricos fossem mais ágeis para sair da crise.

No primeiro trimestre, os investimentos diminuíram 1,8% em relação ao quarto trimestre de 2011, segundo o IBGE. Em abril, o consumo de máquinas caiu 6% em relação a março. "Está um clima de pasmaceira no mercado", diz Carlos Pastoriza, diretor da Abimaq, associação dos fabricantes de máquinas.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Política e meios de comunicação:: Fernando Henrique Cardoso

Escrevo esta crônica nas vésperas de partir para o Japão e a China, de onde só regressarei depois de publicado o texto, daqui a duas semanas. É sempre arriscado, nestas condições, falar sobre a agenda política. Será mesmo? O marasmo é tão grande, que possivelmente ao voltar e reler os jornais encontrarei os mesmos temas: a CPI, a corrupção com suas teias enredadas, os candidatos às prefeituras já conhecidos e suas previsíveis alianças, o PIB que cresce pouco, os juros que finalmente começam a cair, a inadimplência dos devedores, as demandas por reformas tributárias, as soluções caso a caso para diminuir os estoques das empresas (principalmente automobilísticas) e assim por diante. Dá até preguiça passar os olhos pelas colunas e notícias da mídia, sem falar das TVs, que repetem tudo isso com sabor de press release, emitido seja pelo governo, seja por empresas.

Ainda recentemente, um sociólogo mexicano falando na Fundação iFHC e referindo-se a outro aspecto da mesma questão, disse que o resultado das eleições em seu país independe das campanhas eleitorais. Isso porque quando a propaganda partidária tem vez na mídia, a "opinião" já está enraizada nos eleitores, pois nos anos anteriores se elegeram os heróis e os vilões cujas virtudes e defeitos foram repetidos todo o tempo, sem contestação crítica. Será muito diferente entre nós? É desta maneira que se exerce nas modernas sociedades de massa o controle ideológico da opinião, seja pelos governos, seja pelos grupos dominantes na sociedade, econômicos ou políticos.

A sensação do já visto que alimenta a modorra e leva ao tédio e ao descaso com a política é, entretanto, enganadora e perigosa. A despeito de tudo, nem só de manipulação da opinião vive uma sociedade. De repente, quando menos se espera, não são as "forças do mercado" nem o "pensamento único" (que em nosso caso, menos do que neoliberal, é de esquerda desenvolvimentista-autoritária) que comandam a vontade popular. É o que vemos agora na Grécia e na França, onde a vitória de Hollande, a despeito do irrealismo de algumas de suas promessas, ecoa até na alma de Obama e o rígido dogmatismo tedesco, fantasiado de racionalidade de mercado, vê-se cerceado por aspirações de outra natureza. Convém, portanto, não sobre-estimar a força das verdades preestabelecidas. Mormente em nossos dias, quando a internet permite que um sem-número de opiniões divergentes circule sem que os leitores ou ouvintes da grande mídia se deem conta.

Não digo isso para aceitar o conformismo vigente em muitos meios de comunicação, mesmo porque, para fazer frente a ele, o desconcerto causado pela variabilidade de opiniões das mídias sociais e mesmo pela mistura entre lixo eletrônico e real opinião é insuficiente. Digo para alertar: a despeito de parecer que a política, principalmente a partidária, é mais enganação do que afirmação de interesses e valores que podem enfrentar a luz do sol, no final das contas, o que decide nossa vida em sociedade é a política mesmo. Portanto, sensaborona ou não, repetitiva ou não, controlada pelos que mandam ou não, dependemos dela. Nos dias que correm, sobretudo nos regimes democráticos, não há política sem comunicação; logo, é melhor tomar coragem para ler e ouvir tudo que se diz, mesmo quando partindo de fontes suspeitas.

A precondição para que haja alternativas ao que aí está é manter a liberdade de expressão, mesmo que haja distorções. Isso não exclui uma luta constante contra estas, não para censurá-las, mas para confrontá-las com outras versões. Afastando por inaceitável qualquer tentativa de "controle social da mídia", o acesso de opiniões divergentes aos meios de comunicação poderia criar um ambiente mais favorável à veracidade das informações. Por exemplo: será que é democrático deixar que os governos abusem nas verbas publicitárias ou que as empresas estatais, sub-repticiamente, façam coro à mesma publicidade sob pretexto de estarem concorrendo em mercados que, muitas vezes, são quase monopólicos? E que dizer do tom invariavelmente otimista das declarações sobre a superação da crise financeira global oriundas de setores empresariais interessados ou, em nosso caso, da marcha contínua para o êxito econômico reiterada pelos governos? O efeito deletério desse tipo de propaganda disfarçada não é tão sentido na grande mídia, pois nesta há sempre a concorrência de mercado, que a leva a pesar o interesse e mesmo a voz do consumidor e do cidadão eleitor. Mas, nas mídias locais e regionais, o pensamento único impera sem contraponto.

A autenticidade das informações escapa das deformações advindas da influência das forças estatais (inclusive do setor produtivo estatal) e das empresas privadas precisamente pela voz crítica dos setores da mídia independente, por meio de seus repórteres, editorialistas e mesmo dos proprietários que têm coragem de expor opiniões. Não por acaso, é contra estes que os donos do poder político e os partidos que os sustentam se movem: denunciam que é a imprensa que faz o papel da oposição. Até certo ponto isso é verdade. Mais por deficiência dos partidos de oposição, cujas vozes se perdem nos corredores dos parlamentos, do que por desejo de protagonismo da mídia crítica. Nos países europeus ou nos Estados Unidos, por mais que haja partidarismo nos meios de comunicação ou que por lá prevaleça o mesmismo das notícias que refletem o status quo, sempre há espaço para o outro lado, para o contraponto. Mal termina de falar o primeiro-ministro da Inglaterra e já a voz da oposição, como tal, é transmitida. O mesmo ocorre quando o presidente dos Estados Unidos faz sua apresentação anual ao Congresso.

Obviamente, não basta haver uma mudança na oferta de espaço pela mídia, é preciso que haja vozes de oposição com peso suficiente para serem ouvidas e se fazerem respeitar. Sem esquecer que nas democracias a voz que pesa politicamente é a de quem busca o voto para se tornar poder.

Sociólogo, foi presidente da República

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

PT teria guia para atingir adversários em CPI, diz ‘Veja’

Segundo a revista, partido teria lista de pessoas ‘que precisam ser atingidas’

SÃO PAULO - Um documento com alvos preferenciais do PT na CPI do Cachoeira, como o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Gilmar Mendes e o procurador-geral da República, Roberto Gurgel, teria sido preparado pelo partido no Congresso para guiar as ações de seus parlamentares na comissão. A informação foi publicada pela revista “Veja” que começou a circular nesta semana, acrescentando que o documento seria parte de um plano do PT para usar a CPI para constranger adversários e atrapalhar o julgamento do mensalão.

A publicação afirmou ter tido acesso ao material que, segundo a revista, foi elaborado por funcionários da liderança do PT no Congresso. O líder do PT na Câmara, Jilmar Tatto, negou que o documento tenha sido elaborado pela bancada do partido.

— Publicaram um documento apócrifo dizendo que é da bancada do PT. Os documentos sob responsabilidade da liderança do PT sou, eu, que assino. Não existe isso. A orientação para todos os deputados do PT que participam da CPI é desbaratar o crime organizado do Carlinhos Cachoreira e as suas ramificações, tanto no setor privado como no setor público — afirmou o deputado federal, que esteve no lançamento da candidatura de Fernando Haddad à prefeitura de São Paulo.

A revista diz que o documento lista pessoas que ‘precisariam ser atingidas’ pela CPI. Os alvos preferenciais do relatório seriam os oposicionistas, a imprensa e membros do Judiciário.

FONTE: O GLOBO

Um tiro no próprio pé

A abordagem do ex-presidente Lula ao ministro Gilmar Mendes era parte do audacioso plano do PT de usar a CPI do Cachoeira para constranger adversários, o procurador da República, a imprensa e juizes do Supremo Tribunal Federal, numa ação coordenada para atrapalhar o julgamento do mensalão

Daniel Pereira

O presidente americano John Kennedy, assassinado em 1963, deu relevo ao ditado segundo o qual "a vitória tem muitos pais, mas a derrota é órfã". Tivesse sido bem-sucedida a estratégia de instalar uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) no Congresso e desqualificar o julgamento dos 36 réus do mensalão, na maioria petistas, sua paternidade seria atribuída ao ex-presidente Lula. Como deu tudo errado para as pretensões iniciais de Lula e do núcleo duro dos mensaleiros, a derrota agora, pobrezinha, está vagando pelos corredores do lulismo em busca de alguém que assuma a paternidade. O verdadeiro pai do desastre, Lula, como é do seu feitio, já renegou a criatura. O culto à personalidade de Lula é sagrado no petismo. Lula nunca erra. É induzido ao erro. Entre as alas do PT mais diretamente envolvidas com a instalação da CPI e a definição de seus alvos, já começou o tradicional jogo de "toma que o filho é teu". Afinal, ninguém quer ser lembrado no futuro como o cérebro aloprado por trás de um plano que, em vez de lançar uma cortina de fumaça sobre o episódio, colocou o mensalão na vitrine principal da rica galeria de escândalos de corrupção do governo Lula.

Por que mesmo fracassou a combinação do ex-presidente? Mesmo que seja para enobrecer indevidamente um episódio de política nanica, o paralelo mais exato para explicar o tiro no próprio pé disparado pelos comissários petistas é o famoso Plano Schlieffen, que deveria, em apenas duas semanas, ter dado à Alemanha uma vitória militar completa sobre a França e a Rússia na I Guerra Mundial. Como se sabe, a guerra durou quatro anos e a Alemanha perdeu. A resposta dos especialistas ao retumbante fracasso da estratégia traçada pelo conde Alfred von Schlieffen, chefe do Estado-Maior alemão, entrou para a história das guerras por sua brutal simplicidade: "Para funcionar, o Plano Schlieffen exigia que tudo desse certo para os alemães e tudo desse errado para os inimigos". A estratégia do lulismo com a criação da CPI deu com os burros n"água por essa mesma razão. São poderosas e incontroláveis as forças que se libertam quando uma CPI é instalada. Lula e seus auxiliares não conseguiram controlá-las conforme o planejado.

VEJA revelou na edição passada uma investida de Lula que, se bem-sucedida, poderia minorar o fracasso do plano principal. Em uma conversa com o ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF), o ex-presidente tentou convencer o magistrado da necessidade de adiar o início do julgamento, previsto para o próximo semestre. "É inconveniente julgar esse processo agora", disse Lula a Gilmar. O adiamento desejado por Lula traria dois benefícios ao PT. Uma decisão tomada em 2013 aumentaria a probabilidade de prescrição de crimes (veja o quadro na pág. ao lado). Além disso, livraria o partido do risco de disputar as eleições municipais deste ano, nas quais espera conquistar até 1000 prefeituras, com uma condenação capital nas costas.

O ex-presidente insinuou que, se Gilmar não agisse de acordo com os propósitos do PT, o ministro do STF poderia ser investigado pela CPI. A ameaça, de tão grave, provocou a reação contundente de Gilmar e de outros ministros da corte, que viram na ação do ex-presidente uma clara tentativa de intimidação da Justiça – movimento tão indecoroso que, ao contrário do imaginado pela falconaria petista, se voltou contra o partido, ao consolidar a necessidade de uma pronta decisão sobre o caso. Mais um tiro no próprio pé.

Nesta edição, VEJA revela a existência de um documento preparado pelos petistas para guiar as ações dos companheiros que integram a CPI do Cachoeira. Lendo o material, é possível imaginar a atmosfera pesada que pontuou a conversa entre o ministro e o ex-presidente, ocorrida no dia 26 de abril, no escritório de Nelson Jobim, ex-presidente do STF e amigo de ambos. O nome de Gilmar faz parte de uma lista de alvos preferenciais do PT que precisariam ser atingidos pela CPI do Cachoeira. Outro marcado na lista para sofrer ameaças e humilhações é Roberto Gurgel, procurador-geral da República, a quem caberá defender a punição dos mensaleiros na abertura do julgamento no STF. O guia de ação na CPI produzido pela liderança petista, e ao qual VEJA teve acesso, não deixa dúvida sobre as reais intenções do grupo mais umbilicalmente ligado a Lula. Os alvos preferenciais são os oposicionistas, a imprensa e membros do Judiciário que, de alguma forma, contribuíram ou ainda podem contribuir para que o mensalão seja julgado e passe, portanto, a existir oficialmente como um dos grandes eventos de corrupção da história brasileira – e, sem dúvida, o maior da República.

O documento foca em especial Gilmar Mendes. São dedicados a ele quatro tópicos: "O processo da Celg no STF", "Satiagraha, Fundos de Pensão, Protógenes", "Filha de Gilmar Mendes" e "Viagem a Berlim". São referências a episódios em que Gilmar Mendes tem culpa no cartório? Não. São todas questões já levantadas contra o ministro pelos mensaleiros e seus defensores e que, uma vez esclarecidas, se mostraram fruto apenas do desejo de desqualificar um integrante do STF que os petistas consideram um possível voto contra seus companheiros réus. Se Lula foi mesmo induzido ao erro por relatórios dessa natureza, é uma questão ainda em aberto. Mas que ele se entregou de corpo e alma ao erro não há a menor dúvida. Na conversa com Gilmar, depois de dizer que controlava a CPI e insinuar que poderia proteger o ministro de uma eventual investigação, o ex-presidente citou um dos tópicos do documento: "E a viagem a Berlim?", perguntou. No documento do PT está escrito que "há notícias de que Cachoeira esteve na Europa" na mesma data que Gilmar. "Estamos lidando com gângsteres, com bandidos que ficam plantando essas informações", reagiu o ministro do STF, que foi obrigado a explicar que viaja sempre para Berlim, onde mora sua filha.

Lula bem que tentou. Dispensou as liturgias esperadas de um ex-presidente, brandiu obscenamente versões como se fossem fatos, atropelou a lei, mandou às favas os bons costumes, a educação e a civilidade. Tudo para tentar o impossível: apagar da memória recente da nação que sob seu governo se deu o maior escândalo de corrupção da história da República. Foi patético. E inútil. Revelada sua abordagem a Gilmar Mendes no escritório de Nelson Jobim, a resposta de Lula veio por meio de uma nota curta e vacilante, em que se dizia "indignado". Foi um tiro no próprio pé. A necessidade de julgar o mensalão tornou-se ainda mais premente. Disse Carlos Ayres Britto, presidente do Supremo: "O que a sociedade quer é compreensível: o julgamento do processo, sem predisposição, seja para condenar, seja para absolver. O processo está maduro, chegou a hora de julgá-lo". Alguns ministros tornaram pública sua opinião a respeito do encontro entre Lula e Gilmar. Com exceção do ministro Marco Aurélio Mello, para quem Lula, como líder do PT, tem todo o direito de abordar o tribunal e expor sua insatisfação com a coincidência do julgamento com as eleições municipais de outubro, os outros que se manifestaram o fizeram de modo crítico. O mais contundente foi o ministro Celso de Mello, decano do tribunal: "Se ainda fosse presidente da República, esse comportamento seria passível de impeachment". Em inusitada demonstração de autonomia, alguns petistas discordaram, à boca pequena, claro, da atuação de Lula. Esses descontentes lembraram que é errado dar como certo o voto de Gilmar Mendes na condenação dos mensaleiros. Eles lembram que Gilmar Mendes votou contra a inclusão de Luiz Gushiken, ex-ministro de Lula, na lista de réus do mensalão. Gilmar também deu voto contra a abertura de inquérito para apurar a responsabilidade do ex-ministro Antonio Palocci no famoso episódio da quebra do sigilo bancário do caseiro Francenildo Costa. Sob a proteção do anonimato, é muito mais fácil hoje do que há algumas semanas encontrar petistas fortemente críticos da estratégia de atacar a imprensa e envolver o procurador Roberto Gurgel na CPI do Cachoeira. No documento feito pelos petistas empregados na liderança do partido no Congresso, Gurgel é falsamente acusado de engavetar o caso conhecido como Operação Vegas, em que a Polícia Federal investigou o jogo ilegal no Brasil. O documento do PT dá como fatos as mais absurdas invencionices contra a imprensa. Falácias fartamente marteladas criminosamente por blogs sustentados por verbas públicas de instituições dominadas por petistas. A avaliação de deputados e senadores do PT, confirmada por pesquisas de opinião, é que o partido, até agora, é o maior perdedor na CPI do Cachoeira.

Na semana passada, a comissão de inquérito aprovou a convocação do governador Agnelo Queiroz, do PT de Brasília. O plano inicial de Lula era levar à CPI apenas o governador tucano Marconi Perillo, de Goiás, também convocado. Os integrantes da CPI decidiram ainda quebrar o sigilo da empreiteira Delta em nível nacional – quando o plano original de Lula era circunscrever a apuração do propinoduto da empresa a suas atividades no Centro-Oeste. Como se verá na reportagem seguinte, a CPI do Cachoeira poderá ser chamada agora de CPI da Delta. Um tiro de bazuca no pé do PT.

Os mensaleiros e o risco da prescrição

Se os principais réus forem condenados à pena mínima, apenas três terão de cumpri-la

Se o julgamento do mensalão acontecesse hoje e os principais réus fossem condenados à pena mínima de prisão pelos crimes de que são acusados, apenas três deles (o empresário Marcos Valério, o deputado João Paulo Cunha e o ex-deputado Roberto Jefferson) teriam de cumprir a decisão. Os demais estariam livres, dado que suas penas já teriam prescrito. A prescrição é um instrumento do Código Penal que tem por objetivo proteger os cidadãos da morosidade da Justiça – e não provocar a impunidade. A lei entende que ninguém pode ser processado por tempo indeterminado e, portanto, ter sua vida paralisada, sua idoneidade mantida em dúvida sem um pronunciamento final da Justiça. A prescrição pode ocorrer até mesmo antes do julgamento, com base em um cálculo que considera a pena máxima prevista para o crime, a pena em abstrato. Nessa circunstância, o prazo é contado a partir do recebimento da denúncia. No caso do mensalão, só haveria risco de prescrição antes do julgamento se ele não se realizasse até 2015, o que é improvável. A prescrição que ocorre depois do julgamento varia de acordo com a pena efetivamente recebida. Quanto menor a pena, mais curto o prazo de prescrição. Para escolher a extensão da pena, os juizes obedecem a critérios atenuadores. Réus primários e de bons antecedentes, caso da maioria dos mensaleiros, tendem a receber a punição mínima prevista no Código Penal. Mas quem é condenado por mais de um crime no mesmo julgamento, risco que corre a maioria dos mensaleiros, pode ter a pena agravada.

Jobim mata a cobra mas não mostra o pau

Há duas semanas, em duas conversas telefônicas com VEJA, Nelson Jobim, ex-presidente do Supremo Tribunal Federal (STF) e ex-ministro da Justiça, relutantemente, confirmou ter sido o anfitrião do agora famoso encontro do ex-presidente Lula com Gilmar Mendes, ministro do STF. Na primeira conversa, Jobim negou tudo, usando como prova a data (errada) do encontro. Naquele dia, disse Jobim, ele não podia ter se encontrado com os dois em Brasília pois estava em São Paulo participando de um evento promovido pela Federação das Indústrias do Estado, a Fiesp. De posse da informação correta sobre a data do encontro, 26 de abril, VEJA voltou a ligar para Jobim. Sem outro pretexto para encurtar a conversa, Jobim confirmou que Lula e Gilmar se encontraram e conversaram em seu escritório no Lago Sul de Brasília. Sustentou durante algum tempo que o encontro fora fortuito. Lula antecipara a data de uma visita a ele prometida havia muito tempo e calhou de cumprir a promessa justamente no dia em que Gilmar também estava no escritório de Jobim. Confirmou depois que, sendo amigo de ambos, patrocinou a conversa. "Eles falaram sobre o julgamento do mensalão?" Jobim respondeu: "Até onde eu sei, foi uma conversa amigável sobre temas de interesse institucional e atualidades da política, coisa normal em se tratando de um ex-presidente e um ministro do STF". VEJA insistiu: "Lula disse a Gilmar que seria mais adequado adiar a votação do mensalão?". Jobim respondeu: "Não teve pedido nenhum". Como a pergunta não queria calar, Jobim perdeu a paciência: "Me deixa fora disso. Tenho uma boa relação com Lula e quero preservá-la". Na edição da semana passada, VEJA publicou a história do encontro conforme dele se recordava Gilmar Mendes. Jobim foi citado na reportagem no exato contexto acima. Ouvido pelos jornais depois da publicação da reportagem de VEJA, Jobim disse, em linhas gerais, a mesma coisa que revelou a revista – no que foi interpretado como tendo desmentido o teor da conversa. A dois políticos de sua confiança, um do PSDB e outro do PT, Jobim contou que a versão mais próxima do encontro foi aquela relatada por Gilmar Mendes. Lauro Jardim, no Radar desta edição, revela que o próprio Lula disse a um presidente de partido que faria gestões sobre o mensalão junto aos ministros do STF. Como ensinava Lyndon Johnson, o presidente americano, "a coisa mais importante que um homem tem para lhe dizer é justamente o que ele está tentando não dizer". Em uma corruptela do ditado popular brasileiro, pode-se afirmar que Jobim "matou a cobra mas não quis mostrar o pau".

FONTE: REVISTA VEJA

‘Lula faz questão de manter o protagonismo’

Analistas dizem que ex-presidente é o capital político de Dilma

BRASÍLIA - Além das polêmicas da semana passada, com o ministro Gilmar Mendes, Lula ficou em evidência por ter partido dele o trabalho pela criação da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito, (CPMI) que investiga o esquema de Carlinhos Cachoeira. E não esconde que a controla. Seu alvo seria o Judiciário, por conta julgamento do mensalão, e a revista “Veja”, por divulgação de alguns dos escândalos de corrupção do seu governo.

O PMDB ficou fora até o último minuto para caracterizar que a CPI não era uma iniciativa sua. E assim, ficar bem junto ao Planalto, que, como se vê agora, pode sofrer danos com a investigação da Delta em todos os estados. Há rumores de que integrantes de partidos da base governista — PMDB, PP, PR, PSC —, insatisfeitos com a perda de espaço na Esplanada, podem pedir a convocação da ex-ministra da Casa Civil Erenice Guerra e da ministra do Planejamento, Miriam Belchior, para explicar na CPI os contratos da Delta no PAC.

— Não custa repetir. Quem vai ganhar com a CPI do Cachoeira é, mais uma vez, o “bom e velho” PMDB — externou ontem o senador Delcídio Amaral, um dos poucos no PT que tem explicitado preocupação com os rumos da investigação, desde o inicio.

Também é atribuído a Lula o suposto aval que o governo teria dado à iniciativa da holding J& F de comprar a Delta, negócio que acabou não dando certo. Dilma se irritou com a versão de que a teria avalizado.

Na tentativa de cumprir a promessa feita antes de deixar a Presidência — a de iniciar uma cruzada para “desmascarar a farsa do mensalão” — , aliados admitem que Lula perdeu a mão e vem protagonizando uma confusão atrás da outra. Reconhecem que as investidas contra o Supremo e o procurador-geral da República, Roberto Gurgel, podem ter efeito desastroso, provocando o espírito de corpo no Judiciário contra os mensaleiros.

Com saia-justa ou não, cientistas políticos dizem que Dilma manterá a sintonia com Lula:

— Além da relação fraterna, Dilma também sabe que, se tudo der errado, poderá contar com Lula. Numa relação de custo benefício, vale ter o capital político do ex-presidente. Se a popularidade dela cair, ou se for preciso uma articulação com o Congresso, quem é que vai descascar o abacaxi? Ela não tem o PT. O grupo político dela é o Lula — diz o professor do Instituto de Ciência Política da Universidade de Brasília , Leonardo Barreto.

Professora de Ciência Política da PUC-Rio, Maria Celina D'Araujo, diz que Lula, por lealdade a Dilma, precisaria aprender a liturgia de ex-presidente.

— Não tem como surgir um ruído na conversa entre ambos. Ela administra as crises de forma amigável porque sabe que é devedora do cargo. Mas o Lula deveria ter mais civilidade. Ele faz questão de manter o protagonismo político. E desqualifica a própria Dilma com essas atitudes — diz Maria Celina.

FONTE: O GLOBO

Ao lado de Dirceu, ex-presidente sai em defesa de Erenice Guerra

SÃO PAULO, BRASÍLIA - Em discurso na festa de Fernando Haddad, o ex-presidente Lula defendeu sua ex-ministra da Casa Civil, Erenice Guerra, afastada em 2010, durante a campanha de Dilma Rousseff ao Planalto.

Ela perdeu o cargo sob a acusação de que seu filho Israel fazia lobby no governo. Lula disse que Erenice foi "execrada, acusada de tudo quanto é coisa" na época.

"Quando terminou a campanha, o acusador em Campinas retirou a acusação na primeira audiência e a imprensa, que a massacrou, não teve coragem sequer de pedir desculpas à companheira Erenice", disse Lula.

O inquérito da Polícia Federal que investiga a suposta prática de tráfico de influência ainda não foi concluído, mas a ex-ministra foi censurada pela Comissão de Ética Pública por ter conduta não condizente com o cargo.

A CGU (Controladoria-Geral da União) apontou irregularidades "graves" em três dos nove casos investigados. Entre elas, sobrepreço em serviços prestados aos Correios pela MTA Linhas Aéreas, que contratou o filho de Erenice. Ela e os outros envolvidos no caso negam irregularidades.

Lula e Haddad dividiram o palanque com dois réus do processo do mensalão, o ex-ministro José Dirceu e o ex-deputado José Genoino.

O presidente do PT, Rui Falcão, afirmou que o partido "deve muito" a eles. Dirceu se sentou na mesa de autoridades, mas não discursou.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

A fé de Lula em seu taco:: Elio Gaspari

Nosso Guia já transformou derrotas em vitórias, mas neste ano já marcou duas vezes contra seu próprio gol

Lula tem uma infinita fé no seu taco. Já transformou greve derrotada em vitória política. Em 2008, jogou o peso de sua Presidência pedindo à população que consumisse, no auge da depressão mundial. Acertou e prevaleceu.

Em janeiro passado, deixou-se atrair pelo prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, que parecia disposto a aliar-se ao PT na eleição de novembro, apoiando a candidatura do ex-ministro Fernando Haddad.

Lula contrariou uma parte de sua base e, sobretudo, a senadora Marta Suplicy. Passou-lhes o rolo compressor do Guia Genial dos Povos e armou até mesmo uma entrada triunfal de Kassab na cerimônia do 32º aniversário do PT. Um mês depois, o prefeito aninhou-se com o tucanato. Consagrou sua fama de articulador com um título raro: passara a perna em Lula, que ficou com a carga de lutar pela eleição de um poste no qual deverá até mesmo atarrachar a lâmpada.

Ao encontrar-se com o ministro Gilmar Mendes para tratar do mensalão, com direito a comentários impróprios sobre juízes do STF, Lula sabia que corria riscos. Confiou no que supunha ser uma relação recíproca de amizade. (Nosso Guia e o ministro têm uma relação de afeto ofídico.) Deu no que deu.

Essa autoconfiança vem de longe, do tempo em que, no meio de uma crise, ao fim de reunião com empresários, um deles pediu-lhe um autógrafo, pois prometera-o a um filho.

Em cinco meses, duas bolas fora, em casos onde prevaleceu o que acreditava ser o seu instinto infalível. No episódio de Kassab, pode ter atrapalhado o próprio partido, nada mais que isso. No de Gilmar Mendes, transbordou e o encontro dos dois só serviu para criar um clima de feijoada no Supremo Tribunal Federal. Lula fez seu périplo pelos ministros sem discutir a tática com os réus do mensalão ou com seus advogados. Quis levar a coisa no peito.

A essa altura da vida não é de se esperar que mude, mas seria o caso de ele próprio se perguntar se não está exagerando. Como ele já disse: "Quando a gente pensa que vira vanguarda, vira mesmo é desastre".

Transparência. O professor Delfim Netto está panfletando uma nota oficial da American Economic Association anunciando a sua nova política de transparência. A partir do dia 1º de julho todos os trabalhos oferecidos para publicação deverão informar:

1) Quem financiou a pesquisa.

2) Cada autor deverá identificar todas as suas fontes de apoio financeiro, inclusive por prestação de "serviços de consultoria".

3) Cada autor deverá listar suas funções, remuneradas ou não, em instituições que tenham relação com os temas tratados no artigo.

4) Os sábios deverão contar se submeteram os seus artigos à leitura de outras partes.

5) A American Economic Association colocará na rede informações sobre potenciais conflitos de interesses relacionados com artigos já publicados.

Delfim está certo de que, se essa política for acompanhada por outras instituições, boa parte dos sábios do mercado cairão em profundo silêncio.

Haja museus. O Instituto Brasileiro de Museus organizou uma semana de atividades, editou um catálogo e nele listou pelo menos 43 museus no eixo Rio-Petrópolis-Niterói. Os museus diferenciam-se no tamanho e no acervo, mas todos têm diretores e funcionários.

Quando faltam estruturas, roubam-se peças, e assim sumiu um Matisse da Fundação Castro Maya. Ele reapareceu na Rússia.

A rede oficial de Roma tem 20 museus. No Vaticano há mais sete; contando-se a Capela Sistina, as Salas de Rafael e a Biblioteca Apostólica, são dez. Total: 30.

Muitos diretores e poucos acervos, os males dos museus brasileiros são.

Ele. Durante a campanha eleitoral, quando um de seus amigos começou a dizer bobagens, ele o procurou, pedindo que ficasse calado. Mais: antes da gestão pessoal, mandara um intermediário oferecer um bom dinheiro para calá-lo.

Quando ele é apanhado num erro, culpa os outros, preferencialmente a imprensa. Velhos companheiros garantem que se trata de um megalomaníaco, que só acredita em si, craque numa campanha, medíocre na administração.

Ele é Barack Obama, segundo o livro "The Amateur" (o e-book está por US$ 9,99), do jornalista americano Edward Klein, que disparou para o primeiro lugar na lista de mais vendidos do "The New York Times".

O amigo que dizia bobagens era o pastor Jeremiah Wright. O dinheiro (US$ 150 mil) foi oferecido por Eric Whitaker, que ainda hoje é um dos mais próximos conselheiros pessoais do companheiro.

Bola de cristal. Para quem tenta ver nas pesquisas de hoje o resultado da eleição americana de novembro, o professor Larry Sabato, do site "Crystal Ball", adverte: "É melhor jogar cara e coroa". O companheiro Obama está na frente, por pouco, mas tudo o que se pode dizer é que a eleição será apertada. Por quê?

Porque em junho de 2006 John McCain estava um ponto à frente de Obama. Em 2002, o senador John Kerry estava seis pontos à frente de George W. Bush. Al Gore liderava em 1998 e, em 1992, o campeão de junho, Ross Perot, acabou em terceiro. Em 1988, Michael Dukakis batia Bush 1º por 52% a 38%.

As pesquisas de junho só foram confirmadas nas reeleições de Bill Clinton, em 1996, e de Ronald Reagan, em 1984.

Fé no taco contagia. A cadeira do ministro da Fazenda, Guido Mantega, já teve diversos tipos de ocupantes. Havia os que falavam pouco (Pedro Malan e Octavio Gouvea de Bulhões), dois mestres da arte de falar para dar a entender (Delfim Netto e Mario Henrique Simonsen) e os que falavam o que não deviam (Rubens Ricupero e Ciro Gomes). O ministro Guido Mantega esteve no primeiro grupo, habilitou-se ao segundo e está escorregando para o terceiro.

Outro dia ele exigiu que a banca reduza os juros em até 40%, deu um prazo de 30 dias e informou: "Eu vou cobrar. Em mais um mês, tudo isso tem que estar rodando".

Mantega sabe que não é assim que se faz e, se faz assim, está fazendo outra coisa.

Acredita que pode transformar o ministério num comissariado que dá ordens ao mercado. Ou, numa versão benigna, acredita que pode dar essa impressão.

Mantega fez um trabalho exemplar baixando a crista da banca na discussão das taxas de juros, mas nunca fez ameaças, com metas e prazos. A diferença está no detalhe mandão. Se o ministro da Fazenda acha que pode dominar o mercado financeiro ameaçando-o dessa forma, de duas uma: ou não consegue e se desmoraliza, ou consegue, e acaba acreditando que é o rei do pedaço. Mais adiante virá a conta.

Houve uma época em que a banca mandava na ekipekonômica; pensar que se pode construir um modelo onde ocorra o contrário também não dá certo.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

Supremo monta blindagem para evitar atrasos em julgamento do mensalão

Ministros preparam antídotos, como deixar defensores de sobreaviso para substituir advogados

Felipe Recondo

BRASÍLIA - O surgimento do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva no radar do julgamento do mensalão alertou para um movimento subterrâneo detectado pelo Supremo Tribunal Federal (STF): manobras projetadas para embaraçar o processo e jogar a sentença final para depois das eleições.

Diante disso, o presidente da Corte, Carlos Ayres Britto, prepara em conjunto com os colegas alguns antídotos para anular estratégias que podem ser usadas pelos advogados dos réus do mensalão para retardar o julgamento do processo. Com 38 réus a serem julgados e número ainda maior de advogados envolvidos com o caso, os ministros sabem que todos os subterfúgios legais e chicanas poderão ser usados nas sessões de julgamento.

Britto pediu à Defensoria Pública que preparasse de cinco a sete defensores para que fiquem de sobreaviso. Eles serão sacados para atuar no julgamento caso algum dos advogados peça adiamento da sessão por estar doente ou se algum dos réus convenientemente destituir seu advogado e pedir prazo para contratar um novo defensor.

Problemas como esses poderiam provocar o adiamento da sessão por semanas. Esses defensores públicos estudam o caso desde abril e estarão, de acordo com integrantes do tribunal, prontos para defender os réus de imediato, sem permitir atrasos no julgamento do processo, que deve se alongar por dois meses.

Os ministros antecipam também estratégias para garantir a execução das penas daqueles que forem condenados. Terminado o julgamento, o tribunal precisa publicar o acórdão - com a íntegra do relatório do caso, os votos de cada ministro e os debates travados na sessão, e a ementa do julgamento.

Nessa etapa do processo, o Supremo costuma perder meses. Cada um dos ministros revê seus votos, lê os apartes que fez aos colegas durante a sessão, retira partes que considerar impróprias - caso haja, por exemplo, alguma discussão mais áspera em plenário - e só então o documento é publicado.

Enquanto o acórdão não é publicado, não é aberto o prazo para que os advogados recorram da decisão ou peçam esclarecimentos sobre determinados pontos. Os ministros imaginam que terão de enfrentar uma sequência de recursos - especialmente embargos de declarações, usados para contestar eventuais omissões ou contradições.

Todos precisam ser julgados para que enfim o processo transite em julgado e os que foram condenados comecem a cumprir as penas. De acordo com assessores, Britto deve discutir com o relator do caso, ministro Joaquim Barbosa, uma forma de tornar mais ágil a publicação do acórdão. Uma possibilidade seria sugerir a Barbosa que deixe pronto um modelo de ementa com base no seu voto. Caso haja mudanças, o relator do processo iria, ao mesmo tempo, adaptando a ementa. Tudo para evitar que essa etapa posterior possa jogar o cumprimento das penas para o fim de 2013.

Rapidez. Paralelamente às estratégias contra chicanas, parte dos ministros pensa em procedimentos que acelerem a conclusão do julgamento. Antes mesmo de o processo estar liberado para ir a plenário, o presidente do STF e o relator do caso começaram a discutir com os colegas a formatação da sessão.

Joaquim Barbosa, por exemplo, propôs fazer leitura resumida do relatório de 122 páginas, o que foi aprovado pelos colegas.

Os ministros acertaram também que uma sessão extraordinária será feita semanalmente para acelerar os trabalhos. Mas os integrantes do Supremo precisam ainda discutir o calendário exato de sessões.

Barbosa havia proposto, também com o objetivo de acelerar o caso, que o Supremo Tribunal fizesse sessões diárias - de manhã e à tarde - na primeira semana, para que os advogados defendessem seus clientes. No total, os advogados terão 38 horas para as sustentações orais - uma hora para cada réu.

Para que os ministros não se cansassem ou pudessem julgar outros processos, Barbosa teria discutido com os colegas a possibilidade de um revezamento de ministros em plenário, mantendo o número mínimo para garantir o quórum da sessão.

A proposta é polêmica no tribunal e combatida pelos advogados. Integrantes do tribunal dizem que o STF passaria um sinal de que estão deixando a defesa dos réus em segundo plano. Os advogados dizem que seria necessário limitar a quantidade de defesas num dia.

Depois de cinco horas, afirmou o advogado Márcio Thomaz Bastos, os ministros já estarão cansados e não prestarão atenção às sustentações orais.

Todos esses detalhes serão discutidos em sessão administrativa a ser convocada pelo presidente do STF. Nas próximas semanas, o ministro Ricardo Lewandowski, revisor do processo, liberará seu voto. Com isso, a data do julgamento já poderá ser marcada. O mais provável é que o tribunal comece a julgar no início de agosto.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Crise pode tirar Cabral dos palanques eleitorais

Redução da agenda pública sinaliza que o governador optará por não pedir votos para aliados durante a campanha

Chico Otavio, Cássio Bruno

Dias atrás, um político da Baixada Fluminense ligou para o governador Sérgio Cabral (PMDB) e o convidou para a inauguração de uma unidade de ensino profissionalizante na região. Pelo alcance social do projeto, seria um discurso fácil, mas Cabral refutou.

- Por enquanto, quero ficar quietinho - agradeceu.

A 10 dias do início das convenções que definirão os candidatos a prefeito dos municípios fluminenses, o gesto do governador fortaleceu uma convicção que prospera entre aliados: Cabral, cuja agenda pública minguou com a crise envolvendo a empreiteira Delta, será um eleitor discreto em outubro e praticamente não subirá em palanques.

Em lugares como Duque de Caxias e Nova Iguaçu, onde haverá disputa entre partidos da base governista, a ausência de Cabral era esperada antes mesmo da crise. Porém, até nos municípios onde os aliados marcharão juntos, como na capital, o governador deverá manter distância. Antecipando-se, o prefeito Eduardo Paes, candidato à reeleição, começou discretamente a mudar o eixo da campanha, que abandonou a bandeira da parceria município-estado-União para destacar obras de sua administração.

A inauguração de uma UPP no Complexo do Alemão evidenciou o ânimo do governador à exposição pública. Confrontado com uma pergunta sobre a CPI do Cachoeira, reagiu rispidamente, acusando o repórter de faltar com o respeito. Os aliados, que apostavam na força de Cabral para alavancar candidaturas, hoje estão inseguros de levá-lo aos palanques.

Provável candidato à sucessão estadual em 2014, o vice-governador Pezão perderá, com o recolhimento de Cabral, a oportunidade de ganhar mais visibilidade. Seus potenciais adversários não ficarão parados. Enquanto o senador Lindberg Farias (PT) turbina uma agenda de cabo eleitoral de luxo nos quase 40 municípios onde os partido terá candidatos próprios, o ex-governador e deputado federal Anthony Garotinho (PR) promete lançar candidatos próprios em 70 municípios. Na capital, a filha, deputada estadual Clarissa Garotinho, será vice na chapa de Rodrigo Maia (DEM).

Cabral, procurado, não quis se manifestar.

FONTE: O GLOBO

Para escapar da CPI, Cabral recorre a Aécio

Peemedebista também procurou o ex-desafeto Eduardo Cunha

Chico Otavio e Cássio Bruno

No recolhimento forçado, Cabral causou pelo menos duas surpresas aos aliados. A primeira foi a iniciativa de reaproximar-se do deputado federal Eduardo Cunha (PMDB-RJ), com quem mantinha relação conflituosa. Durante a crise, os dois se encontraram. Foi a Polícia Civil de Cabral que, há três anos, colheu a voz de Cunha em gravações telefônicas durante a Operação Alquila, lançada para investigar um esquema de fraude fiscal envolvendo a Refinaria de Manguinhos. O grampo custou a Cunha a dor de cabeça de enfrentar um inquérito no Supremo Tribunal Federal (STF). Agora, o mesmo Cunha se movimenta para tentar blindar o governador nos desdobramentos da CPI do Cachoeira.

A segunda surpresa foi uma inesperada visita à deputada estadual Cidinha Campos (PDT-RJ), que recuperava-se em casa de uma cirurgia. Quem conhece a rotina do governador, sabe que nunca sobra tempo na agenda para receber parlamentares. Paulo Duque, que o substituiu no Senado Federal quando Cabral concorreu ao governo, em 2006, reclamava na época de só ter recebido um único telefonema do governador, embora tivesse sido leal e não mudado um único funcionário do gabinete.

Cabral também usou o deputado federal Leonardo Picciani (PMDB) para acompanhar de perto todos os movimentos da CPI. O parlamentar é filho de Jorge Picciani, ex-presidente da Assembleia Legislativa do Rio, de quem Cabral até então mantinha divergências quanto ao rumo do PMDB nas eleições do Rio. O governador também recorreu ao senador Aécio Neves (PSDB). O tucano convenceu três dos cinco integrantes do partido a votar contra a convocação de Cabral para depor na comissão. O peemedebista foi dispensado da CPI por 17 votos a favor e 11 contra.

- O Aécio foi fundamental neste processo - disse um aliado de Cabral.

Na capital, os adversários do prefeito Eduardo Paes estão divididos sobre usarem ou não na campanha eleitoral fotos e vídeos divulgados em abril por Garotinho onde aparecem Cabral e secretários estaduais - alguns deles flagrados dançando com guardanapos na cabeça - em passeios e jantares em restaurantes de luxo em Paris, em 2009.

- Não adianta agora o Paes dizer que não tem nada a ver com Cabral. Eles têm o mesmo projeto de poder. As imagens (de Paris) serão mostradas no meu programa, mas sem baixarias - disse o deputado estadual Marcelo Freixo, pré-candidato a prefeito pelo PSOL.

Já Rodrigo Maia, do DEM, afirma não querer a "política do confronto", apesar de ter Garotinho como aliado:

- Este material de Paris já foi fartamente divulgado. Não será necessário usar.

FONTE: O GLOBO

Com Rio+20, Paes começa campanha para reeleição

Prefeito do Rio reservou ações de impacto para vésperas do evento

Peemedebista fecha hoje o aterro de lixo de Gramacho e, na quarta, inaugura corredor exclusivo de ônibus

Italo Nogueira

RIO - O prefeito do Rio, Eduardo Paes (PMDB), tem dito não querer protagonismo durante a conferência ambiental Rio+20, mas reservou medidas de impacto para a semana que antecede o início da programação do evento

Pré-candidato à reeleição, ele inaugura na quarta o primeiro dos quatro corredores exclusivos de ônibus (BRTs) planejados em sua gestão.

Também fecha hoje o aterro sanitário de Gramacho -chamado por ele de "o maior crime ambiental do Rio"-, em Duque de Caxias, promessa de campanha. Todos projetos antigos da cidade.

Muito além da agenda verde que pretende mostrar, Paes busca como marca para seu primeiro mandato a retirada de projetos há décadas nas gavetas municipais, principalmente nos transportes.

Mas suas principais obras não estarão concluídas. As outras três obras viárias e o projeto de revitalização do porto acabam em 2015.

"Essas inaugurações são medidas de impacto. São questões que estavam para ser resolvidas há muito tempo. Ele vai capitalizar isso no seu discurso de campanha", disse o cientista político Geraldo Tadeu, presidente do IBPS (Instituto Brasileiro de Pesquisa Social).

Pesquisas de aliados mostram que Paes ainda tem imagem muito vinculada ao governador do Rio, Sérgio Cabral (PMDB), principal fiador de sua candidatura em 2008.

Com a crise do correligionário, provocada pela divulgação de fotos ao lado do empresário Fernando Cavendish, da Delta, em Paris, Paes vai evitar apostar fichas na aliança. Ele não deve explorar o discurso de união.

Desde o início da crise do governador, Paes só esteve ao lado dele em visitas da presidente Dilma Rousseff e do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Cabral será convidado para a inauguração da Transoeste -via que ligará Santa Cruz à Barra da Tijuca.

O prefeito investiu para criar uma marca própria. Enquanto o slogan "Somando Forças" do governo Cabral fazia referência direta à aliança dos governos federal, estadual e municipal, a prefeitura adotou como lema o termo "Cidade Presente".

A estratégia do Estado e do município são elaboradas pelo mesmo marqueteiro: Renato Pereira, da agência Prole.

O gasto de publicidade da prefeitura, que não chegava a R$ 500 mil anuais na gestão do antecessor César Maia (DEM), alcançou R$ 74 milhões no ano passado. Paes diz apenas que acha "importante se comunicar".

O prefeito é o favorito na disputa e conta com o apoio, entre outros, do PT.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

Lula lança Haddad: o novo contra o ‘desgastado’:: Josias de Souza

O PT de São Paulo aperta os cintos. Lula está chegando à campanha. Dois dias depois de roer a lei eleitoral no Programa do Ratinho, o ex-soberano participou do ato de lançamento formal da candidatura de Fernando Haddad a prefeito da capital paulista. Faixas e cartazes exibiam o mote que o marqueteiro João Santana escolheu para a campanha: “O homem novo para um novo tempo.” Mestre das mumunhas palanqueiras, Lula cuidou de fornecer o discurso que justificará o rótulo.

Sem mencionar o nome de José Serra, Lula referiu-se a ele como um “adversário desgastado”. Transitou entre a ironia –“Eu não sei por que ele quis ser candidato”— e a crítica –“Foi eleito e não ficou na prefeitura. Usou a cidade como trampolim. Foi candidato a governador, elegeu-se mas achou que era pouco e tentou sair para presidente. Mas tomou uma tunda da companheira Dilma.”

Em poucas palavras, Lula estruturou a campanha Haddad. O “novo” contra o “desgastado”. O risco do “trampolim” contra a segurança de um prefeito para todo o mandato. O novato dos 3% contra o veterano dos 30%. Um veterano que Dilma ‘Ex-desacreditada’ Rousseff já provou que não é imbatível. “Quando você for conhecido, vai chegar aos 35% que temos historicamente em São Paulo”, disse Lula, voltando-se para Haddad.

Muito pouco para quem precisa de mais de 50% para prevalecer. “Aí, o seu desafio será falar com quem não vota no PT”, ensinou o patrono ao pupilo. Falando com a voz do marketing, Haddad grudou sua retórica à de Lula. Contrapondo-se à imagem de Serra, esboçada pelo “grande líder”, o candidato disse coisas assim: “Não sou alpinista político”. Ou assim: “Não sou profissional de eleições.” Ou ainda: “São Paulo cansou de prefeitos de meio expediente.”

Como se vê, o norte da propaganda eleitoral está dado. Resta agora saber como o eleitor, depois de ser bombardeado pelo lero-lero, responderá às seguintes indagações: vale a pena confiar no novo que, para ser levado a sério, depende do prestígio do velho? O que vale mais, a onipotência da imaturidade ou ponderação da experiência? Se o eleitor pender para o novo e a imaturidade, Serra estará em apuros. Do contrário, Haddad logo, logo terá sua jovialidade atenuada pelo fragor de uma boa derrota, dessas que fazem nascer cabelos brancos.

FONTE: BLOG DO JOSIAS

Serra não vai cair na armadilha de lula, diz coordenador de campanha

Edson Aparecido afirmou que estratégias do PT são as mesmas de 2004, que levaram Marta a perder a eleição

Ricardo Chapola

SÃO PAULO - Tanto a assessoria quanto o chefe da coordenação de campanha do tucano José Serra, Edson Aparecido, informaram neste sábado, 2, que o ex-governador não reagirá às ofensivas feitas por Lula. O ex-presidente voltou a dirigir críticas ao PSDB pela segunda vez na semana, agora mais agressivas e diretas a Serra. Durante a homologação da candidatura do petista Fernando Haddad, Lula referiu-se ao tucano como candidato desgastado, embora sem citá-lo.

"O Lula quer chamar Serra para o debate. Ele não é candidato. Nós não vamos cair nesta armadilha", declarou Aparecido.

Para os tucanos, as estratégias petistas não são novas, tampouco eficientes. Em 2004, Aparecido mencionou as mesmas táticas adotadas por Lula na campanha da senadora Marta Suplicy à Prefeitura. "O Lula, em 2004, foi no palanque com a Marta e falou as mesmas coisas. O que aconteceu? Perderam a eleição", enfatizou.

As críticas feitas por Lula na última quinta-feira durante sua participação no programa do Ratinho, no SBT, também não serão comentadas pelo pré-candidato tucano. Lula afirmou que não vai deixar que um tucano volte a governar SP. Segundo adiantou Aparecido, a questão é da alçada nacional. "Quem vai fazer isso já está fazendo, é o presidente nacional do partido. O PSDB vai responder à altura essas questões".

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Marta falta a festa de Haddad e irrita PT

Impedida de disputar a Prefeitura de SP, senadora constrange dirigentes petistas; pré-candidato se diz "chateado"

"Pergunta para ela", diz dirigente do PT sobre motivo da ausência; ex-prefeita desligou telefones durante o ato

Bernardo Mello Franco, Mariana Carneiro

SÃO PAULO - Preterida na escolha do candidato do PT à Prefeitura de São Paulo, a senadora Marta Suplicy faltou ontem à festa de lançamento da campanha de Fernando Haddad e causou forte constrangimento à cúpula do partido.

A atitude da ex-prefeita, que não deu explicação para sua ausência, irritou o ex-presidente Lula e o pré-candidato, que preparou discurso com elogios à gestão dela no município (2001-2004).

"Fiquei chateado, né? Todos nós gostaríamos que ela estivesse aqui", disse Haddad. Questionado se Marta deu alguma justificativa, ele foi lacônico: "Não".

O presidente municipal do PT, vereador Antonio Donato, afirmou não ter sido avisado dos motivos da senadora: "Pergunta para ela".

Marta confirmou presença, mas faltou sem avisar a ninguém e deixou o celular desligado, assim como seus assessores. A ausência inesperada levou petistas a cometer gafes em sequência.

Num dos primeiros discursos, o senador Eduardo Suplicy, ex-marido da senadora, anunciou que ela chegaria "a qualquer momento".

O deputado Paulo Teixeira chegou a escrever no Twitter que ela estava no ato, mas logo se corrigiu: "Ops, errei! A Marta não está aqui! Rs".

Apesar do desconforto, os petistas se esforçaram para não melindrar a ex-prefeita. Ela foi elogiada em quatro discursos, inclusive nos de Lula e do pré-candidato.

Impaciente com o que ainda parecia um atraso de Marta, Suplicy enviou um torpedo: "Você está sendo fortemente aguardada. Abs, Eduardo". Ela não respondeu.

Na saída, o senador ligou para a ex-prefeita diante de jornalistas, mas teve que deixar recado na caixa postal. "Olá, Marta. É Eduardo. Quando puder, me ligue. Agora já acabou a convenção."

Derrotada nas últimas duas eleições municipais, a senadora queria disputar prévias contra Haddad. O PT a forçou a desistir e entregou a chapa ao preferido de Lula sem consulta aos filiados.

Depois disso, Marta se recusou a participar dos atos da campanha e fez críticas públicas à escolha do ex-rival.

Em homenagem a Lula no último dia 21, ela disse que "não basta o novo" para vencer a eleição paulistana.

A ex-prefeita é considerada a principal puxadora de votos do PT na periferia, onde Haddad é pouco conhecido. Por isso, a sigla acredita que o apoio explícito dela é fundamental na eleição.

Produção

O PT usou toques de superprodução no evento, que reuniu cerca de 2.000 pessoas num centro de exposições na zona norte da cidade.

Na entrada de Haddad, telões simulavam uma queima de fogos, acompanhada por sonoplastia. O publicitário João Santana, que fez campanhas de Lula e da presidente Dilma Rousseff, dirigia câmeras para a propaganda de TV.

Ele apresentou o jingle da campanha, em ritmo de rap, e o slogan "O homem novo para um tempo novo". Cartazes misturavam fotos de jovens a símbolos de redes sociais para reforçar a ideia de modernidade.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

Fora do império da lei

Mecanismos centrais da democracia estão sendo ignorados por atores que desejam manter seu poder além de qualquer limite constitucional, afetando até a legitimidade democrática

Juliana Sayuri

Extrapolou. Na análise do cientista político José Álvaro Moisés, a corrupção extrapolou os "níveis normais" no Brasil, o que fragiliza sensivelmente a democracia. "Os acontecimentos recentes mostram distorções e focos de corrupção que põem a "qualidade" da democracia em xeque", critica o diretor do Núcleo de Pesquisa de Políticas Públicas da Universidade de São Paulo (USP) e autor de Democracia e Confiança - Por Que os Cidadãos Desconfiam das Instituições Públicas? (Edusp, 2010). A seguir, os pontos nevrálgicos abordados pelo intelectual.

"As tensões entre Judiciário, Legislativo e Executivo, inclusive as crises interna corporis desses poderes, apontam para déficits importantes no funcionamento das instituições democráticas. Isso explica, em parte, os índices elevados de desconfiança dos cidadãos. Mecanismos centrais da democracia estão sendo bypassed (ignorados, contornados) por atores que querem manter seu poder fora de qualquer limite constitucional. Esse abuso de poder afeta a legitimidade democrática. Lamentável, nesse sentido, são os episódios envolvendo um ex-presidente em suposta tentativa de influenciar o STF no julgamento do mensalão ou a suposta inação do procurador-geral da República diante de denúncia da Polícia Federal envolvendo o senador Demóstenes Torres. O desgaste das instituições é evidente e mostra que estamos longe de ter estabelecido o império da lei.

Papel da oposição

"A dinâmica entre situação e oposição está funcionando mal. A ideia de que o interesse público move essa contraposição desapareceu - e a quase totalidade de partidos e suas lideranças está mais preocupada em se salvar do mar de lama das denúncias do que em oferecer alternativas para a sociedade. Quase podemos dizer que a oposição desapareceu no Brasil, descontada a ação parlamentar cujo limite é o tamanho de suas bancadas no Congresso Nacional. Os partidos de oposição estão de costas para a sociedade civil e raramente dialogam com as pessoas comuns. O cenário é paradoxal.

Os partidos e a governabilidade

"Parte dos analistas políticos pensa que os partidos são uma garantia de governabilidade, pois votam quase tudo o que os governos querem. Mas na democracia a governabilidade não diz respeito apenas ao que quer o Executivo. O Parlamento, como representação da diversidade social e política da sociedade, tem papel decisivo. Em anos recentes, porém, os partidos se orientaram apenas para a conquista ou manutenção do poder, atraídos pelos incentivos institucionais do presidencialismo de coalizão. Quase todos os partidos migraram para o centro, tornando indistinguível a diferença entre eles, o que deixa os eleitores sem referência para orientar o voto e minimizar os custos informacionais da participação democrática. As pessoas pouco sabem sobre o que está em jogo nas disputas políticas.

Impacto da corrupção

"Os indícios de corrupção mostram que o fenômeno extrapolou o que se supunha serem seus "níveis normais". Tudo indica que a corrupção está em todos os partidos, atinge todas as esferas da administração e, como mostraram as escutas telefônicas, os contraventores já penetraram nas estruturas do sistema político de modo a garantir acesso a recursos públicos. É raro encontrar entre as lideranças políticas quem expresse preocupação com a deslegitimação política. Por isso, a faxina iniciada pela presidente Dilma Rousseff melhorou seus índices de popularidade, mas o País ainda não sabe se a demissão de tantos ministros vai melhorar o controle da corrupção.

Democracia em risco

"Nada sugere que a democracia esteja em risco no Brasil. O que está em questão é sua qualidade. Os déficits das instituições democráticas, como as distorções que afetam a competição eleitoral sob efeito do "caixa dois" e da influência de empresas no financiamento de campanhas, produzem questionamentos sobre os resultados da democracia. A estabilidade econômica e o controle da inflação permitiram a geração de empregos e o aumento do poder aquisitivo de algumas camadas sociais, mas isso não se confunde com desconcentração de renda e riqueza. Os desafios sobre as diferentes dimensões das desigualdades permanecem. E não sabemos em que direção o País caminha diante da crise internacional. Assim, ganha importância saber que meios a democracia oferece - partidos, Parlamentos, Judiciário? - para que a sociedade possa influenciar a agenda de enfrentamento dessas questões. Afinal, uma das principais promessas da democracia diz respeito à participação dos cidadãos nas decisões que afetam suas vidas."

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO /ALIÁS

É um circo ou não é?:: Ferreira Gullar

Parece que a corrupção tomou conta do Estado brasileiro, que não há mais em quem confiar

Ultimamente, faço um esforço enorme para não perder a esperança em nosso país, em nossa capacidade de nos comportarmos com um mínimo de respeito pelo interesse público, pelos valores éticos, enfim, por construirmos uma nação digna deste nome.

É que, a cada dia, como você, fico sabendo de coisas que me desanimam. Parece que a corrupção tomou conta do Estado brasileiro, que não há mais em quem confiar. O que desanima não são apenas as falcatruas praticadas por parlamentares, ministros, governadores, prefeitos, juízes... O pior é que esses dados refletem uma espécie de norma generalizada que dita o comportamento das pessoas e o próprio funcionamento da máquina pública.

Um pequeno exemplo: o precatório. Se ganhas na Justiça uma ação que obriga o governo a te indenizar, ele está obrigado a te pagar, não? Só que ele não paga, não cumpre a decisão judicial, e fica por isso mesmo. A Justiça sabe que sua decisão não foi obedecida e nada faz.

Pior, às vezes esse dinheiro é apropriado por altos funcionários da própria Justiça. Enquanto isso, as pessoas que deveriam ser indenizadas esperam 20, 30 anos, sem nada receber. É como um assalto em via pública. Este é um fato corriqueiro num país dominado por uma casta corrupta.

E eu, burro velho, embora sabendo disso tudo, não paro de me surpreender. Acontece de tudo, até CPI criada pelo governo. Nunca se viu isto, já que CPI é um recurso da oposição; quer dizer, era, porque a de Cachoeira foi invenção do Lula e seu partido, e conta com o apoio da presidente Dilma. Isso porque, no primeiro momento, os implicados pareciam ser apenas adversários deles, a turma do mensalão.

Eis, porém, que novas revelações envolveram gente do PT e aliados do governo, sem falar numa empresa corrupta que é responsável por grande parte das obras do PAC, o Plano de Aceleração do Crescimento do governo federal.

Mas o que fazer, agora, se a CPI já estava criada? Voltar atrás seria impossível, e nem era preciso, uma vez que, dos 30 membros da CPI, apenas sete são da oposição, quer dizer, não decidirão nada.

Mas essas revelações punham em risco um dos principais objetivos de Lula, que era usar a CPI para desqualificar o processo do mensalão, prestes a ser julgado pelo STF. Essa intenção foi favorecida por um fato que envolve o procurador-geral da República, Roberto Gurgel, a quem caberá fazer a denúncia da quadrilha chefiada por José Dirceu.

O PT tentou desqualificá-lo, apresentando-o como ligado a Demóstenes Torres e, portanto, a Cachoeira. A jogada não deu certo e, além do mais, está aí a maldita imprensa, que insiste em criar problemas, por levar à opinião pública informações inconvenientes.

De qualquer modo, a CPI teria que ouvir Carlinhos Cachoeira, e só Deus sabe o que ele poderia revelar. Deus e nós também: nada, como se viu.

É que ele se valeu do direito, que a Constituição lhe concede, de permanecer calado para não produzir provas contra si mesmo. Quem quer que tenha inventado isso -sempre em defesa dos inocentes, claro- com frequência favorece aos culpados, uma vez que o inocente, por nada temer, faz questão de contar toda a verdade. Calar, portanto, é confissão de culpa.

De qualquer modo, Carlos Cachoeira, a conselho de seu advogado, não respondeu a nenhuma das perguntas que lhe foram feitas, deixando os parlamentares, que inutilmente o interrogavam, em situação constrangedora. Aquela sessão da CPI, em Brasília, só pode ser comparada a um espetáculo circense.

E quem é o advogado de Cachoeira? Nada menos que o ex-ministro da Justiça de Lula, Márcio Thomaz Bastos, que, sentado a seu lado, como um segurança jurídico, ouvia os deputados e senadores se referirem a seu constituinte como "bandido, chefe de uma quadrilha de ladrões". Estava ali por vontade própria ou por imposição do cliente? Não se sabe, mantinha-se indiferente, como se nada ouvisse.

Foi por saber Cachoeira culpado de todas aquelas falcatruas que o aconselhou a nada responder. Resta à CPI recorrer às provas documentais. Por isso mesmo, Thomaz Bastos já pediu a anulação delas. Cachoeira pode não ter razão, mas dinheiro não lhe falta. E o espetáculo continua...

FONTE:: ILUSTRADA / FOLHA DE S. PAULO

Despresunção de inocência:: Renato Lessa

Há poucas semanas, o País, se concedido direito à metonímia, abrigou um experimento que, sem exagero, é portador de motivos para orgulho. Refiro-me à instalação em palácio da Comissão da Verdade. Ainda que seus resultados práticos sejam incertos, e pertençam antes aos domínios das mais diferentes e opostas expectativas, o evento que marcou seu lançamento abrigou ares de condensação republicana. Isso não apenas pelo cuidado de ali incluir chefes de governo que, em graus diferentes, ocuparam seus postos por força de procedimentos legítimos, mas por sugerir que o tema da verdade – de alguma verdade, ao menos – pode ter lugar na vida pública. A própria presidente, de modo eloquente e incomum na história da República, demonstrou o que podem significar a ideia e a figura de chefe de Estado.

Apesar de incertos os efeitos futuros, houve desde já um efeito imediato, qual seja o de inserir o tema da verdade em casulo distinto do de seu lugar natural. A elucidação do que ocorreu com mortos, desaparecidos e torturados, além de conferir materialidade retrospectiva à experiência do estado de exceção, amplia o conjunto de informações disponíveis a respeito da história recente do País. Mesmo que inúmeras interpretações e atribuições de sentido possam ser construídas, acena-se com a possibilidade de uma "narrativa básica", tal como o fizeram os primeiros historiadores do Holocausto; o grande Raul Hilberg, antes de todos.

Assim, e por um átimo, o tema da verdade insinuou-se de modo invulgar em nossas reflexões a respeito do País. Bastou, contudo, uma conversa mal-ajambrada e mal explicada no escritório do ex-ministro Nelson Jobim, para que o tema fosse devolvido a seu estado habitual, o da indeterminação e do disfarce. Para dizê-lo de outro modo: os dias que sucederam à instalação da Comissão da Verdade foram, como quê, dias de certa suspensão da experiência ordinária da política; o mencionado encontro a três, e as versões desencontradas e incompatíveis entre si dali emanadas, constituiu-se, por oposição, como experiência de des-suspensão ou, se quisermos, de desabamento e de gravitação natural.

Céticos, penso, antes de descartar o tema da verdade, com a falta de hesitação típica de dogmáticos pós-modernos, têm por essa dama – a verdade – sincero respeito, além de considerável pudor. Isso a ponto de recusar inscrever o termo "verdadeiro" em qualquer predicado, atribuído a qualquer aparência. Céticos, sobretudo, não são necessariamente parvos: não saber onde está a verdade não impede a presença de uma sensibilidade para com o implausível. Juízos de plausibilidade são suficientes para que nos movamos no mundo e configuremos nossas orientações e escolhas. Há, por certo, no episódio um abismo insondável: qual dos três protagonistas "diz a verdade"? Questão grave, diante da qual muitos não hesitarão em apresentar respostas definitivas, todas movidas por inclinações afetivas e biliares. Como, então, lidar com o abismo da indeterminação da verdade, nesse caso?

Sugiro, no que segue, uma série de procedimentos aproximativos. Antes de tudo, parece ser sábio adotar algo que poderia ser designado como uma despresunção de inocência dos envolvidos. Se, do ponto de vista penal, o procedimento é inaceitável, do ponto de vista cognitivo a coisa pode ser útil: se há suporte para supor que o ex-presidente Lula quis "melar" o julgamento do mensalão, pela abordagem ao ministro Gilmar Mendes, há idêntica plausibilidade em supor que este quis "melar" a defesa, ao pôr a boca no trombone, e evitar o tratamento apropriado e institucional da suposta ofensa.

Portanto, a abordagem do ocorrido poderia iniciar pela consideração de aspectos internos e inerentes. Há no âmago do evento uma série de implausibilidades: a casualidade do encontro, a amnésia do ex-ministro Jobim, a indeterminação da fonte para a matéria-denúncia, a participação do ministro Gilmar apenas como confirmador do trabalho dos repórteres, etc.

Uma abordagem externalista poderia partir de uma premissa simples: uma conversa dessa natureza não poderia ocorrer. Isso tanto por razões de ordem, digamos, republicanas, mas sobretudo pelo déficit de confiança, ao que parece, envolvido na interação. As hipóteses são todas abjetas: se a narrativa do ministro Gilmar Mendes corresponde à verdade, algo de grande gravidade terá ocorrido; se for inverídica, algo de gravidade grande se passou.

De um ponto de vista consequencialista, ao que parece o episódio foi vencido por quem pretende garantir forte carga dramática ao julgamento prestes a ser feito, e em neutralizar juízes neófitos, supostamente gratos por suas investiduras. Não é recomendável ver na reação do ministro Gilmar nada mais do que manifestação de ultraje pessoal e institucional.

O pano de fundo disso tudo parece ser uma experiência de república na qual o direito penal vale como recurso de inteligibilidade. Diante da indeterminação da verdade, e do esforço militante de fazê-la cada vez mais inapreensível e irrelevante, o desejo infrene de prender os inimigos vale como único recurso de fixação de sentido. Ao que parece, após uma breve incursão do espírito, estômago e fígado repõem suas pretensões a sedes fisiológicas da consciência política nacional.

FONTE: ALIÁS / O ESTADO DE S. PAULO

A missão de Lula:: Merval Pereira

A proximidade do julgamento do mensalão parece estar desestabilizando emocionalmente o ex-presidente Lula, que se tem esmerado nos últimos dias em explicitar uma truculência política que antes era dissimulada em público, ou maquiada.

Nessa fase em que trabalha em dois projetos que se cruzam e parecem vitais para seu futuro, tamanha a intensidade com que se dedica a eles, Lula não tem tido cuidados com as aparências, e arrisca-se além do que sua experiência recomendaria.

A pressão sobre ministros do STF, a convocação da CPI do Cachoeira, com direito a cartilha de procedimentos com os alvos preferenciais identificados (STF, imprensa, oposição) e as atitudes messiânicas, sempre colocando-se como o centro do universo político, revelam a alma autoritária deste ex-presidente ansioso pela ribalta política.

A eleição de Fernando Haddad para a Prefeitura de São Paulo e a obsessão em desmoralizar o julgamento do mensalão (já que não conseguiu adiá-lo para que seus resultados não interferissem na eleição municipal e, além disso, a prescrição das penas resolvesse grande parte dos problemas judiciais do PT) pareciam as duas grandes tarefas do ex-presidente Lula neste momento.

Mas ele, de voz própria, revelou seu verdadeiro objetivo político no programa do Ratinho: não permitir que um tucano volte a governar o país.

Nunca antes nesse país viu-se um político assumir tão abertamente uma postura despótica, quase ditatorial, quanto a de Lula nessa cruzada nacional contra os tucanos, que tem na disputa pela capital paulista seu ponto decisivo.

O PT, aliás, tem seguido a mesma batida de Lula, e se revela a cada instante um partido que não tem como objetivo programas de governo ou projetos nacionais para o país. A luta política pelo poder escancara posturas ditatoriais em todos os níveis, e para mantê-lo vale tudo. Desde rasgar a legislação eleitoral e fazer propaganda ilegal em emissora de televisão na tentativa de desatolar uma candidatura que até agora não demonstra capacidade de competição, até intervenções em diretórios que não obedecem à orientação nacional, como aconteceu agora mesmo em Recife. Vale também mobilizar um esquema policial de uma prefeitura petista, como a de Mauá em São Paulo, para apreender uma revista que apresenta reportagens contrárias aos interesses do PT.

A truculência com que foi impedida a distribuição gratuita da revista "Free São Paulo", que trazia uma reportagem de capa sobre o assassinato do prefeito petista de Santo André Celso Daniel, é exemplar do que o PT e seus seguidores consideram "liberdade de imprensa".

Os petistas acusam a revista de ser financiada pelo PSDB, o que ainda é preciso provar, mas, mesmo que seja, seria no mínimo incoerente criticarem tal estratégia, já que são estatais de diversos calibres e governos petistas que financiam uma verdadeira rede de blogs chapas-brancas e revistas para defenderem as ações governistas e demonizar seus adversários, em qualquer nível.

Da mesma forma, parece ironia que líderes petistas se mostrem indignados com financiamentos eleitorais de caixa 2 de políticos tucanos, como se esse crime fosse uma afronta ao Estado de Direito e não, como disse o ex-presidente Lula tentando minimizar o caso do mensalão, coisa corriqueira no sistema eleitoral brasileiro.

O recurso ao caixa 2 e a verbas não contabilizadas é evidentemente uma distorção do nosso sistema eleitoral que tem que ser combatida com rigor, mas o PT há muito perdeu a possibilidade de indignar-se diante deste e de outros malfeitos políticos.

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Acaba de ser publicado em edição eletrônica (e-book) e deve sair na segunda semana de junho em edição impressa o relatório do Clube de Roma com o título de "2052, previsões globais para os próximos 40 anos", coordenado pelo professor Jorgen Randers da BI Norwegian Business School, especialista em questões climáticas e planejamento de cenários que servirá de base para a programação do Clube de Roma durante a reunião Rio + 20.

Randers já esteve no Brasil no início de maio, depois de lançar o relatório, para depoimento no Congresso em preparação para a Rio + 20.

Trata-se de um estudo feito por 30 pensadores nos mais variados campos e tem o objetivo de atualizar o famoso estudo do Clube de Roma de quarenta anos atrás intitulado "Os limites do crescimento", que já questionava o modelo de crescimento permanente.

Desta vez, o diagnóstico é conclusivo: a Humanidade vem se excedendo no uso dos recursos da Terra. A maneira atual de vida não pode ser mantida por gerações, e está a exigir modificações significativas para evitar colapsos locais antes de 2052.

O estudo admite que o processo de adaptação da Humanidade às limitações do planeta já começou, mas a resposta talvez seja lenta demais. A China é considerada um exemplo de país que sabe agir na direção certa, e por isso chegará a 2052 bem preparado.

O estudo alerta que continuamos a emitir todos os anos duas vezes mais gases do efeito estufa do que os oceanos e florestas podem absorver. Em consequência, as concentrações de CO2 na atmosfera continuarão aumentando, fazendo com que a temperatura aumente em dois graus em 2052.

Se esse processo não for controlado, em 2080 as temperaturas terão aumentado em 2,8 graus centígrados - nível suficiente para iniciar um aquecimento global autossustentado.

Segundo o relatório, a principal causa da incapacidade de resolver hoje problemas futuros é o modelo imediatista, com foco político e econômico no curto prazo.

Randers defende um sistema de governança de mais longo prazo. No entanto, é pessimista quanto aos resultados, pois não acredita que os governos adotem uma regulamentação que obrigue os mercados a investir em soluções climaticamente corretas, e, segundo ele, não devemos acreditar que os mercados trabalharão em benefício da Humanidade.

As previsões do documento do Clube de Roma sobre a economia global também não são nada animadoras. As atuais economias dominantes, especialmente os Estados Unidos, entrarão em estagnação, e países como os que formam os BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) terão progressos, mas o PIB mundial crescerá muito mais lentamente, devido à redução do crescimento da produtividade em economias mais maduras.

Em 2052, ainda haverá 3 bilhões de pobres no mundo.

FONTE: O GLOBO