domingo, 15 de julho de 2012

OPINIÃO DO DIA – Aécio Neves: avaliação de Dilma

O governo parou. Digo uma coisa que nem deveria dizer, mas o governo do Lula era melhor do que o governo da Dilma do ponto de vista dos resultados. As pessoas faziam algumas coisas. Agora, no setor de infraestrutura, que já não andava bem, não acontece absolutamente nada. Na área da saúde, o governo investe 10% a menos do que investia há dez anos. Na hora que começarem a comparar os indicadores, num ambiente econômico que já não será de euforia, mas de extrema preocupação, as pessoas vão perceber que caminhamos para um fim de ciclo.

Aécio Neves, senador (PSDB-MG) . Entrevista Blog do Josias, 14/7/2012

Manchetes de alguns dos principais jornais do Brasil

O GLOBO
Brasil Grande - Empreiteiras terão incentivo para ampliar indústria bélica
Mensalão: réus escapam de improbidade
Grampo revela como Cachoeira comprou casa
O Estado imobilizado

FOLHA DE S. PAULO
PF aponta indício de suborno na obra da Norte-Sul
Reeleição de Dilma não é conceito pleno, afirma Temer
Para manter apoio, presidente assume articulação política

O ESTADO DE S. PAULO
Produção industrial recua 5 anos e deve cair ainda mais
Defesa de Duda Mendonça no mensalão acusa Valério
Anos de chumbo: Busca do lugar errado
Exportações estão em baixa, apesar do câmbio

CORREIO BRAZILIENSE
Trabalho: Faltam doutores
Ditadura vigiava correspondentes estrangeiros

ESTADO DE MINAS
Grandes só nos problemas
Suplentes de deputados de olho na vaga de titulares.
Retenção nos portos encarece mercadorias

ZERO HORA (RS)
Tristes Retratos
Análise Viral
Made in China

JORNAL DO COMMERCIO (PE)
Igarassu de carona na Fiat
Mendonça Filho rejeita rótulo de conservador

Mensalão: réus escapam de improbidade

Os réus do mensalão, que serão julgados criminalmente no STF em agosto, estão conseguindo se livrar, em outras instâncias da Justiça, de processos por improbidade, conta Vinícius Sassine. Em alguns casos, existem erros grosseiros, enquanto outras ações se arrastam.

Réus no mensalão se livram de ações de improbidade

Lentidão da Justiça e erros grosseiros atrasam andamento de outros processos contra acusados

Vinicius Sassine

BRASÍLIA - Prestes a ir a julgamento no Supremo Tribunal Federal (STF), os réus do mensalão conseguiram se livrar, até agora, de condenações em outras frentes de investigação abertas pelo Ministério Público Federal (MPF). Processos que tramitam na primeira instância da Justiça Federal com base na Lei de Improbidade Administrativa estão emperrados e não há, a médio prazo, perspectiva de julgamento. As ações geraram pilhas de papéis espalhados por diferentes varas e recheados de erros de instrução jurídica, o que vem favorecendo a defesa dos acusados. No caso do STF, os ministros começam a julgar o caso em 2 de agosto, com perspectiva de veredicto no mês seguinte.

Os quatro integrantes do chamado núcleo central do esquema - José Dirceu, ex-ministro da Casa Civil no governo Lula; José Genoino, ex-presidente do PT; Delúbio Soares, ex-tesoureiro; e Sílvio Pereira, ex-secretário-geral do partido - e o operador do mensalão, Marcos Valério de Souza, são acusados de improbidade administrativa em cinco processos na Justiça Federal de Brasília. Nesses processos de origem cível, as sanções por atos de improbidade podem ser a suspensão dos direitos políticos por até dez anos e o ressarcimento dos danos causados ao patrimônio público. No caso do STF, a ação penal prevê pena de prisão.

Por diferentes razões, que vão além da estratégia dos advogados ou das provas colhidas nos autos, os réus estão longe de uma condenação. Uma das ações está parada porque o MPF incluiu erroneamente um homônimo de um dos acusados de improbidade. Em vez de Lúcio Bolonha Funaro, a pessoa incluída, citada e depois excluída do processo foi Lúcio Funaro. A Justiça ainda não localizou o verdadeiro acusado. A busca é feita desde 2009.

Tramitação de processos é lenta

Outro processo, em tramitação na 6 Vara Federal de Brasília, ficou sem qualquer movimentação de 18 de maio de 2011 a 25 de maio deste ano. Antes, em setembro de 2010, a Corregedoria do Tribunal Regional Federal (TRF) da 1 Região já havia determinado o "cumprimento dos prazos processuais". "A ação foi proposta em 2007 e, a despeito de sua notória relevância para o interesse público, ainda não se chegou sequer à fase de recebimento de denúncia", manifestou-se nos autos o procurador da República Paulo Roberto Galvão de Carvalho. "A ação no STF já está em fase de julgamento, não havendo justificativa para a delonga deste processo", sustentou o procurador.

Dirceu, Genoino, Delúbio, Sílvio e Marcos Valério foram excluídos de um dos processos porque o juiz federal responsável, Alaôr Piacini, entendeu que eles já são réus em ações semelhantes. O Superior Tribunal de Justiça (STJ) confirmou essa decisão, em maio deste ano, e apontou "erro grosseiro" no recurso proposto pelo MPF. Como a decisão não foi de mérito, o processo deve continuar a tramitar. Por enquanto, está parado na Coordenação de Recursos do TRF.

Outros dois processos sob a responsabilidade de Piacini estão suspensos desde 2009. O magistrado entendeu que os autos devem ser conectados, por se tratar de uma mesma acusação e ter réus em comum, os que formam o núcleo central do esquema.

- Vou dar celeridade nos processos quando os autos retornarem. Mas, se houver absolvição no STF, na ação penal, não há razão para punir na cível, embora as esferas sejam independentes - diz Piacini.

A estratégia do MPF foi propor cinco ações de improbidade com a repetição das acusações para os integrantes do núcleo central e a individualização da denúncia por partido. Supostos beneficiários do repasse de dinheiro para a compra de voto no Congresso e do apoio ao governo respondem a ações distintas, conforme a sigla: PT, PP, PR (antigo PL), PTB e PMDB.

Coordenador da área cível da Procuradoria da República do Distrito Federal, o procurador Carlos Henrique Martins defende a estratégia de pulverizar ações. Sustenta que réus excluídos poderão ser reintegrados ao processo na análise do mérito e diz que casos como o do homônimo "podem ocorrer".

Além dos cinco réus, respondem às mesmas acusações de improbidade administrativa 32 pessoas, entre integrantes dos núcleos político, operacional e financeiro do esquema. A grande maioria enfrentará também o julgamento no STF a partir do dia 2 de agosto. Uma das exceções é Sílvio Pereira, excluído da ação penal num acordo para cumprimento de pena alternativa. Ele continua réu em quatro das cinco ações que tramitam na Justiça Federal. O ex-deputado federal José Janene (PP-PR), falecido em 2010, ainda figura como réu em uma das ações de improbidade. O MPF quer a intimação do espólio do ex-deputado como substituto na ação.

Único réu do mensalão a disputar uma eleição este ano, o deputado federal João Paulo Cunha, candidato do PT à prefeitura de Osasco (SP), responde a duas ações de improbidade. Numa, arrolou como testemunhas de defesa o deputado federal Aldo Rebelo (PCdoB-SP), atual ministro dos Esportes, e Geddel Vieira Lima, ex-ministro da Integração Nacional. Eles deveriam ter comparecido à Justiça em setembro de 2011, o que não ocorreu. Oitivas de testemunhas por carta precatória atrasam o andamento do processo. João Paulo e Marcos Valério são réus em dois processos em Brasília. Em Minas, Valério é réu em mais seis processos, ainda sem sentenças.

Uma condenação por improbidade em segunda instância deixa inelegível o acusado, prevê a Lei da Ficha Limpa. As ações referentes aos réus do mensalão apuram vantagens indevidas em função dos cargos públicos, inclusive com suspeita de enriquecimento ilícito.

FONTE: O GLOBO

Defesa de Duda Mendonça no mensalão acusa Valério

Nas alegações finais encaminhadas ao Supremo Tribunal Federal (STF) para o julgamento do mensalão, a defesa de Duda Mendonça sugere que o empresário Marcos Valério teria feito outras remessas para o exterior além dos recursos depositados na conta do publicitário nas Bahamas. Os advogados de Duda afirmam que "é falacioso" o argumento de que seu cliente foi o único que recebeu valores no exterior

Defesa de Duda sugere que esquema de Valério irrigou mais contas no exterior

Alegações finais entregues ao STF sustentam que é "falacioso" o argumento de que só o marqueteiro de Lula em 2002 tenha recebido pagamentos fora do País

Eduardo Kattahe Fausto Macedo

Nas suas alegações finais encaminhadas aos 11 ministros do Supremo Tribunal Federal, a defesa de Duda Mendonça sugere que o empresário Marcos Valério Fernandes de Souza pode ter feito outras remessas para o exterior além dos recursos depositados na conta de uma offshore criada pelo publicitário nas Bahamas.

Em agosto de 2005, no auge do escândalo do mensalão, durante depoimento à CPI dos Correios, Duda Mendonça afirmou aos parlamentares que, do pacote de R$ 25 milhões fechado com o PT para a campanha de 2002, cerca de R$ 10, 5 milhões foram depositados no ano seguinte na conta da Dusseldorf Company, vinculada ao BankBoston em Miami.

Contestando a acusação da Procuradoria-Geral da República (PGR), versão sustentada também pela defesa de Valério, os advogados do publicitário afirmam que "é falacioso o argumento de que eles (os acusados, Duda Mendonça e sua sócia, Zilmar Fernandes) foram os únicos que receberam valores no exterior e que, por essa razão, mentiram ao afirmar que agiram assim por determinação de Marcos Valério".

No documento de 16 páginas encaminhado em abril ao Supremo, os advogados Tales Castelo Branco e Frederico Crissiúma - que posteriormente deixaram a representação dos réus - destacam que a revelação "dessas operações só veio à tona em razão da confissão dos acusados". "O que ocorreu, na verdade, é que o Ministério Público Federal e a CPMI dos Correios não foram capazes de descobrir outros pagamentos efetuados por Marcos Valério no exterior. Isso não significa, em absoluto, que outras situações irregulares não possam ter ocorrido, ainda mais considerando-se a identificação das "unidades externas do Banco Rural, formais e clandestinas", como o Ministério Público Federal anotou em alegações finais."

No depoimento à CPI - considerado bombástico e que fez a oposição suscitar a tese de impeachment do então presidente Luiz Inácio Lula da Silva -, Duda Mendonça disse que os recursos foram depositados em uma conta aberta por sua agência no exterior, por determinação de Valério. O empresário mineiro, apontado como o principal operador do mensalão, rebateu afirmando que foi o próprio Duda quem exigiu que os recursos fossem depositados na conta que ele já possuía no exterior.

A denúncia do MPF sustenta que os pagamentos do mensalão obedeciam a um padrão, com saques efetuados na boca do caixa do Banco Rural, mas o processo envolvendo o marqueteiro de Lula em 2002 fugiu à regra.

"É uma falácia dizer que ele é o único que recebeu de uma forma diferente. Afirmar com toda certeza que o PT não pagou ninguém lá fora, ninguém pode dizer", insistiu Crissiúma, em entrevista ao Estado. Procurado, o advogado Luciano Feldens, novo representante de Duda Mendonça, não foi localizado.

Crimes. O publicitário e sua sócia respondem pelos crimes de lavagem de dinheiro e evasão de divisas. No memorial encaminhado ao STF, a defesa sustenta que os acusados desconheciam a origem ilícita dos recursos depositados na conta Dusseldorf e que eles estavam dispensados de apresentar declaração de depósitos no exterior conforme regra do Banco Central.

Ao contestar a acusação de lavagem de dinheiro, Duda Mendonça alega, por meio dos advogados, que a ele e à sócia "sempre pareceu que os valores recebidos por seu lícito trabalho eram oriundos, na pior das hipóteses, de infração prevista na legislação eleitoral ("caixa dois" mantido no Brasil e no exterior)".

"Afinal, a relação dos acusados com o Partido dos Trabalhadores já vinha desde 2001 e todos os pagamentos sempre foram autorizados e aprovados por Delúbio Soares, diretor tesoureiro do partido. É importante acrescentar que até então o PT era visto em todo o Brasil como exemplo de ética, moralidade e combate à corrupção", argumentam os advogados.

A defesa destaca que esses eram os principais lemas do PT. Tanto que, em 2001, Duda Mendonça criou um filme "extremamente contundente", no qual "ratos roíam a bandeira do Brasil e um locutor dizia: "Ou a gente acaba com eles ou eles acabam com o Brasil. Xô corrupção!"".

É uma insinuação sem provas", afirma advogado

"Não há nenhum outro caso em que o pagamento tenha sido feito no exterior a não ser o de Duda", reagiu o criminalista Marcelo Leonardo, que defende Marcos Valério. "Ele (Duda) insinua, supõe, faz conjectura, mas não tem prova concreta. De todas as pessoas da lista de pagamentos feitos pelo Marcos Valério, atendendo ao pedido do Delúbio (Soares) para o PT e partidos da base aliada, o único pagamento no exterior foi o do Duda."

Leonardo é taxativo: "A versão dele (Duda) de que o pagamento no exterior foi por exigência do Marcos Valério ficou desmentida documentalmente".

"Primeiro, foi localizada no escritório da Zilmar (Fernandes) uma pasta com instruções sobre abertura de conta no exterior, no Banco de Boston. Segundo, com a quebra do sigilo da conta Dusseldorf ficou provado que ela tinha sido aberta em data bem anterior ao pagamento, o que revela que Duda já mantinha conta no exterior havia muito tempo. Está documentalmente demonstrado que foi ele (Duda) quem fez questão de receber lá fora."

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Produção industrial recua 5 anos e deve cair ainda mais

Dados do IBGE mostram que a indústria do País voltou ao nível de 2007, e as projeções para 2012 são de queda na produção. Em maio, o desempenho industrial foi idêntico ao de agosto de 2007 e inferior ao de outubro do mesmo ano. "É um indicador chocante, há alguma coisa de muito errado na nossa indústria", diz Fernando Rocha, sócio e economista-chefe da JGP, gestora de recursos no Rio. As perspectivas de produção para o ano de sete instituições consultadas pelo Estado, incluindo os maiores bancos privados, indicam queda que varia de menos 0,5% a menos 2,2%. Nos números do IBGE, 95% do índice corresponde à indústria de transformação e 5%, à indústria extrativa

Produção industrial recua cinco anos

Em maio, o nível de atividade foi idêntico ao de agosto de 2007 e especialistas preveem que o setor deve fechar o ano em queda

RIO - A indústria voltou ao nível de cinco anos atrás, e as projeções para 2012 são de queda na produção das fábricas brasileiras. Em maio de 2012, a produção da indústria medida pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) foi idêntica a de agosto de 2007, e inferior a de outubro de 2007. A comparação, referente à indústria de transformação, elimina as influências sazonais.

"É um indicador chocante, há alguma coisa de muito errado na nossa indústria", diz Fernando Rocha, sócio e economista-chefe da JGP, gestora de recursos no Rio de Janeiro.

Para 2012, as projeções da produção industrial de sete instituições consultadas pelo Estado, incluindo os departamentos econômicos dos dois maiores bancos privados, Itaú e Bradesco, indicam quedas que variam de menos 0,5% a menos 2,2%.

"Houve uma grande piora da indústria no último trimestre do ano passado, aí começou a melhorar, mas o problema é que despencou de novo", diz Silvia Matos, coordenadora do Boletim Macro do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre/FGV), no Rio.

Nos dados do IBGE, 95% do índice corresponde à indústria de transformação, a atividade manufatureira propriamente dita, e os outros 5% referem-se à indústria extrativa.

Sílvia nota que a queda da indústria da transformação acelerou-se até maio. No primeiro trimestre, ela caiu 0,7% ante o último trimestre de 2011, na série livre de influências sazonais. Já no trimestre de março a maio, a queda em relação a dezembro, janeiro e fevereiro atingiu 1,5%.

A difusão da queda pelos setores industriais, que havia caído no início do ano, também voltou a aumentar a partir de março.

Para Aurelio Bicalho de Almeida, economista do Itaú BBA, o mau número que a indústria deve exibir em 2012 deve-se em parte a uma questão estatística, ligada à queda forte no segundo semestre de 2011. Com a desaceleração adicional em 2012, a indústria provavelmente vai ficar no negativo mesmo que cresça no segundo semestre.

Segundo Octavio de Barros, diretor de Pesquisas e Estudos Econômicos do Bradesco, ainda que a produção industrial cresça em média 0,95% ao mês entre junho e dezembro, haverá uma queda no ano de 1,5% - a projeção do Bradesco, mas que o diretor diz estar em "viés de baixa".

"O desafio é grande porque a média histórica (de crescimento mensal da produção industrial) desde 1991 é de 0,23% ao mês", acrescenta Barros.

Um dos fatores apontados pelos analistas para a fraqueza da indústria é a queda na exportação de produtos manufaturados, mesmo com a recente desvalorização do câmbio. "O mundo permanece abarrotado de produtos manufaturados, e não consigo ver essa ociosidade sumindo antes de um horizonte de dois a três anos", diz Barros.

Investimentos. Almeida, do Itaú BBA, nota que a produção também é negativamente afetada pela desaceleração dos investimentos. Essa, por sua vez, além de influenciada pelos temores com a economia global, está ligada à capacidade ociosa na indústria. Com espaço para aumentar a produção no parque fabril já existente, os empresários adiam investimentos. Assim, o nível de utilização da capacidade instalada medido pela FGV está em 83,8%, enquanto o Itaú BBA considera que o nível de equilíbrio do indicador é de 85%.

Os estoques, finalmente, são outro fator apontado por Almeida para explicar a freada da indústria. Ele lembra que a sondagem da indústria da FGV apontava, em maio de 2011, uma diferença de apenas 1,6% entre as empresas consultadas que consideravam os estoques excessivos e as que os consideravam insuficientes. O indicador subiu para 8,5% em outubro, e ainda estava em 8% em dezembro, num claro sinal de estoques excessivos.

Em junho, porém, o indicador já havia caído para 3,1%. "Ainda está um pouco alto, mas já indica que estamos no caminho de ajustar os estoques", diz. Ele acha que, com esse ajuste, a queda da Selic (taxa básica) e as medidas de estímulo ao consumo do governo, a produção industrial deve ter uma retomada no segundo semestre. "Mas isso na hipótese de alguma normalização da situação internacional", acrescenta o economista.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Brasil Grande - Empreiteiras terão incentivo para ampliar indústria bélica

Governo quer multiplicar exportação de armas e reforçar segurança nacional

O governo planeja pôr o país no mapa da indústria mundial de defesa, estimulando a criação de "superbélicas verde-amarelas". Para isso, concederá incentivos fiscais e acesso diferenciado às licitações públicas. Minuta de decreto prevê que as vantagens valerão para empresas ou consórcios liderados por grupos brasileiros e cria parcelas mínimas de conteúdo nacional, revela Danilo Farbello. Além disso, o programa de compras das Forças Armadas chega a R$ 70 bilhões até 2015. O chamado já dá resultados e as maiores empreiteiras do país — Odebrecht, OAS, Queiroz Galvão, Andrade Gutierrez e Camargo Corrêa — estão entrando com força nesse mercado, que movimenta US$ 1,5 trilhão no mundo. Segundo o general Aderico Mattioli, do Ministério da Defesa, as empresas brasileiras que atuam hoje no setor são vulneráveis.

Superbélicas verde-amarelas

Grandes empreiteiras receberão incentivo para expandir setor. Governo quer aumentar exportações

Danilo Fariello

O Ministério da Defesa fez uma convocação e as maiores empreiteiras do Brasil já asseguraram participação no desenvolvimento da indústria de equipamentos de segurança nos próximos anos. Conforme a Lei 12.958, aprovada em março, os grupos que criarem subsidiárias no setor terão vantagens tributárias e condições especiais para intermediar a incorporação de compras do governo. Odebrecht, OAS, Queiroz Galvão, Andrade Gutierrez e Engevix, além da Embraer, já entraram no ramo. Os grupos Synergy e Camargo Corrêa negociam com parceiros estrangeiros o ingresso no mercado, no modelo adotado pelos outros grupos.

O Brasil hoje tem importância quase irrisória em um mercado que movimenta US$ 1,5 trilhão por ano no mundo e que, ao lado do setor farmacêutico, detém o maior orçamento global para pesquisa e desenvolvimento. Do setor, historicamente derivam tecnologias usadas no cotidiano, desde o Fusca até a ultrassonografia. Os focos principais do governo hoje são os setores nuclear, espacial e cibernético.

O Brasil já tem empresas com tradição no setor e reconhecidas internacionalmente, como Helibrás, Avibrás e CBC. Mas a maioria é pequena, com menos de 40 funcionários, e tem poder financeiro limitado para competir globalmente. Segundo a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), só 10% das empresas que venderam ao Ministério da Defesa entre 2008 e 2010 fecharam negócios nos três anos seguidos, "expondo a inconstância das vendas mesmo para seu principal cliente, o Estado", diz a entidade.

Decreto prevê conteúdo nacional

Ao aproximar essas empresas das empreiteiras, o governo quer criar grupos competitivos com fôlego para sobreviver diante das compras intermitentes das Forças Armadas. Assim, seria evitado que pequenas e promissoras empresas do setor fossem compradas por estrangeiras, como a AEL Sistemas, produtora de suprimentos de energia para satélites, vendida em 2001 para a israelense Elbit Systems.

- As empresas do setor são vulneráveis, porque o mercado é monopsônico: as vendas são só para nós e, quando elas vão exportar, dependem do aval do governo. É um problemaço, porque elas precisam sobreviver e eu compro pouco. Elas têm de partir para parcerias e dualidade (atendendo os setores militar e civil) - disse o general Aderico Visconte Pardi Mattioli, diretor do Departamento de Produtos de Defesa do ministério.

A primeira motivação das empresas para entrar no setor foi a indicação do governo de reaparelhamento das Forças Armadas no fim de 2008. Há hoje um orçamento de compras de R$ 70 bilhões até 2015 e outras dezenas de bilhões são previstas para até 2030.

A Odebrecht foi a primeira gigante a entrar no mercado em um contrato com a Marinha para, junto com a estatal Nuclep, construir o submarino nuclear brasileiro, orçado em R$ 9,6 bilhões. As obras já começaram em Itaguaí (RJ) e o valor envolvido despertou as concorrentes.

Essas empresas estão de olho não só nas obras de engenharia civil, mas também na tecnologia adquirida pelo governo nessas compras e na possibilidade de replicá-la exportando. Por isso, as empresas têm feito parcerias com estrangeiros. A Andrade Gutierrez se associou ao grupo francês Thales e a Engevix se uniu à alemã ThyssenKrupp, enquanto as outras negociam, por exemplo, com BAE Systems, do Reino Unido, e Finmecanica, da Itália. Procuradas, nenhuma das empresas brasileiras atendeu a pedidos de entrevista e algumas se limitaram a confirmar suas ações no segmento.

Pela lei, o governo criou a Empresa Estratégica de Defesa (EED), que terá desoneração equivalente às estrangeiras do setor, além de acesso diferenciado a procedimentos de licitação pelo Ministério da Defesa. Segundo minuta de decreto a que O GLOBO teve acesso, que regulamenta a lei 12.958 e deve ser publicado nas próximas semanas, terão essas vantagens de atuar como "integradoras" das compras do governo empresas brasileiras ou consórcios liderados por grupo nacional. O decreto prevê, ainda, o meio de oferta de condições especiais de financiamento pelo governo, o que está na lei.

O texto prevê o chamado Termo de Licitação Especial, um procedimento mais ágil para as EEDs exigindo delas, por exemplo, percentuais mínimos de conteúdo nacional, comprovação de capacidade inovadora e condição financeira para ter crédito.

Pela Estratégia Nacional de Defesa, que previu em 2008 as diretrizes para a formação da indústria nacional, o governo indica que, fomentando a ação desses grandes conglomerados no setor, o Brasil pode criar grupos capazes de exportar o suficiente para aumentar a balança comercial no futuro. Países periféricos aos grandes produtores de armamento na Europa e nos EUA, como Índia e China, têm investido bilhões por ano em importações para defesa.

Segundo a Associação Brasileira das Indústrias de Materiais de Defesa e Segurança (Abimde), o país tem potencial para, em 2030, exportar US$ 7 bilhões e atender o equivalente a US$ 4,4 bilhões no mercado interno. Em 2009, exportamos US$ 1 bilhão e, as vendas internas foram de US$ 1,7 bilhão.

O almirante Carlos Afonso Pierantoni Gambôa, vice-presidente executivo da Abimde, disse que o Brasil já é reconhecido internacionalmente por nichos de excelência, como aviação, armas não letais e pistolas. Ele lembra que o movimento trazido agora pelo governo já ocorreu em outros países hoje relevantes no setor.

Falta consenso entre empresas do setor

A estratégia do governo para fortalecer a indústria nacional de defesa, porém, não é consensual entre as empresas brasileiras. Para Jairo Cândido, diretor do Departamento de Indústria de Defesa da Fiesp, o governo não deveria adquirir a tecnologia para só depois decidir como será incorporada à indústria nacional. Para ele, também é "perverso" pôr lado a lado empresas do setor e grandes empreiteiras, sem que elas escolham uma vocação específica para o segmento:

- Aquilo que deveria servir à soberania nacional está virando só oportunidade de negócios, mas não deveria se limitar a isso. Grandes empresas têm muito a contribuir e sou a favor do ingresso delas no setor, mas antes têm de dizer o que farão na área de defesa.

Ter uma indústria de defesa relevante é passo significativo no longo caminho do Brasil em busca de assento cativo no Conselho de Segurança da ONU. Para o almirante Pierantoni, o Brasil ainda conta com a vantagem de não ter histórico de posições questionáveis em conflitos e de ser simpático ao mundo, de uma maneira geral:

- Mais difícil é superarmos o entrave cultural nacional dos militares, porque muitos ainda não vêem o equipamento brasileiro com bons olhos.

FONTE: O GLOBO

Reeleição de Dilma não é conceito pleno, afirma Temer

Apesar de elogiar Dilma, o vice-presidente Michel Temer (PMDB) diz a Eliane Cantanhêde que foi criada a ideia de que todo governante tem de buscar a reeleição, mas não é "conceito absoluto". "O que vai acontecer em 2014 está distante." Temer afirma ainda que é natural haver inveja pelo fato de seu partido ocupar a Vice-Presidência

Reeleição não é conceito absoluto, diz Temer

Vice-presidente faz elogios a Dilma, mas afirma que "o que vai acontecer em 2014 está ainda muito distante"

Em recado indireto às pretensões do PSB nas eleições presidenciais, o peemedebista diz que "o apressado come cru"

Eliane Cantanhêde

Apesar de elogiar o desempenho da presidente Dilma Rousseff, o vice-presidente Michel Temer, principal líder do PMDB, disse que se criou a ideia de que todo governante tem de se candidatar à reeleição, "mas esse não é um conceito absoluto".

Segundo ele, "tudo" está em jogo nas próximas eleições presidenciais. "Quem foi bem deve se reeleger. Agora, o que vai acontecer em 2014 está ainda muito distante."

Em entrevista à Folha, na última quarta-feira, em seu gabinete, Temer também mandou um recado indireto ao governador de Pernambuco, Eduardo Campos, do PSB, cujos movimentos sugerem uma corrida ou à Vice ou à Presidência em 2014: "O apressado come cru".

Folha - Por que, enquanto o PT e o PSB estão às turras em Belo Horizonte, Recife e Fortaleza, o PMDB anda tão calado?

Michel Temer - Acho melhor agir do que falar e, na qualidade de vice-presidente, eu tenho de ser discreto, mas essa discrição não significa uma inação política.

O melhor exemplo é Belo Horizonte?

É. Contribuímos muitíssimo para a solução em Belo Horizonte, que é muito importante para o PT. Eu percebi, aliás todos nós do PMDB, inclusive o candidato Leonardo Quintão, percebemos, que deveríamos abrir mão da candidatura própria, que tinha muito significado e peso eleitoral, para fazer a aliança sólida com o PT. Uma aliança com repercussão nacional.

Para neutralizar os arroubos do PSB e do governador Eduardo Campos?

O PSB tem um papel a desempenhar no Brasil e no apoio importantíssimo que dá ao governo e acho natural que busque ampliar seu raio de ação, especialmente nas eleições municipais. Veja o PMDB: é um partido forte, significativo, pelo número de governadores, prefeitos, vereadores, por ter a maior bancada na Câmara e no Senado.

A disputa do PSB com o PT nas eleições municipais é parte do jogo de 2014 e de 2018?

Disputas locais não podem contaminar a aliança nacional. Isso precisa ficar claro.

Quando Dilma reuniu líderes de PT e PSB, dois de cada lado, as orelhas do PMDB arderam?

Se arderam, foi do lado direito, porque, quando é do lado direito, dizem que é porque falaram bem. Suponho que PT e PSB, juntos, só podem ter falado bem do PMDB.

O sr. tem certeza?

Tenho. O PMDB colabora muito com o governo e com essa aliança. Então, se se reuniram PT e PSB, eu tenho cá comigo, talvez com uma certa ingenuidade, eles só podem ter falado bem do PMDB.

E se não?

Problema deles, porque o PMDB é um partido que tem vida própria, significação política histórica.

Ao sair do encontro com o PT e Dilma, Eduardo Campos disse que querem inventar um "inimigo oculto" só para obterem favores fisiológicos da presidente. Todo mundo entendeu que falava do PMDB.

Pois o PMDB entendeu que o governador só poderia estar falando de outro partido porque, para nós, essa história de fisiologia está superada. Nesses governos de coalizão, é mais do que natural que os partidos participem do governo. Veja aí, PT, PSB, PMDB, todos participam. E, comparada numericamente com os outros partidos, a participação do PMDB é a menor.

Já que Campos falou genericamente sobre "fisiológicos", vamos falar também em tese: tem gente na aliança botando o carro à frente dos bois?

Cada um tem seu estilo. Eu acho que, em política, é preciso administrar o tempo, porque quem se apressa acaba se dando mal. O apressado come cru. A afoiteza e, mais do que a afoiteza, as palavras duras e deselegantes, acabam gerando um clima muito desfavorável para as instituições. Numa democracia, as instituições -e os partidos são instituições- deverão ser sempre preservadas.

Isso tudo é recado para Eduardo Campos?

Não... o Eduardo Campos sabe muito mais do que eu.

Como o sr. vê o embate do PSB com o PT?

Todas as notícias eram de que as queixas do PSB eram contra o PT. Depois de umas conversas é que, veladamente, começaram a dizer que a relação com o PT era boa e o problema era com os outros. Como esses outros eram indefinidos, você tem de ignorar.

O PSB recuou de atacar o PT e se virou contra o PMDB?

Sabe que eu acho que não? Até porque todas as conversas do Eduardo Campos comigo e com todos do PMDB são sempre de parceria. Então, não vejo clima de beligerância, pelo menos nas manifestações dele.

Quem estaria, então, criando esse tal inimigo oculto do PSB e do PT?

Confesso que não sei dizer. É preciso perguntar ao próprio Eduardo Campos. Aliás, seria útil, até, que houvesse uma definição, porque essa coisa, digamos, muito insinuante, em matéria política, não é nada bom.

Fala-se muito que o que está por trás é a Presidência em 2014, mas não seria a Vice?

O que está em jogo é tudo em 2014! Primeiro ponto é que, depois de instituída a reeleição no Brasil, a ideia é a seguinte: quem foi eleito tem de concorrer à reeleição, para não perder o poder. Estabeleceu-se esse conceito que não é um conceito absoluto. Segundo ponto é que, havendo a reeleição, quem foi bem no governo deve se reeleger. Agora, o que vai acontecer em 2014 está ainda muito distante. Quem está pensando só em 2014 está sendo afoito, apressado. E, aí, come cru.

Tem muita gente com inveja do PMDB e da vaga de vice?

Ser vice-presidente, em especial na atual conjuntura, tendo como companheira a presidente Dilma, é uma coisa muito boa, produtiva institucionalmente. É natural, portanto, que haja inveja, mas é um sentimento negativo. Ela se volta contra o invejoso. As pessoas devem é trabalhar de uma maneira que as habilite a ocupar os lugares, seja de vice, seja de presidente.

A disputa do PSB com o PT fortalece o PMDB?

O PMDB já está fortalecido. A grande preocupação que existe em torno do PMDB já revela sua força. Se você me perguntar se há divergências internas no PMDB, eu vou dizer: há. Mas nós sabemos administrar essas divergências.

Como o sr. se posiciona diante da resistência de Dilma aos nomes de Henrique Eduardo Alves à presidência da Câmara dos Deputados e de Renan Calheiros e Romero Jucá para a do Senado?

Posso assegurar que não há isso, até porque no Senado é regimental, a presidência cabe ao maior partido, e, na Câmara, há até um documento assinado por PT e PMDB estabelecendo que a presidência será do PMDB no próximo biênio. Dizer que a presidente Dilma não quer o Henrique é equivocado. Ela jamais me disse isso.

Foi isso que o sr. acertou com Dilma e o presidente do PT, Rui Falcão, na terça-feira?

A presidente me chamou para fazer uma avaliação geral do quadro, só isso.

Se o sr. fosse de outro partido e presidente, acharia conveniente ter o PMDB no comando das duas Casas?

Acharia, em face da lealdade do PMDB. Quando Sarney presidiu o Senado e eu presidi a Câmara, foram tempos de muita tranquilidade para o presidente Lula.

Haverá reações no PMDB se Dilma tentar impor o ministro Edison Lobão para o Senado?

Quanto à presidente ter uma ou outra preferência, é mais do que legítimo, não caracteriza interferência, mas quem decide é o Poder Legislativo.

Campos disse que Lula está acima dos partidos e não deveria entrar na campanha. Obviamente, um pedido para o ex-presidente não entrar na campanha do PT em Recife. O que o sr. acha?

Em São Paulo, seria muito útil para o [Gabriel] Chalita [candidato do PMDB] que ele não entrasse, mas não acredito nisso.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

Aécio: ‘A fama de boa gerente da Dilma era mito’

Josias de Souza

Em entrevista ao blog, o presidenciável tucano Aécio Neves disse que o governo de Dilma Rousseff está “paralisado”, a fama de boa gerente da presidente revelou-se “um mito” e a administração petista, acometida de “fadiga do material”, atravessa “um fim de ciclo.”

“Se vamos ser nós que vamos sucedê-los, o tempo é que vai dizer. Mas está claro que o governo perdeu a capacidade de tomar iniciativas”, afirmou Aécio. Ele considera “legítima” a movimentação de Eduardo Campos, governador de Pernambuco e presidente do PSB. “Não gosto dessa dicotomia de PSDB e PT. Acho que o aumento do leque de opções ajuda nas decisões.”

De resto, critica a interferência de Dilma no processo eleitoral de Belo Horizonte. “Enxergaram o fantasma de 2014 em Minas. Estão me valorizando mais do que eu mereço”, ironizou. Vão abaixo, subdivididas em tópicos, as opiniões de Aécio Neves:

- Avaliação do governo Dilma: O governo parou. Digo uma coisa que nem deveria dizer, mas o governo do Lula era melhor do que o governo da Dilma do ponto de vista dos resultados. As pessoas faziam algumas coisas. Agora, no setor de infraestrutura, que já não andava bem, não acontece absolutamente nada. Na área da saúde, o governo investe 10% a menos do que investia há dez anos. Na hora que começarem a comparar os indicadores, num ambiente econômico que já não será de euforia, mas de extrema preocupação, as pessoas vão perceber que caminhamos para um fim de ciclo.

- Avaliação do desempenho da presidente: A fama de boa gerente da Dilma era um mito. Aquela imagem de administradora capaz é a que vai sair mais machucada desse período de crise. O sentimento generalizado, mesmo na base do governo, maior ainda entre os empresários, é o de que este é um governo paralisado. Isso vai ficando cada vez mais claro. O governo não fez as grandes reformas que deveria ter feito. Faltou ousadia, faltou coragem.

- Imagem do Brasil no exterior: Estive por dois dias em Washington, para a premiação do Fernando Henrique [prêmio John W. Kluge, de US$ 1 milhão, dado pela Biblioteca dos EUA]. Conversei com amerianos importantes, que acompanham a realidade brasileira. Falei com economistas da Europa, que estavam lá. A expectativa em relação ao Brasil é outra, totalmente diferente do que era há seis meses. Há, hoje, uma avaliação mais negativa sobre a capacidade do país de responder à crise. O ambiente econômico piorou e a visão geral é de que vai piorar mais.

- Fim de ciclo: Estamos ingressando numa fase de fim de ciclo. Esse ciclo atual da administração do PT, na minha avaliação, vai se encerrar. Se vamos ser nós que vamos sucedê-los, o tempo é que vai dizer. Mas está claro que o governo perdeu a capacidade de tomar iniciativas. A base política no Congresso está extremamente esgarçada. Nesta semana, o governo não conseguiu nem votar a LDO [Lei de Diretrizes Orçamentárias].

- Tempo perdido: É nos dois primeiros anos de um governo que devem ser feitas as grandes reformas. O governo não fez. E agora está patinando. Acho que ganha força um discurso alternativo pela eficiência. Essa mácula da ineficiência a Dilma vai carregar. O governo dela parou. Não sou do tipo de pessoa que torce contra. Isso quem faz é o PT. Mas é preciso dizer as coisas com clareza. E nós vamos dizer, no momento próprio. Não queremos confundir eleições municipais com o cenário nacional. Não se trata de desconhecer o que eventualmente tenha dado certo. Não faço o discurso da negação. Não se pode dizer que, do Lula pra cá, tudo deu errado. Respeito o que deu certo. Mas estamos chegando ao fim um ciclo. É preciso que se inicie outro.

- O que faria de diferente se fosse presidente? No primeiro dia, apresentaria uma agenda com duas ou três grandes reformas que eliminassem nossos grandes gargalos. As coisas não mudam do dia para a noite. Mas, já no início do governo, eu estaria propondo ao país essas reformas. A começar pela reforma do Estado, com uma grande diminuição do seu peso. É preciso abrir espaço fiscal para que haja, aí sim, o início de uma redução da carga tributária. A carga de tributos é um dos principais fatores que inibem a competividade do Brasil. Não adianta tomar essas medidas paliativas de conceder isenções pontuais para setores específicos, como o automobilístico. Tem que puxar para baixo a carga de tributos de todos os setores.

- Reforma politica: Esse é outro tema ao qual eu me dedicaria desde o primeiro dia. Eu iria para o Congresso fazer o que a Dilma não fez: negociar dois ou três grandes pontos que organizassem minimamente o quadro partidário brasileiro. Tínhamos que ter buscado uma aliança política possível, para termos o inverso do que o STF acaba de fazer. Em vez de aumentar, precisamos enxugar o quadro partidário, adotando a cláusula de desempenho, o voto distrital misto. Essa decisão do Supremo [que reconheceu ao PSD o direito de partilhar do tempo de tevê e das verbas do Fundo Partidário] já está causando um dano enorme ao país. Agora, um deputado tem preço. Elege-se por um partido e leva os votos para outro. Conforme o tempo de tevê da nova legenda, cada deputado vale X. Um partido de 12 deputados vai valer um preço nas coligações nacionais e outro preço nas coligações estaduais. Agora, 12 picaretas podem se juntar para formar um partido, calcular o valor de cada deputado conforme o fundo partidário e, depois, vender o tempo de televisão nas eleições.

- Descentralização administrativa: Essa agenda dos primeiros dias de governo teria de incluir uma política de descentralização corajosa em relação a Estados e municípios. Dá pra fazer. Na área de transportes, por exemplo, hoje não se faz nada. Por que não distribuir para os Estados a administração de rodovias federais, com a transferência dos recursos da Cide e de parte do Orçamento da União? Essa centralização do poder, para ter ganho político, é um dos maiores equívocos que os governos do PT cometem. Concentram em Brasília um poder enorme e não conseguem gerir. Esse processo vem se agravando nos últimos anos. Acentuou-se com a Dilma.

- Fadiga do material: O governo enfrenta o fenômeno da fadiga de material, comum nas administrações longas que perdem a capacidade de se renovar. Acho que eles chegarão cansados [a 2014]. Para botar uma máquina gigantesca como essa para rodar leva tempo. E o governo, até aqui, só perdeu tempo. Qual é o objetivo desse governo? Hoje, o único objetivo é a manutenção do poder a qualquer custo. A capacidade de tomar iniciativas, de fazer do governo uma estrutura pró-ativa, tudo isso desapareceu. Se a economia estivesse muito bem, talvez isso fosse minimizado. Mas o cenário inspira preocupação: a base política está desagregada não se gosta e não se articula; a economia emite sinais negativos, apontando para o aumento do desemprego; oas bras de infraesturura não acontem; os indicadores sociais patinam. Insisto: vivemos um fim de ciclo.

- Movimentação de Eduardo Campos: É absolutamente legítima a movimentação dele. Acho que ajuda. Não gosto dessa dicotomia de PSDB e PT. O aumento do leque de opções [presidenciais] ajuda nas decisões. Convém não esquecer que muitas seções regionais do PSB [partido presidido por Eduardo] são aliadas do PSDB. A começar pelo Paraná e por Minas Gerais. Mesmo em São Paulo, tirando esse apoio ao Fernando Haddad, que o Eduardo determinou, o PSB é aliado do Geraldo [Alckmin, governador tucano]. De baixo pra cima, haverá sempre setores do PSB com identidade maior conosco. Mas temos que respeitar e reconhecer que o Eduardo faz uma movimentação correta. Não contamina o processo. Ao contrário, apresenta um espaço de discussão novo. Tenho com ele as melhores relações. Eu o respeito muito.

- 2014 se imiscuiu em 2012? Não vejo isso com tanta clareza assim. É claro que algumas coincidências levam a essa leitura, sobretudo o que aconteceu em Recife, Fortaleza e Belo Horizonte. Mas, se formos analisar friamente, essas três situações mais emblemáticas, que envolvem o PSB, ocorreram por questões absolutamente locais. Em Fortaleza há um litígio do Cid e do Ciro Gomes [do PSB] com a prefeita Luizianne Lins [do PT]. Se houvesse harmonia entre eles, a ruptura talvez não tivesse acontecido. Em Recife, o Eduardo [Campos, do PSB] tentou construir a candidatura do Maurício Rands [do PT]. Não conseguiu. Veio outro nome [o petista Humberto Costa]. E o Eduardo optou pela candidatura própria [de Geraldo Júlio]. Em Belo Horizonte, depois de integrar a gestão do Márcio Lacerda [do PSB] por quatro anos, o PT arranjou um pretexto para romper. Não fomos nós que nacionalizamos a campanha em Minas, mas o PT, que chegou a um nome a partir de interferências externas.

- Vaivém do PT em Belo Horizonte: O PT dizia que o Márcio [Lacerda] rompeu a aliança. Isso não existe. Tanto é que eles pararam de dizer isso. Na verdade, houve um rompimento do PT com o Márcio. O PT tinha a vice-prefeitura e controlava 70% dos cargos da prefeitura. Esse negócio de coligação proporcional [na chapa de vereadores] foi um pretexto. Nós reivindicamos fazer coligação proporcional, o PT também. O PSB disse o seguinte: vamos sair com uma chapa sozinhos, para poder eleger uma bancada de apoio claro ao prefeito, do partido do prefeito. Nós topamos até isso, mesmo não tendo a vice. E o PT falou: ‘Não, nós queremos os votos do PSB para eleger uma bancada maior do PT. Para quê? Para o Márcio ficar refém deles.

- Intervenção federal em Belo Horizonte: Depois de romper a aliança, o PT lançou a candidatura do Roberto Carvalho. O Gilberto Carvalho [amigo de Lula e ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência sob Dilma] baixou aqui em Belo Horizonte, na terça-feira da semana passada, na base aérea, para convencer o Roberto Carvalho, em nome do Lula e da Dilma, a desistir da candidatura, que já tinha sido inclusive registrada. Ele saiu com a promessa de sabe-se lá quais vantagens. Aí começou a nacionalização da campanha em Minas. Foi iniciada por eles, não por nós. Para ter o PMDB [na coligação do PT], a Dilma entrou pessoalmente no processo, intercedendo junto ao Michel [Temer, vice-presidente da República e presidente licenciado do PMDB]. O Leonardo Quintão [que abdicou da candidatura a prefeito pelo PMDB] está achando que vai ser ministro. No PCdoB, a direção municipal votou pela coligação com o Márcio. Veio um comando de cima, do Renato Rabelo [presidente nacional do PCdoB], dizendo que não podia. E o partido voltou atrás. A pedido da Dilma o [Gilberto] Kassab [prefeito de São Paulo e presidente do PSD federal] interveio em Minas. Vai se dar mal. O PSD vai ficar conosco. O apoio deles ao Márcio foi decidido em convenção. O estatuto do PSD diz o seguinte: qualquer intervenção só pode ser feita pela Executiva do partido. E a executiva não se reuniu. Em Belo Horizonte, o PSD é adversário do PT.

- A entrada do petista Patrus Ananias na briga pela prefeitura: Reconheço que ele tem uma imagem positiva e que o cenário exigirá de nós mais atenção e mais trabalho. Mas acho que ele vai ter dificuldades. Está desatualizado sobre Belo Horizonte, não morava aqui há muito tempo. Esteve em Brasília durante os últimos sete ou oito anos. E o PT terá enorme dificuldade para justificar a mudança de posição. Na manhã do dia 30, na convenção do PSB, estavam todos lá, a começar do [Fernando] Pimentel [ministro do Desenvolvimento de Dilma]. Nessa hora, o Márcio era o melhor prefeito do Brasil. À noite, decidiram romper e o Márcio passou a ser o demônio. Será muito difícil o PT explicar por que deseja agora a interrupção de uma administração municipal muito bem avaliada, da qual participou durante quatro anos.

- Fantasma de 2014? Por que o PT mudou de posição em Belo Horizonte? Prevaleceu o interesse do PT em 2014. Enxergaram o fantasma de 2014 em Minas. Estão me valorizando mais do que eu mereço. Para fazer essa movimentação toda, com todos os riscos que correm, é porque estão vendo 2014. A Dilma não precisava intervir, poderia ter mantido o discurso dela de não envolver a estrutura federal nas eleições municipais. Nós continuaremos voltados para os interesses de Belo Horizonte. Deixaremos a nacionalização para eles, que construíram uma candidatura fora de Minas, no eixo Palácio do Jaburu-Planalto-São Paulo. Em 2010, aconteceu algo parecido na eleição de governador. O Lula [que apoiava Hélio Costa, do PMDB, contra Antonio Anastasia, candidato de Aécio] vinha para Minas raivoso. Eu disse naquela época: o mineiro tem uma tradição de ser povo hospitaleiro, recebe muito bem. Mas na hora de definir os seus destinos, o mineiro sabe fazer suas escolhas sozinho, não precisa de conselhos externos.

- Mas Dilma Rousseff não nasceu em Minas? Ela é uma mineira curiosa, que acomodou oito gaúchos no ministério [risos].

FONTE: BLOG DO JOSIAS

Para manter apoio, presidente assume articulação política

Entrando em cena

Para tentar conter tremores em sua base de apoio e se contrapor a possíveis adversários em 2014, Dilma assume a linha de frente da articulação eleitoral e política do governo

Catia Seabra, Natuza Nery

BRASÍLIA - Para tentar evitar tremores em sua base de apoio no ano eleitoral e a aprovação de projetos no Congresso que ameaçam as contas públicas, a presidente Dilma Rousseff foi obrigada a assumir uma tarefa para a qual demonstrou pouco entusiasmo nesse um ano e meio de mandato: a articulação política do governo.

Depois de aliados dizerem-se varridos da Esplanada, por conta da chamada faxina, Dilma dedicou-se nos últimos dias à costura política.

Reaproximou-se do PMDB, articulou a agenda de votações na Câmara, instituiu um pacto de convivência com o PSB e lançou, em 24 horas, um candidato petista à Prefeitura de Belo Horizonte.

O gabinete presidencial até operava negociações, mas raramente nessa intensidade. Tanto que, em Brasília, costuma-se dizer que Lula é político e Dilma, gestora.

"A presidente está bem, está pegando o traquejo", observou o governador Cid Gomes (PSB-CE), um dos convidados da semana para um jantar de reconciliação.

Julho começou com uma reviravolta na capital de Minas, onde houve um racha na aliança entre PT e PSB estimulado pelo senador Aécio Neves (PSDB). Incomodada com os avanços do potencial adversário, Dilma telefonou ao prefeito Márcio Lacerda (PSB) com o seguinte recado: se não evitasse o racha, o PT lançaria candidato próprio, Patrus Ananias.

Na quarta, o petista era oficializado, com o apoio do PMDB e de outras siglas, aliança costurada no Palácio da Alvorada por ela e seu vice, Michel Temer (PMDB-SP).

Dilma, segundo interlocutores, fez uma conta pragmática: era preciso resistir ao que o governo via como tentativa de Aécio de desbancar o PT.

Esta é a primeira eleição de Dilma na cadeira de presidente. E, apesar de não haver relação direta com a sucessão ao Planalto, há redutos cujas ligações são quase umbilicais -como em Minas, o segundo maior eleitorado do país.

Dilma fez investidas em duas outras grandes capitais fundamentais para uma reeleição -São Paulo e Recife.

Em São Paulo, funcionou como braço auxiliar de Lula para adesão do PP, de Paulo Maluf, à chapa de Fernando Haddad. Foi ela quem enviou o ministro Agnaldo Ribeiro (Cidades) a São Paulo para convencer Maluf a apoiar o petista. A pedido dela, segundo integrantes do PP, Ribeiro também atuou em Recife, onde o partido é o único aliado do petista Humberto Costa.

Foi de olho no futuro que o governo decidiu se reaproximar do PMDB. E só após o aliado PSB romper com o PT em Recife e Fortaleza.

Os divórcios foram interpretados pelo PT como ensaio de candidatura do governador Eduardo Campos (PSB-PE) ao Planalto em 2014, hipótese negada por ele em jantar com a presidente.

No encontro, ocorrido na segunda-feira, Dilma verbalizou sua apreensão: não quer divergências circunstanciais contaminando a vida do governo no plano federal.

Segundo observadores próximos, a manutenção da governabilidade é o que move a presidente. Isso porque há, no horizonte, um risco de agravamento da crise global, com impactos inevitáveis na evolução do PIB (Produto Interno Bruto) brasileiro.

Eis a conta feita: o Executivo precisa aproveitar a alta popularidade de Dilma para resolver problemas em sua base no Legislativo. Assim, evita derrotas com potencial de onerar os cofres públicos.

Por ser uma das maiores forças do Legislativo, o PMDB é essencial. Tanto que Dilma decidiu apoiar a sigla para comandar a Câmara no ano que vem e concorda em chancelar o deputado Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN). Mas o PMDB quer mais e pretende emplacar Renan Calheiros (PMDB-AL) na Presidência do Senado em 2013.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

Em BH, Santana e Aécio reforçam nacionalização

Paulo Peixoto

BELO HORIZONTE - Episódios envolvendo o marqueteiro petista João Santana e o senador tucano Aécio Neves dão a dimensão que a eleição em Belo Horizonte passou a ter para PT e PSDB, reforçando a nacionalização da disputa na capital.

Marqueteiro da presidente Dilma, do ex-presidente Lula e do candidato a prefeito de São Paulo Fernando Haddad (PT), Santana poderá desembarcar em BH de câmera em punho para cuidar da campanha do ex-ministro Patrus Ananias (PT). As negociações estão em curso.

Aécio, principal liderança do PSDB mineiro, vai rever sua programação de viagens pelo país para se dedicar mais tempo à tentativa de reeleição do prefeito Márcio Lacerda (PSB).

A decisão já foi comunicada aos seus aliados, dada a polarização criada entre petistas e aecistas depois de o PT romper a aliança que mantinha desde 2008 com PSB e PSDB.

Pré-candidato tucano à Presidência e adversário potencial de Dilma em 2014, Aécio havia planejado aproveitar a mobilização política nos municípios para se tornar mais conhecido do eleitorado.

O rompimento da aliança em BH teve como uma das causas as pressões que Aécio fez sobre Lacerda para que o prefeito não cedesse às vontades petistas. A situação gerou reviravolta no quadro local, com reflexos na cena nacional, até porque o PSB, aliado do governo Dilma, fez a opção de ficar ao lado do PSDB de Aécio.

Patrus conversou por telefone com João Santana e aguarda a ida dele a BH para definir sua possível participação na campanha.

Ele pode tanto ser o marqueteiro principal como um consultor do trabalho que seria realizado por publicitários locais do PT.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

Kassab dribla Aécio e fortalece laço com Dilma

Christiane Samarco

BRASÍLIA - Ao retirar o apoio à reeleição do prefeito de Belo Horizonte, Marcio Lacerda (PSB), para aderir à candidatura petista do ex-ministro Patrus Ananias, o prefeito de São Paulo e presidente nacional do PSD, Gilberto Kassab, fez dois movimentos no xadrez político da sucessão de 2014. Além de tentar puxar o tapete do pré-candidato tucano ao Palácio do Planalto, senador Aécio Neves (MG), o prefeito alinhou o PSD na base de apoio à reeleição da presidente Dilma Rousseff.

Em telefonema a Aécio, Kassab disse que houve "um apelo" de Dilma. "Eu não queria fazer isso agora, mas, se é para ficar contra alguém, que seja o PSDB, porque a Dilma e o PT deram todo o apoio ao PSD", explicou a um correligionário. "Não podemos mostrar ingratidão. Isso causaria ao partido um prejuízo desgraçado", previu,em conversas reservadas. Em defesa da intervenção para desmontar a aliança do PSD com Lacerda e Aécio, Kassab disse a deputados mineiros que a eleição em Belo Horizonte ganhara dimensão nacional. Questionado sobre a parceria com o tucano José Serra em São Paulo, respondeu de pronto que, diferentemente de Aécio, Serra não será candidato a presidente.

"Dei-me conta de que a questão local estava nacionalizada quando vi o (vice-presidente) Michel Temer comandando a operação no PMDB para retirar a candidatura do deputado Leonardo Quintão à prefeitura", contou Kassab, que entende que Aécio errou ao pressionar contra a coligação PSB-PT para eleger vereadores, o que levou os petistas a saírem da chapa de Lacerda. Foi a partir desse rompimento que Dilma entrou em cena na montagem da candidatura petista, acionando o PMDB e a sigla de Kassab. Parte da cúpula do PSD entendeu que o movimento de Aécio acabou jogando o PMDB "no colo" da presidente.

Sem garantias. Por esse raciocínio, Aécio pode ter alinhado contra ele, na corrida presidencial, os três maiores tempos de televisão no horário eleitoral gratuito: PT, PMDB e PSD. E isso, sem a garantia de que terá com ele o quarto maior tempo. Afinal, o PSB de Lacerda pode seguir no apoio a Dilma ou lançar a candidatura do governador Eduardo Campos (PE).

Acionado pelo Planalto, Campos também tentou forçar um recuo de Lacerda para manter a coligação com o PT na eleição proporcional, sem sucesso. Com o apoio dos vereadores do PSB, que não queriam perder vagas na Câmara para eleger petistas, Lacerda foi firme diante da insinuação de que a direção nacional poderia intervir para manter o PT na aliança: "Belo Horizonte não é moeda de troca. Se a parceria com o PT desarranjou em Recife e Fortaleza, que o realinhamento se dê lá. Se quiserem intervir aqui, renuncio à candidatura".

Para Aécio, foi Kassab quem errou na operação política. Com Quintão fora da corrida municipal para apoiar Patrus, a perspectiva de a eleição só se resolver no segundo turno fica mais distante. Ganha força a tática tucana de polarizar a disputa desde já, para que a definição ocorra na primeira rodada. Aécio também lembrou a Kassab, no telefonema que recebeu, que todos os deputados do PSD de Minas são da base de apoio de Lacerda e do governador tucano Antonio Anastasia. Manter esse alinhamento, aliás, foi o compromisso de Kassab quando pediu a ajuda de Aécio na montagem da nova legenda no Estado. "Essa intervenção é uma violência, mas você sabe o que faz", rebateu Aécio.

Os tucanos entendem que o erro mais grave de Kassab foi contrariar o estatuto do PSD na operação desmonte da aliança com PSB e PSDB. Ao final, o prefeito pode pagar o preço de ficar com o desgaste político e Lacerda, com o tempo de televisão do PSD. "E não me venham falar de traição e em surpresa com a recusa da coligação com o PSB para vereador", adverte o presidente do PSDB de Minas, deputado Marcus Pestana. Ele afirma que, um mês antes da convenção, disse ao presidente do PT mineiro, Reginaldo Lopes: "Você está iludindo as bases do PT com a coligação. Ela não ocorrerá e é melhor assumir isso. Se deixar para avisar depois, isso volta como bumerangue na sua testa".

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Lacerda diz que humanizou BH

No primeiro ato de campanha, prefeito comemora os avanços na área social

Alessandra Mello

Candidato à reeleição, o prefeito Marcio Lacerda (PSB) fez ontem seu primeiro corpo a corpo com o eleitor. Acompanhado do candidato a vice-prefeito Délio Malheiros (PV), ele visitou pela manhã o Mercado Central. Lacerda disse que o foco principal de sua campanha vai ser mostrar para o eleitor as ações desenvolvidas por sua administração em todas os setores, entre eles os programas sociais, área alvo de críticas por parte dos adversários, e as obras que estão sendo feitas na cidade. "Sou o líder de um processo de transformação que Belo Horizonte está vivendo", afirmou o prefeito, que chegou ao mercado junto com militantes e candidatos a vereador.

"Avançamos muito na área social, a cidade está cada vez mais humanizada. Teremos condições de mostrar ao longo da nossa campanha, principalmente com a ajuda da televisão, o quanto fizemos em todas as áreas em Belo Horizonte. Nunca se colocou tanta estrutura como fizemos na nossa gestão. Essa é uma área que estou com o coração absolutamente tranquilo e a gente vê o resultado disso na imensa aprovação que temos na cidade. A qualidade de vida está melhorando", afirmou o candidato, rebatendo críticas feitas mais cedo pelo candidato do PT, Patrus Ananias, que defendeu, durante caminhada em Venda Nova, uma administração "mais humana".

Lacerda também comentou a saída de Marco Antônio Resende do cargo de procurador geral da Prefeitura de Belo Horizonte. Sua exoneração foi publicada ontem no Diário Oficial do Município. Em seu lugar assume o procurador-adjunto, Rúsvel Beltrame Rocha. Marco Antônio foi um dos últimos petistas do primeiro escalão da prefeitura a deixar o cargo depois do rompimento da aliança entre PSB e PT.

Questionado se a saída de Marco Antônio completava "a faxina" na prefeitura, Lacerda descartou o uso dessa expressão. "Não existe essa palavra faxina. São homens sérios, que sempre trabalharam pela prefeitura", completou. Lacerda elogiou o procurador, segundo ele um "homem sério e dedicado" . Disse ainda que todos os cargos que ficaram vagos depois da saída do PT de sua administração vão ser preenchidos por servidores das próprias pastas para que não haja descontinuidade da administração.

Segundo ele, alguns integrantes do PT estão deixando a legenda para continuar participando de sua administração. O prefeito informou ainda que os cargos dos dirigentes das fundações e empresas da prefeitura comandadas por integrantes do PT ainda não foram preenchidos, pois os nomes dos indicados precisam ser aprovados pelos conselhos antes da nomeação. Lacerda disse que lança nos próximos dias seu programa de governo e prometeu, mais uma vez, uma campanha de alto nível.

O candidato andou pelos corredores do mercado por cerca de uma hora e meia. Nesse período tomou cerveja, tomou um golinho de cachaça oferecido por uma cachaçaria, comeu queijo, pão de queijo e abacaxi. Muitos militantes brincavam dizendo que, nessa toada, ele e seu vice vão acabar engordando na campanha. Lacerda disse que ficou feliz em começar sua campanha no Mercado, "síntese de Minas Gerais e das coisas boas produzidas pelos mineiros".

FONTE: ESTADO DE MINAS

Dilma mostra armas

Desavenças entre aliados e ameaça de divisão na aliança governista fazem a presidente deixar de lado a postura de não interferência no pleito municipal e negociar diretamente com os partidos

Juliana Braga

Virou quase um mantra de interlocutores da presidente Dilma Rousseff a frase de que ela não se envolverá diretamente na campanha municipal de outubro, pelo menos até o segundo turno. A realidade, no entanto, tem sido bem diferente. Tanto nos bastidores quanto abertamente, ela se movimenta para privilegiar aliados e interesses do PT nas eleições. Além de ter mantido conversas com dirigentes de partidos da base como PMDB e PSB, Dilma inaugurou obras em cidades-chaves, como São Bernardo do Campo (SP) e Rio de Janeiro. A campanha não declarada de Dilma tem dado resultados e já conseguiu reverter, por exemplo, o impasse que o PT enfrentava em Belo Horizonte.

A preocupação em não parecer estar em campanha fez com que Dilma convocasse os ministros do Planalto e pedisse que orientassem todos os funcionários a serem cautelosos com e-mails, santinhos, qualquer manifestação que pudesse parecer militância durante o expediente. Até os ministros, que foram liberados para fazer campanha em suas regiões de interesse, só terão autorização em horário fora do trabalho.

Todo esse cuidado se deve à situação delicada de alianças com siglas importantes para a base do governo que, no âmbito municipal, não conseguiram chegar a um consenso com o PT. PMDB e PSB já brigam para garantir a vaga de parceiro preferencial em 2014 e o medo da presidente é, caso não haja acordo, que a situação de agora se repita nas eleições majoritárias e os partidos decidam lançar candidaturas próprias. Apesar de ter afirmado na última segunda-feira, após jantar no Alvorada, que trabalha para a reeleição de Dilma, Eduardo Campos (PSB) não descarta pleitear o cargo máximo do Executivo. Como a posição das peças do tabuleiro e poder de barganha dependem do resultado das urnas em outubro, Dilma mantém o discurso de que estará fora da briga até o segundo turno.

Foco nas capitais

Na prática, entretanto, a presidente tem interferido nos municípios mais estratégicos e tentado agradar aliados. Ela tem acompanhado em especial a situação de São Paulo e de Belo Horizonte. As duas cidades, a maior e a sexta do país em população, estão nas mãos de políticos não alinhados com o Planalto. Embora foque nos mineiros e cariocas, ela não se esqueceu de outras cidades.

O primeiro ato em favor de um candidato do PT foi a despedida do ex-ministro da Educação Fernando Haddad da pasta que comandava. A solenidade, no Salão Nobre do Palácio do Planalto, contou com a participação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e os ministros da Esplanada — exigência da própria Dilma. Foi a primeira vez que Lula pisou no Palácio do Planalto desde que havia começado o tratamento contra o câncer na laringe. Na data da cerimônia, fez as sessões de radioterapia antes de vir a Brasília e voltou no mesmo dia para prosseguir o tratamento. Tudo para prestigiar Haddad.

Em seu discurso, a presidente esqueceu das cobranças que fez a Haddad pelas falhas do Enem e elogiou o então pré-candidato. "Nenhum de nós pode ficar onde está, tem de ir além do seu momento. Então, cumprimento Fernando Haddad, fico feliz por ele e, ao mesmo tempo, fico infeliz porque se trata de um excepcional gestor público, de um grande educador e, além disso, de um amigo querido", fez questão de destacar.

O apoio não parou aí. Dilma ofereceu o Ministério da Pesca a Marcelo Crivella (PRB), partido de Celso Russomano que, a época, liderava as pesquisas à capital paulistana. Recentemente, ela visitou uma exposição em São Paulo ao lado do ex-ministro e de Lula.

Inauguração de obras

Outro artifício utilizado por Dilma foi a inauguração de obras em municípios aliados. Nos últimos dois dias permitidos pela legislação eleitoral, a presidente correu para inaugurar obras em São Bernardo do Campo, comandada pelo petista Luiz Marinho, e no Rio de Janeiro, do aliado peemedebista Eduardo Paes. Marinho é tido como uma possibilidade para o governo de São Paulo em 2014.

Em Belo Horizonte, Dilma inaugurou obras do Anel Viário e de creches na região metropolitana. Lá, a interferência da presidente foi mais dura e contou com um pedido pessoal ao vice Michel Temer para que fosse retirada a candidatura do deputado federal Leonardo Quintão. No lugar, o partido indicou Aloísio Vasconcelos, ex-presidente da Eletrobras, para vice na chapa com o ex-ministro Patrus Ananias (PT).

Os últimos movimentos da presidente foram os dois jantares, um na segunda-feira com Eduardo Campos e Cid Gomes, do PSB, e outro na terça-feira, com petistas na residência oficial do presidente da Câmara, Marco Maia. Nos dois encontros, Dilma reforçou que não quer disputas municipais prejudicando alianças nacionais.

Campanha não declarada

Apesar de afirmar por meio de interlocutores que não participará de campanha, a presidente tem se movimentado para garantir seus interesses e os do PT

Despedida de Haddad

O evento no Palácio do Planalto em que o candidato à prefeitura de São Paulo deixou o Ministério da Educação contou com a participção de Lula e com um discurso de Dilma recheado de elogios.

Ministério para o PRB

Também na tentativa de favorecer Haddad, Dilma nomeou Marcelo Crivella (PRB) ministro da Pesca. Seu correligionário Celso Russomano era apontado como o primeiro nas pesquisas em São Paulo.

Inauguração de obras

Enquanto as conversas ainda não eram definitivas, Dilma inaugurou obras no Recife e em Fortaleza para tentar criar consenso entre PT e PSB locais. A presidente também inaugurou obras em cidades comandadas por aliados candidatos à reeleição para prestigiá-los, como São Bernardo do Campo e Rio de Janeiro.

Articulação

Nos bastidores, Dilma tem mantido conversas com aliados para costurar apoios e alianças. Nessa semana, recebeu no Alvorada o presidente nacional do
PSB, Eduardo Campos.

Passe eleitoral restrito

Os ministros da Esplanada receberam sinal positivo da presidente Dilma Rousseff para fazerem campanha em seus estados, desde que fora do horário de expediente. No mesmo estilo de campanha velada, sem pedir votos diretamente, alguns ministros também aproveitaram inaugurações de obras para se projetarem e aparecerem junto a aliados.

O único que fez campanha abertamente até agora foi o ministro do Trabalho e Emprego, Brizola Neto, na última segunda-feira. Em São Paulo para participar do Congresso Nacional da Central Única dos Trabalhadores (CUT), Brizola Neto defendeu a candidatura do deputado federal Paulo Pereira da Silva (PDT), o Paulinho da Força, à prefeitura da cidade. "Como a presidente Dilma liberou os ministros para trabalharem em campanhas fora do horário comercial, estou aqui, deixando de ser um pouco ministro nessa hora de almoço, para ser o vice-presidente do PDT nacional e o cabo eleitoral do Paulinho da Força Sindical", afirmou.

O deputado se licenciou da Presidência da Força Sindical e tem se dedicado à campanha. "Aqui em São Paulo existe um preconceito de que trabalhador não ganha eleição. Tenho certeza de que o Paulinho vai vencer esse preconceito", defendeu Brizola Neto.

Outros ministros aproveitaram a agenda de inaugurações para se cacifarem na eleições. O titular da Saúde, Alexandre Padilha, de olho em uma possível candidatura ao governo de São Paulo em 2014, acompanhou a presidente Dilma Rousseff nas duas últimas inaugurações de Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) que foram feitas nos últimos dias permitidos pela legislação eleitoral, em São Bernardo do Campo (SP) e no Rio de Janeiro.

Em Santa Catarina, reduto eleitoral da ministra de Relações Institucionais, Ideli Salvatti, a presidente Dilma Rousseff deu início à construção da ponte da Cabeçuda para a travessia entre os lagos Imaruí e Santo Antônio dos Anjos, em Laguna. A obra, orçada em R$ 597 milhões, já havia sido questionada pelo Tribunal de Contas da União (TCU). Também estavam no evento parlamentares do estado e o ministro dos Transportes, Paulo Sérgio Passos. (JB)

Em São Paulo, existe um preconceito de que trabalhador não ganha eleição. Tenho certeza de que o Paulinho vai vencer esse preconceito" Brizola Neto, ministro do Trabalho

FONTE: CORREIO BRAZILIENSE

Maluf na pauta

Ao sair de um evento do candidato a vereador e ex-ministro Orlando Silva, Fernando Haddad se negou a comentar a situação do aliado pepista Paulo Maluf. Questionado sobre como lidaria com as ações que a prefeitura move para reaver o dinheiro que teria sido desviado pelo ex-prefeito, Haddad contestou. "Já respondi a isso ontem". Na próxima semana, a Justiça de Jersey, nos Estados Unidos, começará a julgar o pedido de repatriação de US$ 22 milhões que, segundo o Ministério Público, teriam sido desviados da construção da avenida Água Espraiada.

Na sexta-feira, Haddad disse que não via motivos para estigmatizar o PP, partido que, segundo ele, vem colaborando com o governo federal. "Acho um equívoco você estigmatizar um partido político. Todos os partidos que têm pessoas com qualquer tipo de suspeita têm que defender a apuração a todo custo", defendeu.

O final de semana na capital paulista vai ser dedicado a discutir mobilidade urbana na cidade. José Serra (PSDB), Fernando Haddad (PT) e Gabriel Chalita (PMDB) foram convidados pelas ONG"s Ciclocidade e Ciclo Br para fazer um passeio de bicicleta por São Paulo e assinar um documento se comprometendo com 10 propostas para o trânsito de ciclistas. Entre as demandas das instituições estão o aumento em 0,25% ao ano para o orçamento destinado à mobilidade de bicicletas e garantir a travessia segura de ciclistas.

Ontem foi a vez de Chalita e Serra. O candidato peemedebista percorreu três quilômetros do bairro de Higienópolis até seu comitê, no Vale do Anhangabaú, onde assinou o documento. Serra pedalou em Itaquera. Hoje, às 11h, será a vez de Haddad, que fará o trajeto da Avenida Paulista até o comitê de campanha. No próximo fim de semana, será a vez de Soninha Francine (PPS). Hoje Serra fará corpo a corpo no Pavilhão de Exposições Imigrantes. Ele visitará uma feira japonesa que está sendo realizada no local.

FONTE: CORREIO BRAZILIENSE

PSDB e PMDB buscam votos em áreas petistas

Candidato tucano, José Serra, e o concorrente peemedebista, Gabriel Chalita, lutam por 1,2 milhão de eleitores dessas regiões

Gustavo Uribe

SÃO PAULO - Com uma concentração de 1,9 milhão de eleitores, os redutos petistas da capital paulista se tornaram palco principal da disputa por votos na largada da campanha eleitoral deste ano. PSDB e PMDB decidiram focar em bairros onde o PT obteve vantagem nas urnas em 2004 e 2008, numa tentativa de abocanhar a parcela dos 1,2 milhão de votos do partido nessas regiões.

A estratégia maior de PSDB e PMDB é avançar sobre o patamar de 30% dos votos válidos que o PT costuma ter em toda a capital paulista. Em quatro dias de agenda pública, o tucano José Serra esteve duas vezes nas chamadas áreas vermelhas, enquanto o peemedebista Gabriel Chalita pisou três vezes em território petista.

Na primeira semana de campanha eleitoral, Serra fez caminhadas nos redutos petistas de Aricanduva e Jaraguá, regiões que, juntas, concentram 139 mil eleitores. Com 30% das intenções de votos, o ex-governador de São Paulo recebeu elogios e críticas de moradores locais, muitos deles eleitores do PT. Em corpo a corpo no Shopping Aricanduva, a professora Patrícia Evangelista, de 42 anos, queixou-se que a gestão do tucano "acabou" com o governo de São Paulo e uma garçonete de um estabelecimento comercial perguntou se José Serra era o candidato do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, cujo apoio, segundo ela, definirá o seu voto.

- A estratégia do PSDB é consolidar o tradicional eleitor do José Serra e buscar outros eleitores, de uma maneira ampla, sem dispensar nenhum deles - afirmou o coordenador-geral da campanha tucana, Edson Aparecido.

Em sua primeira disputa para um cargo majoritário, Gabriel Chalita estreou sua campanha eleitoral no Jardim Ângela, região onde o PT teve 68% dos votos válidos na última eleição. No dia seguinte, visitou o distrito de Grajaú, local onde a ex-prefeita Marta Suplicy teve 75% dos votos válidos contra o prefeito Gilberto Kassab. Com um eleitorado concentrado nos bairros mais nobres, o deputado federal tem trabalhado para ganhar capilaridade nas regiões de periferia, a maior parte delas reduto do PT.

- O primeiro desafio da campanha eleitoral é torná-lo conhecido da grande massa. As pesquisas internas mostram que o grau de conhecimento da população em relação a ele é menor nos bairros mais pobres, enquanto é maior nas regiões mais ricas e de classe média - observou Baleia Rossi, presidente estadual do PMDB.

FONTE: O GLOBO

PT tenta blindar avanço dos adversários

Para cientista político, é crucial que Haddad reconquiste votos petistas

SÃO PAULO. O PT, por sua vez, tenta blindar o avanço dos adversários com frequentes caminhadas de Fernando Haddad por essas regiões, mesmo sem a presença da senadora Marta Suplicy, considerada o mais forte cabo eleitoral na periferia. Sem o apoio de Marta Suplicy, Haddad tem recorrido a aliados com popularidade entre o grande eleitorado, como o cantor Netinho de Paula (PCdoB) e o ex-jogador de futebol Marcelinho Carioca (PSB).

Nesta primeira semana, ele visitou os redutos eleitorais de Itaim Paulista, Itaquera, São Miguel Paulista e Parque São Lucas que, juntos, renderam ao PT 190 mil votos no 2 turno da campanha eleitoral de 2008. No corpo a corpo, o ex-ministro petista teve de se apresentar formalmente a cada eleitor, uma vez que, para muitos deles, era um mero desconhecido.

- Eu votei no ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e vou votar no candidato dele. Mas não sei quem é ainda - contou a aposentada Armildes de Oliveira Silva, de 68 anos, moradora de São Miguel Paulista.

O professor de Sociologia e Política do Insper, Carlos Melo, observa nos movimentos do PSDB e PMDB tentativas de ocupar espaços típicos do PT, já que o grau de conhecimento de Haddad ainda é pequeno:

- O PT teve os 30% com candidatos que tiveram carreira política em São Paulo. Fernando Haddad, contudo, saiu da academia para ocupar cargos técnicos. É necessário trabalhar para garantir o patamar histórico. É essencial o candidato reconquistar os votos petistas - afirmou.

FONTE: O GLOBO

Simples e velha honestidade:: José de Souza Martins*

Alijados da sociedade, catadores que devolveram dinheiro achado retiveram como bem imaterial um antimoderno sentido da honra

Quando a honestidade surpreende e dela se desconfia é porque alguma coisa essencial está mudando na sociedade. É o que incita à compreensão sociológica dessa reação, suas ocultações e seus significados no recente caso da devolução, ao dono de um restaurante, dos R$ 20 mil que lhe foram roubados. O dinheiro fora achado por um casal de moradores de rua de São Paulo, o maranhense Rejaniel e a paranaense Sandra.

Já há um debate em relação ao suposto sentido do gesto dos dois moradores dos baixos de um viaduto do Tatuapé. Uns veem nele vontade de aparecer. Outros consideram trouxa o casal, pois "o achado não é roubado". Não poucos no gesto reconhecem a simples e velha honestidade, um valor de referência. Aliás, é por meio dela que a sociedade se reproduz e se preserva, regula e organiza a vida de todos, dos bem-intencionados e dos mal-intencionados, dos íntegros e também daqueles para os quais a honestidade já não é senão uma anomalia.

Vontade de aparecer é pouco provável, pois essa vontade é circunscrita a determinadas categorias sociais e depende de socialização específica. É própria da classe média, cuja cultura valoriza o parecer muito mais do que o propriamente ser. Quem procura parecer o que não é e mais do que é quase sempre se denuncia nos gestos impróprios e na inabilidade para manipular apropriadamente o código gestual que corresponde à aparência que pretende ostentar. Pessoas pobres sabem disso, mesmo quando imitam aquilo que não são. Os ricos também o sabem porque com facilidade identificam quem não pertence à categoria social dos que podem ostentar. As pessoas se traem nos desajustes da conduta.

Parecer traz identidade visual e o prestígio superficial da aparência, o que é característico da sociedade de consumo. Os dois moradores de rua, que são catadores de lixo reciclável, estão muito longe das fantasias consumistas da maioria e suas possibilidades de ostentação. São culturalmente incapazes de manipular os significados da aparência porque não têm como dela beneficiar-se.

Quanto a ser trouxas porque deixaram de apoderar-se do que não era seu, e do que claramente careciam, é algo improvável. Alguém que se apodere de uma quantia de dinheiro muito superior à sua capacidade de utilizá-la, mesmo dinheiro achado na rua ou no lixo, dificilmente poderá utilizar esse dinheiro na escala de suas carências acumuladas sem ser denunciado. A teia de regras e cautelas do mundo do consumo é vigilante e repressiva para que um pobre não se meta a ser o que não é. Não é improvável que o casal tenha levado isso em conta.

Mesmo que fosse a um restaurante para uma lauta refeição e matar a fome de uma vida, correria o risco de não ser servido e de despertar suspeitas. E, se pretensioso, mas prudente, pedisse uma garrafa de modesto vinho da terra, maior seria a suspeita. Pobre que é pobre toma água ou suco, dizem os vigilantes da conduta alheia. O que bem indica o que são as suspeitas que regulam as relações sociais. Todos somos devidamente observados todo o tempo por todos. O político que foi visto com amigos num restaurante com dois Romanée Conti, um vinho de US$ 6 mil a garrafa, já despertou suspeitas. Imagine-se o morador de rua servindo-se de modestíssimo vinho local. Para entrar no restaurante, teria antes que comprar os trajes apropriados à transitória escala de ascensão social que R$ 20 mil permitem. Em condições assim, dinheiro achado é inútil.

O gesto do casal repercutiu no Brasil e foi, no geral, bem-vindo como indício de que nem tudo está perdido, no mesmo momento em que na própria estrutura de poder a anomalia da corrupção compromete o sentido democrático da vida política. O gesto, aliás, não é novo nem raro. São frequentes casos semelhantes de dinheiro alheio achado e devolvido ao dono desconhecido de quem o acha, geralmente por meio da polícia.

O homem que achou o dinheiro declarou que gostaria que sua mãe o visse agora, pois ela se orgulharia dele. Eis a questão. Lançado para a margem da sociedade, reteve, como um bem pessoal e imaterial que é, o antimoderno sentido da honra. Por incrível que pareça, a maioria das pessoas é honrada e faz parte dessa imensa massa invisível dos não notados. Um trabalhador dedicado ao seu trabalho, ou um professor devotado ao ensino e à formação de seus alunos, terá pouquíssima chance de ser aplaudido, mesmo por quem de seu trabalho se beneficia. No entanto, eles têm o que lhes basta como nutrição moral: o sentido da honra e a honestidade. Já não se fala disso, mas os sociólogos sabem que uma das carências humanas destes tempos de liquefação dos valores é a da honradez e da honestidade, o alimento que sacia os que não foram vencidos, os que se mantiveram antiquadamente honestos.

*José de Souza Martins é sociólogo, professor emérito da Faculdade de Filosofia da USP e autor, entre outros, de A sociabilidade do homem simples (Contexto)

FONTE: ALIÁS / O ESTADO DE S. PAULO