segunda-feira, 10 de setembro de 2012

OPINIÃO DO DIA – Dora Kramer: ‘o mensalão maculou a República’ (XXXVI)

Como bem reiteraram alguns ministros na sessão de quinta-feira na defesa do tribunal como guardião e garantidor da Constituição, o STF não retrocede.

Antes contribui para que o Brasil evolua e almeje ser um País onde a aplicação da lei não fique refém do cinismo que, sob o argumento da legalidade estrita, presta serviço à impunidade.

O Supremo vai fazendo muito mais que condenar. Vai dando um aviso aos navegantes da vida política e adjacências para que andem devagar com os respectivos andores, porque os santos não precisam ser de barro para se quebrar.

Podem ser de ouro, podem integrar um governo popular, podem contar com o benefício da desinformação do eleitor, podem pagar fortunas a medalhões da advocacia.

Podem ter base social, podem ter abrigo na intelectualidade, podem ter base de sustentação parlamentar, podem agir sob o guarda-chuva de uma figura de grande apelo popular, podem muito e algo mais.

Só não podem esperar que a Corte Suprema dê as costas à Constituição para servir de avalista a um projeto de poder fundado nos alicerces da ilegalidade.

Dora Kramer, jornalista. Aos amigos e inimigos. O Estado de S. Paulo, 9/9/2012

Manchetes de alguns dos principais jornais do Brasil

O GLOBO
Queixas contra operadoras de celular somam 843 mil
Mandato político, assunto de família
Traficantes atacam cabos eleitorais

FOLHA DE S. PAULO
França corta previsão do PIB e anuncia mais imposto
Entrevista da 2ª: Márlon Reis
STF começa a julgar crimes de lavagem de dinheiro
Redução em pesquisas fez PUC-SP descer em ranking

O ESTADO DE S. PAULO
Governo quer fundo de pensão para Estados e municípios
Conta de luz menor facilita alta no preço da gasolina
Pressionado por Russomanno, Haddad procura evangélicos
Estado demolirá mais 7 mil casas na Serra do Mar
AGU mostra que Valério agia no BC pelo Banco Rural

VALOR ECONÔMICO
Subsídios aumentam 30% com estímulos à economia
Desoneração impulsiona calçados e vestuário
Corte do preço da energia varia conforme consumo
Petrobras busca parceiro no exterior

BRASIL ECONÔMICO
Maior controle no mercado livre de energia vai aumentar os preços
Governo quer arrendar áreas em seus portos
Santa Catarina pede subsídio para o milho

CORREIO BRAZILIENSE
85% no Senado, 64% na Câmara ganham acima de R$ 20 mil
Cúpula do PT será julgada no período das eleições
Financiamento da educação em debate

ESTADO DE MINAS
Sete propostas para a volta da sacolinha
Preço subirá com energia elétrica mais barata
Tucano lidera na pesquisa em Betim
Obras em BRs mineiras sob suspeita do TCU

ZERO HORA (RS)
Indústrias retomam contratações no RS

JORNAL DO COMMERCIO (PE)
Energia baixa, mas gasolina pode subir
Carência de médico ainda é grande

STF começa a julgar crimes de lavagem de dinheiro

STF deve condenar cúpula do Rural e Valério por lavagem

Réus com menos poder de decisão ou com pouco conhecimento do mensalão devem ser absolvidos

Segundo ministros, a acusação foi precisa ao descrever a estrutura do esquema; os acusados negam a prática do crime

Felipe Seligman, Flávio Ferreira

BRASÍLIA - O STF (Supremo Tribunal Federal) começa hoje o terceiro capítulo do julgamento do mensalão e deverá considerar que dirigentes do Banco Rural e integrantes das agências do empresário Marcos Valério cometeram crime de lavagem de dinheiro com o objetivo de ocultar os verdadeiros beneficiários.

Ministros ouvidos pela Folha afirmaram que a tendência é pelo reconhecimento de que o crime de fato aconteceu, mas com grande probabilidade de absolvição de personagens com menor poder decisório ou pouco conhecimento do mensalão.

O tribunal continuará analisando as condutas do chamado "núcleo financeiro", composto por Kátia Rabello, José Roberto Salgado, Vinícius Samarane e Ayanna Tenório. Também julgará o papel do empresário Marcos Valério, seus sócios e funcionários, em relação aos valores que foram entregues a agentes políticos e assessores.

Até o final da semana, o Supremo avaliará a veracidade da acusação da Procuradoria-Geral da República sobre como o Rural e a SMPB, empresa de Valério, agiram para esconder o destino final dos recursos desviados.

Segundo a denúncia, a SMPB emitia cheque em que constava ela própria como beneficiária. O Rural era então informado por funcionários da agência sobre a real identidade do sacador.

Em vez de especificar ao Banco Central quem de fato recebeu os recursos, diz a acusação, o banco afirmava que o destinatário final era a SMPB, como suposto "pagamento de fornecedores".

Origem do dinheiro

Após mais de um mês de julgamento, o STF já afirmou que recursos públicos foram desviados da Câmara e, principalmente, do Banco do Brasil, e que os empréstimos do Rural ao PT e às empresas de Valério eram fraudados.

Para a corte, resta agora analisar a veracidade das acusações feitas pela Procuradoria sobre os objetivos da distribuição dos recursos.

Integrantes do tribunal avaliam que o Ministério Público descreveu "com precisão" a estrutura de lavagem de dinheiro relativa ao Rural e à SMPB. Na semana passada, o ministro Luiz Fux chegou a adiantar posicionamento, dizendo que foi montada uma "verdadeira lavanderia de dinheiro".

O Rural nega as irregularidades e diz que os empréstimos eram reais. Argumenta também que sempre avisou o governo sobre os saques.

Os réus ligados à SMPB também negam a prática de crime. O advogado do empresário diz apenas que os recursos tinham como destinação o pagamento de dívidas de campanhas eleitorais.

Do ponto de vista técnico, as decisões condenatórias criaram o pressuposto jurídico (crime antecedente, no jargão do direito) para punições pelo crime.

Alguns pontos da discussão sobre este capítulo devem servir para outros acusados. Dos 38 réus, 33 são acusados de lavagem de dinheiro.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

Cúpula do PT será julgada no período das eleições

José Dirceu, Delúbio Soares e José Genoino irão a julgamento no Supremo Tribunal Federal (STF) precisamente no momento da escolha dos prefeitos municipais. Os estrategistas do PT já emitiram a ordem para tentar deixar claro aos eleitores que os candidatos não têm nenhum relação com o processo.

Os 30 dias que abalarão o PT

Integrantes da cúpula do partido, Dirceu, Delúbio e Genoino serão julgados pelo Supremo na fase decisiva da campanha eleitoral nas maiores cidades do país, deixando petistas em risco.

Denise Rothenburg, Helena Mader

Os petistas fizeram as contas e descobriram que a cúpula do partido corre o risco de ficar sob os holofotes no julgamento da Ação Penal 470 no Supremo Tribunal Federal (STF) justamente no momento de escolha dos prefeitos municipais ou, na pior das hipóteses, na passagem para o segundo turno. "Achamos que isso vai interferir na eleição, mas há um sentimento no PT de que José Dirceu e José Genoino não serão penalizados, uma vez que Delúbio Soares assumiu a responsabilidade", diz o deputado Paulo Teixeira (PT-SP), que ontem participou de uma carreata do candidato à prefeitura de São Paulo Fernando Haddad.

Esta semana continuarão em evidência a parte mais técnica e os réus menos conhecidos, uma vez que estará em alta a lavagem de dinheiro. Nos últimos 10 dias de campanha, começará o julgamento dos políticos (leia quadro nesta página), aumentando a ansiedade de um PT hoje dividido entre os mais otimistas, como Paulo Texeira, e os pessimistas, caso do próprio ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Pelo histórico do julgamento até agora, os estrategistas do partido decidiram não contar apenas com a "sorte" da não condenação de Genoino ou Dirceu para respirar melhor nessa temporada eleitoral. A ordem é separar as estações, tratar de deixar claro aos eleitores que os candidatos não têm relação com o processo. "O PT tem história e não pode ser julgado apenas pela ação penal. As pessoas que respondem ao processo têm CPF e não CNPJ", comentou dia desses o secretário de Comunicação do partido, André Vargas (PT-PR), quando saía de uma reunião da cúpula partidária sobre eleições.

Essa avaliação foi inclusive repetida na reunião entre o ex-presidente Lula e a presidente Dilma Rousseff na semana passada. No núcleo do PT, há a convicção de que a data do julgamento foi escolhida a dedo justamente para deixar o partido na berlinda durante as eleições municipais. E, para completar, veio a votação fatiada do processo, que ajuda a colocar os petistas à beira do cadafalso na hora em que os eleitores estiverem atentos ao cenário político — algo que torna mais difícil separar as estações, especialmente, nas capitais, onde os adversários do PT começam a citar o mensalão.

A orientação para esses casos é não perder muito tempo respondendo a esses ataques e centrar o foco nos problemas municipais de saúde, educação, transporte e segurança. Em São Paulo, por exemplo, o programa de Fernando Haddad tem tratado dos temas de interesse direto para a vida das pessoas, além é claro de ataques enviesados a José Serra (PSDB), ao citar um governo de quatro anos (Serra ficou apenas dois anos e largou a prefeitura para concorrer ao governo do estado, em 2006, quando Geraldo Alckmin foi candidato a presidente).

O problema é que isso não tem servido para alavancar os candidatos do PT em outras capitais. A sensação da cúpula petista é a de que o partido terá melhor performance no interior, onde o noticiário do mensalão não tem o menor efeito, ou na periferia, em que os programas sociais, geralmente associados ao governo federal, surtem mais efeito na vida das pessoas.

Genoino e Delúbio: partido tentará deixar os envolvidos do mensalão fora do debate eleitoral

"Tenho andado pela minha periferia de São Paulo. Essa história de mensalão não tem o menor efeito. Não tem plano A, B ou C. Vamos jogar com a massa que sabe que o Brasil melhorou, está empregada, ganhando melhor. Vem aí a redução do preço da energia, ou seja, as coisas estão funcionando, e é isso que o eleitor deseja", comenta o deputado Devanir Ribeiro (PT-SP). "O PT sempre cresceu na adversidade. Esse julgamento agora, que é mais político do que técnico, é mais uma, e estamos enfrentando de cabeça erguida", completa Devanir.

Ausência

Diante de um cenário tão difícil como o traçado nas últimas reuniões dos réus do processo e também da cúpula do PT, veio outra notícia para deixar os petistas ainda mais preocupados: a crise de garganta de Lula, que impede o ex-presidente, recém-curado de um câncer, de participar dos comícios petistas pelo Brasil afora. Lula é o que PT tem de mais eficaz no diálogo direto com o eleitor. Venceu a Presidência da República em 2006, pouco depois do estouro do escândalo do mensalão. Sem Lula, o jeito será contar com a participação de Dilma em algumas capitais importantes, nem que seja apenas de passagem ainda no primeiro turno.

Quanto aos réus do processo, a avaliação do PT é a de que, desde a condenação de João Paulo Cunha, eles estão fora da cena eleitoral. E agora não é momento de manifestações públicas a respeito de resultados do julgamento. O foco do partido é a eleição municipal e os problemas das cidades, e o mensalão não é considerado uma dessas mazelas. Portanto, o partido fará tudo o que puder para deixar esse tema fora dos debates eleitorais. Falta combinar com os adversários.

"O PT sempre cresceu na adversidade, esse julgamento agora, que é mais político do que técnico, é mais uma, e estamos enfrentando de cabeça erguida",  Devanir Ribeiro (PT-SP), deputado federal

FONTE: CORREIO BRAZILIENSE

Crime de lavagem de dinheiro entra na ordem do dia do STF

Debate abrirá caminho para condenar quem sacou dinheiro vivo

Carolina Brígido

BRASÍLIA Mais de um mês após o início do julgamento do mensalão, os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) começarão a analisar hoje o capítulo que trata do esquema montado por Marcos Valério e os dirigentes do Banco Rural para abastecer políticos da base do governo Lula. Numa espécie de prefácio aos saques feitos por políticos e seus assessores entre 2003 e 2004, o item 4 da denúncia enquadra dez réus no crime de lavagem de dinheiro.

Na lista estão Valério, seus dois sócios na SMP&B, o advogado Rogério Tolentino, a ex-diretora da agência de publicidade Simone Vasconcelos e a secretária Geiza Dias, além de quatro ex-dirigentes do Rural. Se os acusados forem condenados, os ministros abrem caminho para fazer o mesmo em relação aos políticos que foram à boca do caixa do Rural receber dinheiro do valerioduto. O relator, Joaquim Barbosa, deve concluir seu voto ainda hoje.

Nesse item, os ministros vão analisar provas sobre a origem e o destino do dinheiro, esclarecendo se o STF concorda com a versão do Ministério Público de que existiu, de fato, o mensalão. Segundo a denúncia, houve saques nas agências do Rural em Brasília, São Paulo e Rio para beneficiar deputados à pedido da cúpula do PT. Valério e o Banco Rural criaram artifícios com o intuito de ocultar a verdadeira identidade dos beneficiários do dinheiro.

De acordo com documentos inseridos no processo, o Rural informou ao Banco Central que os saques destinavam-se ao pagamento de fornecedores da SMP&B. Se seguir seu entendimento de 2007, quando votou pela abertura de ação penal, Barbosa vai condená-los.

- O Banco Rural escondeu a identidade dos verdadeiros beneficiários, informando falsamente ao Banco Central que os valores movimentados destinavam-se ao pagamento de fornecedores da SMPB - disse ele, na ocasião.

Também em 2007, Barbosa afirmou que a contabilidade das empresas de Valério eram totalmente adulteradas, dando margem a dissimulações de origem e destino de recursos.

- Há indícios de ocultação e dissimulação da movimentação e propriedade de valores, supostamente arquitetadas pelo núcleo publicitário, juntamente com o Banco Rural, que teria viabilizado os repasses de grande volume de dinheiro, em espécie, sem qualquer tipo de registro formal.

Um indício apontado por Barbosa contra os dirigentes do Rural no voto de 2007 foi o fato de que os cheques liberados pela SMP&B em Belo Horizonte eram nominais à própria empresa. No entanto, outras pessoas sacavam as quantias na boca do caixa, em agências de outros estados.

- Ou seja, os denunciados conheciam o beneficiário final dos recursos sacados na boca do caixa das contas de Marcos Valério - disse o ministro.

Em seguida, falará o revisor, Ricardo Lewandowski. A expectativa é de que o voto dele seja longo, pois costuma individualizar a situação de cada réu. Só depois será aberta a votação para os demais ministros da Corte. O plenário já condenou dois réus por lavagem de dinheiro: o ex-presidente da Câmara dos Deputados João Paulo Cunha (PT-SP) e o ex-diretor de marketing do Banco do Brasil Henrique Pizzolato.

FONTE: O GLOBO

AGU mostra que Valério agia no BC pelo Banco Rural

Documentos liberados pela Advocacia Geral da União (AGU) demonstram como o empresário Marcos Valério transitava com desenvoltura pelos gabinetes do Banco Central para ajudar o Banco Rural.

Papéis da AGU mostram Valério agindo pelo Rural

Documentos obtidos pelo "Estado" revelam que réu do mensalão circulava à vontade no Banco Central para defender instituição

Alana Rizzo

BRASÍLIA - Documentos liberados pela Advocacia-Geral da União demonstram como o empresário Marcos Valério transitava com desenvoltura pelos gabinetes do Banco Central para ajudar o Banco Rural. Os papéis, obtidos pelo Estado, revelam que a direção da instituição financeira usava o bom relacionamento de Valério na promoção de seus interesses, como apontou a ministra Rosa Weber em seu voto na última quinta-feira.

Esta semana, o Rural volta a ser o centro das atenções no julgamento do mensalão pelo Supremo Tribunal Federal: o relator Joaquim Barbosa começa hoje a tratar das operações de lavagem de dinheiro que envolveriam o banco. Os documentos indicam, ainda, que a gestão do hoje ministro Dias Toffoli (2007 -2009) na AGU identificou o alcance das irregularidades praticadas por Valério.

Os papéis fazem parte de um dos processos administrativos instaurados contra o ex-procurador da Fazenda Nacional Glênio Guedes, demitido em 2007 por exercício de advocacia privada. A investigação até então sigilosa está em 17 caixas e contém documentos e pareceres do Ministério da Fazenda, do Ministério Público Federal, da Polícia Federal e da própria AGU.

Para os advogados da União, Valério e Rogério Tolentino, réus no mensalão, uniram-se ao procurador para influenciar no resultado de decisões do Conselho de Recursos do Sistema Financeiro Nacional (CRSFN) relativas a instituições com as quais mantinham relacionamento. Entre elas, o Banco Rural.

A Comissão Disciplinar cruzou dados de entrada e saída de Marcos Valério nas dependências do BC com votações, no Conselhinho (como é conhecido o CRSFN), de processos de interesse do Rural e com pareceres elaborados pelo ex-procurador. Também destaca o relacionamento do empresário com o servidor do Banco Central Antônio Carlos Vieira.

Segundo os documentos, a ação de Valério influenciou o julgamento de pelo menos três recursos do Rural no Conselhinho. "O resultado do julgamento do recurso foi o arquivamento da sanção pecuniária aplicada ao Rural e o cancelamento da penalidade de inabilitação temporária aplicada aos diretores da instituição financeira, sendo esta sempre a penalidade mais temida pelos jurisdicionados do conselho", destaca a investigação da AGU no caso do recurso 4.369, impetrado pelo Rural.

Conselhinho. Formado por representantes do governo e da iniciativa privada, o Conselhinho atua como uma espécie de tribunal de segunda instância na área administrativa, julgando apelações contra multas e punições aplicadas pelo BC, pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e pela Secretaria de Comércio Exterior (Secex). Tido como órgão técnico e especializado, ele raramente tem suas decisões derrubadas na Justiça - o que fez dele, nos últimos anos, a palavra final sobre irregularidades de instituições financeiras, corretoras e investidores.

Agenda. Incorporado ao processo, relatório do Ministério da Fazenda aponta que Valério esteve 13 vezes na sede do Banco Central em Brasília e quatro em São Paulo. "Não obstante seja de notório conhecimento o fato de o empresário Marcos Valério representar interesses do Banco Rural em diversas áreas, foi ele mesmo a declarar à comissão ter estado no Banco para defender interesses daquele Banco junto à diretoria de fiscalização, setor de liquidação e jurídico," diz o documento, referindo-se também ao "alto prestígio" da atuação do grupo de Valério no BC e no Conselhinho.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Joaquim é o alvo - Ricardo Noblat

A Presidência da República não muda quem você é. Revela quem você é. Michelle Obama, 1ª dama dos EUA

O Partido da Imprensa Governista (PIG) começou a descer o pau no ministro Joaquim Barbosa, relator do processo do mensalão. O PIG é parente da imprensa chapa branca que sobrevive da caridade oficial. Basicamente, é o conjunto de blogs, sites e portais que serve ao governo e aos partidos que o apoiam. Trata-se de mais um aspecto da herança pesada deixada por Lula para Dilma, por mais que ela negue.

Por que Joaquim virou alvo de malhação? Porque o desempenho dele até aqui desagrada ao PT. Porque ele deve a Lula sua nomeação para o Supremo Tribunal Federal (STF) e, no entanto, atua com a independência que se espera de todo juiz. Registre-se por dever de ofício: ele e outros ministros indicados por Lula e Dilma.

Naturalmente o PIG está impedido de expor com clareza as razões de sua revolta contra Joaquim. Seria insensato fazê-lo. Correria o risco de perder seus poucos leitores tamanho é o prestígio de Joaquim nas chamadas redes sociais. Ali ele virou uma espécie de anjo vingador. Um anjo preto, zangado, irritadiço e sempre à beira de um ataque de nervos.

Sem audiência, para quê sustentar o PIG? Só para que continuasse a disseminar intrigas durante períodos eleitorais? Para que funcionasse como laboratório onde se testam palavras de ordem? Ou para que seguisse defendendo aliados do governo? Collor, Sarney, Renan — toda essa gente conta com a ajuda do PIG quando se lhe apertam os calos. Sem utilidade, adeus patrocínio!

O PIG argumenta que Joaquim está sendo muito rigoroso com os réus do mensalão. Como se rigor fosse um exagero e a condescendência o mais aconselhável. Não ria: membro mais afoito e mais bem remunerado do PIG comparou Joaquim com inquisidores da Idade Média que torturaram e mataram. Seria o nosso Torquemada!

No fim do século XV, na Espanha, o dominicano Tomás de Torquemada, promovido a inquisidor-geral pelo papa Inocêncio VIII, recomendava parafusos nos polegares dos heréticos enquanto rezava contrito e baixinho pela salvação de suas almas. Se Joaquim procede como ele, o STF virou o endereço nobre e espaçoso dos novos inquisidores.

Sim, porque Joaquim não julga sozinho. Na última segunda-feira, por exemplo, ele condenou Ayanna Tenório, uma das diretoras do Banco Rural, o financiador de parte do mensalão. E aí? Aí que Ayanna acabou absolvida por 9 votos contra um. Ninguém no STF é voto de cabresto de ninguém. Um homem, um voto. De resto...

De resto que as decisões do STF no processo do mensalão estão sendo tomadas por larga maioria de votos. É isso, e apenas isso o que está tornando possível até agora o próprio julgamento. O julgamento mais longo e complexo da história da Corte Suprema. Que não tem data para terminar. E que não se sabe como terminará.

Em dezembro de 2005, quando ficou pronto o relatório da CPI dos Correios que apurou o esquema do mensalão, Lula se recusou a lê-lo. Disse que só lhe interessava a palavra final da Justiça. Depois se antecipou à Justiça e decretou que o mensalão não passara de uma farsa. Delúbio Soares preferiu chamá-lo de "piada de salão".

Joaquim Torquemada e sua equipe de torturadores já concluíram que de farsa o mensalão nada teve. Assim como também nada teve de engraçado. A prática de corrupção entre nós não cessará com a condenação dos réus do mensalão. A impunidade, talvez, a depender da força da bordoada que acabe levando.

FONTE: O GLOBO

Mais barulho do que história - Wilson Figueiredo

É, no máximo, inócuo dizer que o Brasil não será o mesmo depois que se assentar a poeira levantada pelo julgamento do pessoal que encenou o mensalão como espetáculo do gênero rouba mas faz. Assim tem sido, mas a oportunidade, desta vez, confirmará que já é possível dar tratamento digno ao frustrante sentimento coletivo.

A carta com que Lula se ofereceu ao povo brasileiro, depois de três insucessos nas urnas, tinha como destinatário o público seleto, que temia a chegada do PT ao poder. A classe média fazia parte da maioria que lhe barrou o acesso ao poder ao custo de três derrotas. E o que se soube, por intermédio do mensalão virado pelo avesso, ofuscou o sentido social que enfeitou os mandatos de Lula. Foi mal contado o que se passou realmente.

Faltou a Lula, para botar debaixo do braço a classe média, a capacidade de dividir equitativamente, com os seus antecessores, o saldo acumulado com que a democracia passou a contar pela soma dos governos a partir da derrubada da República Velha em 1930. Não foi capaz de perceber que a urbanização acelerada fez da classe média o lastro de uma democracia inevitável. Dissipou tempo valioso no jogo da cabra cega com o terceiro mandato e consolidou as suspeitas de tentar suceder-se indefinidamente. Lula faz mais barulho do que história. .

O Século 20 deixou saldo insuficiente, mas legou ao Século 21 herança sem esperança, tecida com os mesmos fios que revestiram de sentido social o Estado Novo, respeitado sob a Constituição de 1946 e sem atender às necessidades decorrentes da industrialização do país agrário.O direito de greve continuou a intimidar a numerosa parcela social que se contenta em ter na Constituição o direito de greve, como se fosse suficiente existir mais no papel. .

Pelo que o julgamento do mensalão encaminha, o que se entende efetivamente por classe média vive seu momento, digamos histórico, no país em que a história se repete por falta de convicção para deixá-la experimentar. O saldo político do Brasil no Século 20 tanto favoreceu a democracia quanto abonou as duas ditaduras - o Estado Novo e os governos militares - que com ela se revezaram.

Pois é com os valores da cidadania que, entre a aspiração coletiva de melhoria e a possibilidade de retroceder socialmente, a democracia viabiliza a estabilidade social e pratica a normalidade política.

A classe média não passava, socialmente, de hipótese sem condições para assumir função definida e viabilizada, no Brasil, ao longo do Século 20. Desde a liquidação da República Velha, recusava desafios e riscos. Retraía-se para não ser confundida com os níveis inferiores de remuneração (em escritórios e repartições púbicas, ou no balcão de lojas comerciais). Classe média é, antes de tudo, estado de espírito. E estava historicamente limitada a uma presença política menor, por falta de densidade social e sem peso eleitoral (pela ausência de eleições). A alfabetização era socialmente restrita e os números desanimadores. E o direito de voto excluía os analfabetos, com forte presença nos recenseamentos de caráter nacional, na segunda metade do Século 20.

O brasileiro ainda não se convenceu de que o julgamento do mensalão poderá reduzir a impunidade que sobrevive graças ao atraso político geral, mas sem a garantia de que a história se repita como privilégio. O mensalão é apenas um episódio relativo ao salve-se, politicamente, quem puder. O ciclo da impunidade entrou em declínio. A oportunidade do julgamento do mensalão apresenta a memória dos fatos e, principalmente, a classe média propriamente dita dá sinais de estar ciente da oportunidade de desempenhar a função de coro grego na montagem da peça. A expectativa contrafeita merece mais do que está em cena. Com a palavra, a eleição municipal.

FONTE: JORNAL DO BRASIL

Severino Teodoro de Mello, 95 anos – da rebelião de 1935 à luta democrática

No próximo dia 15 (sábado), Severino Theodoro de Mello estará completando 95 anos de praticamente toda uma vida de muito combate em prol das grandes causas da humanidade.

Os amigos e companheiros deste que talvez seja o último dos vivos dentre os que participaram das rebeliões de 1935 estão organizando um almoço, naquela data, a partir do meio-dia, na Churrascaria Gaucha (Rua das Laranjeiras, 114, Rio de Janeiro, tel. 21-25582558, email: gaucha114@hotmail.com), para comemorar tão importante data.

Veja mais sobre Mello no artigo, abaixo, de Ivan Alves Filho

O revolucionário total. Ou a força da coerência - Ivan Alves Filho

Insurreto em novembro de 1935, o que viria a lhe custar quase sete anos de cadeia nas masmorras do Estado Novo, Mello sempre fez uma análise penetrante do movimento aliancista. Mesmo mantendo uma atitude crítica no tocante à ação da ANL e do PCB, ele destacou, contudo, o caráter de classe, popular, da insurreição aliancista, razão maior do repúdio das camadas dominantes ao movimento.

Com a autoridade de quem contribuiu para reerguer o PCB após a redemocratização de 1945 (ele contou certa vez que havia pouco mais de mil comunistas organizados em todo o país por essa época). Mello apontou as novas dificuldades que a militância teve de enfrentar, em um contexto marcado pela Guerra Fria. Segundo ele, seria impossível entender os posicionamentos políticos dos comunistas sem situá-los historicamente. E lembra a importância do contexto internacional nas tomadas de posição dos comunistas brasileiros.

Homem do chamado aparelho comunista, Teodoro de Mello conviveu, como nenhum outro dirigente do Partido, com Luiz Carlos Prestes, o Cavaleiro da Esperança. Ele era, inclusive, responsável pela segurança pessoal do legendário secretário-geral do PCB, morando com Prestes durante anos a fio, driblando sempre as forças da repressão.

Mello vivenciou praticamente todas as viradas históricas do PCB. Senão vejamos. Em 1950, estava ao lado de Prestes, com ele dividindo o mesmo aparelho, quando da redação do Manifesto de Agosto, que conclamava o povo à luta armada, pouco antes da eleição e posse de Getúlio Vargas. No final do ano seguinte, por decisão do Comitê Central, Mello viajaria a Belém do Pará, para entrar em contato com as operárias da indústria têxtil local, então em greve. Ocorre que em Belém as operárias getulistas procuraram as operárias comunistas para selar uma aliança. Um fato absolutamente novo e significativo.

Ao retornar de sua viagem, Mello relatou o acontecido à direção do Partido. Sem dúvida, o movimento grevista de Belém abriu os olhos dos comunistas para a necessidade de realização de alianças com aquela parte da classe trabalhadora influenciada pelo getulismo mas engajada na luta reivindicatória contra os patrões. A partir daí, o PCB começou a rever, ainda que timidamente, de início, as suas relações com o PTB. Não deu outra: as bases sindicais comunistas acabaram alterando os rumos por demais estreitos da direção partidária. O PCB começaria então a se abrir, pondo o sectarismo de lado, retomando uma de suas principais características: a política de alianças, esboçada lá atrás, desde os tempos do Bloco Operário e Camponês, no final dos anos 20.

Pouco depois desse episódio do Pará, Teodoro de Mello partiria para Moscou, onde cursaria a Escola de Quadros do PCUS. Eram os tempos conturbados do fim do stalinismo. De retorno ao Brasil, após dois anos de afastamento, recebe a tarefa de organizar o PCB no interior de São Paulo. Com Giocondo Dias, Carlos Marighella e outros camaradas, viveu a crise tremenda do culto à personalidade, deslanchada pelas denúncias contidas no Relatório Kruschev. Mello não hesitou em apoiar então a Declaração de Março de 1958, verdadeiro divisor de águas na história do PCB. Com base nela, o PCB começaria a incorporar ao seu ideário político a democracia como valor estratégico (e não apenas tático) na luta pela superação da ordem capitalista.

Após o Golpe de 64, Mello não se desesperou. Impossível que não tenha tido lá seus momentos de angústia, como tantos outros revolucionários à época, mas não se abateu a ponto de perder a calma política. Pelo contrário. Tentou até persuadir velhos companheiros, como Carlos Marighella, a evitar o caminho do confronto armado com a ditadura. Calejado nos embates militares, Mello tinha a convicção de que a ditadura seria derrotada pelo movimento de massas e não derrubada pela força das armas. Na sua visão, o Partido não deveria enfrentar o regime onde ele era forte - no campo militar, justamente - e, aí sim, onde ele revelava a sua fraqueza - isto é, no terreno político.

Responsável, uma vez mais, pelo aparelho de Luiz Carlos Prestes (com quem fugiria no dia mesmo do Golpe), Mello se integrou à frente de resistência democrática. Participou da reestruturação do PCB no Nordeste do país e atuou no trabalho de fronteira, salvando a vida de muitos companheiros perseguidos pela ditadura. Passou cerca de doze anos na mais absoluta clandestinidade, até poder deixar o Brasil. Destino: União Soviética, onde comporia, com Prestes, o secretariado do PCB no exílio. Depois, iria viver na França, ganhando o Brasil com a anistia de 1979.

Teodoro de Mello teria, ainda, um papel fundamental na crise que opôs Prestes e a maioria do Comitê Central do PCB. Com o fim da ditadura militar, assume um lugar na Comissão Executiva do Partido. A tarefa da época - assegurar a transição democrática, com a plena legalidade para os comunistas - foi vitoriosa.

Em 1992, logo após o desmoronamento da antiga União Soviética, Mello apóia resolutamente a transformação do PCB em PPS. Ajudou a mudar o Partido, mas nunca mudou de Partido: Teodoro de Mello ainda foi membro da Direção Nacional do PPS, reconduzido que foi pelos delegados do XIV Congresso, de 2004. E, ainda, hoje, aos 95 anos de idade, permanece fiel àl egenda.Com exceção da secretaria-geral, ocupou todos os postos políticos na direção do Partido.

Afinal, são mais de 75 anos de luta partidária. E de luta pela vida. Menino ainda, Mello teve de trabalhar para ajudar no sustento da família, no interior de um Nordeste tão castigado pelas secas quanto o era pelo coronelismo.

De uma lucidez política impressionante, extremamente modesto, estudioso (como não se recordar de sua sala na sede do Comitê Central do PCB, no início dos anos 80, com pilhas e mais pilhas de livros e recortes de jornais sobre a sua mesa de trabalho...), Severino Teodoro de Mello encarna aquilo que o PCB tem de melhor. Sua dedicação e candura chegam a ser comoventes. A trajetória humana de Teodoro de Mello força a admiração.

Com Giocondo Dias, Antônio Ribeiro Granja, Salomão Malina e Adalberto Timóteo da Costa, Severino Teodoro de Mello compunha a espinha dorsal do comunismo brasileiro, essa Inconfidência do século XX. E deixou sucessores na organização do Partido: Marco Antonio Coelho, Jayme Miranda, Paulo Elisiário Nunes e Francisco Inácio de Almeida foram alguns deles.

A grande lição de Severino Teodoro de Mello? Demonstrar que o PCB, apesar das inúmeras dificuldades que enfrentou desde a sua fundação, em 1922, foi o partido que mais contribuiu para que os brasileiros conhecessem de fato o seu país. Organizando os trabalhadores, lutando pela ampliação da democracia, reunindo as forças da cultura, o PCB fez História no Brasil. E isso decididamente não é pouco.

Mellinho, que está completando neste dia 15 de setembro 95 anos de vida, nunca perde a esperança, pois traz no peito a paixão pela liberdade.

O paralelogramo universitário – Renato Lessa

Na universidade da greve, qualquer arranjo em que o topo seja menor que a base e admita distinções é visto como "aristocrático"

Começo com um truísmo: há muitas formas possíveis de interpretar a ação humana, categoria maior à qual, por princípio, vincula-se tudo aquilo que fazemos. Se a máxima para tudo vale, vale também para a greve que se abateu sobre as universidades federais brasileiras, desde maio, ainda que haja pretensões à exceção na matéria.

Há ângulos e ênfases interpretativos que se impõem como a força de evidências: a expansão descoordenada e voluntarista da universidade pública federal nos últimos anos, não acompanhada da criação de bases logísticas mínimas para suportá-la, o que faz da queixa pela precariedade de laboratórios, bibliotecas e "condições de trabalho" algo plausível. Da mesma forma, comparações dos salários dos professores universitários federais com escalas salariais de outras carreiras do serviço público soam perturbadoras: ao fim de suas carreiras, mesmo os professores mais titulados e qualificados têm vencimentos comparáveis aos do início de carreiras para as quais pouca qualificação é exigida.

Tudo isso faz sentido, mas não faz todo o sentido, se é que há algo que faça todo o sentido. Em diversas universidades, em diversos departamentos, laboratórios e programas de pós-graduação, condições de trabalho vêm sendo aperfeiçoadas e melhoradas, por esforço individual e coletivo de professores e pela existência de programas públicos de financiamento à atividade de pesquisa, por meio de agências federais e estaduais. Tal quadro está longe de ser generalizado, mas o fato de a universidade federal e pública no Brasil ser a responsável por proporção considerável da produção de conhecimento científico no País, com algumas marcas de reconhecimento internacional, é sinal de que algo não andou de todo mal, ainda que possa - e deva - melhorar muito.

A própria queixa salarial, com sua materialidade irrecorrível, não pode desconhecer marcadores de prestígio e possibilidades de crescimento e realização pessoal vinculados ao pertencimento a uma carreira que tem forte inscrição nas dimensões simbólica e intelectual. Não se trata de desconhecer o peso da irrecorrível e desagradável materialidade da vida, mas é inegável que a possibilidade de estar em uma "carreira" na qual benefícios imateriais constituem um aspecto no mínimo forte não é exatamente algo desprezível.

De qualquer forma, a progressiva desconstrução da identidade intelectual dos professores universitários em prol de uma identidade de "trabalhadores do setor público" foi, por assim dizer, uma conquista da direção da política sindical para o setor, definida nas últimas décadas. Trata-se de uma ressignificação do papel desse corpo profissional, cada vez mais refratário em fazer de seus marcadores específicos parte de uma estratégia de valorização corporativa. Ao contrário, a cultura sindical, por ranço que associa trabalho intelectual a parasitismo e a privilégio, valoriza uma cultura obreirista de chão de fábrica e de "unidade de todos os trabalhadores" contra os malefícios do capital. Não deixa de ser perturbadora a constatação de que o sindicalismo dos professores universitários federais seja ligado a uma central sindical controlada por partidos que, além de fartamente minoritários no cenário eleitoral e por qualquer critério de representatividade mais rigoroso, são possuídos pela crença de que a universidade é um aparelho de reprodução do capital e de bestificação das massas. É duro associar a sofisticação exigida, e por muitas vezes atingida, pela universidade em suas práticas usuais - ensino, pesquisa e extensão - com os enunciados toscos e sectários das "análises de conjuntura" que informam decisões, digamos, da categoria.

Mas, digamos que a ordem das queixas configure uma razão razoável de desconforto e de motivação para o protesto. Desde já, devo dizer que me alinho entro os que pensam que sim: há razoabilidade nessas queixas e elas devem ser levadas em conta. No entanto, há um abismo entre a razoabilidade das queixas e os efeitos supostos que delas devem derivar. O nexo é, no mínimo, precipitado: da suposta consistência das queixas (A) não se seguem consequências óbvias (B). Entre (A) e (B) opera um fator crucial que exerce sobre as condições originais um juízo interpretativo, que por sua vez é efeito de uma cultura específica - de uma forma de ver o mundo - que se arvora em detentora do monopólio da passagem. É sobre tal cultura que deve incidir nossa inspeção, pois ela preexiste e subsiste a (A) e (B).

Há vários indícios dessa cultura. Um deles é a ideia da greve como "forma de vida". A greve desloca-se, assim, do âmbito dos meios para se transformar, ela mesma, em espaço dotado de finalidade intrínseca. É no espaço e no exercício da greve que a "classe" forma sua identidade coletiva, na luta permanente contra a "hegemonia do capital". Tal associação entre mobilização permanente e identidade coletiva dos professores transparece na proposta de carreira que o sindicato nacional dos docentes enviou ao governo, na qual a participação sindical e associativa aparece como inerente à condição de "professores federais", com implicações para a avaliação dos mesmos para fins de progressão na carreira.

A cultura da mobilização ininterrupta está a serviço de um ideal de "estado de exceção permanente", segundo expressão da moda. Rotinas básicas da universidade são suspensas em função da instauração de uma dualidade de poderes que opõe o "movimento" à rotina e às arenas institucionais da universidade. O "comando de greve" e as assembleias ocupam o poder de fato, materializado na pretensão de obter capacidade negativa e geral de interromper a rotina universitária. Tal desrotinização não afeta apenas aulas e outras atividades universitárias, mas se abate sobre centenas de milhares de estudantes, cujas rotinas e quadros de expectativas são alterados e, por vezes, suprimidos. A própria qualidade do espaço universitário como lugar de socialização de jovens estudantes acaba sofrendo efeitos de degradação, por força de uma "desinstalação" da universidade que chegou a três meses. Tal cultura de exceção sobrevive aos espasmos do "movimento" e constitui parte da cultura permanente da instituição, afetando suas práticas internas, seus valores e correlações políticas internas.

Mas o aspecto mais saliente da cultura à qual aludo pode ser encontrado nas propostas do sindicato nacional dos docentes (Andes) ao governo. Ali materializa-se o ideal de um ajuste de contas contra segmentos da universidade associados aos avanços do País no âmbito da ciência e tecnologia. Professores titulares, bolsistas de produtividades, coordenadores de grandes projetos de pesquisa e de cursos de pós-graduação são percebidos como uma casta de privilegiados. Tal ajuste de contas dar-se-ia por meio de reestruturação radical da carreira docente, na qual seriam eliminadas as marcas de progressão tradicionais - auxiliares, assistentes, adjuntos, associados e titulares -, em prol de uma carreira única de "professor federal", em 13 níveis, com avenida aberta de progressão do nível 1 ao 13, por tempo de trabalho. O ingresso de todos dar-se-ia na posição 1, para a qual se exigiria tão somente o nível de graduação, e a progressão seria função da sobrevida do docente em seguida ao ato de seu ingresso.

Esse aspecto faz da greve algo de fato sui generis: o próprio sindicato nacional abriu mão de todos os outros itens da pauta de reivindicações - salários, condições de trabalho -, para fixar-se na alteração da carreira. Apesar da aparência de endurecimento, o governo cedeu no fundamental ao "movimento": o ingresso na classe de professor titular deixa de ser exclusivamente decorrente de concurso público específico e passa a ser feito por progressão interna. Abre-se, pois, espaço para um curioso experimento: todos os professores passam a ter o direito estatutário de alcançar a classe de professor titular, o ápice da carreira. A representação visual da quimera é não menos curiosa: uma universidade cujo desenho ideal tem a forma de um paralelogramo: todos os que estão na base poderão estar no topo. Qualquer arranjo - trapézio ou pirâmide - no qual o topo seja menor do que a base e reconheça distinções aparece como "aristocrático". Todos, afinal, somos trabalhadores, no chão de fábrica das salas de aula e dos sindicatos, a bradar que a luta continua.

Por fim, algumas das finalidades declaradas do "movimento" emancipatório tornam-se pura retórica: com efeito, como garantir relevância social e autossustentabilidade do ideal civilizatório da universidade pública se o espaço da universidade se transforma em campo de prova de uma vaga cultura de mobilização permanente e negativa, que se manifesta por meio da interrupção de suas funções públicas?

Renato Lessa é professor titular de Teoria Política da UFF.

FONTE: ALIÁS / O ESTADO DE S. PAULO

Temos partidos demais? - Renato Janine Ribeiro

Tudo depende, na resposta a esta pergunta, do que chamemos de "demais". Nossos partidos são numerosos, sim. Acabo de descobrir que há um partido de número 10. Estranhei, porque os números surgiram quando foi restabelecido o sistema multipartidário, no final da ditadura. Os cinco partidos então criados receberam números que, obviamente, iam de 1 a 5. Mais tarde, com a democracia, foi facilitada a criação de novas agremiações, e os números de 1 a 9 (porque, claro, nenhum partido quereria ser o zero...) se mostraram insuficientes para acolhê-los. A solução foi começar em 11. O antigo partido "1", que era o da ditadura, se tornou o 11, e assim por diante. Portanto, não tínhamos o dez. Agora, ele surgiu. Temos também o 65. Não sei, na verdade, quantos partidos existem no Brasil, no dia de hoje.

Mas isso é ruim? É comum se denunciar a proliferação de siglas de aluguel. Mistura-se, na mesma expressão, o grande número - a "proliferação" - e a indecência, a imoralidade, o "aluguel". Porém, que relação há nisso? Nenhuma. Se aluguel significar a falta de convicção ideológica, essa não é exclusividade dos partidos menores, que mercadejariam o apoio no legislativo ou seus minutos de televisão em troca de vantagens escusas. Porque nosso partido mais tradicional, que tem a maior bancada no Senado e a segunda na Câmara, é justamente uma agremiação que abriu mão das convicções ideológicas e divide seu apoio entre as forças políticas as mais diversas. Refiro-me, claro, ao PMDB. Isso, embora ele conte com alguns dos parlamentares mais respeitados eticamente do Congresso. Mas ele apoiou os tucanos nos tempos de Fernando Henrique e aliou-se a seu candidato José Serra, em 2002, dando-lhe a companheira de chapa, Rita Camata; e apoiou os petistas no governo de Lula e aliou-se a sua candidata Dilma Rousseff em 2010, dando-lhe o companheiro de chapa, Michel Temer. Há duas décadas renunciou a pleitear a hegemonia nacional, sinônimo da presidência da República, e desde então vive bem o papel que, segundo o folclore, seria dos nanicos inconvenientes. Mas que ele desempenha com brio e sem remorso.

Os pequenos partidos têm suas vantagens. Facilitam a apresentação de candidaturas. Lembremos dois exemplos de política bipartidária, os Estados Unidos e a Grã-Bretanha, onde um terceiro partido tem dificuldades até para sobreviver. Lá, porém, qualquer um pode concorrer aos cargos legislativos. Nos Estados Unidos e na Inglaterra, é bem difícil se eleger alguém que não seja dos grandes partidos - mas não é proibido. Já no Brasil, a pretexto de fortalecer os partidos, o que seria condição para a democracia funcionar, reservamos as candidaturas a eles. Pior, só pode concorrer quem esteja filiado a um partido há pelo menos um ano. Como as convenções se realizam pouco antes da eleição, já ocorreu de alguém se filiar a um partido e depois ter a legenda dele negada. Isso aconteceu com Itamar Franco, que voltou ao PMDB querendo disputar em 1998 a sucessão de FHC, mas foi barrado na convenção. Ele deveria ter o direito de concorrer, sem precisar de legenda. Aliás, nada o impediria, na França ou nos Estados Unidos, de disputar a presidência sem ter um partido.

Partidos pequenos não são piores que os grandes

Em suma, o mau comportamento que se atribui aos pequenos partidos não é privilégio deles. As grandes democracias admitem candidaturas avulsas, solteiras, e nem por isso sofrem problemas maiores. Tomemos nossos deputados federais. Se olharmos os partidos pequenos - digamos, os que elegeram menos de dez deputados - suas bancadas somavam na posse, em 2011, apenas 26 parlamentares, ou seja, cinco por cento da Câmara. Se pegarmos os partidos com até vinte deputados, teremos um total de 73 congressistas, isto é, menos de 15% - e entre eles estão os bem conhecidos PCdoB e Partido Verde, com quase metade dessas cadeiras.

O fato é que os partidos pequenos têm pouco espaço no Congresso, portanto, seu eventual oportunismo causa pouco mal. E, se olharmos quais partidos representam interesses precisos ou convicções ideológicas, não é o número que faz a diferença. O DEM certamente é o mais conservador dos partidos médios, mas seguramente o PSB não é socialista e muita gente contesta que o PV seja realmente ecologista. O próprio PCdoB, que entrou no governo Kassab em São Paulo, hoje só é comunista no nome.

Algo, então, a mudar aqui? Seria completamente inútil alterar a lei eleitoral para reduzir o número de partidos. Já se tentou, adiou-se e, penso, desistiu-se. Mas duas medidas seriam positivas. Primeira, dificultar ou mesmo proibir coligações para as eleições proporcionais. É péssimo votar no candidato de um partido e eleger o de outro, às vezes sem afinidade histórica com o primeiro. Segunda, restringir a moeda de troca que é o horário eleitoral. Não há razão alguma para um candidato ter mais que metade dos minutos de televisão - como tem, por exemplo, o prefeito do Rio de Janeiro. Poderia haver um teto no horário de propaganda política. Seria, digamos, um terço do total de minutos. Obviamente, se houver só dois ou três candidatos, isso se recalcula, mas temos que parar de premiar, com nosso dinheiro, partidos que só existem para dar tempo na TV. Aliás, a tão mal falada aliança do PT com Maluf, em São Paulo, só ocorreu por causa disso. Uma mudança dessas reduziria a invasão de nossos olhos por interesses menores, além de favorecer a concorrência pelo cargo em disputa. Afinal, em dez minutos qualquer candidato diz tudo o que tiver a comunicar.

Mesmo assim, não vamos esquecer: os nanicos nada fazem, de ruim ou bom, que seus irmãos maiores não façam.

Renato Janine Ribeiro é professor titular de ética e filosofia política na Universidade de São Paulo.

FONTE: VALOR ECONÔMICO

FH critica mensalão na TV e Haddad reage

"São Paulo não aceita quem é tolerante com desvios", diz ex-presidente

Gustavo Uribe

SÃO PAULO A referência ao processo do mensalão na estreia do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso na campanha do candidato do PSDB à prefeitura de São Paulo, José Serra, fez o PT reagir ontem. Fernando Henrique disse que São Paulo "não aceita quem é tolerante com desvios de dinheiro público". O candidato do PT à prefeitura, Fernando Haddad, cobrou do ex-presidente que cite também o mensalão do PSDB mineiro, esquema de peculato e lavagem de dinheiro que teria como principal beneficiário o deputado federal Eduardo Azeredo (PSDB-MG).

- Ele deveria ter citado o (mensalão) do PSDB também. Como ex-presidente, ele precisa ter uma postura republicana. E ele sabe onde começou isso. Em Minas Gerais, com o partido dele - disse Haddad, após uma carreata.

No programa, FH foi duro na crítica:

- A Justiça está despertando o Brasil, já condenou réus do mensalão e não poupou os poderosos. São Paulo não aceita quem é tolerante com desvios de dinheiro público e vai votar em administrador honesto, com história limpa.

O presidente municipal do PT, Antonio Donato, acusou a campanha tucana de fugir da discussão de propostas para a capital paulista. O deputado federal Carlos Zarattini (PT-SP) disse que a exploração do escândalo político demonstra o desespero do PSDB:

- A rejeição ao Serra é grande e estão tentando se agarrar ao escândalo do mensalão para atrair os votos do Celso Russomanno e conseguirem passar para o segundo turno.

O escândalo político também foi citado por Serra no horário eleitoral gratuito. Serra ressaltou que "não adianta dizer que faz o bem, agindo mal" e destacou que o STF tem mandado "para a cadeia um jeito nefasto, maléfico de fazer política". Haddad acusou o adversário de baixar o nível. Serra não fez campanha ontem.

A entrada de Fernando Henrique na campanha em São Paulo foi definida na semana passada. Ao todo, ele gravou três depoimentos para a campanha de Serra, o primeiro deles veiculado neste fim de semana.

FONTE: O GLOBO

'Parceiros', PT e PSB sobem o tom de críticas em disputa por espaço

Fim de alianças em BH, Recife e Fortaleza trouxe crise à tona; ataques crescem nos últimos dias

Lula agora articula pacificação; partido socialista tenta ampliar fatia em eventual 2º mandato de Dilma

Paulo Peixoto, Fábio Guibu

BELO HORIZONTE, RECIFE - Depois de muitos anos afinados, PT e PSB emitem nas eleições municipais deste ano os primeiros sinais de uma disputa por espaço que pode alterar as relações de forças políticas na sucessão presidencial, em 2014.

O clima ruim entre os dois partidos ficou ainda mais acirrado nos últimos dias, com declarações de ataque de seus principais nomes: o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o governador Eduardo Campos (PE).

Há dez dias, em sua volta aos palanques, num comício em Belo Horizonte, Lula disse que o prefeito da capital mineira, Marcio Lacerda, e seu grupo do PSB "só estão no governo por causa do PT".

Quatro dias depois, o governador de Pernambuco rebateu ao afirmar que "Recife não é quintal de São Paulo", num recado à cúpula petista.

O envolvimento das cúpulas dos partidos e de seus principais dirigentes nos processos que levaram as legendas a romper em algumas das principais capitais indica que os problemas vão além das questões municipais.

O fim da aliança de 20 anos em BH, de 22 anos em Recife e de oito anos em Fortaleza trouxe a público essa crise.

Os ataques acenderam o alerta e Lula articula para manter a relação amistosa.

O líder petista convidou Campos para um evento da campanha de Fernando Haddad (PT) pela Prefeitura de São Paulo, onde os dois partidos são coligados. O governador aceitou e disse que nunca se distanciou de Lula.

Um dos maiores críticos do PSB nos processos municipais, o presidente nacional do PT, Rui Falcão, já criticou o aliado, mas também deu sinais de pacificação.

Ele declarou ser "natural" que os partidos queiram crescer nas disputas municipais e que espera que PT e PSB sigam juntos. Três dias depois, disse que não se pode descartar um rompimento, reforçando que o PMDB é o parceiro preferencial do PT.

O PSB busca ampliar seus espaços até para acomodar dois de seus principais líderes que ficarão sem mandato executivo no final de 2014: os governadores Eduardo Campos e Cid Gomes (CE).

Nessa discussão com o PT, caberá tanto a vaga de candidato a vice-presidente, hoje com o PMDB, ou espaços maiores e mais nobres em um eventual segundo governo de Dilma Rousseff.

Ao PSB sempre existirá ainda um trunfo na negociação com o PT: a cobiça do senador Aécio Neves (MG) para tê-lo como aliado. O senador tucano é hoje o principal nome do partido para a corrida ao Palácio do Planalto em 2014.

Aécio, que é amigo de Campos e dos irmãos Cid e Ciro Gomes, já tomou o PSB do PT em BH, provocando a irritação da presidente Dilma.

Em Pernambuco, a irritação maior de Lula é por Campos ter se aliado ao senador Jarbas Vasconcelos (PMDB), opositor do governo petista.

Após as eleições municipais neste ano, o partido socialista buscará uma fatia maior do bolo, hoje preferencialmente do PMDB.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

PSB em alta põe Lula à prova no Recife

Presença de ex-presidente é aguardada em Pernambuco, mas data não está definida; candidato do governador e aliado nacional lidera

Luciana Nunes Leal

RECIFE - Um estreante em eleições que dispara nas pesquisas de intenção de voto e um veterano que se equilibra entre a perda de eleitores e o partido em pé de guerra são os principais candidatos à prefeitura da capital pernambucana. A real disputa de forças, porém, acontece entre o governador Eduardo Campos (PSB), que dá mais um passo nos planos de se consolidar como liderança nacional, e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, preocupado com o desgaste do PT em seu Estado natal, com o mau desempenho do partido em capitais do Nordeste e o possível reflexo na sucessão presidencial em 2014.

Responsável pela candidatura e mentor da campanha do ex-secretário de Desenvolvimento Econômico Geraldo Julio, Eduardo Campos é a estrela do horário eleitoral gratuito e iniciou na semana passada as atividades na rua ao lado do afilhado. Lula se destaca na propaganda de seu ex-ministro da Saúde e hoje senador Humberto Costa e é esperado no Recife, mas não acertou a data. A visita do ex-presidente é um dos vários pontos de conflito entre os petistas.

Escolhido depois de longo embate entre o PT municipal e a direção nacional, Costa é companheiro de partido do atual prefeito, João da Costa, que, impedido de disputar a própria reeleição, afastou-se da campanha. Para o candidato petista não chega a ser um prejuízo, já que o prefeito é mal avaliado, considerado ruim ou péssimo por 36% dos recifenses, segundo o Datafolha.

Em seu discurso, o candidato do PT exalta as qualidades da administração do também petista João Paulo Lima e Silva (2001-2008), agora candidato a vice-prefeito, e tenta "apagar" os últimos três anos e oito meses da gestão João da Costa. Na quinta- feira, em caminhada por Vila Tamandaré, na periferia da capital, um morador reclamou do lixo nas ruas. "É um absurdo", respondeu o candidato. Um assessor do petista chegou a dizer que o descaso parecia feito "de propósito" pela prefeitura.

Virada. Na campanha do PSB, o momento é de euforia com a disparada do candidato escolhido pelo governador para enfrentar o PT. O último Ibope mostra que Geraldo Julio cresceu de 16% para 33% em 18 dias, mesmo período em que Humberto caiu de 32% para 25%. Em julho, Geraldo entrou na campanha com 5%, e Humberto tinha 40%.

No fim da tarde de quarta-feira, o ex-secretário fez uma caminhada no centro do Recife com o padrinho político. Entre os cabos eleitorais estava o dramaturgo Ariano Suassuna, de 85 anos, secretário estadual de Assessoria ao Governador. "Eu não esperava que Geraldo subisse tão rápido, mas Recife é uma cidade muito politizada", diz Suassuna. Campos, com planos de disputar a Presidência, dominou a caminhada. Cercado por eleitores, apresentou Geraldo Julio. Na van, o governador comemorou: "Viu que maravilha?".

O ponto central da campanha de Geraldo Julio é uma exaltação ao governo do Estado: levar à capital os avanços de Pernambuco. O mote que diz que o ex-secretário fez todos os programas bem sucedidos do governo estadual virou piada nas redes sociais. "Foi Geraldo que me fez?", pergunta uma criança à mãe, em uma das ironias. Já Daniel Coelho (PSDB) e Mendonça Filho (DEM) insistem que os concorrentes do PT e do PSB são iguais. "O remédio original é Humberto Costa, o genérico é Geraldo Julio, mas nenhum dos dois serve", disse Mendonça, criticando em debate a "gestão petista-socialista".

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Em Recife, na rua, o confronto amarelo x vermelho

Se os candidatos do PSB, Geraldo Julio, e do PT, Humberto Costa, evitaram o confronto direto na maior parte do debate da Rede TV! e Folha de S. Paulo, ontem à noite, o mesmo não ocorreu com os militantes dos dois postulantes. A área externa do Empresarial JCPM, onde ocorreu o debate, foi tomada exclusivamente pelas cores amarelo e vermelho, pois somente as militâncias do PSB e do PT se mobilizaram para animar o confronto. E, claro, não faltou troca de farpas provocada pelo time de Geraldo que desdenhava da queda do petista nas pesquisas.

Nos bastidores, os principais concorrentes à Prefeitura do Recife revelaram um certo nervosismo. Mas orientados em cada intervalo pelos seus marqueteiros, voltavam com a recomendação para insistirem em expor as fragilidades políticas dos adversários. Parecia até estratégia combinada.

Na plateia lotada de assessores e partidários, o clima era de torcida, especialmente entre as equipes dos candidatos Geraldo Julio (PSB) e Humberto Costa (PT). A cada saia justa de lado a lado, choviam comemorações dos adversários.

Responsável pelas pesquisas do candidato socialista, Diego Brandy não largava o celular, monitorando o grupo de eleitores que acompanhavam o embate na sede de sua produtora para uma avaliação do desempenho de Geraldo.

O momento em que Humberto Costa ironizou Geraldo Julio, afirmando que o candidato do PSB havia “feito tudo no mundo” , levou o auditório às gargalhadas. A resposta do socialista – “como secretário, Humberto, tive a oportunidade de monitorar você. Sei bem seus resultados” – levou o presidente estadual do PSB, Sileno Guedes, soltar uma gargalhada que chamou a atenção dos presentes no auditório onde ocorreu o debate.

Agenda - Hoje, os candidatos a prefeito do Recife retomam suas agendas de campanha. Após uma reunião de monitoramento e um encontro com representantes do Movimento LGBT, às 18h30, em seu comitê, Geraldo Julio encerra o dia no estádio do Arruda. Vai conferir o jogo Brasil e China. Até o fechamento dessa edição a assessoria de Humberto Costa não tinha enviado sua agenda. Mendonça Filho grava para o guia eleitoral e faz caminhada na UR-7. Daniel Coelho participa de um debate na Universidade Católica, às 18h30.

FONTE: JORNAL DO COMMERCIO (PE)

Presidenciáveis iniciam pré-campanha

Cristian Klein

SÃO PAULO - As eleições são municipais, mas os palanques montados em centenas de cidades país afora já começaram a servir às pretensões de dois potenciais concorrentes ao Palácio do Planalto em 2014. O senador mineiro Aécio Neves (PSDB) e o governador de Pernambuco, Eduardo Campos, presidente nacional do PSB, têm aproveitado a corrida municipal para apoiar seus candidatos a prefeito fazendo campanha pelas ruas ou gravando depoimentos para a propaganda no rádio e na TV.

Aécio já gravou cerca de 200 vídeos, numa estratégia de expor sua imagem ao eleitorado nacional. Campos apresenta interesse especial em São Paulo, onde seu partido tem candidato próprio em Campinas, São José do Rio Preto, Carapicuíba e São Vicente, cidades que reúnem mais de 1,5 milhão de eleitores.

É uma antecipação do jogo presidencial, no qual os dois tentam se cacifar para uma disputa que terá o PT da presidente Dilma Rousseff em busca da reeleição.

Aécio, provável aposta dos tucanos, tenta liderar as forças da oposição e tem missão e discursos mais definidos. Campos se equilibra camaleonicamente entre os dois partidos. Pode se candidatar como uma terceira via, mas também compor com o PSDB ou ser o vice do PT, ao qual está aliado no governo federal.

Sua política de alianças segue essa linha. De acordo com levantamento do Valor, o PSB está com o PT na mesma chapa a prefeito, quando ela é encabeçada por uma ou outra legenda, em 680 municípios. A situação ocorre com os tucanos em 508 cidades.

Curiosamente, as alianças do PSB com o PT, apontado como hegemonista, são mais equilibradas. Dos 680 municípios, os petistas encabeçam a chapa em 399 (58,6%), enquanto os tucanos lideram 339 (66,7%) das 508 cidades.

Em 202 coligações, os três partidos estão juntos, sendo o candidato a prefeito de um deles. Neste caso, o PSB é pivotal e encabeça 88 chapas (43%), enquanto o PT lidera 70 (34%) e o PSDB, 44 (21%).

FONTE: VALOR ECONÔMICO

Artistas e modelos- Melchiades Filho

Há uma mensagem por trás da dianteira folgada de Celso Russomanno (PRB) em São Paulo, dos ótimos desempenhos de Ratinho Junior (PSC) em Curitiba e de Manuela D"Ávila (PC do B) em Porto Alegre e até da vice-liderança de Marcelo Freixo (PSOL) no Rio.

São candidatos de legendas pequenas, sem apoio da máquina local nem destaque na propaganda de TV. Em teoria, deveriam desidratar.

Porém, cada um com seu alcance, os quatro aproveitam a onda geral de descrédito que alcança partidos e políticos. Pegam embalo no cansaço ou revolta do eleitor. Distinguem-se pela dissociação da imagem tradicional de quem pede voto. Como resumiu Russomanno à Folha: "Não sou político. Sou artista".

O voto desgarrado, indignado ou irreverente não é inédito na curta história democrática do país. Basta lembrar de Collor, Enéas e Tiririca.

Mas há uma novidade neste ano: a ausência de um contraponto político clássico, de figuras de referência.

Os medalhões da redemocratização evaporaram com o tempo. O tucano José Serra é a exceção -ou não, conforme apontam as pesquisas.

Nenhum partido se distingue. O PMDB é um condomínio decadente de coronéis. O PSB e o PSD, projetos de um só. O PSDB e o DEM espreitam a dispersão, a fusão ou outro "ão" igualmente desolador.

Sigla bem estruturada e operosa, o PT poderia ocupar o território. Mas não parece tão interessado.

Desperdiçou uma chance em 2006, na ressaca do mensalão. Expulsou Delúbio Soares, apeou José Genoino, privatizou José Dirceu e colocou João Paulo Cunha na geladeira. Mas logo desistiu da "refundação" e reabilitou todos os acusados.

E desperdiça outra chance agora: contra os fatos e o bom senso, afaga novamente os réus e qualifica o STF como instrumento "golpista".

O partido pode até colher vitórias em outubro. Mas o "novo" o eleitor passou a procurar noutro lugar.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

Fenômeno não é acidente - José Roberto de Toledo

A ascensão de Celso Russomanno (PRB) na corrida municipal em São Paulo é um fenômeno, mas não é um acidente. Não tem causa única, nem motivo principal. É uma conjunção de fatores. Vão de sua origem malufista até a ajuda dos adversários, passando por religião, consumismo e desejo de mudança. Tudo misturado no momento certo deu em Russomanno.

Ele é um fenômeno (por ora) porque, pelo retrospecto, teria uma chance em 93 de chegar ao segundo turno. Em 2008, nas eleições das capitais, só um candidato com menos de 50 comerciais por semana conseguiu ficar entre os dois primeiros - e perdeu. A correlação entre tempo de propaganda eleitoral e sucesso nas urnas é tão forte que se deu de barato que Russomanno seria mais um sem-TV a sumir tão rápido quanto apareceu.

Embora a correlação seja estatística, essa assunção é sempre reforçada pelo marketing. Sendo os estrategistas das campanhas quase sempre marqueteiros que produzem os programas para TV, tendem a dar desproporcional importância ao palanque eletrônico e deixar tudo o mais em segundo plano.

É uma jabuticaba eleitoral. Nos EUA, os estrategistas pensam, os marqueteiros executam - para não haver conflito de interesses entre quem aloca o dinheiro e quem se beneficia dessa alocação. No Brasil, o marqueteiro cobra o escanteio e aparece na área para cabecear - às vezes contra o próprio gol. Não fosse assim, os adversários de Russomanno em São Paulo não teriam demorado tanto para acreditar que ele veio para ficar. Com dez dias de campanha na TV, petistas e tucanos ainda acreditavam que se enfrentariam no segundo turno. Só depois de a segunda bateria de pesquisas mostrar que Russomanno não só resistia como ameaçava crescer mais que a ficha caiu.

De onde veio esse fenômeno?

Não haveria Russomanno se o eleitor paulistano não estivesse farto do prefeito Gilberto Kassab (PSD) e quisesse mudar. O candidato do PRB lidera entre quase todos os segmentos do eleitorado, mas vai especialmente bem entre aqueles que acham o governo do atual prefeito ruim ou péssimo. Russomanno conseguiu personificar o desejo de mudança, mesmo sendo muito conhecido.

Não haveria Russomanno se ele tivesse aparecido agora para a política. O eleitor quer novidade, mas não quer surpresa. E Russomanno orbita o mundo político há 32 anos. Só acha que ele nasceu ontem quem não está prestando atenção. O candidato do PRB veio à luz sob José Maria Marin (atual presidente da CBF), batizou-se sob Paulo Maluf (foi assessor do braço direito e caixa do malufismo, Calim Eid) e crismou-se apadrinhado pelo último vice-presidente do regime militar, Aureliano Chaves.

Comunicador. Não haveria Russomanno se ele não fosse um exímio comunicador. Na mais recente troca de padrinho, deixou o ninho do decadente Maluf para acomodar-se sob o bispado de Edir Macedo na TV Record e no PRB, partido cujo presidente trabalha na Igreja Universal do Reino de Deus e na emissora de TV. No seu "Patrulha do Consumidor", Russomanno usa o que aprendeu apresentando memoráveis bailes de carnaval na Gazeta e o "Aqui Agora" do SBT.

Não haveria Russomanno se ele não caísse no gosto de alguns nichos do eleitorado, como os evangélicos. Eles são donos de quase 30% dos votos paulistanos. Apesar de outros candidatos terem negociado o apoio de seus pastores, bispos e apóstolos, o eleitor evangélico optou majoritariamente por Russomanno - seja porque ele vai bem entre os pobres, onde há mais pentecostais, seja porque o seu discurso "família" lhes cai bem. Ou seja: os líderes evangélicos estão sendo conduzidos por seu rebanho.

Não haveria Russomanno se o Brasil não tivesse sofrido uma explosão do mercado interno e o eleitor não tivesse virado consumidor antes de virar cidadão. Afora Lula, que detonou o processo, nenhum outro político brasileiro compreendeu e soube usar tão bem o consumismo de massa a seu favor. O discurso de defesa dos direitos do consumidor foi adaptado com maestria por Russomanno à política - e de quebra lhe rendeu um cadastro com centenas de milhares de eleitores registrados no seu Inadec.

Não haveria Russomanno se não fossem os adversários. Não só o deixaram em paz até anteontem, como ajudaram ao ponto de lhe arrumar um vice. Tucanos apostando que ele só atrapalharia os petistas e vice-versa. Criaram um clima de disputa tão pesado quanto repetitivo, até saturarem o eleitor com suas picuinhas. A cada vez que José Serra (PSDB) ataca o PT ou o contrário, um eleitor olha Russomanno com mais simpatia - além jogar o rival no colo do candidato do PRB num eventual segundo turno.

E aonde o fenômeno vai chegar? Só o eleitor sabe.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Populismo volta a rondar São Paulo - André Singer

Classe C quer chamar o xerife

Completando-se hoje a primeira metade da propaganda eleitoral gratuita, a surpresa da disputa paulistana é a persistência de Celso Russomanno na ponta, com 35% das intenções de voto. Mesmo que venha a cair a partir de agora, o candidato do PRB parece ter-se consolidado como opção para cerca de um quarto do eleitorado, habilitando-o a disputar vaga no segundo turno.

Sem estrutura partidária (mas com uma rede religiosa), aparentemente sem dinheiro e pouco tempo de TV, a ascensão de Russomanno, que esteve no PP de Maluf até recentemente, lembra outros fenômenos de populismo conservador.

Misturado no meio da massa, o líder não propõe programas de governo, mas sim a confiança na sua capacidade individual de impor aos poderosos a vontade legítima dos pequenos.

Assim como Jânio era o tostão contra o milhão, e Collor, o caçador solitário de marajás, o patrulheiro do consumidor se apresenta como o defensor dos humildes compradores em um mundo dominado pela impessoalidade do capital e da grande política.

A chave do sucesso populista é a ideia de resolução direta dos problemas, por meio da intervenção de um personagem que vem do alto em socorro da massa desvalida.

A organização de movimentos democráticos de baixo para cima inexiste nesse esquema.

É, também, próprio do populismo bagunçar os parâmetros estabelecidos. Por isso, tudo pode acontecer, tanto no primeiro quanto no segundo turno paulistano.

Seja como for, vale reter o recado do momento:

parcela da classe C, habitando entre a última periferia, que deverá caminhar com Haddad, e os bairros da classe média tradicional, que se inclinam por Serra, anseia pela presença de um xerife amigo na prefeitura.

André Singer, 54, é professor do departamento de Ciência Política da USP e autor de "Os Sentidos do Lulismo"

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

Estamos muito melhor, mas ainda vulneráveis - Marco Antônio Rocha

Comemorou-se na semana passada a Independência do Brasil, ao mesmo tempo que a imprensa rememorava "o dia em que o Brasil quebrou", há 30 anos, um fato bastante ilustrativo, então, de que a independência política não é suficiente para blindar a nossa soberania contra sérios arranhões.

Como ficou evidente no trabalho rememorativo sobre a crise da dívida, em vários jornais, o Brasil teve de engolir sapos para sair do sufoco - o governo brasileiro, suas ilustres e fanfarrônicas autoridades da época, a Nação enfim. E sobrou para o povo. O aperto de cinto de quase 25 anos para pagamento da dívida em prestações, afinal negociado, prejudicou o crescimento econômico, a criação de empregos e o desenvolvimento em geral, durante décadas.

A famosa "década perdida", dos anos 80, de baixo crescimento econômico, seguiu-se a um longo período em que o Brasil foi uma das economias mais dinâmicas do mundo: quase seis décadas com 6% a 7% de crescimento anual do PIB. Só para comparar, hoje o País luta para cumprir uma meta de 4,5% de crescimento, e já perdeu essa batalha neste ano.

O que foi que aconteceu? Perdemos o bonde da História? Ainda não se pode afirmar. Mas quase. E, de qualquer forma, ficamos para trás numa corrida em que, durante muito tempo, estavam atrás de nós, por exemplo, a China, a Índia, a Coreia, a África do Sul, o México e, aqui pertinho, a Argentina. Todos passaram à nossa frente, até a Argentina. China, Índia e Coreia, disparados.

A pergunta retorna: o que foi que aconteceu? Boi na estrada? Tênis pesados? Sim, houve essas duas coisas: as duas crises do petróleo, em 1972/1973, e a dos juros em 1979 foram os bois na estrada. Os tênis continuam pesados. E o peso é do governo: seus encargos, seus impostos, sua burocracia, seus desperdícios, sua roubalheira, sua inépcia, sua permanente má gestão.

Mas naquela crise, naquele dia em que o País não só quebrou, como começou a ficar para trás na economia mundial, pesou muito uma questão de más escolhas... De quem? E por quê?

Tínhamos um governo militar, não tínhamos? Imposto com um programa de combater o comunismo, fortalecer a democracia e acabar com a corrupção. A pretexto de cumprir o primeiro objetivo, implantou uma ditadura onde o que mais prosperou foi a corrupção. Mas isso é sabido. O que não é tão sabido, nem tão falado, é que o governo militar também precisava mostrar serviço na prática: construir o Brasil Grande. Para isso havia um Plano Nacional de Desenvolvimento (PND) grandioso. A um custo muito acima da capacidade do governo e da iniciativa privada brasileira.

Todavia, havia um tsunami de petrodólares no mundo - dinheiro à beça, e barato, porque quase não encontrava tomador. Na maioria dos países os investimentos se retraíam. No Brasil, ao contrário, se expandiam à custa de endividamento externo. Mas não na direção da melhoria tecnológica da produção nacional, da melhoria da administração pública, da melhoria da infraestrutura em geral, do aumento da qualidade e da competitividade internacional dos nossos produtos. Tomava-se empréstimo externo simplesmente porque ele estava em oferta, e era barato.

Um uso judicioso desses recursos para dar músculos à economia brasileira chegou a ser cogitado, quando se falou, no II PND, em dar mais atenção à qualidade dos empréstimos externos, em lugar da quantidade. Mas não chegou a ser posto em prática. E quando eles escassearam e os juros subiram às alturas, a partir de 1979, o Brasil quebrou, como se diz.

Hoje estamos muito melhor, vê-se nas comparações com o cenário negro de 1982. Sem dúvida estamos, em números frios - mais reservas e menos dívidas, ou uma relação melhor dívidas/reservas. Temos também menos inflação. E orçamentos públicos mais disciplinados.

Estamos melhor em números, na comparação com 1982 e na comparação com os países em crise da Europa atual. Já foi dito que a crise financeira na Europa é semelhante à do Brasil, e eles até podem se inspirar nas nossas soluções. Soluções?

Solucionamos um problema de caixa, mas temos vulnerabilidades. Temos vulnerabilidade na conta de transações correntes do balanço de pagamentos, cujo superávit se contrai e é sustentado mais por ingressos externos (de capital e de empréstimos) do que por saldos positivos efetivos da conta comercial e de serviços. Nosso saldo comercial se origina demais nas vendas de produtos primários, cujas cotações internacionais não oferecem segurança e podem se tornar desfavoráveis de uma hora para outra.

Temos vulnerabilidade na questão mais importante da economia mundial moderna: a da competitividade internacional. Nossa indústria não só não consegue competir no mercado externo, como está perdendo terreno no mercado interno para produtos que importamos dos nossos concorrentes. O pacotaço de elevação do imposto de importação de mais de 100 itens, baixado na semana passada, mostra que afinal o governo está percebendo o rumo do problema: o de termos de voltar à situação de economia fechada que já tivemos e que tanto inibiu nosso desenvolvimento. E nem com isso nos livraremos do risco de uma nova crise de dívida externa.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO