sábado, 13 de outubro de 2012

OPINIÃO DO DIA – Joaquim Barbosa: ‘o mensalão maculou a República’ (LX)


"(O julgamento) vai ser um marco não só para a política brasileira. Para a política talvez signifique um freio de arrumação. Mas para a sociedade é um episódio espetacular porque estamos assistindo à Justiça penetrando nos lares das pessoas, o modo de fazer Justiça.

As provas estão lá em abundância. Quem acompanhou esse julgamento nos seus momentos cruciais viu a superabundância de provas, fatos escabrosos que ao longo dessas semanas nós mostramos. O que tem havido é tentativa de politização de um resultado negativo para essa ou aquela pessoa. E, quanto a isso, cada um tem a liberdade de fazer o que bem entende."

Joaquim Barbosa, ministro-relator do processo do mensalão no STF. O Estado de S. Paulo 12/10/2012

Manchetes dos principais jornais do Brasil

O GLOBO
Caciques medem força no 2º turno
Risco de Inflação: Brasil pode ter de subir juros, diz FMI
País tem R$ 340 bi em reservas 

FOLHA DE S. PAULO 
Em crise, União Europeia leva Prêmio Nobel da Paz
Ex-líder de Lula absolvido diz estar aliviado, mas ataca STF
Candidatos não conhecem perfil da periferia

O ESTADO DE S. PAULO 
Serra diz que Haddad segue lição de Dirceu e petista rebate
PF investiga contratos de serviços do Enem
Inflação atinge dois terços dos produtos e serviços
Atento é vendida por US$ 1,3 bi
SIP debate direito à privacidade

CORREIO BRAZILIENSE 
Dispara a venda de psicotrópicos no DF
União Europeia: Nobel da Paz provoca reação

ESTADO DE MINAS 
Agenda de problemas no Congresso
4 em cada 10 não votaram em vereador na capital

ZERO HORA (RS) 
RS elege mais prefeitas, mas ainda são poucas
Recorde de mortes em confrontos com policiais

JORNAL DO COMMERCIO (PE) 
Tragédia na festa
Duplicação da BR-104 para e provoca riscos

Em quase metade das condenações, discordância


UM JULGAMENTO PARA A HISTÓRIA

Revisor do mensalão divergiu de 46% das sentenças do relator

Bruno Góes

RIO E BRASÍLIA - O relator Joaquim Barbosa e o revisor Ricardo Lewandowski não discordaram apenas sobre as condenações dos réus petistas mais importantes no processo do mensalão no Supremo Tribunal Federal (STF). O revisor, segundo levantamento feito pelo GLOBO, viu de forma oposta 46% das condenações do relator. As absolvições proferidas nos votos de Lewandowski referentes a José Dirceu (por corrupção ativa), a José Genoino (por corrupção ativa) e a João Paulo Cunha (por corrupção passiva, lavagem de dinheiro e peculato) representam apenas cinco discordâncias entre as 33 ocorridas até aqui. Ao todo, relator e revisor tomaram 71 decisões cada um.

Esse número pode ser ilustrado pelo confronto verbal entre os dois em várias das 35 sessões já realizadas pelo Supremo. Para Tânia Rangel, advogada e professora de Direito da FGV Rio, a divergência é saudável e mostra o funcionamento do Direito:

- No Direito, essa discordância é prevista. A grande questão é que o mesmo fato pode dar diversas interpretações. Faz parte do jogo. E, quando vemos isso, vemos o Direito funcionando. Se olharmos para o caso de José Dirceu, por exemplo, observamos que a valoração dos fatos, no caso de Barbosa e Lewandowski, é diferente - diz ela, lembrando a importância dada por Joaquim Barbosa à fala de Roberto Jefferson, réu sem credibilidade para Lewandowski.

Apesar de Barbosa já ter sugerido que Lewandowski fez "vista grossa" diante dos autos, na maioria dos casos, 54% deles, houve concordância. Esse fato, junto com o entendimento dos demais ministros, mostra que, em 50 mil páginas, contidas em 233 volumes e 495 apensos, há provas suficientes para incriminar boa parte dos réus. A maioria dos advogados de defesa não conseguiu convencer os ministros de que seus clientes são inocentes.

Valerioduto é consenso

Relator e revisor condenaram, juntos, Henrique Pizzolato, ex-diretor de Marketing do Banco do Brasil, atestando a existência de dinheiro público no valerioduto; Delúbio Soares, o tesoureiro do partido, indicando sua participação no pagamento a parlamentares; deputados da base aliada por corrupção passiva, como Valdemar da Costa Neto; e os banqueiros Kátia Rabello e José Roberto Salgado, por gestão fraudulenta, comprovando os empréstimos simulados às agências de Marcos Valério.

O publicitário, aliás, também foi condenado por ambos, mas com algumas ressalvas. Sobre as acusações de corrupção ativa, eles discordaram: Lewandowski condenou-o pelo crime duas vezes, enquanto Barbosa condenou-o três vezes. Da mesma forma, os crimes de peculato: três condenações em relação ao crime pelo relator, e apenas duas pelo revisor.

Esses dois casos de discordância não anulam a grande desenvoltura constatada pela Corte em relação ao réu, como esclareceu o presidente Carlos Ayres Britto, na 30ª sessão:

- Marcos Valério esteve por oito vezes com dirigentes do Banco Central, simulou empréstimos para suas quatro empresas de publicidade e mediou contatos profissionais com Banco de Minas Gerais, Banco Mercantil, Telemig, Bônus Banval, Natimar, assim como esteve pessoal e reiteradamente com a mais alta cúpula do Partido dos Trabalhadores.

Lewandowski discordou de Barbosa com mais frequência quando se deparou com as condenações por lavagem de dinheiro. Pelos votos, pode-se perceber que ambos têm interpretações diferentes sobre a aplicação da lei. Lewandowski tem a mesma interpretação de Marco Aurélio e de Cezar Peluso, segundo a qual a ocultação do dinheiro oriundo da corrupção é característica inerente ao crime de corrupção e não pode ser usada também para caracterizar a lavagem de dinheiro.

Ao todo, foram 16 casos de discordância sobre lavagem de dinheiro: Rogério Tolentino, Geiza Dias, Vinicius Samarane, João Paulo Cunha, Pedro Corrêa, Pedro Henry, João Claudio Genu, Breno Fischberg, Bispo Rodrigues, Roberto Jefferson, Emerson Palmiere, Romeu Queiroz, José Borba, Paulo Rocha, João Magno e Anderson Adauto, todos condenados pela prática do crime por Barbosa, foram absolvidos por Lewandowski.

Sobre outras condenações de alguns desses réus dadas por Barbosa, Lewandowski também bateu de frente: absolveu João Paulo Cunha por corrupção passiva e dois peculatos; Breno Fischberg por formação de quadrilha; Vinicius Samarane por gestão fraudulenta; Rogério Tolentino por corrupção ativa; e Pedro Henry por corrupção passiva e formação de quadrilha.

Manifestação pela Justiça

Ontem, cerca de 50 pessoas realizaram uma manifestação na Praça dos Três Poderes, em Brasília, soltando 700 balões verdes e amarelos. De acordo com os organizadores do evento, que afirmam não serem ligados a grupos políticos, o objetivo é mostrar que o julgamento do mensalão, em curso no Supremo Tribunal Federal (STF), renovou a confiança do povo na Justiça brasileira. Os manifestantes também portavam uma faixa com os dizeres "O Brasil mudou. A pizzaria fechou".

Um dos organizadores da manifestação, o bancário e médico veterinário Rodrigo Montezuma, disse que o julgamento é um marco na História do país, o que deve motivar os políticos a repensar sua forma de agir.

- Este momento é um marco na credibilidade das instituições e mostra que os crimes contra as instituições públicas não serão impunes. Os políticos têm que repensar sua forma de atuar, parar com o fisiologismo e parar de pensar apenas no próprio umbigo.

O ativista afirmou que a manifestação foi organizada em apenas três dias, entre ativistas que se conheceram em um evento no Dia da Independência do ano passado. Montezuma reforça que a manifestação não é uma comemoração pela condenação de políticos pelo Supremo, mas, sim, pela "confiança na Justiça".

- Não ficamos felizes com a punição das pessoas, que parece caminhar para penas de privação da liberdade. Mas nós estamos felizes por ver, finalmente, o zelo pelas instituições públicas - disse.

Fonte: O Globo

STF julga quadrilha perto do 2º turno


Cronograma inicial atrasa e ministros estimam que decisão sobre chefia do grupo, atribuída a Dirceu, será dada a três dias da votação

Felipe Recondo, Ricardo Brito

BRASÍLIA - À véspera do segundo turno das eleições municipais, o Supremo Tribunal Federal deverá julgar se o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu era o chefe de uma quadrilha montada para operar o esquema do mensalão. Embora tenha pena baixa, o crime é carregado de simbolismo e será usado por adversários de candidatos petistas durante a campanha eleitoral neste segundo turno.

A expectativa entre os ministros da Corte é que a conclusão do julgamento deste item do processo ocorra a três dias das eleições. E os prognósticos entre os magistrados é de que, assim como ocorreu na corrupção ativa, Dirceu também seja condenado por formação de quadrilha.

Na semana anterior ao primeiro turno das eleições municipais, o tribunal começou a julgar a acusação de que Dirceu comprou parlamentares em troca de apoio ao governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A coincidência foi um acaso, conforme ministros, mas o procurador-geral da República, Roberto Gurgel, afirmou que seria "salutar" que o julgamento tivesse influência nas eleições.

A expectativa inicial do relator da ação penal no Supremo, ministro Joaquim Barbosa, era de que o julgamento terminasse na semana anterior às eleições. Nesse caso, o tribunal definiria dias antes do segundo turno as penas impostas aos réus, inclusive se teriam de cumpri-las na cadeia. O atraso nas duas últimas sessões adiou essa discussão para depois do segundo turno.

Regime. A condenação de Dirceu pelo crime de quadrilha pode definir se o ex-ministro cumprirá pena em regime fechado ou no semiaberto. A legislação penal estabelece que réus que forem condenados a pena superior a oito anos terão de cumprir a pena inicialmente em regime fechado.

Por enquanto, Dirceu foi condenado pelo crime de corrupção ativa - cuja pena, na época do crime, variava de um a oito anos. Se condenado por formação de quadrilha, a pena pode aumentar em até três anos.

Conforme a acusação do Ministério Público Federal, 13 dos réus em julgamento formaram uma grande quadrilha, que se subdividiu nos núcleos financeiro, político e publicitário. O grupo era encabeçado por Dirceu e integrado pelo ex-presidente do PT José Genoino, pelo ex-tesoureiro petista Delúbio Soares, pelo empresário Marcos Valério e seus sócios na época, e por representantes do Banco Rural.

A quadrilha teria se associado para desviar recursos públicos do Banco do Brasil e da Câmara dos Deputados, dissimulado a origem do dinheiro por meio de empréstimos fraudulentos tomados nos Bancos Rural e BMG e depois distribuído a parlamentares para tornar viável a compra de apoio ao governo Lula no Congresso.

As investigações do Ministério Público apontaram Dirceu no comando do esquema. As provas demonstraram "sem sombra de dúvida", conforme o MP, que o ex-ministro da Casa Civil agiu sempre no comando de todas as ações. "Era, enfim, o chefe da quadrilha", afirmou Gurgel, no processo.

"Foi (Dirceu) o mentor do esquema ilícito de compra de votos e, como líder do grupo, determinou as ações necessárias à consecução do objetivo que justificou a união de todos os agentes, seja no que dizia respeito às negociações travadas com os parlamentares e líderes partidários, seja na obtenção dos recursos necessários ao cumprimento dos acordos firmados", acrescentou o procurador-geral.

Julgamento. Ao longo das últimas sessões de julgamento, Dirceu já foi colocado pela maioria dos ministros do Supremo em posição de comando. Foi por causa da proeminência no esquema que o ex-ministro foi condenado pelo tribunal pelo crime de corrupção ativa.

"É certo que José Dirceu, em razão da força política e administrativa que exercia, foi o principal articulador dessa engrenagem. (Dirceu) Reunia-se com o principal operador do esquema, Marcos Valério, para tratar de repasses de dinheiro e acordos políticos", afirmou o relator do processo no Supremo, Joaquim Barbosa.

"Restou demonstrado, não bastasse a ordem natural das coisas, que José Dirceu realmente teve uma participação acentuada, a meu ver, nesse escabroso episódio", concordou o ministro Marco Aurélio Mello.

Fonte: O Estado de S. Paulo

Freire diz que reação de Dirceu é "jus esperniandi" que não pode virar ação política



“É um jus esperniandi que a sociedade não pode permitir que se torne ação política”, definiu o presidente nacional do PPS, Roberto Freire (SP), ao analisar as declarações do ex-ministro José Dirceu (PT) após ser condenado por corrupção ativa pelo Supremo Tribunal Federal. O parlamentar afirmou que é “inconcebível” que o esperneio de Dirceu instrumentalize a CUT (Central Única dos Trabalhadores) e o movimento sindical. “Tem que haver reação da sociedade democrática”.

Freire disse ainda que agora cabe à cidadania cumprir seu papel, de dar prosseguimento ao trabalho executado pelo STF de construir uma sociedade em que a impunidade não seja a regra e em que poderoso não esteja acima da lei. “Não adianta reclamar que a política é suja, se, no momento apropriado não se contribui para que ela seja séria e limpa; é preciso votar bem, se posicionar corretamente no dia a dia, nos pronunciamentos públicos, em todas as ações”.

Heróis?

Freire ironizou o fato de Dirceu e o ex-presidente do PT, José Genoino, se considerarem heróis do povo brasileiro. “Aí não podemos ter contemplação; é melhor ficarmos com Macunaíma do que imaginar que alguma dessas figuras possa ser herói do povo brasileiro”. “Merecemos muito mais”, afirmou.

Sobre a defesa do controle da mídia e do judiciário, que fez Dirceu, após ser condenado, Freire afirmou: “Isso também era parte do plano (do PT, com o mensalão); não era apenas corromper partidos políticos e parlamentares, era também controlar todas as instituições democráticas. Isso era parte da estratégia de permanência no poder”.

Refundação e autocrítica

Freire acredita que o PT precisa passar “por uma refundação, num processo severíssimo de autocrítica”. O partido, diz ele, pode continuar como está e ganhar eleições, ter parlamentares, mas vai ficar “sem qualquer credibilidade e sem perspectiva de ser uma alternativa de projeto político para o país; isso acabou”.

O julgamento, afirmou Freire, além de desnudar o que o ministro Celso de Mello chamou de "macrodelinquência governamental", mostra “as entranhas daquilo em que se transformou, no governo, o Partido dos Trabalhadores”. O deputado lembrou ainda que o ministro Ayres Britto disse que o PT perpetrara uma tentativa de golpear as instituições para permanecer no poder.

Freire comparou o julgamento do mensalão à Operação Mãos Limpas, desenvolvida na Itália na década de 90 pelo Poder Judiciário e o Ministério Público. “Naquela oportunidade ficou evidenciada uma relação promíscua entre a máfia e o poder político, exercido, então, por cinco partidos, sob a liderança da Democracia Cristã”. Do processo resultou uma crise que desaguou no desaparecimento dos cinco partidos. “O primeiro-ministro, na época, teve de fugir da Itália com medo de ser preso”.

Fonte: Portal do PPS

A democracia no Brasil vai bem, diz nota do PSDB


Nota do Presidente em Exercício do PSDB

A democracia no Brasil vai bem. Bem melhor na medida em que as instituições cumprem com independência seu papel. No caso do “mensalão”, a decisão soberana do STF – composto, na ampla maioria, por ministros nomeados pelos governantes petistas, como não é demais lembrar, fortalece a confiança na igualdade de todos perante a lei.

Nesse julgamento as instituições democráticas estão sendo fortalecidas. A ameaça a elas foi “representada pela compra de votos no Congresso Nacional, por um projeto de poder, de inspiração patrimonialista, que significa um golpe à democracia que é a República”, conforme ressaltou o presidente do STF, ministro Ayres Britto. Ela foi vítima direta do próprio escândalo e tem sido vítima da campanha de desinformação do PT para negar sua responsabilidade por ele.

Qual seria o futuro de uma democracia onde o partido governante pudesse impunemente desviar dinheiro público para comprar a maioria do Congresso Nacional? Ao contrário do que afirma o partido governante em nota oficial, o Ministério Público, o Supremo Tribunal Federal e os principais veículos de comunicação estão contribuindo para que o país supere esse grave desvio ético-político e para que o povo mantenha a sua confiança na democracia.

Teorias conspiratórias têm péssimos antecedentes. Sejam inspiradas por fanatismo ideológico, sectarismo partidário ou esperteza eleitoral, que sempre envenenam o ambiente político e corroem as instituições democráticas. Com respeito a essas instituições temos um terreno comum no qual podemos divergir. Se a direção do PT resolve declarar guerra a esse valor fundamental - o respeito a essas instituições - enterrando o que há de bom na sua história para esconder seus delitos, a oposição só pode lamentar, mas vai defendê-las a qualquer custo.

Alberto Goldman
Presidente em exercício da Executiva Nacional do PSDB

Transparência - Merval Pereira


O país acompanha pela TV, ao vivo e em cores, o julgamento do mensalão e é testemunha de que tudo se passa na mais perfeita ordem democrática do estado de direito. A pretexto de evitar a politização do julgamento, petistas ilustres, a começar pelo ex-presidente Lula, exerceram durante meses pressão nunca vista sobre o Supremo Tribunal Federal para que ele não se realizasse durante as eleições municipais.

A preocupação era tamanha que Lula chegou a ameaçar o ministro Gilmar Mendes de denunciar, na CPI do Cachoeira, uma suposta relação do ministro com o bicheiro, o que foi prontamente repelido. Tornado público o episódio, ficou claro que não havia o que denunciar, e o tiro saiu pela culatra. Inevitável o julgamento, Lula passou a procurar outros ministros em busca de apoio à sua tese de que tudo não passou de uma farsa. A Dias Toffoli foi dito, em público pelo atual prefeito de São Bernardo, Luiz Marinho, e em particular pelo próprio Lula, que ele não tinha o direito de se declarar impedido, mesmo tendo trabalhado sob as ordens do ex-ministro José Dirceu e assinado documento, na posição de delegado do PT, afirmando que o mensalão ainda estava para ser provado.

O ministro Ricardo Lewandowski recebeu Lula em casa, em São Bernardo do Campo, antes do julgamento. Essas pressões petistas foram as reveladas, uma pressão que, ao contrário, eles atribuem à "mídia conservadora" que estaria atuando para condenar "o governo popular". Mas os mínimos detalhes foram observados para que não se dissesse que o julgamento tinha qualquer laivo de tendenciosidade. O presidente do STF, Ayres Britto, abria sempre as sessões anunciando a Ação Penal 407, e encabeçava a lista dos réus com José Dirceu de Oliveira e Silva. A partir de um certo momento, deixou de citar o nome de Dirceu, dizendo genericamente que os réus eram conhecidos.

Também a palavra "mensalão" desapareceu da boca dos ministros, pois advogados de defesa alegaram que o nome era depreciativo e já embutia decisão sobre o caso. Mas o revisor Lewandowski, sempre que pode, refere-se ao caso mineiro, lembrando que ele é a origem de tudo. É certo que ele não cita o PSDB, partido cuja regional de Minas envolveu-se originariamente com o lobista Marcos Valério para fazer, em termos locais, o mesmo que o PT faria em termos nacionais anos depois, mas a repetição mostra preocupação de relativizar o esquema denunciado pelo processo.

Os ministros do STF não perdem uma chance de explicar didaticamente as razões jurídicas que os levam a condenar alguns e absolver outros, e, quando há uma dúvida razoável, a discussão ganha até mesmo ares de confronto, com ministros sendo mais ríspidos do que deveriam, alterando a voz para impor suas convicções.

Em algumas ocasiões, especialmente nas primeiras sessões, houve até momentos em que ele esteve em risco, como quando Lewandowski ameaçou abandonar o plenário.

Dias Toffoli, na última sessão, chegou a dizer que seu colega Luiz Fux estava sendo "indelicado". O relator Joaquim Barbosa, que não aguenta ser contestado sem revidar, cortou um comentário do mesmo Toffoli, que usou um "assalto a banco" para contestar a posição do relator sobre lavagem de dinheiro, afirmando: "Não é assalto a banco, mas é assalto aos cofres públicos". Lewandowski e Toffoli estão em minoria no plenário, isolados em suas posições na maioria dos casos, mas têm encontrado apoio nas questões relativas a lavagem de dinheiro e formação de quadrilha, temas que são acessórios ao principal no julgamento, mas que têm grande importância tanto na hora de definir as penas quanto na formação de uma jurisprudência que vai influir nos julgamentos das várias instâncias da Justiça brasileira daqui para a frente.

O que se vê, então, é que os ministros do Supremo - a maioria nomeada por governos petistas - são capazes de discutir às vezes asperamente em torno de temas que não obtêm consenso do plenário, e são também capazes de absolver quando uma "dúvida razoável" persiste.

Os placares condenatórios elásticos - de 10 a 0 para Delúbio Soares; 9 a 1 para José Genoino; e 8 a 2 para José Dirceu - só indicam que não houve dúvidas sobre suas culpabilidades.

Fonte: O Globo

Os marginais do poder - Marco Antonio Villa


Vivemos um tempo curioso, estranho. A refundação da República está ocorrendo e poucos se estão dando conta deste momento histórico. Momento histórico, sim. O Supremo Tribunal Federal (STF), simplesmente observando e cumprindo os dispositivos legais, está recolocando a República de pé. Mariana - símbolo da República Francesa e de tantas outras, e que orna nossos edifícios públicos, assim como nossas moedas - havia sido esquecida, desprezada. No célebre quadro de Eugène Delacroix, é ela que guia o povo rumo à conquista da liberdade. No Brasil, Mariana acabou se perdendo nos meandros da corrupção. Viu, desiludida, que estava até perdendo espaço na simbologia republicana, sendo substituída pela mala - a mala recheada de dinheiro furtado do erário.

Na condenação dos mensaleiros e da liderança petista, os votos dos ministros do STF têm a importância dos escritos dos propagandistas da República. Fica a impressão de que Silva Jardim, Saldanha Marinho, Júlio Ribeiro, Euclides da Cunha, Quintino Bocayuva, entre tantos outros, estão de volta. Como se o Manifesto Republicano de dezembro de 1870 estivesse sendo reescrito, ampliado e devidamente atualizado. Mas tudo de forma tranquila, sem exaltação ou grandes reuniões.

O ministro Celso de Mello, decano do STF, foi muito feliz quando considerou os mensaleiros marginais do poder. São marginais do poder, sim. Como disse o mesmo ministro, "estamos tratando de macrodelinquência governamental, da utilização abusiva, criminosa, do aparato governamental ou do aparato partidário por seus próprios dirigentes". E foi completado pelo presidente Carlos Ayres Brito, que definiu a ação do PT como "um projeto de poder quadrienalmente quadruplicado. Projeto de poder de continuísmo seco, raso. Golpe, portanto". Foram palavras duras, mas precisas. Apontaram com crueza o significado destrutivo da estratégia de um partido que desejava tomar para si o aparelho de Estado de forma golpista, não pelas armas, mas usando o Tesouro como instrumento de convencimento, trocando as balas assassinas pelo dinheiro sujo.

A condenação por corrupção ativa da liderança petista - e por nove vezes - representaria, em qualquer país democrático, uma espécie de dobre de finados. Não há no Ocidente, na História recente, nenhum partido que tenha sido atingido tão duramente como foi o PT. O núcleo do partido foi considerado golpista, líder de "uma grande organização criminosa que se posiciona à sombra do poder", nas palavras do decano. E foi severamente condenado pelos ministros.

Mas, como se nada tivesse acontecido, como se o PT tivesse sido absolvido de todas as imputações, a presidente Dilma Rousseff, na quarta-feira, deslocou-se de Brasília a São Paulo, no horário do expediente, para, durante quatro horas, se reunir com Luiz Inácio Lula da Silva, simples cidadão e sem nenhum cargo partidário, tratando das eleições municipais. O leitor não leu mal. É isso mesmo: durante o horário de trabalho, com toda a estrutura da Presidência da República, ela veio a São Paulo ouvir piedosamente o oráculo de São Bernardo do Campo. É inacreditável, além de uma cruel ironia, diante das condenações pelo STF do núcleo duro do partido da presidente. Foi uma gigantesca demonstração de desprezo pela decisão da Suprema Corte. E ainda dizem que Dilma é mais "institucional" que Lula...

Com o tempo vão ficando mais nítidas as razões do ex-presidente para pressionar o STF a fim de que não corresse o julgamento. Afinal, ele sabia de todas as tratativas, conhecia detalhadamente o processo de mais de 50 mil páginas sem ter lido uma sequer. Conhecia porque foi o principal beneficiário de todas aquelas ações. E isso é rotineiramente esquecido. Afinal, o projeto continuísta de poder era para quem permanecer à frente do governo? A "sofisticada organização criminosa", nas palavras de Roberto Gurgel, o procurador-geral da República, foi criada para beneficiar qual presidente? Na reunião realizada em Brasília, em 2002, que levou à "compra" do Partido Liberal por R$ 10 milhões, Lula não estava presente? Estava. E quando disse - especialmente quando saiu da Presidência - que não existiu o mensalão, que tudo era uma farsa? E agora, com as decisões e condenações do STF, quem está mentindo? Lula considera o STF farsante? Quem é o farsante, ele ou os ministros da Suprema Corte?

Como bem apontou o ministro Joaquim Barbosa, relator do processo, o desprezo pelos valores republicanos chegou a tal ponto que ocorreram reuniões clandestinas no Palácio do Planalto. Isso mesmo, reuniões clandestinas. Desde que foi proclamada a República, passando pelas sedes do Executivo nacional no Rio de Janeiro (o Palácio do Itamaraty até 1897 e, depois, o Palácio do Catete até 1960), nunca na História deste país, como gosta de dizer o ex-presidente Lula, foram realizadas na sede do governo reuniões desse jaez, por aqueles que entendiam (e entendem) a política motivados "por práticas criminosas perpetradas à sombra do poder", nas felizes, oportunas e tristemente corretas palavras de Celso de Mello.

A presidente da República deveria dar alguma declaração sobre as condenações. Não dá para fingir que nada aconteceu. Afinal, são líderes do seu partido. José Dirceu, o "chefe da quadrilha", segundo Roberto Gurgel, quando transferiu a chefia da Casa Civil para ela, em 2005, chamou-a de "companheira de armas". Mas o silêncio ensurdecedor de Dilma é até compreensível. Faz parte da "ética" petista.

Triste é a omissão da oposição. Teme usar o mensalão na campanha eleitoral. Não consegue associar corrupção ao agravamento das condições de miséria da população mais pobre, como fez o ministro Luiz Fux num de seus votos. É oposição?

Historiador. É professor da Universidade Federal de São Carlos

Fonte: O Estado de S. Paulo

Crime e castigo - Zuenir Ventura


Com sua serena lucidez, a ministra Cármen Lúcia fez uma ressalva ao votar pela condenação de José Genoino e José Dirceu: "Não estou julgando a história de pessoas que em diversas ocasiões tiveram a vida reta. Estou julgando os fatos apresentados nestes autos." O mesmo poderia ser dito em relação ao PT, cuja trajetória até estourar o escândalo do mensalão foi também reta. Não são os princípios programáticos do Partido dos Trabalhares que estão sendo condenados pelo STF, "não é a história, mas os fatos", como também afirmou o decano Celso de Mello. O que se condena é um acidente grave de percurso, um mau passo, um enorme desvio de conduta. Em reunião com seu Ministério no dia 12 de agosto de 2005, Lula, chocado com as revelações sobre dirigentes do partido, desabafou: "Eu me sinto traído por práticas inaceitáveis sobre as quais eu não tinha qualquer conhecimento. Não tenho nenhuma vergonha de dizer que nós temos de pedir desculpas. O PT tem de pedir desculpas. O governo, onde errou, precisa pedir desculpas."

Por que não pedir agora? Por que o Lula de 2012 reage ao julgamento mandando seus companheiros receberem o castigo de "cabeça erguida", como se houvesse algum motivo para soberba? Seria tão mais honesto, tão mais coerente com as origens éticas do partido se, em vez de desqualificar o trabalho do Supremo com suspeitas infundadas e se, em lugar de responsabilizar a mídia, os réus mensaleiros aceitassem o revés com humildade e fizessem uma corajosa autocrítica como pedia Lula sete anos atrás.

Como dirigentes partidários ousam suspeitar da isenção de uma Corte cujos membros em sua maioria foram indicados por Lula e Dilma e que, portanto, não têm qualquer razão para lhes ser deliberadamente hostis? Que interesses levariam esses juízes a sacrificar suas reputações para "condenar sem provas"? Como colocar em dúvida a correção de um personagem como Joaquim Barbosa, que pode ter um temperamento difícil, mas cuja opção política é conhecida (há dias, ele confessou em entrevista ter votado três vezes em Lula, sem arrependimento, porque "as mudanças e avanços no Brasil nos últimos dez anos são inegáveis").

Os petistas acreditam ter motivos de queixa pelo rigor inédito do STF, que, espera-se, não seja de exceção, aplicado apenas nesse caso. Mas, ao se recusar a assumir a culpa que lhe cabe, o PT perdeu a oportunidade histórica de ser diferente também no erro, como foi um dia nos acertos.

Fonte: O Globo

Preparação para 2014


Karla Correia, Amanda Almeida

Nove estados reúnem as 33 cidades interioranas que terão segundo turno e, devido aos capitais eleitoral e financeiro, estão no foco das estratégias dos partidos para as eleições de 2014. Ao todo, esses municípios concentram 11,74 milhões de eleitores e são capazes de mudar os rumos da corrida pelos governos estaduais daqui a dois anos.

A negociação pelo apoio do candidato derrotado do PMDB à prefeitura de São Paulo, Gabriel Chalita, à campanha do petista Fernando Haddad deu uma amostra da relevância dessas prefeituras para o cenário político de 2014. O PMDB só embarcou na campanha de Haddad depois de firmado um pacto de não agressão em Mauá (SP), onde as duas legendas se enfrentam no segundo turno. Em todo o país, os dois partidos disputam quatro prefeituras nessa segunda fase das eleições municipais.

No estado paulista, Santo André, Campinas e Diadema estão no centro da estratégia petista para a disputa pelo governo estadual. O partido tenta manter o poder no chamado cinturão vermelho de municípios da Grande São Paulo, na tentativa de construir um polo de influência capaz de enfrentar a hegemonia tucana no estado: o PSDB elegeu 172 das 645 prefeituras de São Paulo e ainda domina o maior eleitorado no estado.

Depois de eleger 120 prefeitos a mais do que em 2008 no primeiro turno, o PSB comemora o resultado de olho nas grandes cidades em jogo nas duas próximas semanas. A conquista desses municípios passa pelo projeto da legenda de se descolar do PT e fortalecer o nome do governador Eduardo Campos, presidente nacional do PSB. O partido levou importantes capitais bilionárias no primeiro turno — Belo Horizonte e Recife —, além da também rica São José do Rio Preto (SP).

Fonte: Correio Braziliense

Serra diz que Haddad segue lição de Dirceu e petista rebate


Tucano sobe tom e fala em "esquema do pega-ladrão"; para candidato do PT, adversário quer mobilizar trevas"

Na maior troca de acusações no 2º turno, o candidato José Serra (PSDB) comparou Fernando Haddad (PT) ao ex-ministro José Dirceu, condenado pelo mensalão. "José Dirceu quando atacado, ataca o outro. Esse é o esquema do pega-ladrão, que ele fundou no Brasil. O Haddad apenas está seguindo as lições de Dirceu, de quem é companheiro e camarada", atacou. Em resposta, Haddad disse que Serra está "fora de si" e pretende "mobilizar as trevas" para tentar vencer eleição. O PT estadual avalia que Serra ofendeu a honra do partido e entrará com ação criminal.

Haddad vê "ódio" em campanha tucana; petista "segue lição de Dirceu", diz Serra

No dia em que ambos foram à missa em Itaquera, em horários diferentes, candidatos do PT e do PSDB trocam as acusações mais agudas desde o início do segundo turno, fazendo referências ao julgamento do mensalão e a debate ético que marcou disputa de 2010

Bruno Lupion, Gustavo Porto

Na troca de acusações mais contundente desde o início do segundo turno da eleição paulistana, o candidato do PT, Fernando Haddad, disse ontem que seu adversário do PSDB, José Serra, faz uma campanha para "promover o ódio" e "vai mobilizar trevas como fez em 2010". Em resposta, o tucano afirmou que o petista "está seguindo as lições" do ex-ministro da Casa Civil José Dirceu, condenado pelo Supremo Tribunal Federal na terça-feira, pelo crime de corrupção ativa. Haddad foi o primeiro a ter agenda pública no feriado de 12 de outubro: participou de missa na Paróquia Nossa Senhora Aparecida, em Itaquera, zona leste, um dia após o pastor da Assembleia de Deus Vitória em Cristo, Silas Malafaia, divulgar um vídeo relacionando Haddad ao kit anti-homofobia. O material foi editado quando o petista comandava o Ministério da Educação (MEC) e apelidado de "kit gay" por setores evangélicos. No vídeo, Malafaia diz que Haddad "deu grana para ativistas gays fazerem esse lixo moral para ensinar homossexualismo (nas escolas)",questiona sua gestão à frente do Ministério da Educação e afirma: "Contra Haddad e o kit gay, Serra 45". O petista disse que Serra estaria por trás do vídeo, como objetivo de criar uma "cortina de fumaça" que desvie o debate sobre a gestão do prefeito Gilberto Kassab (PSD), que apoia o tucano. "Ele (Serra) fez isso com a Dilma (na campanha presidencial de 2010), ele vai fazer isso comigo. É a mesma estratégia de 2010. Só que deu errado. O que ele (Serra) tinha que entender é que esse tipo de prática vai dar errado", afirmou Haddad.

Serra, antes de visitar o Museu Catavento, no centro, citou a condenação de Dirceu pelo STF em resposta às críticas do adversário."José Dirceu quando atacado, ataca o outro.Esse é o esquema do pega-ladrão, que ele fundou no Brasil. Ele bate carteira, sai correndo e grita: "pega ladrão", afirmou. "O Haddad apenas está seguindo as lições de Dirceu, de quem é companheiro e camarada." À tarde, após a entrevista de Serra, Haddad teve novo evento público, em Aricanduva. Um jornalista disse ao petista que Serra o havia comparado a um "chefe de quadrilha"–a campanha do tucano negou ter feito essa relação – e pediu um comentário. Haddad afirmou que o adversário estava "fora de si" e que pretendia "mobilizaras trevas"para vencer a eleição. O setorial jurídico do PT estadual cogitou entrar com ação contra Serra,mas recuou.

Enem.

O tucano também criticou a atuação do adversário no Ministério da Educação e comentou a auditoria do Tribunal de Contas da União (TCU) sobre suposta fraude em licitação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), revelada ontem pelo jornal Folha de S. Paulo. "O que aconteceu com o Enem na gestão do Haddad é uma das maiores calamidades na história da Educação do Brasil. Ele não conseguiu fazer durante três anos o Enem e, além de fracassar rotundamente, há agora licitações viciadas e que são investigadas pelo TCU", disse o tucano. Ao comentar a reportagem, Haddad respondeu que determinou abertura de investigação sobre o caso e que foi ao Congresso prestar esclarecimentos.

Reforço.

O PT mobilizou quatro ministros do governo federal, além do senador Eduardo Suplicy, para comandar oito mini-comícios e quatro carreatas no fim de semana, todos na periferia, onde o PT tenta conquistar os votos obtidos por Celso Russomanno (PRB) no 1.º turno. Marta Suplicy (Cultura), José Eduardo Cardozo (Justiça) e Miriam Belchior (Planejamento) acompanharam o petista ontem à tarde,além do candidato derrotado do PMDB, Gabriel Chalita, em visita ao Shopping Aricanduva, zona leste. Hoje, Marta lidera minicomícios em Sapopemba e São Mateus (zona leste), Haddad, em M"Boi Mirim e Campo Limpo (zona sul) e Suplicy,em Brasilândia e Taipas (zona norte). O ministro da Educação, Aloizio Mercadante, realiza eventos em São Miguel Paulista e Itaim Paulista (zona leste).Miriam Belchior vai concentrar os esforços do fim de semana em Santo André, em auxílio ao petista Carlos Grana

Fonte: O Estado de S. Paulo

Caciques medem força no 2º turno


As sete cidades fluminenses onde haverá segundo turno em 28 de outubro poderão ser decisivas para as pretensões dos três principais pré-candidatos ao governo estadual. Apoiado pelo governador Sérgio Cabral, Luiz Fernando Pezão (PMDB) tem aliados disputando em todas as cidades; o senador petista Lindbergh Farias, em quatro; e o ex- governador Garotinho (PR), em três. Para analistas, quem triunfar aumentará sua influência no estado e terá mais chances em 2014. Por isso, os três deverão entrar de cabeça nas campanhas. Em São Paulo, Fernando Haddad e José Serra visitaram igrejas.

Teste de forças por 2014

Cabral, Garotinho e Lindbergh lutam para eleger seus candidatos nas cidades com 2º turno no Rio

Renato Onofre

No dia 28 de outubro, data do segundo turno das eleições municipais, 2,98 milhões de fluminenses retornarão às urnas em sete cidades do Estado do Rio para decidir quem comandará suas prefeituras. A disputa em Belford Roxo, Duque de Caxias, Niterói, Nova Iguaçu, Petrópolis, São Gonçalo e Volta Redonda vai além do controle político local e pode ser determinante para o xadrez político do estado em 2014. Os três principais protagonistas políticos - o governador Sérgio Cabral (PMDB), o senador Lindbergh Farias (PT) e o deputado federal Anthony Garotinho (PR) - disputam, voto a voto, o segundo turno. O grupo político liderado pelo governador tem como candidato o vice-governador, Luiz Fernando Pezão (PMDB), e sai na frente, com candidatos em todas as cidades onde ainda haverá disputa.

A conta leva em consideração São Gonçalo, onde o governador teve uma derrota política no primeiro turno. A candidata do PMDB era a deputada estadual Graças Matos, que perdeu a vaga no segundo turno para o deputado federal Neiton Muilm (PR), por pouco mais de três mil votos.

Para não ficar de fora da disputa no segundo maior colégio eleitoral do estado, com 665 mil eleitores, Cabral, na última quarta-feira, declarou apoio a Adolfo Konder (PDT), que teve a seu lado, durante todo o primeiro turno, Lindbergh.

Quatro aliados de Lindbergh na briga

O senador petista está em segundo lugar na busca por base eleitoral, com quatro aliados no segundo turno do Rio. Lutando sozinho para viabilizar seu nome na disputa de 2014, Lindbergh deixou claro na segunda-feira sua insatisfação com a indicação de Pezão ao governo. No último dia 3, o petista foi condenado por improbidade administrativa por um processo referente à época em que era prefeito de Nova Iguaçu. Resultado: teve suspenso por cinco anos seus direitos políticos pela 10ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Rio. Ele recorrerá da decisão.

Principal adversário político do grupo do governador no estado e crítico feroz da gestão petista desde a época do ex-presidente Lula, o deputado federal e ex-governador Anthony Garotinho manteve seu domínio no Norte Fluminense e conseguiu vitórias importantes no último dia 8. Garotinho ainda tem a chance de colocar três aliados em prefeituras fluminenses neste segundo turno.

Para o cientista político e pesquisador da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Sandro Corrêa, no próximo dia 28, o eleitor fluminense vai perceber que, além da disputa municipal, o que está em jogo é o comando do estado a partir de 2014.

- Com segundo turno em apenas sete cidades, vamos ter a oportunidade de ver o confronto direto entre os três postulantes ao governo estadual. Vamos ver cada um dos futuros candidatos ao cargo de governador indo para o confronto direto nas ruas e no programa eleitoral - aponta o cientista político.

Das sete cidades, três são consideradas estratégicas para a corrida ao Palácio Guanabara: São Gonçalo, Duque de Caxias e Volta Redonda que, apesar de ter o menor número de eleitores do trio (216 mil), é a única onde Pezão tem influência direta. Ele foi prefeito da vizinha Piraí, e uma derrota lá poderia fragilizar sua candidatura estadual.

Em Volta Redonda e em São Gonçalo, Cabral enfrentará Garotinho. Os dois já gravaram para o programa eleitoral de seus candidatos e serão vistos com frequência nas ruas pedindo voto.

- É um cenário interessante. É inegável que tanto Cabral quanto Garotinho são, hoje, os dois maiores cabos eleitorais do estado. Esse confronto é uma prévia para os dois e para os eleitores de suas forças políticas - afirma Corrêa.

Rejeição a Garotinho em Petrópolis

Cabral e Garotinho se enfrentam ainda em Belford Roxo e em Petrópolis, onde Rubens Bomtempo (PSB) tem o apoio do PR, mas mantém o ex-governador distante da disputa por conta da rejeição dele na cidade.

Lindbergh percorreu 61 das 92 cidades nesta eleição para formar uma base eleitoral para 2014. Sua principal vitória foi em Macaé, onde elegeu Dr. Aluisio (PV) contra o candidato de Cabral, Christino Áureo (PSD). No segundo turno, ele enfrenta os peemedebistas em Duque de Caxias e Nova Iguaçu.

É no município que administrou, aliás, que o senador enfrenta seu principal dilema. Apesar de seu partido estar na coligação da prefeita Sheila Gama (PDT), que busca a reeleição, Lindbergh caminha para apoiar o deputado federal Nelson Bornier (PMDB), antigo desafeto de Cabral.

A única cidade a ficar de fora do cabo de guerra eleitoral é Niterói. Os dois concorrentes - Rodrigo Neves (PT) e Felipe Peixoto (PDT) - foram secretários do governador na atual gestão. Lá, Cabral leva de qualquer jeito.

Fonte: O Globo

PMDB, PT e PR de olho nos votos de cidades que são polos regionais


Disputa acirrada em Duque de Caxias, Volta Redonda e Petrópolis

Renato Onofre

O controle político de três das sete cidades onde haverá segundo turno no Rio virou obsessão para PMDB, PT e PR. Conquistar Duque de Caxias, Volta Redonda e Petrópolis é fundamental para ampliar a base política na Baixada Fluminense, no Sul Fluminense e na Região Serrana, respectivamente.

Além de concentrar quase 10% do eleitorado fluminense (1.066.001 eleitores) e 12% do Produto Interno Bruto do estado (R$ 35 bilhões), as três cidades funcionam como polos regionais, e qualquer decisão numa delas impacta o entorno.

É comum ver políticos populares nessas cidades elegerem aliados em municípios vizinhos. É o caso do atual prefeito de Duque de Caxias, José Camilo Zito (PP), que, no auge da popularidade, elegeu parentes em Mesquita e outras cidades da região.

Para a historiadora da UFF Ana de Cássia, a formação dos núcleos urbanos no início do século XX explica a importância regional dessas cidades:

- No antigo Estado do Rio de Janeiro, esses municípios eram centros de abastecimento regionais. Eram economicamente importantes para os municípios vizinhos, e qualquer decisão política influenciava toda a região. Esse panorama de poder não mudou. Nesses locais está concentrada a maior parte da renda das regiões - explica.

O governador Sérgio Cabral (PMDB) escalou seu principal aliado para pedir votos nessas cidades: o prefeito reeleito do Rio, Eduardo Paes (PMDB). Para o presidente estadual do PMDB, Jorge Picciani, é fundamental conquistar essas regiões:

- Além de terem grandes cidades, são municípios que, tradicionalmente, formam opiniões. São cidades que puxam as outras cidade.

O deputado federal Anthony Garotinho (PR) vai concentrar esforços e recursos em Volta Redonda. No primeiro turno, o ex-governador foi à cidade em pelo menos três ocasiões para pedir voto para o candidato do seu partido, Zoinho (PR). A interlocutores, Garotinho afirma que ganhar lá é derrotar o vice-governador Luiz Fernando Pezão (PMDB), que, por duas vezes, comandou a cidade vizinha de Piraí.

Apesar de São Gonçalo não ser considerada polo regional, tanto Picciani quanto Garotinho acham fundamental ganhar ali, o segundo maior colégio eleitoral do estado. Lá deverão estar, neste fim de semana, Cabral e o ex-governador, que pedirão votos, respectivamente, para Adolfo Konder (PDT) e Neilton Mulim (PR).

- A expectativa é que a eleição de São Gonçalo vire o centro deste segundo turno. Ninguém quer perder o controle de uma cidade com quase 1 milhão de habitantes - prevê o cientista político e pesquisador da UFRJ Sandro Corrêa.

Fonte: O Globo

Vitória em 22 cidades não esconde disputa no PMDB fluminense

Picciani vê seu poder de fogo reduzido com derrotas para candidatos de Cabral

Juliana Castro, Marcelo Remígio

Por trás da hegemonia mantida com a conquista de 22 prefeituras no Estado do Rio, incluindo a capital, o PMDB enfrenta disputas internas que envolvem os principais nomes do partido. O presidente estadual da legenda, Jorge Picciani, viu seu poder de fogo e sua influência serem atingidos por adversários internos, após derrotas de seus candidatos nas eleições municipais. Parte deles perdeu nas urnas para nomes escolhidos pelo próprio PMDB, mas sem a bênção de Picciani e com o apoio do grupo do governador Sérgio Cabral. As derrotas fortaleceram correntes que divergem da mão de ferro do presidente.

Entre as cidades em que Picciani viu suas apostas naufragarem está Niterói, onde ele fez campanha para o candidato do PSD, Sérgio Zveiter, mas o PMDB apoiou o petista Rodrigo Neves - ex-secretário de Assistência Social do governo Cabral -, que está no segundo turno. Em São João de Meriti, na Baixada Fluminense, existia um pré-acordo para o apoio do PMDB à reeleição de Sandro Matos (PDT), mas Picciani bancou a candidatura de Doca Brazão. Matos venceu no primeiro turno. Em São Gonçalo, onde o partido estava unido, Picciani viu sua candidata, a deputada Graça Matos, ficar fora do segundo turno.

- De fato, há um mal-estar e um descontentamento porque se achava, dentro do partido, que seria mais fácil a briga em algumas cidades, como São Gonçalo e Duque de Caxias. Nesta, esperávamos a vitória do Washington Reis até no primeiro turno. Tivemos também uma derrota em Angra, onde venceu o PT - diz um deputado peemedebista, sem debitar os resultados ruins a Picciani.

As disputas internas se acirram com a antecipação das escolhas dos candidatos do PMDB ao governo do estado, em 2014, e para sucessão do prefeito reeleito Eduardo Paes, em 2016. Embora o vice-governador Luiz Fernando Pezão seja o mais cotado para brigar pelo Palácio Guanabara, o presidente regional do PMDB ainda se mostra reticente à escolha. Isso porque Pezão não teria se dedicado o suficiente à campanha de Picciani ao Senado, em 2010, quando foi derrotado pelos senadores Lindbergh Farias (PT) e Marcelo Crivella (PRB). O ex-presidente da Assembleia Legislativa (Alerj) também estaria descontente com a indicação do secretário municipal da Casa Civil, Pedro Paulo Carvalho, como substituto natural de Paes. O homem de confiança de Paes é um dos nomes que mais têm crescido no partido. No entanto, não faz parte do grupo de Picciani.

Em meio às disputas, Picciani limita-se a dizer que "o PMDB foi amplamente vitorioso" e que "o resto é detalhe":

- Imaginar qualquer dissidência entre mim e o governador é uma tolice.

Interlocutores de Picciani afirmam que o presidente do PMDB tem afirmado que ainda está forte no interior e em parte da Baixada, já que, mesmo não atingido à meta de eleger 36 prefeitos, conforme sua previsão baseada em pesquisas, fortaleceu-se ao fazer bancadas numerosas de vereadores.

Fonte: O Globo

Lula e Alckmin negociam alianças em Campinas


PSDB, que tem a vice na chapa encabeça pelo PSB, saiu na frente e já tem apoio do PTB; PT espera que PMDB siga decisão da capital e apoie petista

Ricardo Brandt

CAMPINAS - O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, assumiram pessoalmente as negociações com PMDB, PDT e PTB por alianças para a disputa do segundo turno em Campinas (SP), entre os candidatos Marcio Pochmann (PT) e Jonas Donizette (PSB). Com isso, o quadro deve seguir o mesmo caminho das composições na capital entre os candidatos do PT e do PSDB.

O PTB oficializou na quinta-feira a aliança com Donizette, após reunião, em São Paulo, entre Alckmin e o deputado estadual Campos Machado, presidente do diretório paulista da sigla. O governador assumiu as conversas para ampliar a base de sustentação do PSB em Campinas, que tem o PSDB na vice. O acordo com o PTB em Campinas fez parte das negociações para a aliança em São Paulo, com o candidato José Serra.

"Esse é um apoio muito importante, os candidatos a vereador do PTB tiveram 33 mil votos e é o partido com maior número de filiados na cidade", afirmou o candidato do PSB.

Indefinição. O PMDB - principal aliado para os dois adversários nesse segundo turno - só vai anunciar apoio na cidade no início da próxima semana, afirmou o presidente municipal do partido, vereador Dário Saadi. Ele e o presidente estadual do partido, deputado Baleia Rossi, se reuniram com o presidente estadual do PT, Edinho Silva, na quarta-feira, em São Paulo, para tratar da disputa na cidade.

O partido deve seguir o mesmo caminho do PMDB na capital, que oficializou apoio ao candidato petista Fernando Haddad. Os acordos em relação a capital, Campinas e outras cidades onde haverá segundo turno foram discutidos um dia antes, por Lula e pela presidente Dilma Rousseff. As conversas de aproximação entre PT e o PMDB foram mantidas com o presidente nacional do partido, o vice-presidente da República, Michel Temer.

O atual prefeito e candidato derrotado, Pedro Serafim (PDT), esteve na quarta-feira, ao lado do presidente nacional do partido, Carlos Lupi, reunido com Lula e depois com Alckmin. Ex-ministro do Trabalho no governo Dilma, Luppi afirmou que os acordos envolvendo outras cidades, como na capital paulista, onde o partido apoiou o candidato tucano José Serra, não influenciarão na decisão em Campinas.

"A composição em Campinas vai depender de uma definição com o prefeito Pedro Serafim, que foi bem votado e deve trabalhar para manter uma harmonia com sua coligação", disse Lupi. O prefeito conversou pessoalmente nesses encontros com Lula e com Alckmin e até o fim da tarde de quinta-feira não havia anunciado sua decisão.

Fonte: O Estado de S. Paulo

Em Salvador, PT mira classe média, e DEM busca periferia


ACM Neto e Pelegrino reajustaram suas campanhas para 2º turno

Nelson Barros Neto

SALVADOR - O resultado das urnas em Salvador revelou uma clivagem geográfica e social entre PT e DEM, fato que já condiciona as estratégias dos partidos no segundo turno.

Com a orla -mais rica- com ACM Neto (DEM) e o miolo -mais pobre- com Nelson Pelegrino (PT), à semelhança da divisão paulistana, os candidatos a prefeito reajustaram suas campanhas para tentar entrar nas zonas vencidas pelo adversário.

Ou seja: o PT mira agora a classe média, enquanto o DEM tenta seduzir a periferia.

Os dois terminaram praticamente empatados no primeiro turno: ACM Neto com 40,17% dos votos válidos e Pelegrino, com 39,73%

No dia seguinte ao resultado, petistas falavam em "explicar melhor" suas propostas à classe média, e os democratas passaram a intensificar a campanha no subúrbio, onde Pelegrino chegou a 53%, contra 27% do DEM.

"Neto faz quase todas suas caminhadas na periferia. E a gente ainda precisa desmentir boatos como o de que ele vai acabar com o Bolsa Família", diz Pascoal Gomes, marqueteiro da coligação.

Quando a campanha do DEM ensaiou usar contra o PT a adoção do horário de verão na Bahia, de olho em "trabalhadores que acordam ainda no escuro", nas palavras de José Carlos Aleluia, coordenador político de ACM Neto, o governador Jaques Wagner (PT) recuou e revogou a medida para este ano.

O marqueteiro petista Sidônio Palmeira quer ao menos reduzir a desvantagem nas zonas eleitorais coladas ao mar -com maior renda. Nessa região, ACM Neto alcançou 60% dos votos, e Pelegrino, 25%.

Fonte: Folha de S. Paulo

PT de Natal contraria cúpula nacional e declara apoio ao PDT


SÃO PAULO - Contrariando orientação da cúpula do partido, o PT de Natal (RN) decidiu apoiar o candidato Carlos Eduardo Alves (PDT), que disputa o segundo turno na cidade com Hermano Moraes (PMDB).

Os dois partidos são da base aliada do governo federal, e o PMDB reivindicava neutralidade do PT na disputa.

O impasse chegou a atrasar em um dia a declaração de apoio de Gabriel Chalita (PMDB) a Fernando Haddad (PT), em São Paulo.

Em nota divulgada anteontem, o PT de Natal disse que prestará "apoio crítico" ao PDT.

Carlos Eduardo Alves terminou o primeiro turno com 40,4%s, contra 23% de Moraes. O candidato petista, Fernando Mineiro, ficou a menos de um ponto de Moraes, com 22,6%.

Fonte: Folha de S. Paulo

Eleição sem réplica - Fernando Rodrigues


Quatro debates eleitorais em apenas duas semanas está de bom tamanho. Só que Fernando Haddad (PT) e José Serra (PSDB) terão esses quatro encontros num ambiente desprovido de contraditório.

Até onde foi possível entender do pouco divulgado pelas campanhas do petista e do tucano, jornalistas ou pessoas do público não terão direito a réplica se não ficarem satisfeitos com as respostas recebidas. Essa é uma exigência dos candidatos. É uma imposição às TVs.

Bandeirantes, Globo, Record e SBT ficam numa sinuca de bico.

Se não aceitam a criação dessa zona de conforto para os políticos, perdem a chance de fazer o debate e ganhar prestígio exibindo o "show" para sua audiência na disputa pela Prefeitura de São Paulo -o maior mercado consumidor do país.

É uma pena que tal regra de debates eleitorais engessados sobreviva durante tantos anos. Não há perspectiva de mudança à vista. Os tempos cronometrados infantilizam a conversa. "O sr. tem um minuto para sua resposta" e "candidato, o seu tempo está esgotado" são as duas frases mais ouvidas.

Se não querem ser admoestados com perguntas e réplicas acerbas, os candidatos poderiam ao menos se submeter a um modelo mais maduro: conversar como adultos, um replicando ao outro quantas vezes fosse necessário até esgotarem um assunto.

Mas PT e PSDB não se interessaram nem por esse sistema. Não querem conversar. O nome dessa atitude é um só: covardia. Ninguém aceita correr riscos. É tudo "realpolitk". O objetivo de Haddad e de Serra é fazer um jogo de cena. Fingir que há confronto, em prejuízo dos eleitores.

Petistas e tucanos vivem exaltando as diferenças que têm entre si. Tudo muda quando se trata de debater para valer durante uma campanha eleitoral. Os dois partidos não poderiam se parecer mais um com o outro.

Fonte: Folha de S. Paulo

Da abstenção e seus vazios - Carlos Melo


Tornou-se hábito dizer que PSDB e PT são as principais forças políticas de São Paulo. Uma leitura voltada, porém, para a qualidade da democracia pode relativizar esse entendimento. O eleitorado paulistano é imenso, corresponde a 6,2% do eleitorado nacional; 8.619.170 indivíduos aptos a votar. Contudo, 1.592.722 (18,5%) se abstiveram, 381.407 (4,4%) votaram em branco e 516.384 (6%) anularam; 2.490.513 eleitores esquivaram-se do mais elementar direito da democracia. O cardápio talvez não ajudasse, mas o fato é que 28,9% do eleitorado, apto, não escolheu ninguém.

O voto, não custa lembrar, é obrigatório. Seriam os mais novos e os mais velhos, liberados da obrigação? Equivaleria admitir o fracasso, incapaz de atrair e envolver. Não parece crível, pelo menos não totalmente. Ademais, nulos e brancos somam quase 900 mil votos, mais de 10%, e evidenciam o protesto. A Justiça Eleitoral considera apenas os votos "válidos", um contingente de 6.128.657 eleitores; torna os números róseos: José Serra com 30,75% e Fernando Haddad com 28,98% dos votos válidos. O potencial real do eleitorado é, contudo, ignorado. Quase um terço foi pelo ralo.

Ao considerá-lo, no entanto, chega-se a números menos animadores: José Serra terminou o primeiro turno com modestos 21,87% dos votos e Fernando Haddad, com 20,61%. Distantes do eleitorado que simplesmente não votou (28,98%), levaram uma goleada: a maior força individual da cidade foi a abstenção, em todas suas modalidades.

Serra e Haddad atingiram 42,5% do eleitorado total, somando 3.661.166 votos. A distância poderia ser medida em léguas: as duas maiores forças, capazes de monopolizar eleições na cidade, no Estado e no País, ficaram 15% aquém dos 57,5% dos demais eleitores - os que não votaram nem em um, nem em outro. Nesse vazio, caberia um outro Russomanno -1.324.021 votos, 15,3% dos votos válidos. Quase seis eleitores aptos, em cada dez, não votaram nem em Serra, nem em Haddad. A imensa maioria não é tucana, nem petista. Dado o nível da discussão entre os dois partidos, não deixa de ser um alento.

Verdade que esse fenômeno se repete em vários cantos do País. No Rio de Janeiro, 55,5% do eleitorado apto não votou em Eduardo Paes, eleito no primeiro turno. No Brasil, 25,8% do eleitorado - 35.674.026 de eleitores - absteve-se, anulou ou "branqueou". É como se, com muita sobra, todo o eleitorado do Estado de São Paulo (31.253.317 eleitores) não fosse às urnas. No mundo todo a participação declina; problema dos eleitores ou dos partidos? Cabe repetir: no caso brasileiro, o voto é obrigatório.

Não é exagero afirmar que, em São Paulo, os principais partidos são apenas os mais representativos dentre os pouco representativos. A elite que se debate em torno deles - nas redes sociais, por exemplo - se ilude; fala de si e para si. A polarização é real? Os números não a comprovam. Parece, antes, se tratar de disputas voltadas à ocupação de espaços no Estado, descoladas da maioria. Felizmente, a maioria não se move com o combustível dessas disputas, embora tucanos e petistas suponham ser o centro do universo.

O desafio para José Serra e Fernando Haddad seria, então, expandirem-se para além das fronteiras de suas tribos, de seus becos ideológicos e restritas bases; resgatar a política, entender e abraçar a cidade mais real e ancha. O segundo turno, no entanto, não começa com esta perspectiva. Neste início de campanha, conflitos se repetem e até se aguçam: mensalão do PT, renúncias de Serra, religião, privatizações e, agora, a ênfase no "kit gay". Propaganda, desqualificação e medo: personagens da Santa Inquisição rondando a cidade, num medievalismo recorrente: pastores que não trazem a luz, mas as sombras. São Paulo merecia mais. Enquanto não se discutirem os reais problemas da cidade, sua disfuncionalidade crescente, cerca de um terço do eleitorado preferirá ficar ausente. É desses vazios que se alimenta o sistema político.

É cientista político. Professor do INSPER

Fonte: O Estado de S. Paulo

Morre no Rio o jornalista Luiz Mario Gazzaneo, aos 84 anos


Internado após sofrer um infarto, ele não resistiu a duas cirurgias.

Gazzaneo trabalhou em 'O Globo' e no 'JB' e chefiou assessoria do IBGE.

O jornalista Luiz Mario Gazzaneo morreu, na manhã desta sexta-feira (12), no Instituto Nacional de Cardiologia, em Laranjeiras, na Zona Sul do Rio. Gazzaneo tinha 84 anos e estava internado desde a madrugada de segunda-feira (8), quando sofreu um infarto. Ele passou por duas cirurgias, mas não resistiu.
 
Segundo a família, o velório acontece neste sábado (14) a partir das 10h, na capela A do Cemitério São Francisco Xavier, no Caju, Zona Portuária do Rio. À tarde, seu corpo será cremado. Ele era casado com Teresa Otoni e deixa cinco filhos e sete netos.
 
Gazzaneo era filho de uma família italiana radicada em São Paulo e, muito jovem, ligou-se ao Partido Comunista Brasileiro (PCB) em 1944, em plena ditadura do Estado Novo. No ano seguinte, ele integrou o grupo que organizou o Comício do Pacaembu, quando Luiz Carlos Prestes foi apresentado aos paulistas, após cumprir nove anos de prisão.

Graduado em cinema na Escola de Cinema do Museu de Artes de São Paulo, começou no jornalismo no jornal “Notícias de Hoje” do Partido Comunista, em São Paulo, como crítico de cinema. Em 1959, veio para o Rio e assumiu a chefia da redação do jornal “Novos Rumos” (do PC até o dia 1º de abril de 1964, quando o jornal foi invadido e destruído).

Depois de seis anos na clandestinidade, voltou ao jornalismo em 1971, e foi trabalhar com Samuel Wainer na revista “Domingo Ilustrado”, da Bloch. Passou pelas revistas “Fatos e Fotos” e “Cartaz”. Em 1973, ingressou no “Jornal do Brasil” como redator da Editoria Internacional. No JB foi ainda chefe de reportagem, editor de Cidade e editor executivo. Em 1983, saiu do JB para a agência de notícias do jornal "O Globo" e ficou na editoria Nacional do jornal até dezembro de 1987.

Trabalhou também como diretor da agência de notícias Nova Press, especializada em notícias do Leste Europeu. Em 1991, deixou a agência para atuar em campanhas eleitorais. De 2000 a 2010, trabalhou no Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) como Coordenador de Comunicação Social.

Há pouco mais de um mês, em 4 de setembro, Gazzaneo deu uma entrevista em sua casa aos jornalistas Silvia Maia Fonseca e Antonio Carlos Medeiros, falando sobre passagem pelo IBGE, quando já estava pensando em se aposentar.

Ele trabalhou com o então presidente Sergio Besserman, que pessoalmente lhe telefonou para convidá-lo a reestruturar a assessoria de imprensa do instituto, conforme ele próprio conta no vídeo postado no YouTube. Ele continuou no instituto sob a presidência de Eduardo Pereira Nunes.

Silvia Maia Fonseca, da Coordenação de Comunicação Social do IBGE, guardou durante três anos a carta que Gazzaneo escreveu quando, por causa da saúde, precisou se afastar do instituto.

“Como ele nunca saiu de verdade do IBGE, achamos melhor arquivar tudo isso. Mas agora que seu coração, símbolo do amor e da paixão, deixa de bater, não tenho como recusar o pedido do meu querido amigo. Agradeço muito a esse velho coração, que irrigou sangue novo para essa instituição e, principalmente, não se cansou de ter esperança de um dia melhor”, declarou a jornalista.
 
Na carta, Gazzaneo diz que deixa o IBGE depois de oito anos e meio “feliz com a sensação do dever cumprido”. E agradece a todos “pela compreensão e o apoio ao trabalho, pelo respeito, e porque não dizer, pelo carinho e paciência com que fui tratado”.
 
 “Agora, vou curtir os meus netos e tentar, no que me resta da vida fazer mais alguma coisa para ver realizado o sonho que me alimentou. Beijos e ótimo Censo para todos”, termina ele na carta, assinando o nome pelo qual foi conhecido por gerações de jornalistas: Gazza.
 
'Profundo vácuo', diz Roberto Freire
 
 
Em nota, o deputado Roberto Freire, presidente nacional do PPS, homenageia Gazzaneo, relembrando seu vasto currículo.

“Extremamente vinculado à cultura italiana, Luiz Mario Gazzaneo traduziu para o português obras clássicas do pensamento social, de que são exemplo Maquiavel, a política e o Estado moderno, de Antonio Gramsci, e Breve história das religiões, de Ambrogio Donini, sendo de destacar que sempre se identificava com as ideias do PC Italiano, sobretudo de seus líderes históricos Gramsci, Togliatti e Berlinguer. Militante e dirigente nacional dedicado, tanto do PCB quanto do PPS, que o sucedeu, em 1992, era considerado um dos expoentes da visão humanista e democrática do socialismo. O Diretório Nacional do PPS, do qual Luiz Mario Gazzaneo foi um dos seus membros destacados, transmite aos seus familiares – viúva, filhos e netos – os seus mais fraternos e sentidos votos de pesar por essa difícil perda e lhes deseja muita paz de espírito, para suportar tão amplo e profundo vácuo, declarou o deputado no site do partido", declarou o deputado no site do partido.

Fonte: Do G1 Rio