domingo, 13 de janeiro de 2013

Conversinha - Vinicius Torres Freire

Três personagens à procura de um programa de governo conversam com empresários

Dilma Rousseff conversa com empresários. Aécio Neves e Eduardo Campos também.

Dilma quer animar a torcida e pegar umas dicas para o final de governo. Aécio e Campos querem encontrar uma torcida. Fazem "road show", uma turnê inicial de propaganda entre donos do dinheiro.

Aécio, senador tucano, provavelmente vai (ser candidato a presidente), mas finge que não. Campos, governador de Pernambuco, do PSB ora governista, provavelmente não vai, mas finge que sim. Pelo sim ou pelo não, ambos deixam como está para ver como é que fica. Isto é, ver se o governo Dilma se trumbica.

A campanha começa daqui a ano e meio. Já está tarde para uma candidatura séria. O que querem os candidatos de ocasião, oportunistas, com essas conversas com empresários além de fazer graça com quem tem poder e dinheiro?

Todo mundo sabe o que os empresários querem, da boca para fora. Na prática, empresários-empresas podem querer coisas muito diferentes. Muito empresário-empresa se arranjou com o que se chama de "intervencionismos" dos governos Lula 2 e Dilma. A chiadeira começou mesmo quando o PIB empacou e Dilma engrossou com a banca e uns outros.

Uma candidatura que não se resuma a esperar o governo Dilma cair de podre, a encontrar podres de Lula e a demagogias teria de arrumar encrenca com empresário-empresa.

Reduzir favores estatais a empresas dá rolo. Abrir a economia, ainda que de modo lento, gradual e seguro, dá rolo. Dar cabo do endividamento público progressivo dá rolo (a dívida federal ainda custa uns 5% do PIB por ano, dinheiro que vai para bancos, empresas capitalizadas e famílias ricas).

Dá rolo e trabalho submeter as empresas a mais competição e ao mesmo tempo usar a energia e os fundos do governo para auxiliá-las com ciência e tecnologia, uma providência óbvia faz décadas.

Não se vai tirar o país do trilho conservador sem mexer também com esses interesses, que são os da parceria da grande empresa com o Estado, como quase sempre.

Liderar Estados e municípios a fim de revolucionar a educação dá rolo. Inclui mexer com a corporação dos professores, uma das maiores e ora das mais reacionárias categorias de trabalhadores.

É preciso debulhar o Estado de suas mil-e-uma inutilidades, limitar seus agora excessos assistenciais, mexer a fundo na sua repartição de gastos. De outro modo, não se vai financiar o que deveria ser a prioridade de governos, em especial os de esquerda: da educação dos pobres da creche à universidade. Ou bancar a redução da violência, que afeta em especial os pobres. Morremos como moscas por causa de tiro e facada; morremos aos montes no trânsito e no trabalho; morremos de doenças primitivas. Bárbaros, não damos a mínima para essas dezenas de milhares de mortes.

O tempo é escasso para inventar uma candidatura que tenha planos sérios e agregue capacidades técnicas e apoios sociais para cuidar disso tudo. Nem se mencione coisa mais complicada, como tornar a democracia brasileira mais democrática, digamos, que são outros quinhentos, talvez quinhentos anos.

Enquanto isso, Dilma conversa com empresários. Aécio também. Campos também.

Fonte: Folha de S. Paulo

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