sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

Os elefantes de Dilma - Monica Baumgarten De Bolle

No centro comercial de Bangcoc, na interseção de dois enormes shopping centers e de um complexo de hotéis de luxo, rodeado por grandes telões luminosos da mais alta tecnologia, símbo­los da supremacia asiática nesta área, está o santuário de Erawan. Visitado diariamente por milhares de turistas curiosos e habitantes locais que fazem suas rezas e oferendas ao deus hindu Brahma, o santuário é anacrônico. O grau de surrealismo é delicioso: Givenchy e Lanvin ao lado de muito incenso, guirlandas de flores e dançarinas com trajes típicos tailandeses. Erawan é o nome tailandês do mítico elefante branco de três cabeças do budismo e do hinduísmo. Para muitos povos orientais, o elefante branco é um ani­mal sagrado, reverenciado, um símbo­lo de sorte e vida longa. Um sinal de bom agouro.

Pena que para nós, ocidentais, ele te­nha outro significado. Para nós, "elefan­te branco" é uma expressão que designa a posse de algo do qual não é possível se desvencilhar, cujo custo - de manuten­ção, ou de se carregar - supera o seu su­posto benefício ou valor. O ano de 2013 começa com o vislumbre de pelo menos um elefante branco: o oneroso sistema elétrico brasileiro, que tende a se tomar ainda mais problemático em razão das interferências recentes do govemo e da dependência das usinas hidrelétricas de fio d"água, que nos submetem às varia­ções climáticas que afetam os níveis dos reservatórios. A alta dos preços de ener­gia no mercado livre proveniente do uso inten sivo do sistema termoelétrico já tem levado os grandes consumidores industriais a considerar a hipótese de um “racionamento branco” uma redu­ção intencional do consumo de energia.

Se a indústria reduzir a demanda por energia elétrica, insumo fundamental para a produção, o ritmo da atividade no setor poderá ser menor, influenciando as perspectivas para o crescimento eco­nômico de 2013. Ou seja, o racionamen­to branco derivado de um sistema de geração e distribuição de energia desco­rado pode gerar uma expansão econô­mica sem o grau de pigmentação deseja­do pelo govemo, ano em que se espera algo com mais vivacidade do que o páli­do 1% de crescimento de 2012.

O elefante branco da energia elétrica tem outras implicações. Como alertam os peritos do setor, ele pode impedir a redução das tarifas - os 20% almejados pela presidente -, que tanto bem faria para a inflação de 2013. Diante das amea­ças para a atividade e para o rumo dos preços neste ano que se inicia, sobretu­do depois de resultados pouco auspicio­sos nos seus primeiros dois anos de go­vemo, não surpreende que Dilma tenha decidido convocar uma reunião de emergência para avaliar a situação ener­gética do País. Tomara que não tenha sido tarde demais.

Mas a manada de elefantes de Dilma não é totalmente desprovida de cor. As infelizes manobras contábeis para ga­rantir o cumprimento da meta de superávit primário em 2012 (o resgate anteci­pado de R$ 124 bilhões do Fundo Sobe­rano e a antecipação de dividendos do BNDES e da Caixa) pisoteiam a credibi­lidade fiscal como um imenso elefante vermelho que estraçalha um dos pilares fundamentais da estabilidade macroe­conômica. Não há estabilidade sem cre­dibilidade na política econômica, uma lição que já deveríamos ter aprendido. E uma das razões para o superávit mais baixo foi justificada: a ampliação das de­sonerações, das ações do govemo para diminuir os custos das empresas. A ofuscação deliberadamente tosca dos efei­tos disso sobre as contas públicas é mais um motivo para que os periódicos internacionais que nossas autoridades não mais acompanham continuem a publi­car matérias jocosas sobre as trapalha­das do govemo brasileiro.

Enquanto crescem os riscos econô­micos de curto e de médio prazos, o ministro da Fazenda, em fase zen, prome­te mais calma e serenidade em 2013, afir­mando que a maioria das medidas para reanimar a economia brasileira já oi to­mada. A ver.

Uma coisa, porém, parece certa: a sa­raivada de medidas adotadas em 2012 é uma manada de elefantes brancos e vermelhos que entra em 2013 para fiel ne­nhum - budista ou hindu - pôr defeito.

Economista e professora da PUC-RJ 

Fonte: O Estado de S. Paulo

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