quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

Dirceu comanda a festa mensaleira

Condenado a 10 anos de prisão pelo STF, o petista é tratado como mártir em ato organizado pelo PT na Câmara Legislativa.

Palanque distrital para José Dirceu

Ana Maria Campos, Paulo de Tarso Lyra

Mesmo condenado a 10 anos e 10 meses de prisão por formação de quadrilha e corrupção ativa, José Dirceu foi tratado ontem como mártir entre petistas no auditório da Câmara Legislativa. Um seminário em defesa do “Legado Lula” se transformou em um ato de desagravo ao ex-ministro-chefe da Casa Civil. Embora parte do PT tente virar a página do mensalão, Dirceu foi a estrela da homenagem. Ele tratou de vincular seu infortúnio pessoal no Supremo Tribunal Federal (STF) a uma defesa dos oito anos de governo Lula e, ainda, ao sucesso da gestão da presidente Dilma Rousseff. Em 25 minutos de discurso, citou várias realizações petistas na última década e convocou a militância para sair em sua defesa.

Organizado pelo PT do DF, o seminário foi um ato político que Dirceu deve reproduzir em vários estados, preparando a legenda para a campanha eleitoral de 2014. Os correligionários fizeram fila para tirar uma foto ao lado do homem que é considerado pela cúpula da Justiça brasileira o chefe de uma organização criminosa formada para comprar apoio político no Congresso. Os alvos dos petistas eram a chamada “imprensa golpista e conservadora”, o Judiciário e o Ministério Público. Para Dirceu, tudo não passa de uma tentativa de atingir o partido e a gestão petista.

“Não há como separar o apoio à história do presidente Lula, o apoio ao governo Dilma e a Justiça que precisa ser feita na Ação Penal 470”, disse Dirceu.

Dois petistas ligados ao czar petista se encarregaram da organização: o líder do PT na Câmara Legislativa, Chico Vigilante, da corrente Articulação; e o deputado Roberto Policarpo, presidente regional da legenda, que integra o CNB (Construindo um Novo Brasil). No clima de ataques ao julgamento do mensalão, Pedro Paulo Henrichs Neto, da Juventude Petista, entregou a Dirceu uma representação que disse ter encaminhado à Organização dos Estados Americanos (OEA) em Washington com pedido de revisão das condenações. “Trata-se de uma manifestação espontânea da militância”, disse Dirceu. Henrichs foi um dos organizadores do jantar em uma galeteria do Lago Norte para arrecadar dinheiro e pagar as multas aplicadas pelos ministros do STF aos mensaleiros. Outro integrante da Juventude Petista, Márcio Siddarta foi um crítico ácido do Judiciário. “Está em jogo muito mais do que um simples moralismo falso”, disse.

Dirceu foi recebido com um grito de guerra já carcterístico: “Dirceu, guerreiro do povo brasileiro”. Estava acompanhado do filho, o deputado federal Zeca Dirceu (PT-PR), e de aliados como o ex-deputado Paulo Rocha (PT-PA), absolvido da acusação de lavagem de dinheiro e provável candidato ao governo do Pará; além do embaixador da Venezuela no Brasil, Maximilien Sánchez Arveláiz.

A pajelança aos mensaleiros continua hoje. Dirceu, ao lado dos deputados José Genoino (PT-SP), João Paulo Cunha (PT-SP) e do ex-tesoureiro do partido, Delúbio Soares, serão homenageados na festa de 78 anos do ex-deputado federal Ricardo Zarattini (PT-SP), marcada para a Casa de Portugal, em São Paulo. O evento serviria, inicialmente, para comemorar, além dos 78 anos de Zarattini, os 60 anos de militância política do ex-parlamentar petista.

Preso durante a ditadura militar, Zarattini – pai do atual deputado Carlos Zarattini (PT-SP), coordenador da campanha de Marta Suplicy à prefeitura em 2008 – decidiu estender à sua homenagem ao amigo condenado pelo STF. Durante o governo militar, Zarattini pai foi preso por ter liderado movimentos trabalhistas na Zona da Mata canavieira, em Pernambuco. No mesmo período, Dirceu, condenado pelo STF por ser o chefe do mensalão, era preso em Ibiúna durante a realização do Congresso da União Nacional dos Estudantes (UNE).

Em 1969, um grupo revolucionário sequestrou o embaixador norte-americano Charles Burke Elbrick. Em troca da liberdade do diplomata, foi apresentada uma lista de 15 presos políticos que os militantes de esquerda desejavam ver fora das grades. Dentre eles, encontravam-se Dirceu e Zarattini, que voaram juntos para Cuba, sendo recebidos por Fidel Castro.

Fonte: Correio Braziliense

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