quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

É a guerra cambial - Celso Ming

Afinal, de que animal se trata?

O termo repetido cada vez mais insistentemente nas reuniões dos maiorais da economia global é guerra cambial – o mesmo que o ministro da Fazenda do Brasil, Guido Mantega, vem usando desde setembro de 2010.

Para o presidente do Banco Central Europeu (BCE), Mario Draghi, esse bicho não existe. O termo guerra cambial é forte demais, disse ele nesta quarta-feira. Mas o presidente da França, François Hollande, não quer discussões sobre metafísica. Quer logo uma ação contra o que também vai denominando como guerra cambial.

Prova de que o problema está assustando foi o comunicado assinado pelas autoridades financeiras do Grupo dos Sete (G-7) países ricos, divulgado na terça-feira por meio do Banco da Inglaterra (banco central inglês). Foi reafirmado o compromisso das principais autoridades financeiras do mundo de que o câmbio não pode ser manipulado.

Quando Mantega começou a fazer suas denúncias, o alvo era o Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos). O ministro o acusava – e ainda acusa – de despejar trilhões de dólares no mercado com o objetivo admitido de estimular a retomada do crescimento econômico, mas cujo único resultado é inundar os mercados de câmbio dos países emergentes com moeda estrangeira. A principal consequência, vem advertindo ele, é a valorização das moedas nacionais pelo simples efeito da lei da oferta e da procura. Essa valorização puxa para cima os preços em dólares do produto nacional e reduz a competitividade do setor produtivo. É a mesma denúncia que repetida por vezes pela presidente Dilma Rousseff com outra metáfora: tsunami monetário.

Mas as autoridades não estão falando da mesma coisa. A preocupação do momento não é a atitude do Fed – que segue recomprando títulos no mercado (portanto, despejando dólares), à proporção de US$ 45 bilhões por mês –, mas a do Banco do Japão (BoJ) – que, em menos de três meses, realizou um despejo colossal de moeda no mercado, que provocou desvalorização do iene de 13% em relação ao dólar.

As pressões do presidente Hollande são de que o BCE saia da inércia, que use a bazuca que tem à sua disposição e que também emita euros em volume suficiente para enfrentar com as mesmas armas os ataques do BoJ. Se fosse atendido, a guerra cambial deixaria de ser somente um conceito discutido por teóricos. Passaria a ser um conflito reconhecido, sujeito a funestas consequências.

O comunicado do G-7, assinado também pelo ministro das Finanças do Japão, reafirma compromissos dos senhores do mundo com o livre jogo de mercado. Mas as tensões chegaram a um nível tal que exigem mais do que simples declarações.

Parece inevitável que a reunião de cúpula dos principais dirigentes das Finanças e dos bancos centrais do Grupo dos Vinte (que incluem alguns países emergentes), marcada para ser realizada nesta sexta-feira e neste sábado, em Moscou, para buscar saídas para o crescimento econômico, aprofunde as discussões.

Duas perguntas ficam para ser respondidas. A primeira é se, desta vez, haverá mais do que declarações inconsequentes e se as coisas, com esse ou outro nome, continuarão como estão. E a segunda é o que fazer para acabar com a paradeira que aí está, caso os grandes bancos centrais fiquem proibidos de usar o câmbio para relançar suas economias.

Confira

Assim evoluiu a cotação do euro em dólares, até ontem, desde a segunda quinzena de setembro de 2012.

Piorou. Os números do comércio exterior em fevereiro são ruins, seja qual for a comparação. A média diária das exportações caiu 12,2% ante fevereiro de 2012. E a acumulada do ano caiu 5,7% em relação à acumulada do mesmo período. Enquanto isso, as importações cresceram 11,3% e 15,9%, respectivamente. A importação de combustíveis continua pesando: aumentou 65,2% se comparada à média diária de fevereiro de 2012.

Fonte: O Estado de S. Paulo

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