terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

FHC sobe o tom contra o PT e chama Dilma de 'ingrata'

Ex-presidente acusa petistas de terem 'usurpado' projeto tucano no governo

Fernando Henrique diz que Dilma 'cospe no prato que comeu' ao rejeitar herança de administrações tucanas

Paulo Peixoto e Daniela Lima

BELO HORIZONTE - O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso chamou ontem de "ingrata" a presidente petista Dilma Rousseff, disse que ela "cospe no prato que comeu" e acusou o PT de ter "usurpado" propostas tucanas após chegar ao poder em 2003.

As declarações foram feitas ao lado do senador Aécio Neves (MG), virtual candidato do PSDB à Presidência em 2014, durante seminário para discutir os rumos do partido, em Belo Horizonte.

O ataque de FHC sobe o tom das provocações que petistas e tucanos iniciaram na semana passada, quando Dilma foi lançada à reeleição pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva na festa em que o PT comemorou os 10 anos de sua chegada ao poder.

Questionado sobre o discurso de Dilma no evento, em que a presidente afirmou não ter herdado "nada" da gestão tucana, Fernando Henrique afirmou: "O que é que a gente pode fazer quando a pessoa é ingrata? Nada. Cospe no prato que comeu. Meu Deus".

No início de seu governo, há dois anos, Dilma reconheceu avanços nos governos tucanos e fez demonstrações públicas de apreço pelo ex-presidente, que retribuiu fazendo elogios à sucessora.

A antecipação das discussões sobre a sucessão presidencial fez os dois adotarem tom diferente agora. Petistas e tucanos veem a polarização entre eles como uma arma eficaz para mobilizar as bases de seus partidos.

Aécio Neves ainda não assumiu publicamente sua intenção de se candidatar à Presidência, mas trabalha para assumir a presidência do PSDB em maio. Ontem, FHC disse que os dois irão percorrer o Brasil "rumo à vitória".

O ex-presidente acusou o PT de se apropriar de ideias tucanas após chegar ao poder. "Quem não tem projeto é quem está no governo, porque eles pegaram o nosso. O que aconteceu no Brasil foi uma usurpação de projeto."

"Eles tinham duas grandes metas, uma ligada ao socialismo e outra ligada à ética. De socialismo nunca mais ninguém falou. E de ética? Meu Deus, não sou eu quem vai falar a respeito do que está acontecendo", ironizou.

FHC disse que o PSDB deveria recorrer novamente ao discurso da ética para combater os petistas, uma estratégia adotada sem sucesso pelo partido em 2006, quando Lula se reelegeu.

"Vocês [petistas] que subiram falando tanto de ética, o que vocês fizeram com esse país?", disse, numa referência velada ao mensalão. "Já pedi ao presidente Lula que de público explicasse que não tem nada a ver com isso."

O ex-presidente finalizou as referências ao julgamento dizendo que o PT precisa ser cobrado pelo que fez. "Temos que ser duros nessa matéria. [...] Nós fizemos outras coisas. Nós não roubamos, não."

O deputado Eduardo Azeredo (PSDB-MG) é reu no processo do chamado mensalão mineiro, acusado de participar de um esquema semelhante ao que levou à condenação de ex-dirigentes petistas no ano passado.

No final da reunião de ontem, FHC foi explícito ao falar da candidatura de Aécio. "Vamos percorrer o Brasil, senador. Vamos plantar a semente do PSDB, a semente da vitória. Nós vamos ganhar."

Questionado sobre as críticas do ex-deputado Ciro Gomes (PSB-CE) ao seu nome e aos de Eduardo Campos (PSB) e Marina Silva, Aécio disse que gostaria de falar com Ciro: "Talvez ele se surpreenda com o conjunto de boas ideias que temos".

Fonte: Folha de S. Paulo

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