sábado, 2 de fevereiro de 2013

Indústria tem a primeira queda desde 2009

Recuo foi de 2,7% no ano passado. Apesar de estímulos do governo, produção está abaixo do nível pré-crise

Fabiana Ribeiro

A produção industrial brasileira fechou 2012 com queda de 2,7%, a primeira retração desde 2009 (-7,4%). O destaque foi para o fraco desempenho do setor de bens de capital, informou o IBGE. Em dezembro, a produção ficou estável ante novembro, acrescentou o órgão, que também revisou fortemente o resultado mensal de novembro, de queda de 0,6% para recuo de 1,3%, o pior desempenho desde janeiro de 2011 (-2,1%). Com o desempenho em linha com as expectativas do mercado, os analistas não revisaram as projeções para o Produto Interno Bruto (PIB) deste ano. Para 2013, as previsões apontam um aumento na produção entre 3,0% e 3,5%.

Na comparação com dezembro de 2011, a produção caiu 3,6% no mês passado, melhor do que a expectativa do mercado de queda de 4,7%. A produção industrial está abaixo do patamar pré-crise: 4,5% inferior ao nível de produção de setembro de 2008.

Todas as categorias de uso mostraram retração no ano passado, com forte destaque para a produção de bens de capital - ligado aos investimentos -, que despencou 11,8% na comparação com 2011. São 16 meses de queda seguida nesse grupo. Também houve queda de 1,7% na produção de bens intermediários, na comparação anual, e de 1% na de bens de consumo.

- O cenário de crise internacional atravessa a produção de 2012. E justifica, e muito, o comportamento da produção industrial no ano passado - disse André Macedo, gerente da coordenação da indústria do IBGE. - O ano de 2012 ficou marcado, inicialmente, por setores importantes da indústria operando com níveis de estoque acima do padrão normal. Foi o caso, por exemplo, do setor de automóveis.

Mas apenas o estoque não justifica a queda na produção no ano passado, acrescenta Macedo:

- Alguns comportamentos negativos de 2012 passam pelo maior comprometimento da renda das famílias, inadimplência elevada, lenta recuperação da confiança dos empresários e mais importados no mercado doméstico.

Ao longo do ano, a indústria reagiu às medidas de estímulo do governo, mas que não foram suficientes para dar fôlego no ano todo.

- Há clara melhora na produção por causa dos incentivos do governo, mas essas medidas não têm força suficiente e se ressentem com renda apertada e inadimplência. De janeiro a maio, a indústria tem queda de 2,6%. De junho a outubro, há uma alta de 1,9%. Essa melhora é calcada em bens de consumo duráveis. Entretanto, essa melhora não reverte as taxas negativas do início do ano - afirmou ainda ele.

Resultado mostra freio nos investimentos

Macedo destacou ainda que a queda de produção industrial está mais disseminada. Em dezembro frente a novembro, , 14 dos 27 ramos pesquisados pelo IBGE produziram menos. As maiores quedas foram dos setores de máquinas e equipamentos (4,5%, acumulando perda de 5,1% em dois meses), e de máquinas para escritório e equipamentos de informática (13,1%). Por outro lado, as maiores contribuições positivas são das indústrias extrativas (2,8%), farmacêutica (3,7%) e outros equipamentos de transporte.

Segundo Luis Otávio Leal, economista do ABC Brasil, o maior legado da política do IPI é o ajuste dos estoque mais rápido nos setores beneficiados.

- Há setores com oscilações por causa das medidas do governo. Mas, em geral, a indústria não anda. Entretanto, o setor que deve entrar com estoque acima do desejável é o de bens de capital. Ainda assim, indicadores, como o de consultas do BNDES, sugerem um investimento melhor em 2013, só não se sabe o quão melhor.

Manolo Canosa foi um dos muitos empresários brasileiros com dificuldades no ano passado. Dono de uma das principais indústrias produtoras de escovas de cabelo e pincéis e presidente do sindicato do setor, o Simvep, ele diz que as empresas associadas ao sindicato (que também representa os produtores de vassouras) fecharam o ano passado "no zero a zero":

- É como se 2012 não tivesse existido. Digo que podemos até publicar uma nota de falecimento do nosso setor. Estamos preocupados em 2013 porque em janeiro venceu o antidumping de escovas de cabelo vindas da China. Pedimos a renovação, mas o Ministério leva oito meses para avaliar o pedido e conceder ou não.

O resultado da indústria retrata ainda o forte freio nos investimentos. O economista André Guilherme Perfeito, da Gradual Investimentos, ressalta que a produção de bens de capital "afundou quase 15%".

Macedo acrescenta que o retrato da indústria, pelo lado dos investimentos, não é positivo.

- É um saldo negativo, não pela indústria apresentar queda de 2,7%. É claro que há setores que responderam bem ao longo do ano, caso da linha branca dos eletrodomésticos, com aumento de 12% na produção. Mas a queda da produção dá uma preocupação para o início de 2013. É um setor que trata de expectativas - disse ele. - Mesmo porque esse indicador reflete os investimentos. Isso tem a ver com a expectativa de que, neste momento, não é preciso fazer novos investimentos dado à demanda.

Para Fernanda Consorte, economista do Santander, "o ritmo da industria está fraco e generalizado". Para ela, o PIB não chega a subir 1% em 2012, mas em 2013 deve ser melhor.

- Não mudei as projeções oficialmente, mas não descarto um crescimento menor.

Já a Vale divulgou ontem seu relatório de produção do ano passado. As más condições climáticas fizeram com que a produção de minério de ferro da Vale caísse pela primeira vez desde 2009, quando a mineradora foi afetada pela forte retração econômica mundial. A produção de minério, carro-chefe da empresa, foi de 319,96 milhões de toneladas em 2012, recuo de 0,8% em relação a 2011. Embora esperada, a queda foi menor que a estimada pelo mercado.

Fonte: O Globo

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