sábado, 16 de fevereiro de 2013

Mantega agora fala em juros maiores para conter inflação

Ministro diz que inflação acima do centro da meta acende o sinal de alerta e que alta da Selic, e não câmbio, é a principal arma contra aumento de preços

Declaração faz ações dos grandes bancos dispararem na Bovespa, com a perspectiva de avanço da taxa de juros

Sheila D’Amorim, Mariana Carneiro

MOSCOU, SÃO PAULO - O câmbio não será instrumento de controle da inflação, afirmou ontem o ministro Guido Mantega (Fazenda).

Em Moscou, onde participa do encontro dos países que integram o G20, ele afirmou que o Banco Central tem espaço para agir e que a taxa de juros ainda é a principal arma contra a alta de preços.

"[A inflação] acima do centro da meta já acende o sinal de alerta e o governo fica atento para ver se não vai sair de controle", disse. O IPCA (índice oficial) subiu 6,15% nos 12 meses até janeiro, perto do teto da meta, de 6,5%.

"O BC tem que ficar vigilante e, se a inflação não ceder espontaneamente, tomará as devidas providências."

Questionado se isso pode significar alta de juros neste ano, Mantega disse que este é assunto do Banco Central.

No mercado, a declaração foi recebida com mais apostas de que a taxa Selic vá subir ainda neste ano, em resposta à alta da inflação.

Contratos de juros futuros, negociados na BM&F, com vencimento em janeiro de 2014 subiram para 7,63%, indicando uma alta de ao menos 0,25 ponto percentual na taxa atual, hoje em 7,25%.

"Tem ficado cada vez mais claro para o mercado que o BC deverá subir os juros", afirma Luciano Sobral, sócio da gestora Fram Capital.

Nas últimas semanas, havia ganhado força no mercado a interpretação que o governo deixaria a cotação do dólar baixar para ajudar no controle da inflação.

O dólar mais baixo barateia importados e, no mercado doméstico, reduz preços de produtos que são vendidos pelo Brasil no exterior.

Um dos motivos para aposta no real mais forte foi uma entrevista em que Mantega disse que não aceitaria uma cotação do dólar de R$ 1,85. Investidores interpretaram a afirmação como um valor-alvo para o dólar, hoje ao redor de R$ 1,95, e passaram a acreditar na queda da moeda.

Ontem Mantega afirmou que suas declarações foram justamente para tentar desfazer a ideia de que o governo usaria a queda do dólar para debelar a inflação.

Ele disse que a taxa de câmbio atual no Brasil está num patamar bastante razoável e "dá certa competitividade" à indústria.

Câmbio 'razoável'

Para ele, a queda do dólar registrada no início deste ano, quando a cotação saiu de cerca de R$ 2,10 para um nível ligeiramente abaixo de R$ 2, ocorreu "dentro de uma margem razoável".

Com as declarações de Mantega e nova intervenção do BC no mercado, a aposta de uso do câmbio contra a inflação perdeu fôlego ontem.

A cotação do dólar à vista, que havia iniciado o dia em queda, subiu e fechou em leve alta, a R$ 1,964.

"Houve uma mudança e os sinais mais recentes, dados ontem, indicam que o governo trabalhará mais com juros do que com câmbio para conter eventual deterioração da inflação", diz Mauro Schneider, da corretora CGD.

Mantega ressaltou ainda que o governo vem adotando medidas para minimizar a alta de preços -como a redução do preço da energia.

"Temos que distinguir fatores sazonais de fatores estruturais, que são mais preocupantes. Não vejo fatores estruturais", disse. Para ele, o cenário para inflação tende a melhorar ao longo do ano.

O discurso de Mantega também influenciou negócios na Bolsa. As ações de bancos dispararam, refletindo a perspectiva de possível elevação na taxa de juros.

As ações preferenciais (mais negociadas e sem direito a voto) da Itaúsa e do Itaú Unibanco tiveram alta de 4,67% e 4,64%. Já os papéis preferenciais do Bradesco se valorizaram em 4,42%, enquanto os ordinários (com direito a voto) do Banco do Brasil subiram 2,52%. Os units (conjuntos de ações) do Santander avançaram 3,45%.

Estímulo

Depois de sucessivos estímulos ao consumo como estratégia para retomar o crescimento da economia, Mantega reiterou que o foco do governo agora são medidas que façam os empresários desengavetar investimentos.

"Não há planos para novos estímulos [ao consumo]. Estamos muito focados em investimentos", disse.

A preocupação com o investimento não se deve apenas ao crescimento, mas também ao controle da inflação.

Colaborou Anderson Figo, de São Paulo

Fonte: Folha de S. Paulo

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