terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

O bloco das eleições está na rua

Os prováveis candidatos à Presidência em 2014 iniciam seu esquenta em pleno Carnaval. Qual deles conseguirá empolgar o setor 1?

Alberto Bombig e Leopoldo Mateus

A presidente Dilma Rousseff convocou uma rede nacional de televisão no dia 23 de janeiro para anunciar a redução da conta de luz. Seu pronunciamento teve um efeito colateral similar aos fogos que espoucam antes da entrada das escolas no Sambódromo: desencadeou o desfile de candidatos à Presidência da República em 2014. O tom do discurso de Dilma, dividindo os brasileiros entre "nós" e "eles" - situação e oposição - foi considerado um gesto de campanha. Para seus adversários, havia intenções eleitoreiras até na fantasia - ops, figurino - que a presidente usava. "Dilma usou roupas vermelhas no pronunciamento oficial numa clara referência às roupas vermelhas utilizadas na campanha de 2010, fazendo alusão à cor do seu partido", escreveram os caciques do PSDB, em representação enviada ao Ministério Público. Do pronunciamento de Dilma para cá, os potenciais candidatos à sucessão presidencial empreenderam várias manobras de bastidores com o intuito de fazer alianças e fortalecer seus nomes. Não descansaram nem na semana que antecedeu o Carnaval, tradicionalmente esvaziada por causa da preparação para a folia. Ao contrário: foi exatamente na semana passada que eles puseram o bloco na rua.

No carro abre-alas está o governador de Pernambuco, Eduardo Campos. No final do ano passado, em entrevista a ÉPOCA, ele negou peremptoriamente ser candidato à sucessão de Dilma. Nas primeiras semanas do ano, agiu como candidato. Fez inaugurações, posou para fotos e liberou seus correligionários para que lançassem "à revelia" sua candidatura. Cinco políticos da base de Campos ouvidos por ÉPOCA afirmaram que ele será candidato. No início de fevereiro, pela primeira vez ele marcou posição contra o governo de forma veemente. Na eleição para a presidência do Senado, Campos deixou de apoiar o peemedebista Renan Calheiros - o favorito do Planalto. Na Câmara, resolveu lançar um candidato próprio, Julio Delgado (MG). Por pouco não levou a eleição para um segundo turno. Com o gesto, deu uma inequívoca demonstração de força e independência.

A manobra de bastidores mais mirabolante da semana passada tevE como objetivo justamente “neutralizar” Campos. O autor do ousado passo de dança foi o veterano mestre-sala Luiz Inácio Lula da Silva. Segundo seus correligionários, ele cogitou sacrificar a candidatura do PT ao governo do Estado de São Paulo para apoiar o vice-presidente Michel Temer ou alguém indicado por ele. Seria uma troca simples: o PMDB ganharia a cabeça de chapa no governo de Sâo Paulo, com o apoio de Lula e do PT, e cederia a Vice-Presidência a Eduardo Campos, que concorreria ao lado de Dilma no ano que vem. Segundo apurou ÉPOCA na semana passada, o volteio de Lula não deve ter nota alta dos jurados. Por uma razão simples: fortalecido, o PMDB não aceitaria entregar o cargo de vice-presidente. No Congresso, o partido de Temer atingiu seu objetivo de presidir a Câmara dos Deputados, com Henrique Eduardo Alves (RN), e o Senado, com Renan Calheiros (AL). Os mandatos são de dois anos. Portanto, terminarão no início de 2015. Dessa forma, os peemedebistas estarão no comando do Legislativo federal em todo o período eleitoral. Isso aumenta ainda mais o poder de barganha do partido, principal vencedor das disputas no Congresso.

As evoluções de Lula mostram quanto o PT está preocupado com uma possível candidatura de Campos, forte numa das regiões em que o partido do governo tem mais votos: o Nordeste. “Lula é um animal político e sabe com quem tem de se preocupar. E, neste momento, esse alguém é Eduardo”, diz um dos líderes do PSB. Para os correligionários de Campos, uma eventual Vice-Presidência - com a promessa de apoio em 2018 - não o comoveria. “Se Haddad for bem na prefeitura de São Paulo, ele não se credencia à Presidência em 2018?”, diz um dos correligionários de Campos. Ele acha - e seus companheiros do PSB concordam - que a melhor garantia que Campos pode ter para 2018 é uma bela votação em 2014. Eles dizem que Campos só não sai se perder no quesito cronometragem - se não conseguir formar alianças que lhe garantam um tempo mínimo na TV.

A oposição formal a Dilma, além da representação contra o uso dos blazers em tons de vermelho, vem realizando uma série de reuniões desde o fim do ano passado. Desde o início do ano, o senador Aécio Neves, pré-candidato do PSDB à Presidência, vem se reunindo no apartamento que mantém no Rio de Janeiro com tucanos próximos a Fernando Henrique Cardoso, como Gustavo Franco e Arminio Fraga. Fernando Henrique é um dos principais defensores da candidatura de Aécio. No final de janeiro, Aécio se encontrou com o governador paulista, Geraldo Alckmin, e com o ex-governador José Serra para negociar a composição da nova direção do partido, que assumirá em maio. Para ganhar tempo, Serra e Alckmin dizem que o PSDB não deverá lançar candidato antes de definida a nova direção do partido. O grupo de Aécio gostaria de vê-lo vitorioso em maio e já em campanha a partir dessa data. Para o cientista político Carlos Melo, do Instituto de Ensino e Pesquisa (Insper), os tucanos têm de resolver o impasse entre o grupo de Aécio e os paulistas para avançar rumo a 2014. “Tem gente que quer Aécio presidente do partido, mas há outro grupo que se arrepia ao ouvir isso”, diz. Até agora, tem sido difícil ver os três principais caciques do PSDB - Aécio, Serra e Alckmin - cantar o mesmo enredo sem atravessar o samba.

Enquanto o PSDB não se define, correligionários de Campos dizem que ele faria de bom grado uma aliança com os tucanos, desde que ficasse na cabeça da chapa. Campos corteja também a ex-senadora Marina Silva, a terceira colocada na eleição presidencial de 2010, ela ainda trabalha pela candidatura própria. Para isso, terá de criar um novo partido ou de se filiar a um já existente que abrace seu projeto, pois deixou o PV em 2011. Por enquanto, seus correligionários, sem partido, se agrupam em torno de um movimento que já foi apelidado de “marinismo”. Marina tenta angariar quadros que já foram do PV ou que simpatizam com a causa verde, como Sérgio Xavier, atual secretário do Meio Ambiente de Pernambuco. Em São Paulo, a principal aposta de Marina, conforme revelou a coluna de Felipe Patury em ÉPOCA, é convencer o senador petista Eduardo Suplicy a integrar seu novo partido. Ainda na ala verde, o PV ensaia lançar o ex-deputado Fernando Gabeira ao Planalto. Mas a sigla ainda está dividida. Na semana passada, Dilma teve um encontro com Sarney Filho (PV-MA) para iniciar uma aproximação com o partido. Ela gostaria de contar com o apoio formal da cúpula do PV na campanha pela reeleição. Isso ajudaria Dilma a neutralizar um novo “efeito Marina”. Nunca antes neste país - pelo menos desde a redemocratização - as eleições presidenciais foram tão antecipadas. No mundo do Carnaval, a escola que consegue levantar o setor 1 - a primeira arquibancada do Sambódromo - é logo considerada favorita. É isso que pretendem os candidatos que, desde este Carnaval, iniciam o esquenta na passarela da política.

Fonte: Revista Época

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