segunda-feira, 11 de março de 2013

O desafio de sair mais forte das urnas

Especialistas apontam benefícios e riscos da corrida pelo Planalto para o cacife político dos candidatos

Juliana Colares

Ainda não confirmada oficialmente, a candidatura do presidente do PSB e governador de Pernambuco, Eduardo Campos, à Presidência da República em 2014 é dada como certa por correligionários, opositores e cientistas políticos. A maior dúvida, no momento, é se Campos conseguirá ir com tudo para tentar desbancar a presidente Dilma Rousseff ou se a candidatura nas próximas eleições servirá, na verdade, como preparação para 2018. O recente passado da política brasileira mostra que a estratégia de se lançar candidato em uma disputa de olho no pleito seguinte pode ser positiva, mas não é garantia de sucesso nem político nem eleitoral.

Para o cientista político e professor do Instituto de Ensino de São Paulo (Insper) Carlos Mello, o caso Ciro Gomes é clássico. Candidato à Presidência da República em 1998, recebeu o apoio de 7,4 milhões de eleitores, o equivalente a 10,9% dos votos válidos. Mais bem projetado nacionalmente, voltou à disputa em 2002, mas amargou a quarta colocação, atrás de José Serra — que disputou o segundo turno com Luiz Inácio Lula da Silva, eleito pela primeira vez naquele ano — e de Anthony Garotinho.

“Em 2002, Ciro começou muito bem. Não foi o eleitorado que o desconsiderou, foram os erros dele. Até aquele momento, ele era um jogador importante. O que derrotou Ciro foram erros dele, não da estratégia de se lançar nas eleições anteriores para se tornar mais conhecido em território nacional”, diz Mello, lembrando, por exemplo, a infeliz declaração de Ciro sobre a então mulher, a atriz Patrícia Pillar, quando o candidato do PPS afirmou que o papel dela na campanha era dormir com ele.

“No caso de Heloisa Helena (candidata à Presidência da República em 2006 pelo PSol), ela não representava uma terceira via, como foi o caso de Ciro em 2002. O Cristovam Buarque (também candidato em 2006) não teve nova alternativa. O PDT entrou na base do governo e não houve mais chance para ele. Já Marina Silva, o teste dela será em 2014, caso consiga criar o partido”, avalia Carlos Mello. Marina saiu da campanha de 2010 com quase 20 milhões de votos.

Apesar de não terem vencido as eleições, na avaliação do cientista político do Insper, tanto Ciro quanto Marina saíram vitoriosos das primeiras disputas do ponto de vista político. “Houve um acúmulo. Não é só uma questão de ser mais conhecido, ser lembrado. Tudo depende das circunstâncias e do não cometimento de erros”, afirma.

No caso de Eduardo Campos, Mello acredita que as especulações em torno de uma “candidatura-teste” podem prejudicá-lo em relação à avaliação dos eleitores. “Ele precisa ir para a disputa criando a expectativa de que pode ganhar, de que é uma alternativa”, avalia.

O teste do discurso

Para o cientista político da Universidade de Brasília (UnB) Leonardo Barreto, o principal desafio do socialista pernambucano está na definição do discurso que adotará como candidato. “Ele sabe que o jogo dele não é esse, é 2018. Mas, ao mesmo tempo, ninguém tem esse nível de controle sobre o processo político. A equação que ele precisa resolver é a postura que vai adotar em 2014. Como justificar uma saída do governo sem criticar o governo? Se Dilma chegar a 2014 com problemas, ele tende a adotar um tom mais crítico. Se ela chegar bem, a estratégia dele vai ser mais complicada”, analisa Barreto.

Campos não só faz parte do governo Dilma como deve, e muito, aos governos dela e, principalmente, do ex-presidente Lula, parte da popularidade que alcançou no Nordeste. “Um problema do PSB é que ele quer independência, mas não quer sair do governo. Ele (Campos) percebeu que se for para o Senado, pode perder a vez em 2018. Acho que a estratégia está certa, mas é de alto risco”, diz Leonardo Barreto.

O deputado federal Beto Albuquerque (PSB-RS) rebate as conjecturas em torno do possível candidato socialista e descarta a possibilidade de Eduardo Campos se lançar em 2014 pensando em 2018. “Ninguém se lança para não ganhar. O pensamento na hora de se decidir candidato é na vitória”, afirma. “O partido quer que ele concorra em 2014 e cria condições para que ele seja competitivo. Posso dizer que 95% do PSB está convicto”,
arremata.

“Não é só uma questão de ser mais conhecido, ser lembrado. Tudo depende das circunstâncias e do não cometimento de erros” - Carlos Mello, cientista político do Insper.

O destino dos ex-presidenciáveis

Anthony Garotinho — candidato em 2002

» Concorreu ao cargo de presidente da República em 2002, pelo PSB. Disputou o pleito com Ciro Gomes (então PPS), José Serra (PSDB) e Luiz Inácio Lula da Silva (PT), entre outros. Não chegou ao segundo turno, mas recebeu 15,1 milhões de votos, desbancou Ciro Gomes e conseguiu eleger a mulher, Rosinha Garotinho, governadora do Rio de Janeiro. Em 2010, Garotinho se elegeu deputado federal. Hoje, é líder do PR na Câmara.

Ciro Gomes — candidato em 1998 e 2002

» Se lançou candidato à Presidência da República pela primeira vez em 1998, pelo PPS. Obteve apoio de 7,4 milhões de eleitores, o equivalente a 10,9% dos votos válidos. Mais conhecido nacionalmente, participou da disputa da eleição seguinte. Chegou a figurar entre os favoritos, mas tropeçou no meio da campanha e não chegou nem ao segundo turno. As urnas renderam a ele apenas a quarta colocação, com 10 milhões de votos, mas o desempenho melhorou em relação à primeira tentativa.

Cristovam Buarque — candidato em 2006

» Foi candidato à Presidência da República em 2006, pelo PDT. Ficou em quarto lugar da disputa, com 2,4 milhões de votos, atrás do presidente reeleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT), Geraldo Alckmin (PSDB) e Heloisa Helena (PSol). Em 2010, Cristovam Buarque foi reeleito senador.

Heloisa Helena — candidata em 2006

» Disputou a eleição para presidente da República em 2006 pelo PSol. Ficou com a terceira colocação, recebendo 6,2 milhões de votos. Em 2010, tentou voltar ao Senado, mas perdeu a disputa. Em 2012, foi eleita vereadora de Maceió pelo PSol. Hoje, apoia a criação do partido de Marina Silva, Rede Sustentabilidade.

Marina Silva — candidata em 2010

» Com desempenho satisfatório na primeira eleição que disputou à Presidência da República, deve testar em 2014 se a estratégia deu certo. Isso, se conseguir criar a tempo o partido Rede Sustentabilidade. Saiu da primeira disputa com cerca de 20 milhões de votos e uma vitória política, ainda que não eleitoral.

Fonte: Correio Braziliense

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