quinta-feira, 18 de abril de 2013

Campos diz a senadores que não desistirá

Por Raquel Ulhôa

BRASÍLIA - Com críticas incisivas à política econômica - que poderá levar a uma crise maior -, ao estilo centralizador da presidente Dilma Rousseff de governar e à sua dificuldade de se relacionar com aliados, o governador de Pernambuco, Eduardo Campos, apresentou-se como "candidatíssimo" à Presidência da República em 2014, em jantar com 14 senadores de oito partidos (PMDB, PDT, PP, PTB, PSB, PP, DEM e PSDB), na terça-feira, na casa de Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE), em Brasília. Essa foi a opinião quase unânime dos presentes.

"Meu avô [o ex-governador Miguel Arraes], com espingarda no peito, não fez acordo", disse, para garantir que não será intimidado pelas pressões do governo para tentar demovê-lo da disputa - como a suposta espionagem da Abin a reuniões suas com sindicalistas contrários à medida provisória que muda o marco regulatório dos portos e o assédio sobre o ex-presidente do PSB de Goiás, José Batista Júnior, o Júnior do Friboi, para se filiar ao PMDB.

Na avaliação dos participantes, Campos está cada vez mais distante de Dilma e lutará até o fim para garantir palanques nos Estados. Ele considerou esgotado o modelo de governar do PT, com medidas econômicas conjunturais e paliativas e uma política social que não oferece porta de saída dos programas de transferência de renda. Definiu Dilma como uma presidente que não dialoga politicamente com os aliados e considera inimigo aquele que se dispõe a debater.

A vontade de levar a candidatura até 2014 também ficou clara quando Jayme Campos (DEM-MT) brincou, após a apresentação, que o carro do governador parecia não ter marcha à ré, e perguntou se não havia risco de um recuo mais à frente, deixando os apoiadores numa situação difícil. O governador disse que o caminho será "penoso", mas garantiu que irá até o fim. Lembrou que, quando disputou o governo de Pernambuco pela primeira vez, foi muito aconselhado pelo então presidente Luiz Inácio Lula da Silva a desistir, mas ele entrou na disputa como azarão e terminou vitorioso.

"O jantar foi um êxito. Encontro político em Brasília é sempre uma incógnita, os compromissos são muitos e a gente nem sempre tem certeza se os convidados vão aparecer. E todos foram, além de alguns que nem estavam na lista. A conversa fluiu bem e o Eduardo estava inspirado", afirmou Jarbas, o anfitrião, que ofereceu lagosta, carne seca e vinho português. "Foi um jantar histórico", definiu o líder do PSB no Senado, Rodrigo Rollemberg (DF).

Pedro Simon (PMDB-RS) comparou Campos ao avô, Miguel Arraes. "Ele é um gentleman, bem mais tranquilo que Arraes, que era duro, sério."

Para Ana Amélia (PP-RS), que pode disputar o governo do Rio Grande do Sul em aliança com o PP, Campos "falou como alguém que está com os pés no chão e com a cabeça em 2014", ao fazer o cenário da economia nacional e internacional e das ações do governo, que considera improvisadas, e ao mostrar preocupações com a inflação, mas com "racionalidade e serenidade".

"É uma candidatura decidida, porém indefinida, porque, em política, definir com tamanha antecedência algo tão importante é o mesmo que enxugar gelo e cercar vento", afirmou Ricardo Ferraço (PMDB-ES). Além de Jarbas, Rollemberg, Ana Amélia, Ferraço, Simon e Jayme Campos, participaram do jantar os senadores Waldemir Moka (PMDB-MS), Pedro Taques (PDT-MT), Cristovam Buarque (PDT-DF), Armando Monteiro (PTB-PE), Luiz Henrique (PMDB-SC), Casildo Maldaner (PMDB-SC), Acir Gurgacz (PDT-RO) e Ruben Figueiró (PSDB-MS).

Luiz Henrique e Maldaner chegaram mais tarde, após reunião da bancada catarinense com a ministra Ideli Salvatti (Relações Institucionais). Embora o PMDB de Santa Catarina esteja apoiando Dilma e tentando levar o PT para a aliança com o PSD do governador Raimundo Colombo, Maldaner disse que é importante "ouvir o outro lado" e que "o projeto catarinense não está fechado com ninguém" para a Presidência da República.

Os deputados Beto Albuquerque (PSB-RS) e Raul Henry (PMDB-PE) também estavam presentes. O PSB vai decidir pela candidatura própria a presidente em setembro. Até lá, Campos tentará arregimentar o maior número possível de senadores.

Fonte: Valor Econômico

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