segunda-feira, 8 de abril de 2013

Dilma cede cargos, mas partidos resistem à aliança

Apesar de a última reforma ministerial ter contemplado PR, PDT e setores do PMDB, a presidente ainda não assegurou apoio no projeto da reeleição

Paulo de Tarso Lyra

A reforma ministerial promovida por Dilma Rousseff na tentativa de reforçar a fidelidade de alguns setores da base aliada ainda não surtiu o efeito desejado. A investida da presidente conseguiu seduzir apenas o PMDB mineiro, que promete apoiá-la em 2014. O PMDB fluminense, o PDT e o PR, entretanto, mantêm o suspense e avisam que só vão dar uma resposta aos anseios da petista para uma aliança num segundo momento. Já o PSD nem sequer fincou bandeira na Esplanada, apesar do convite oficial.

A estratégia de Dilma incluiu reabilitar o PR na semana passada, ao devolver o controle do Ministério dos Transportes — e seu vultoso orçamento de R$ 16 bilhões em investimentos — ao comando partidário, com a indicação do ex-governador da Bahia e ex-senador César Borges. Em ação semelhante, ela estreitou os laços com o PDT do ex-ministro do Trabalho Carlos Lupi, presidente da legenda. Dilma nomeou como titular da pasta o secretário-geral pedetista — e aliado de Lupi —, Manoel Dias.

A presidente ainda entregou o Ministério da Agricultura para o PMDB de Minas Gerais, representado pelo deputado federal Antônio Andrade; e a Secretaria Nacional de Aviação Civil para Moreira Franco, do PMDB do Rio de Janeiro. Dilma insiste agora em nomear o vice-governador de São Paulo, Guilherme Afif Domingos, para o Ministério da Micro e Pequena Empresa e assegurar o apoio do PSD na corrida pelo Planalto. Mas essa negociação está emperrada.

Acusada pela oposição de lotear a Esplanada com objetivos eleitorais, Dilma fez tudo o que pôde, mas ainda não colheu os frutos desse esforço. “Em 2010, nós fomos o primeiro partido a apoiar a presidente quando ela tinha apenas 3% das intenções de voto. Mas agora precisamos ver qual é o melhor caminho para a nossa sobrevivência no ano que vem”, disse ao Correio o presidente nacional do PDT, Carlos Lupi. Alguns setores do partido já ensaiam uma aproximação com o presidente do PSB e possível concorrente de Dilma: o governador de Pernambuco, Eduardo Campos.

As entrevistas dadas por Lupi após a nomeação do ministro Manoel Dias para substituir Brizola Neto já tinham irritado a presidente. Por isso, ela demorou a chegar a um consenso na substituição de Paulo Sérgio Passos no Ministério dos Transportes. Dilma quis evitar o desgaste de escolher um nome e continuar sendo bombardeada pelos filiados da legenda contemplada. Depois de muitas conversas e extensas negociações, acabou acertando a indicação do baiano César Borges, então vice-presidente de Governo do Banco do Brasil.

No dia da indicação, a segunda-feira passada, estavam presentes o presidente nacional do PR e senador, Alfredo Nascimento (AM), o senador Antonio Carlos Rodrigues (SP), e o próprio Borges. Faltava apenas o líder do partido na Câmara, Anthony Garotinho (RJ). “Cadê o Garotinho?”, indagou a presidente. Ele estava em compromissos partidários no Rio de Janeiro. “Liga para ele e avisa que é o Borges, para depois não dar problema para mim”, teria brincado a presidente, ciente do poder de Garotinho para tumultuar o cenário.

O deputado do Rio aprovou o nome de Borges, mas admitiu que não era a opção natural da legenda, embora representasse uma alternativa capaz de favorecer a presidente no Nordeste. A exemplo de Lupi, contudo, nada de prometer amor eterno ao Planalto. “A tendência é apoiar Dilma em nível nacional, mas não temos compromissos nos estados. Cada um tem sua lógica e realidade”, afirmou Garotinho.

Ao Correio, Nascimento havia assegurado que, restituída a vaga na Esplanada, o PR naturalmente apoiaria a presidente. Diante das reticências dos correligionários após a posse de César Borges, na última quarta-feira, o presidente do PR preferiu submergir em seu estado e aguardar para emitir novas opiniões, quando o cenário estiver mais favorável ao Planalto.

Tarefa

Agora, o Planalto precisa agir para cobrar esses apoios, mas não sabe a quem caberá a missão. O secretário de Organização do PT, Paulo Frateschi, não confirma se a tarefa de fechar essas alianças, após o governo gastar todas as fichas distribuindo cargos, ficará nas mão da direção partidária ou do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. No início do ano, em reunião com governadores que foram ao Instituto Lula prestar-lhe solidariedade, o ex-presidente prometeu que cuidaria pessoalmente da tarefa de reconstruir a base eleitoral de Dilma. “Ele faz isso diariamente, conversa com todo mundo. Mas, se você me pedir certeza que ele esteja conversando com todos esses partidos nesse momento, eu não saberia te dizer”, respondeu Frateschi.

O secretário petista acredita que os dirigentes dos partidos contemplados com ministérios estão se arriscando ao dar declarações ambíguas sobre a aliança para as eleições presidenciais. “Eles estão sendo corajosos ao provocar Dilma desse jeito.” Frateschi acredita que, lá na frente, todas essas legendas inevitavelmente estarão ao lado da presidente, a exemplo do que aconteceu nas eleições presidenciais de 2010. “O que eles estão buscando, neste momento, é um discurso para as próprias bases. Entendemos isso, mas temos a certeza de que, no plano nacional, tudo vai se resolver”, aposta o dirigente.

Festa para dona Marisa

Pela segunda vez na mesma semana, a presidente Dilma Rousseff foi a São Paulo cumprir agenda extraoficial. Na noite de sábado, ela comemorou, ao lado do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o aniversário da ex-primeira dama Marisa Letícia. A festa aconteceu na área reservada de um restaurante nos Jardins, Zona Oeste da capital paulista. Além de Dilma, compareceram ao evento o prefeito de São Paulo, Fernando Haddad (PT), o de São Bernardo do Campo, Luiz Marinho (PT), e os ministros Guido Mantega (Fazenda), Aloizio Mercadante (Educação), Alexandre Padilha (Saúde) e Marta Suplicy (Cultura).

Fonte: Correio Braziliense

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