terça-feira, 23 de abril de 2013

Lula na toca de Eduardo - Tereza Cruvinel

Resignado ao fato de que o governador pernambucano será mesmo candidato contra Dilma Rousseff, o ex-presidente Lula está disposto a enfrentá-lo em casa

Na semana passada, o presidente do PT, Ruy Falcão, divulgou no Twitter o aviso de que, em breve, Lula e Dilma participarão de um grande ato no Recife. Num “banner” anexo, Lula, ainda de barba, acena da janela de um trem, valendo-se do verso da canção de Simone: “Pode se preparar, porque eu tô voltando”. Ou seja: Lula, que há pouco tempo ainda dizia acreditar numa recomposição com o governador Eduardo Campos, já conclui que ele será mesmo candidato contra Dilma e resolveu enfrentá-lo em casa, no estado onde também nasceu. Mesmo que o pretexto para o ato seja celebrar os 33 anos do partido e os 10 anos no poder.

Pernambuco é uma esquina estratégica para o PT no Nordeste. Foi lá que Dilma tirou quase 11 milhões de votos dos 12 milhões que teve de frente sobre José Serra, do PSDB, em 2010. Lula, nascido em Garanhuns, investiu muito no estado por razões telúricas e por afinidades políticas com Eduardo. Agora, em campos opostos, tudo indica uma luta renhida entre eles pelos votos do Nordeste, e de Pernambuco em particular. O governador, embora forte em seu estado, não é tido, ainda, como uma forte liderança em toda a região. Aécio Neves, que também fará suas investidas nordestinas, diz não temer nem Lula nem Campos pelo fato de terem nascido lá. Tasso Jereissati costuma dizer, conta ele, que o último líder nordestino que tivemos, com influencia sobre toda a região, foi Padre Cícero Romão Batista.

O PT está dividido e fragilizado no estado desde a eleição municipal do ano passado, quando rachou e facilitou a vitória do candidato de Campos. Rompida a aliança com o PSB, não tem ainda um candidato próprio para concorrer ao governo. Já o governador teria preferência por seu secretário Tadeu Alencar, e conta ainda com a alternativa do senador Armando Monteiro, do PTB, que o tem ajudado muito nos contatos com o grande empresariado nacional. Há algumas semanas o senador petista Humberto Costa vem advertindo o PT para a importância de “arrumarem a casa”. Pediu a Ruy Falcão a inclusão do Recife no programa de seminários da celebração petista e tem enfatizado a necessidade da unificação local. “Eu continuo achando que devíamos manter esta aliança que fez tanto bem ao Brasil e a Pernambuco. Se não for possível, respeitaremos a decisão do governador mas precisaremos ter nosso candidato”, diz ele.

A primeira tarefa de Lula será, agora, juntar os cacos do PT local e construir uma candidatura competitiva para garantir palanque a Dilma na toca de Eduardo. Depois, atuar como arqueiro dela na campanha, o que fará não só em Pernambuco. Está é uma ação que está posta para os próximos dias, embora o evento ainda não tenha data marcada. Se Lula não tem mais ilusões quanto à repactuação com Eduardo, agora só falta mesmo ele tirar o PSB do governo Dilma. Mas isso, Eduardo não decide sozinho. Os irmãos Cid e Ciro Gomes, do Ceará, que apoiam a reeleição de Dilma, embora digam que vão acatar a decisão do partido, não querem esta decisão antes do final do ano. E assim, a campanha segue esquentando, nos estados como no plano nacional.

Direito à verdade

A partir de maio, a Comissão da Verdade terá apenas um ano para concluir seus trabalhos e apresentar o relatório final. Como até agora os resultados são escassos, há desejo, embora não consenso, sobre um pedido de prorrogação à presidente Dilma. O que a Comissão apurou demais relevante era sabido: Rubens Paiva foi preso pelo DOPS antes de sumir e Vladimir Herzog não se matou, morreu sob tortura. A Comissão ajudou, jogou luz sobre os dois casos mas a verdade era conhecida. Para o segundo semestre, o conselheiro Claudio Fonteles promete novidades sobre a matança o Araguaia mas o déficit continuará
grande.

Se a prorrogação for pedida e atendida, a Comissão podia começar reorganizando sua estrutura e ajeitando as lentes de seu foco. É simples. A verdade sobre os crimes da ditadura tem três focos. 1. Quantos e quais são os brasileiros desaparecidos; 2. Quem, do outro lado, compunha a cadeira de comando do terror de Estado; 3. Qual foi o papel do regime brasileiro na Operação Condor. Os comandantes e seus executores não serão presos. Uns estão mortos, os vivos estão protegidos pela Lei da Anistia. Mas se toda a verdade não for revelada, o Estado não poderá assumir sua responsabilidade e pedir desculpas públicas, como ocorreu em outros países que enfrentaram a questão.

Nova exibição

A história do mensalão é um filme que passa muitas vezes. Agora, na fase de recursos, a fita será novamente exibida, com todos os detalhes. Na democracia, com a qual os ministros demonstraram tanta preocupação no julgamento, os recursos são previstos como parte do direito de defesa. Mas começa a circular nas mídias certo alarido, como se os embargos fossem meras manobras jurídicas, e não o exercício de uma prerrogativa, válida para todos. Um grande número de advogados passará noites lendo o volumoso acórdão para encontrar as fissuras de cada voto, que dizem existir. Mas a esperança de que a presidente nomeasse o novo ministro do STF em tempo de fazer diferença na corte, isso acabou. A diferença pode ser Teori Zavascki.

Fonte: Correio Braziliense

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