quinta-feira, 4 de abril de 2013

Planalto tenta isolar Campos

Paulo de Tarso Lyra

O Palácio do Planalto vai adotar de vez a tática de isolar o provável candidato do PSB à Presidência da República em 2014, Eduardo Campos, presidente da sigla socialista e governador de Pernambuco. Em Serra Talhada (PE), na semana passada, e durante o encontro de terça-feira com governadores em Fortaleza, o tom duro dos discursos de Dilma Rousseff fez parte de uma estratégia desenhada pela própria presidente e endossada pelo PT e pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

"Vamos mostrar que o Eduardo tem um bom gogó, mas quem executa é o governo federal. Ele reclama e nós assinamos o cheque. Ele diz que não há pacto federativo e nós celebramos convênios com governadores e prefeitos", disse ao Correio um interlocutor da presidente.

Dilma tem escolhido parceiros para ajudá-la nesse caminho. O aliado preferencial do momento é o governador do Ceará, Cid Gomes (PSB). Durante o encontro em Fortaleza, no qual Eduardo Campos reclamou das dificuldades enfrentadas pelas companhias de saneamento da região com a longa estiagem, a pior dos últimos 50 anos, Dilma resolveu acatar uma proposta feita por Cid e criar mecanismos a fim de assegurar capital de giro para as empresas.

Tão logo desembarcou em Brasília, ela pediu aos auxiliares que encomendassem um estudo técnico ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) com o propósito de criar uma linha de crédito específica para ajudar as empresas do semiárido. A medida foi interpretada como uma resposta a Campos, pois o governador de Pernambuco havia sugerido a isenção de PIS/Cofins ou uma linha de crédito do Banco do Brasil pela modalidade Fundo de Investimento em Direitos Creditórios (FDIC). Aliados de Eduardo Campos afirmam não estar preocupados com a elevação no tom dos discursos da presidente nem com as ações visando minar a influência do potencial adversário na disputa eleitoral de 2014. "Se ela quiser nos isolar atendendo os pleitos dos nordestinos, vamos aplaudir. É tudo o que nós queremos", rebateu um socialista histórico.

Antes do encontro dos governadores do Nordeste, o líder do PSB na Câmara, Beto Albuquerque (RS), considerou um "equívoco" a tática do Planalto de transformar um possível concorrente em inimigo, especialmente diante da tradição de se decidir as eleições em dois turnos. "Eles acham que só é aliado quem aplaude tudo. A seca é séria, vai durar mais um ano. No sertão, não chove mais em 2013", completou o interlocutor do presidente do PSB.

Lula

A presidente Dilma viajou ontem a São Paulo para a reunião mensal que mantém com o ex-presidente Lula. Foi a primeira vez que ambos se encontraram após o acirramento no embate com Eduardo Campos. A última vez em que eles haviam conversado foi durante o velório do ex-presidente da Venezuela Hugo Chávez, no início de março. Desde então, a presidente conduziu a reforma ministerial atendendo os pleitos do PMDB, do PDT e do PR. Falta ainda resolver a questão do PSD, que deve ser contemplado com o Ministério da Micro e Pequena Empresa e com uma vice-presidência da Caixa Econômica Federal ligada ao setor.

Como de costume, o teor das conversas entre os dois não é divulgado, mas aliados dão como certa a discussão sobre os problemas com Eduardo Campos. Outro ingrediente nesse cenário são as recentes pesquisas. Uma aponta Dilma com mais de 55% de intenções de voto, e outra mostra a avaliação positiva de quase 70% da população em relação ao governo federal. "Vamos continuar trabalhando para vencer no ano que vem, de preferência em primeiro turno", disse um governista.

A grande preocupação continua sendo a adoção de medidas que permitam a retomada do crescimento econômico. Um líder petista confirmou que a presidente está atenta aos picos inflacionários e não descartou novas medidas de elevação de juros, como afirmou o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, recentemente. Mas isso só será decidido após a equipe econômica ter informações precisas sobre a inflação de março. Afinal, problemas na economia têm impacto direto na avaliação que a população faz do governo e refletem diretamente nas urnas.

Os efeitos da seca

Em entrevista a rádios do Ceará, Dilma reforçou ontem que o governo investirá R$ 32 bilhões em um pacote para combater os efeitos da seca que atinge a Região Nordeste, incluindo os R$ 9 bilhões anunciados na terça-feira. Os recursos estão previstos no guarda-chuva do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). "Nós, de fato, estaremos chegando na fase de convivência com a seca. Não controlamos quando a seca chega, mas nós temos todas as condições de controlar os efeitos da seca sobre a população do Nordeste", afirmou a presidente.

Fonte: Correio Braziliense

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