quinta-feira, 18 de abril de 2013

Quase dois anos depois... Para conter inflação, BC volta a subir juros

Diretores elevam taxa em 0,25 ponto, para 7,5% ao ano, numa decisão polêmica

Alta generalizada de preços levou Copom a subir a Selic pela primeira vez desde julho de 2011

Para driblar uma inflação resistente e generalizada, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central subiu a taxa básica de juros em 0,25 ponto, para 7,5% ao ano. A primeira alta em quase dois anos, no entanto, não foi unânime: seis diretores aprovaram o aumento, mas dois queriam manutenção. A alta de juros, que contou com o apoio da presidente Dilma em declarações recentes, não teve consenso no mercado. Alguns especialistas defendiam que a taxa subisse pelo menos 0,5 ponto. "O BC tenta satisfazer a opinião pública e não frear a inflação" disse Armando Castelar, da FGV.

Dose mínima contra inflação

Sem unanimidade, BC sobe a Taxa Selic para 7,5%, a primeira alta em quase dois anos

Gabriela Valente, Eliane Oliveira, Martha Beck e Roberta Scrivano

Dilema do Copom

BRASÍLIA, SÃO PAULO E RIO - Para resgatar a credibilidade, o Banco Central elevou ontem a taxa básica de juros pela primeira vez desde julho de 2011. Numa decisão sem unanimidade, o Comitê de Política Monetária (Copom) subiu a Taxa Selic em 0,25 ponto percentual. Com isso, os juros passaram para 7,5% ao ano. A decisão teve o apoio da presidente Dilma Rousseff, mas dividiu a cúpula do BC. Seis diretores foram favoráveis à alta dos juros e dois votaram contra. E justamente o responsável pela política monetária, Aldo Mendes, ficou entre os dissidentes. Para tomar a decisão, o Copom avaliou que a alta de preços é generalizada, mas ponderou que, diante das incertezas, a política de combate à inflação tem de ser feita com "cautela".

"O Comitê avalia que o nível elevado da inflação e a dispersão de aumentos de preços, entre outros fatores, contribuem para que a inflação mostre resistência e ensejam uma resposta da política monetária. Por outro lado, o Copom pondera que incertezas internas e, principalmente, externas cercam o cenário prospectivo para a inflação e recomendam que a política monetária seja administrada com cautela", afirmou o Comitê, em comunicado.

FIESP critica decisão do BC

Desde novembro do ano passado, a autoridade monetária estava sob fortes críticas por manter os juros estáveis enquanto os preços avançavam. Em março, a inflação acumulada em 12 meses chegou a 6,59%, estourando o teto da meta do governo, de 4,5% com margem de dois pontos percentuais. Na avaliação de economistas, o BC teria se rendido à vontade política do Palácio do Planalto. E mesmo com a decisão de voltar a subir os juros, reconquistar a credibilidade pode não ser tão rápido.

- Pode parecer que o Banco Central só aumentou os juros porque a presidente deixou - afirmou o ex-ministro da Fazenda Maílson da Nóbrega, que critica a intervenção no trabalho do BC. - A presidente não consegue se conter e fala de juro todos os dias e como se fosse uma realização do governo dela e não uma decisão técnica. O ministro da Fazenda diz que vai calar a boca e não cala.

Na viagem à Africa do Sul, Dilma disse não concordar com políticas de combate à inflação que olhem a questão da redução do crescimento econômico. Na terça-feira, primeiro dia da reunião do Copom, Dilma afirmou que o país "jamais" voltaria a ter juros tão altos e que o controle de inflação pode ser feito com uma dose menor de juros. O Ministro da Fazenda, Guido Mantega, aumentou o mal-estar ao afirmar que não seria necessário um tiro de canhão para conter a inflação, poderia ser apenas de metralhadora.

Segundo um interlocutor, Dilma considera que a discussão sobre a alta dos preços está superdimensionada e que especuladores estão se aproveitando desse cenário de altas pontuais para ganhar no mercado futuro. Portanto, este seria a oportunidade de a autoridade monetária falar grosso.

- Criaram um ambiente muito complicado e o BC está se sentindo compelido a agir, mostrar que é operacionalmente independente e não é tolerante com a inflação. Essa tem sido a principal tarefa de Tombini - disse uma fonte da área econômica.

Na avaliação do governo, é preciso minar as expectativas sobre a inflação para que a economia não volte a ser indexada novamente, como era até o anúncio do Plano Real, em 1994. Economistas de peso, como Luiz Gonzaga Belluzzo e Delfim Netto chegaram a aconselhar Dilma a defender, junto ao BC, a elevação da Selic, para minar eventuais movimentos especulativos.

Para Sérgio Vale, economista da MB Associados, a inflação tende a exercer maior pressão no ano que vem, quando a economia vai crescer mais rapidamente, com Copa do Mundo, eleições presidenciais. Segundo ele, a Selic teria que chegar a 11% ao ano, pelo menos, para conter o avanço dos preços.

- A credibilidade do Banco Central, a essa altura, já foi embora. Nada mais natural fazer o que sempre acreditaram, que é deixar a inflação subir um pouco para lubrificar o crescimento. Uma bobagem sem fim. Agora é administrar os cacos e torcer. O que vai acontecer é que, em 2015, vão aumentar o teto da meta ou a meta - afirma.

De outro lado, votaram pela manutenção, além de Aldo Mendes, o diretor de Assuntos Internacionais, Luiz Pereira Awazu. Ele também avalia que a melhor política no momento seria não fazer nada.

O economista-chefe da corretora Gradual, André Perfeito, lista uma série de fatores que justificariam a manutenção da taxa básica de juros. Segundo ele, a Selic chegou ao pico e cairá daqui para a frente com a supersafra de alimentos, o mercado de trabalho menos aquecido e a menor pressão de alta dos salários. Para ele, todos estes fatores tendem a frear o consumo.

- Já estamos passando por um processo de desaceleração econômica. Tecnicamente, não faz sentido aumentar os juros.

Mesmo com o aumento de 0,25 ponto percentual da taxa básica de juro (Selic), o Brasil se manteve na quinta colocação do ranking dos maiores juros reais do mundo, com taxa de 1,7%. Segundo Jason Vieira, economista responsável pelo levantamento, a estagnação na listagem somada aos altos custos das taxas de investimentos em renda fixa e o cenário externo complicado, consolidam a baixa atratividade dos títulos de renda fixa do País. Por outro lado, a tradicional caderneta de poupança começará a trazer melhores ganhos para quem começou depois de maio do ano passado, quando as regras da remuneração da aplicação mudaram.

- A taxa de juro real serve para avaliar o desempenho dos investimentos em renda fixa. E, nesse sentido, o Brasil se mostra cada vez menos atrativo. Como a taxação desses investimentos é muito alta e o juro já não está mais tão elevado, os estrangeiros preferem aplicar seus recursos em títulos de outros países, como EUA e Japão - explicou Vieira.

A decisão de aumentar o juro foi lamentada pelas entidades industriais. A Confederação Nacional da Indústria (CNI) reconheceu "a importância do controle da inflação", mas ponderou que "o aumento do juro é extremamente prejudicial à indústria" e trará "maiores danos à atividade produtiva". A Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) foi mais enfática na crítica e classificou a decisão de "equivocada".

"Devemos superar a política econômica do uso exclusivo da taxa de juros" comentou Paulo Skaf, presidente da Fiesp.

Fonte: O Globo

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