sexta-feira, 3 de maio de 2013

Entrevista - Bacha defende novo ‘Plano Real’

'Seleção de vencedores e perdedores não deve ser feita pelo BNDES'

Lucianne Carneiro

Defensor de um plano que inclui impostos de importação menores, o economista Edmar Bacha admite que alguns setores da indústria vão se adaptar à mudança e outros, não. Mas diz que "a seleção de vencedores ou perdedores não será feita pelo BNDES". Bacha, que é filiado ao PSDB, afirma que o governo atual não tem estratégia para o futuro.

Como seria o "Plano Real para a indústria", conforme publicou o jornal "Valor Econômico"?

Hoje temos Pibinho com inflação alta e desindustrialização. Proponho que a indústria se recupere. É focado na indústria, mas o objetivo é retomar o crescimento com baixa inflação.

Como seria a forma de atuação?

É uma proposta para ser implementada num período de oito anos. Primeiro, é preciso reduzir a carga tributária para a indústria. Para que seja de forma efetiva, é necessário ajuste no orçamento do governo. De nada adianta desonerar com elevação de déficit fiscal. Isso só aumenta a dívida pública. Poderíamos ter um período até 2020 com o gasto público crescendo 2% ao ano, para uma expansão da economia de 4%.

O plano também prevê redução de tarifas de importação, não?

Proponho uma troca da proteção da indústria pelo câmbio. Temos tarifas elevadas de importação, exigência de conteúdo nacional alto e normas técnicas que dificultam a entrada de produtos estrangeiros. A norma da tomada de três pontos, por exemplo, é só do Brasil e só serve para dificultar a importação de eletrodomésticos. Isso deve aumentar importações, e o mercado vai vender real e comprar dólar, gerando desvalorização do real. Para isso, teremos um câmbio verdadeiramente flutuante.

Também é preciso avançar nas negociações comerciais?

Essa é a terceira área. O Brasil é uma economia ainda muito fechada. O que é fundamental é anunciar e explicar tudo antecipadamente. Na mesma linha do Plano Real: "Só vamos fazer o que anunciar e só vamos anunciar o que vamos fazer".

A redução de impostos de importação não pode colocar em risco alguns setores da indústria?

Obviamente é preciso ter acompanhamento e políticas compensatórias para ajudar na transição. Globalmente, essas propostas preveem um crescimento maior. E vai ter mais dinheiro para compensações. Algumas indústrias vão se adaptar, outras, não. E terão que mudar de ramo.

Pode haver seleção de ganhadores e perdedores?

Será seleção de vencedores e perdedores, mas não mais pelo BNDES.

Por que as desonerações para a indústria não têm sido suficientes para estimular a economia?

Hoje não tem plano, não tem estratégia, não tem visão de futuro. Eles (o governo) estão pregando prego no buraco.

Fonte: O Globo

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