segunda-feira, 13 de maio de 2013

Fazendo o diabo! - Ricardo Noblat

"O bicho vai pegar em 2013"- Gilberto Carvalho, ministro-chefe da Secretaria Geral da Presidência da República

Se é possível você se opor ao PT durante toda a sua carreira política, tornar-se vice-governador de São Paulo na chapa do governador eleito pelo PSDB, para depois, às vésperas de novas eleições, passar para o lado do PT em troca de um ministério criado de última hora somente para abrigá-lo, tudo o que se faça no seu ramo daqui para a frente deverá ser visto como algo natural. Absolutamente natural.

AFIF DOMINGOS acumula desde a semana passada a função de vice-governador de São Paulo com a de ministro da Secretaria da Micro e Pequena Empresa. Servirá ao mesmo tempo a dois governos comandados por partidos que são ferozes desafetos. Para não ser forçado a assumir o governo de São Paulo caso Geraldo Alckmin viaje ao exterior, Afif será obrigado também a deixar o país. A não ser que assuma.

POR QUE AFIF não renuncia ao cargo de vice-governador? Resposta dele: porque nada o obriga a isso. A vergonha deveria obrigá-lo, mas Afif não a leva em consideração. Seguirá desfrutando as vantagens e benefícios que lhe oferece o cargo de vice-governador? Ou abrirá mão deles em favor das vantagens e benefícios que lhe garantirá o cargo de ministro?

COMO VICE-GOVERNADOR, Afif tem acesso a informações sigilosas sobre São Paulo, o mais rico e poderoso estado do país e joia da coroa da oposição. Quem garante que não as compartilhará com Dilma Rousseff, sua nova patroa? Afinal, ela é a presidente da República. Deve ser uma pessoa bem informada. Estão em jogo os superiores interesses do país!

LULA FOI DURAMENTE criticado por ter inventado ministérios e cargos só para distribuí-los com aliados de ocasião. Afirma-se que nenhum presidente loteou mais seu governo do que Lula. Com licença: e Dilma? O que a diferencia de Lula nesse quesito? No seu primeiro ano de governo, Dilma afastou ministros e partidos suspeitos de corrupção. Para se reeleger, chamou-os de volta.

SEM FAZER ALARDE, dedica-se nos últimos meses a tapar todas as brechas por onde possa entrar oxigênio suficiente para fortalecer seus eventuais adversários nas eleições do próximo ano. Ou pelo menos para mantê-los vivos. O PSD de Afif poderá vir a apoiá-la presenteando-a com seu tempo de propaganda no rádio e na TV? Solta logo um ministério para adoçar a boca dele.

UM MILIONÁRIO DO Mato Grosso do Sul encantou-se com a retórica e os belos olhos azuis de Eduardo Campos, governador de Pernambuco e aspirante a candidato a presidente pelo PSB? Manda o vice-presidente da República oferecer a legenda do PMDB para que ele concorra ao governo do seu estado. Certamente deve dinheiro e favores ao BNDES. Não desejará sofrer um aperto.

O GOVERNADOR DE Santa Catarina flerta com Eduardo? Flertava. Dilma recebeu-o outro dia. E na presença do ex-prefeito Gilberto Kassab, de São Paulo, garantiu-lhe ajuda para que governe bem. "Tudo que lhe darei servirá de desculpa para que você me apoie" ensinou Dilma com a refinada sutileza que dita seus gestos. "Não é preciso. Eu a apoiarei de todo jeito" respondeu o governador.

O APERTO DE MÃO trocado por Lula e Paulo Maluf nos jardins da mansão de Maluf ficou como o mais notável símbolo da eleição de Fernando Haddad para prefeito de São Paulo. Símbolo da conversão reafirmada do PT a política do vale-tudo pelo poder. Até aqui, a entrega a Afif de um ministério sem a contrapartida do seu afastamento do governo de São Paulo é o mais sério candidato a símbolo da reeleição de Dilma.

Fonte: O Globo

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