quinta-feira, 16 de maio de 2013

Proposta para portos afeta jogo eleitoral no Rio

Cristian Klein

SÃO PAULO - Defensor da MP do Portos, o deputado federal Anthony Garotinho (PR-RJ) aproximou-se do governo federal na arena de gladiadores em que se transformou a Câmara. Garotinho já havia agradado Dilma Rousseff ao vestir a armadura e entrar em rota de colisão com o desafeto da presidente, o deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), principal adversário da aprovação da medida provisória. Na sessão tumultuada de anteontem, o ex-governador do Rio travou outro duelo, desta vez com um medalhão da oposição, o ruralista Ronaldo Caiado (DEM-GO), que chegou a chamá-lo de chefe de quadrilha.

Garotinho tem um currículo suspeito mas, com a defesa aguerrida da MP, constrói pontes também na arena eleitoral e pode abrir mais um palanque para Dilma no Rio de Janeiro na eleição presidencial do ano que vem.

O deputado é pré-candidato ao governo do Estado e tem uma relação turbulenta com os petistas. O PT foi seu primeiro partido e lhe forneceu a vice Benedita da Silva, na vitória de 1998, quando ainda estava no PDT de Leonel Brizola. Desde então, Garotinho já foi para o PSB, o PMDB e hoje está no PR. É um político de atuação independente e pouco previsível. Depois de virar sombra do que já foi, seu objetivo político é recuperar parte do espaço perdido para o governador Sérgio Cabral, que sucedeu ao mandato testa de ferro de sua mulher, Rosinha Garotinho, e forçou seu grupo político a sair do PMDB. Ex-correligionário, Cabral é seu maior adversário.

Com a aproximação com o PT, Garotinho cria um problema para o governador, que tem ameaçado não apoiar a reeleição de Dilma caso os petistas decidam lançar o senador Lindbergh Farias em vez de aderir a seu candidato, o vice-governador Luiz Fernando Pezão (PMDB). A ameaça de Cabral torna-se menos crível na hipótese de um aceno de Garotinho ao PT. Caso Dilma mantenha alta sua popularidade, poderia ser cabo eleitoral eficiente nos palanques de Lindbergh e Garotinho, com quem tem em comum a passagem pelo PDT na década de 1980. É difícil imaginar que Pezão não vá pelo menos ao segundo turno. Mas só o desenho do cenário já seria suficiente para reduzir o poder de dissuasão de Cabral sobre a candidatura própria dos petistas. O fator Garotinho reduz a margem de manobra do governador, que pode ser obrigado a fornecer o segundo palanque a Dilma em 2014. Neste caso, sob a condição de afastar o deputado do jogo. Ou seja, Garotinho tornou-se o instrumento útil para o PT desafiar a hegemonia do PMDB fluminense.

É o mesmo PMDB cuja bancada tem como líder o deputado Eduardo Cunha, que tira o sono da presidente desde os embates de 2011 sobre os cargos de direção da estatal Furnas Centrais Elétricas. A atuação de Cunha na MP dos Portos se, por um lado, também é uma arma útil a Cabral, por outro, pode ser a gota d"água na paciência do PT com os pemedebistas do Rio.

Fonte: Valor Econômico

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