quarta-feira, 15 de maio de 2013

"Repetição não pode ser a lógica", diz Marina em entrevista

Entrevista - Marina Silva

Quatro anos desde a "midiática" ascensão nas eleições presidenciais de 2010, a ex-ministra Marina Silva pouco mudou. Usa o mesmo penteado, veste-se sobriamente, fala calmo. Roda o País em busca de apoio para fundar o Rede Sustentabilidade. Após visita ao governador Eduardo Campos, conversou sobre política, mas não adentrou nas articulações. Contagiou-se com as críticas feitas por Eduardo à política econômica nacional. "Agora tenta se repetir do mesmo. E essa não é a saída".

Jornal do Commercio - Como o Rede tem se articulado?

Marina Silva - Temos recebido solidariedade muito grande. Já temos cerca de 300 mil assinaturas, recolhidas em menos de três meses. A maioria dos partidos levam de oito meses a um ano. Essa mobilização espontânea da sociedade vê no Rede uma possibilidade de renovação e de reencantamento com a política.

JC - E o que tem atrapalhado?

Marina - Temos uma atitude antidemocrática no Congresso de tentar retirar de nós o acesso ao tempo de rádio e TV e o fundo partidário. Mas isso só aumentou a solidariedade. As pessoas veem dois pesos e duas medidas. Para o partido de Kassab (PSD) não foram criados obstáculos. Estamos aí na expectativa do que vai acontecer no Supremo, mas se por ventura o Senado não corrigir os erros cometidos na Câmara, entraremos com uma ação de inconstitucionalidade.

JC - O governador tem feito duras críticas à política nacional de desoneração fiscal. A seca no Nordeste tem levado prefeitos a protestar também contra. Concorda com tais críticas?

Marina - Em 2008, foram tomadas medidas por parte do Governo que deram alguns resultados, mas deram resultados para a eleição de 2010. Agora tenta se repetir o mesmo, tentando criar uma realidade para 2014. Só que o contexto é diferente. Não dá mais para querer sair da crise estimulando apenas o viés do consumo, apostando apenas nas commodities. A repetição do mais do mesmo não pode ser a lógica dos mecanismo de política macroeconômica para sair da crise. Investir em educação, em tecnologia, em ampliação das nossas bases produtivas, esse é o dever de casa. Não adianta estimular o consumo, se a nossa capacidade de consumo está em pleno funcionamento.

JC - O Rede se diferencia dos outros partidos por carregar a bandeira da sustentabilidade?

Marina - Propomos como eixo programático a questão do desevolvimento sustentável, coisa que os partidos tradicionais não tem como plataforma. O PV tem um programa voltado para a sustentabilidade, mas tem um processo que é completamente contraditório. É um partido verticalizado, que não foi capaz de se democratizar. (...) Quisera eu que a presidenta Dilma tivesse cumprido com o documento que assinou que ia vetar qualquer coisa que significasse anistia para desmatadores, que tivesse se opondo hoje ao casuísmo com os índios. Essa é uma luta que não pode ser privatizada, é minha é sua, deveria ser da presidenta.

JC - O que ouviu do governador?

Marina - Que é contra o casuísmo. Que a democracia é um valor e que a gente não pode subordinar os princípios às conjunturas. Os fins não justificam os meios.

Fonte: Jornal do Commercio (PE)

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