domingo, 30 de junho de 2013

A conjuntura atual e as nossas tarefas – Alberto Aggio

A conjuntura avançou por conta da iniciativa ou da reação do governo com a proposta do plebiscito. Um cenário contraditório se estabelece: a presidente vê sua popularidade cair para 30% e se dá o mesmo na ultima pesquisa Datafolha para os candidatos a presidência em 2014. Por outro lado, a proposta do plebiscito tem alcançado um índice de aprovação muito alto (68%) e já aparece como tabua de salvação da candidatura Dilma.

A outra questão está no plano mais intelectual em relação à disputa do campo da esquerda, que nós estamos fora ou fomos jogados para fora, a despeito dos nossos esforços. Apesar dos tropeços, a mídia mais ativa nesse campo ainda valoriza muito as bobagens escritas ou faladas pela Marilena Chaui, mantêm forte presença e garante espaço ao esquerdismo enragè do Vladimir Safatle e agora faz um grande estardalhaço com a publicação do instant-e.book do Marcos Nobre que expressa um forte saudosismo em relação ao PT de 1989. Intelectualmente é essa esquerda que está ai, tratada como tal.

Acho que há uma tarefa a cumprir da nossa parte e precisamos definir campos, projetos, valores, instrumental para nos apresentarmos na cena como expressão da "esquerda democrática". Tanto mais isso é necessário porque já há forte movimentação no sentido de o chamado neomarxismo recém desembarcado aqui (ou nem tão recente) tratar como o maior problema para uma política de esquerda a existência da democracia representativa e do Estado de Direito Democrático. Acho que temos que pensar em algo como uma manifestação/documento dos intelectuais da "esquerda democrática", em Braslia ou em algum outro lugar, para demarcar esse terreno e ingressarmos ativamente nessa batalha.

* Peço licença também para postar abaixo um argumento que acho razoável desenvolvido pelo Azedo. Vale a pena refletir sobre ele. Está ai para discussão. Da minha parte, me parece interessante jogar a questão da reforma política para o contexto das campanhas antecipadas, especialmente porque a proposta de reforma do PT é muito impopular: lista fechada e financiamento exclusivamente público.

"Tudo pode acabar em pizza

Não existe democracia sem Congresso eleito, funcionando, com as devidas prerrogativas. Executivo forte e presidente popular não são garantias de democracia, pelo contrário. Nós já tivemos um que foi muito popular na década de 1970; general, assistia jogo no Maracanã ouvindo radinho de pilha. Fracos, menos ainda.

Falo isso porque o Congresso está sendo atropelado pelo Palácio do Planalto, embora venha reagindo de forma positiva aos protestos da população. No momento, a popularidade de Dilma Rousseff está desabando, os partidos estão desgastados, o dólar está subindo, a inflação também. E os atos de vandalismo se repetem por todo o país, após as manifestações (sejam de 300 mil ou de 500 gatos pingados).

Não gosto desse cenário, essa é a rota de uma crise institucional. Chegará uma hora que a maioria da população derivará para uma espécie de "Basta!". Prefiro é que tudo isso desague nas eleições, respeitando as regras do jogo vigente.Que cada candidato apresente na campanha a sua proposta de reforma política e, depois de eleito, as encaminhe ao Congresso, que também será eleito e renovado. Se for mudar alguma coisa imediatamente, deveria ser para a inscrição de candidaturas avulsas.

Essa proposta de plebiscito a toque de caixa, para uma reforma política ampla e irrestrita, mal discutida pela sociedade, a vigorar nas eleições de 2014, é muito voluntarista. Beira o golpismo. Faz um apelo populista às massas, mas não aponta um rumo para o país enfrentar a crise, que se agrava. Mais: a responsabilidade de administrar o país até às eleições é pessoal e intransferível: cabe à presidente da República, aos governadores e aos prefeitos. Não tem plebiscito que substitua isso". Luiz Carlos Azedo.

Alberto Aggio, historiador e professor da UNESP

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