quarta-feira, 19 de junho de 2013

Eduardo Campos se antecipa a uma agenda negativa

Redução da tarifa de ônibus feita pelo governador ocorre dois dias antes de protesto no Recife. Socialista busca demarcar território ao se diferenciar dos adversários

Bruna Serra

O governador e pré-candidato a presidente da República Eduardo Campos (PSB) usou seu "timing" político para se antecipar a uma eventual agenda negativa que pudesse ser gerada com o protesto marcado para amanhã, no Recife. Quando os manifestantes tomarem seus ônibus para chegar à Praça do Derby - local da mobilização - pagarão R$ 0,10 a menos pelo transporte. A decisão, anunciada ontem, teve um componente político. Eduardo buscou demarcar diferenças entre o "modus operandi" de seu governo e com as demais administrações Brasil afora, a exemplo da gestão do PT na capital paulista e do PSDB, no Estado de São Paulo.

A redução é o repasse da desoneração do PIS/Cofins incidentes sobre o transporte público, medida anunciada pelo Ministério da Fazenda no último dia 22. Questionado, Campos negou que a medida tenha objetivo de esvaziar o protesto de amanhã, ainda que a nova tarifa tenha sido programada para entrar em vigor justamente no dia da manifestação. "As pessoas estão querendo encontrar um caminho para melhorar a qualidade de vida. Os ganhos trouxeram também uma série de contradições entre a melhoria de vida e o processo de expansão econômica", afirmou.

O governador vem adotando posturas semelhantes a da redução de passagem para demarcar diferenças em relação aos demais candidatos a presidente. Foi o que ocorreu com o projeto estadual que dedica 100% dos royalties do petróleo à Educação, com a criação da Comissão estadual da Verdade e com a criação do Fundo de Apoio ao Desenvolvimento Municipal (FEM), entre outros exemplos.

Sobre a hostilidade demonstrada por manifestantes à presença de partidos e políticos nos atos pelo Brasil, o governador saiu em defesa da classe da qual faz parte. "Claro que nesse processo aparece, em primeiro momento, como uma negação às lideranças dos movimentos sociais e da política. Mas não são todos do movimento social e da política que estão desconectados com este sentimento. Alguns estão. Outros, não. Tem até algum contato com esse ambiente que está nas ruas", reafirmou.

Eduardo Campos lembrou dos tempos em que participava de passeatas e assegurou que, caso não ocupasse o cargo de governador, estaria nas ruas. "Se eu tivesse a idade deles e não estivesse nessa função, iria, como fui a outras. A essa altura, porque estou aqui como governador, eu vou dizer que não participaria? Participaria! Só que minha posição hoje é outra. Mas por estar nessa posição e já ter passado por tudo isso, eu já vejo diferente a política tradicional", romantizou.

Diferenciação

Consultor de imagem em gestão de crises governamentais e em empresas, o jornalista Mário Rosa opina que, com o anúncio de ontem, o governador adota uma medida ousada na tentativa de se diferenciar dos adversários. "Ele está na base, então precisa buscar se diferenciar de forma sutil", pondera. O especialista afirma que Eduardo está buscando encurtar os caminhos para chegar à cadeira da presidente Dilma Rousseff sem se posicionar contra ela. "Dentre todas essas medidas já tomadas, essa (de reduzir tarifas) é a mais dramática. É ousada", analisa.

Mário Rosa lembra que as ações de antecipação de Campos visam consolidar a imagem de bom gestor, que possivelmente será a sua mensagem em 2014. "Ele representa, caso se apresente, o retorno do patrimônio político às campanhas. Ele quer ter como garantia sua capacidade de gestão para se aproximar dos eleitores".

Fonte: Jornal do Commercio (PE)

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