sábado, 22 de junho de 2013

O Brasil precisa de respostas

- O pacto pela melhoria dos serviços públicos proposto por Dilma vai surtir efeito?

- A redução de R$ 0,10 nas passagens de ônibus acalmará os ânimos em Belo Horizonte?

- O Brasil corre o risco de a Fifa, em caso de novos distúrbios, tirar daqui a Copa?

- Devo deixar meu filho ir ao protesto que promete reunir milhares de pessoas hoje em BH?

- Terei segurança para ir e voltar do Mineirão esta tarde para o jogo México X Japão?

Depois das cenas de extrema violência da véspera o país acordou perplexo e mergulhado na incerteza. Há muitas dúvidas sobre que cenário prevalecerá hoje em BH, quando milhares de pessoas prometem marchar até o Mineirão, onde jogarão Japão e México. O governo do estado e a PM reafirmaram que não será permitido se aproximar do estádio e divulgaram os limites do protesto. Já a Fifa cobrou do governo segurança para as copas das Confederações e do Mundo.

Ontem, com menos gente nas ruas os protestos continuaram. O fechamento de rodovias no entorno da capital tumultuou o trânsito. No Rio, voltaram a chamar a atenção depredações e saques. Em pronunciamento a presidente Dilma repudiou a "minoria violenta e autoritária", garantiu que a ordem será mantida e propôs pacto com governadores e prefeitos por melhoria dos serviços públicos. Ela ainda defendeu a realização da Copa e pediu acolhida carinhosa aos estrangeiros.

Entre a mobilização, a tensão e a incerteza

Protestos se espalham pela Grande BH. Em Neves, policiais militares são baleados. Violência traz preocupação a famílias

Tiago de Holanda, Mateus Parreiras e Pedro Ferreira

Enquanto a onda de protestos deflagrada no início da semana se espalha, ganhando estradas e outros municípios da Região Metropolitana de Belo Horizonte, o acirramento dos ânimos nas ruas, com depredações, ataques e incêndios, faz crescer o temor entre familiares de jovens que participam dos atos. No Centro da capital, ontem foi o dia de menor mobilização, mas houve protestos no Barreiro e em Venda Nova e três prisões. A maior tensão, porém, ocorreu na Grande BH, onde a sexta-feira foi de caos, com fechamento de pistas, como a da BR-040, em Ribeirão das Neves, e filas quilométricas. Em Neves também foram registradas as ocorrências mais graves até agora associadas às manifestações, com três policiais militares baleados durante confrontos, a depredação da Câmara Municipal e a destruição de viaturas policiais e de um ônibus, ao qual vândalos atearam fogo. Episódios como esses fazem muitas famílias temerem pela segurança de quem pretende voltar às ruas hoje.

Nas manifestações que tomam ruas de Belo Horizonte desde segunda-feira, é fácil encontrar famílias inteiras, com cartazes, bandeiras do Brasil e rostos pintados. Alguns jovens participam até mesmo estimulados pelos pais, que chegam a dar orientações sobre como agir diante de tumulto ou conflito com a polícia. Porém, depois dos repetidos casos de violência, muita gente teme pela segurança dos filhos nas ruas.

"Se meus pais soubessem que estou aqui...", dizia uma garota, na noite de segunda-feira, enquanto corria de um confronto entre policiais e manifestantes na Avenida Antônio Carlos, na Pampulha. "Se meu pai souber que eu estou aqui, ele me mata", exclamou outra, na noite de terça-feira, encostada às grades do Parque Municipal Américo Renné Giannetti, enquanto vândalos encapuzados depredavam o prédio da prefeitura, na Avenida Afonso Pena, Centro de BH.

É esse tipo de situação que impede a participação de jovens como Áurea Araújo, de 16 anos, estudante do 2º ano do ensino médio. "Eu quis ir na quarta-feira, mas meus pais não deixaram. Alguns amigos meus não foram pelo mesmo motivo", conta. "É muito importante participar desse movimento. Os jovens estão mostrando sua insatisfação. Mas tem gente querendo fazer confusão. Ficamos com medo", explica o pai dela, o contador Luciano Vieira, de 42. "A causa é nobre, mas o rumo que as coisas estão tomando é preocupante", reforça a mãe, a médica Enda Araújo, de 39. Ela teme também a ação de policiais. "A PM está despreparada para encarar o momento. É um absurdo usar bombas de gás lacrimogêneo, balas de borracha", considera.

Para convencer a mãe a deixá-la participar da manifestação de ontem, na Praça Sete, Centro de BH, Carolina Campos, de 16 anos, disse que iria em grupo, embora soubesse que estaria apenas com a amiga Cínthia Santos, da mesma idade. As duas são estudantes do 2º ano do ensino médio. "Muitos colegas não vieram porque os pais não deixaram", contou Cínthia. Em casa, ela diz ser incentivada a ir aos protestos, mas sob muitas recomendações.

Na década de 1970, a médica Lídia Tonon, de 58, lutou pela redemocratização do país. "Eu era do diretório acadêmico do curso de medicina da UFMG. Corri muito de polícia em 1977, respirei gás lacrimogêneo. Tive vários colegas presos", relata. A filha dela, a estudante de economia Giulia Tonon, de 18, foi à manifestação de quinta-feira e planeja participar da que está marcada para hoje, com concentração a partir das 10h, na Praça Sete. "Sinto orgulho não apenas dela, mas desses jovens. É importante que se politizem. A última vez que vi algo parecido foi em 1992, no Fora, Collor", diz Lídia.

Contra os excessos

Ontem, em BH, a maior preocupação dos manifestantes era tentar manter a ordem e impedir excessos. Não houve vandalismo, o que encorajou muita gente a participar do grande ato previsto para hoje, que pretende reunir 130 mil pessoas, segundo o Movimento Vem pra Rua. De acordo com um dos organizadores, o estudante Vander Miguel do Nascimento, de 26, muita gente deixou de participar ontem para se preparar para hoje.

A técnica em contabilidade Eunice Pimentel, de 43, levou a filha Carolina, de 14, para a Praça Sete e hoje pretende voltar. "Quero um país melhor para os meus filhos e netos. O vandalismo me assusta, mas em BH as pessoas estão contra qualquer ato de violência. Vou voltar com minha filha e meus outros dois filhos", planejava. Contudo, ela diz que pretende sair diante de qualquer ato de violência. "Quem faz arruaça é bandido, e não jovem que quer mudar o Brasil", completou.

O securitário José Lopes Carvalho, de 46, levou o filho Brayan Nóbrega, de 10, para a manifestação de ontem, mas ficou com medo de haver confusão. "Sou a favor da manifestação sem violência. Vandalismo afasta as pessoas, esvazia o movimento e não me faz sentir totalmente seguro com meu filho aqui", disse. O mesmo receio tem a funcionária pública Ana Cristina Pereira, de 39 que estava acompanhada da filha Letícia, de 10. Ela acha que as depredações, como as registradas ontem na Grande BH, podem levar o povo a se afastar das manifestações.

Fonte: Estado de Minas

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