quarta-feira, 19 de junho de 2013

O rumo dos indignados - Fernando Rodrigues

Recebi muitos comentários (alguns impublicáveis) por meio de redes sociais por ter afirmado ontem que os manifestantes de rua tendem a ficar "órfãos por algum tempo de um representante político". Até porque rejeitam todo o establishment partidário atual.

Uma das críticas mais recorrentes foi sobre minha incapacidade de compreender que os protestos são horizontais, sem líderes e fora das convenções. Para os ativistas, se um outro mundo é possível, outra mediação institucional também é.

A maioria dos ativistas rejeita os políticos e os partidos. Mas ainda não ficou claro como seria uma outra forma de representação fora do Congresso Nacional. Hoje, a Câmara e o Senado são as instâncias nas quais as demandas têm de ser resolvidas numa democracia representativa como a brasileira. A não ser que os manifestantes defendam o fechamento do Poder Legislativo. É isso?

Se o Congresso se mantiver aberto, com todos os seus (imensos) defeitos atuais, como serão encaminhadas as propostas que estão emergindo das passeatas? Iniciativa popular é uma possibilidade, mas dá muito trabalho. Além do mais, quem acaba votando são os deputados e os senadores agora tão repelidos.

Outra saída para os ativistas seria propor democracia direta. Os votos poderiam ser dados, quem sabe, por meio da internet. O Congresso seria dissolvido. Só que o Brasil teria de passar por uma revolução para alcançar esse estágio --os três Poderes são cláusulas pétreas da Constituição e nenhum pode ser eliminado com uma canetada.

Faço essa reflexão para dizer que os movimentos de rua sem capacidade de organização tendem a ser esvaziados pelos poderes constituídos na base de concessões objetivas. Alguns prefeitos e governadores já aceitam reduzir as tarifas de ônibus. Outros benefícios virão. Aí será testado o grau de indignação real de quem hoje ocupa as ruas do país.

Fonte: Folha de S. Paulo

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