segunda-feira, 17 de junho de 2013

Vaias a Dilma fazem Planalto mudar estratégia

A repercussão negativa dos apupos de torcedores Leva o governo a tomar cuidado com a exposição da presidente e a rever as prioridades. Políticos e especialistas divergem sobre o impacto da hostilidade.

Cautela na avaliação das vaias

Reação da torcida reflete, em parte, a insatisfação de uma parcela da população, mas não garante trunfos para 2014

"Para quem vaiou, o governo não demonstra bom desempenho. Mas é cedo para falar em eleições"
Ricardo Caldas, cientista político

"Não vejo significado político especial, mas ninguém deve fazer discurso em estádio de futebol"
Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP), senador

As vaias no Mané Garrincha à presidente Dilma Rousseff inflaram ainda mais o discurso oposicionista. Do lado governista, o episódio foi encarado com cautela e como indicador de que é preciso tomar cuidado para evitar tropeços nas urnas daqui a um ano. Na oposição e entre cientistas políticos, a maioria das análises também vai no caminho da prudência, mas há quem tire conclusões definitivas sobre o nível de insatisfação com o governo e suas consequências em 2014.

"Esse fato específico tem que ser analisado com dimensão especial. Ele mostra que, realmente, os erros do governo passaram a ser percebidos pela população. Foi um sinal de reprovação. Com os problemas se avolumando, a inflação e o risco de redução da taxa de emprego, o resultado será explosivo", previu o líder do DEM na Câmara dos Deputados, Ronaldo Caiado (GO), para quem a disputa presidencial vai ao segundo turno em 2014, com "chances reais" de Dilma perder.

Em tom similar, o líder do MD na Câmara, Rubens Bueno (PR), disse acreditar que o que ocorreu no último sábado reflete sentimentos de insatisfação e indignação. "As pessoas estão percebendo que o governo tem mais marketing do que ação de políticas (públicas). O que a população sente, ela leva para as urnas", avaliou Bueno, que também aposta em um desgaste da candidata do PT até 2014.

Mais ponderado, o líder do PSDB no Senado, Aloysio Nunes Ferreira (SP), preferiu seguir a linha rodriguiana. Um dia após o constrangimento de Dilma na abertura da Copa das Confederações, o tucano relembrou episódio da adolescência, quando, ao distribuir panfletos com críticas à ditadura em um estádio de futebol, foi recebido com chuva de pipoca e gritos de "Cai fora, comuna". "Como disse Nelson Rodrigues, em campo se vaia até minuto de silêncio. Não vejo significado político especial nem relação com 2014. Nós políticos não estamos com esta bola toda. A lição que se tira é que ninguém deve fazer discurso em estádio de futebol", brincou.

Também adepto da escola do jornalista e escritor brasileiro, o cientista político do Instituto de Ensino e Pesquisa (Insper) de São Paulo Carlos Mello defende que é preciso relativizar as vaias a Dilma. "O governo passa por um mau momento, isso é inegável. Houve uma queda na popularidade de Dilma, que ainda é alta, e uma semana de protestos. Eu não diria que a vaia pode significar qualquer tipo de indicador da chancela dela em 2014. A única conclusão objetiva que se tira disso é que é tradição das torcidas de futebol vaiar representantes, em particular quando estão em mau momento", disse.

Cientista político da Universidade de Brasília (UnB), Ricardo Caldas entende as vaias como reflexo da frustração de expectativas da sociedade. Mas pondera a respeito de possíveis conclusões sobre 2014. "A inflação está voltando, o prometido crescimento econômico não vem, a produção industrial caiu e a taxa de desemprego, que se mantém boa, vai piorar em algum momento. Para quem vaiou, o governo não está demonstrando um bom desempenho. Mas ainda é cedo para se falar nas eleições", disse.

Fonte: Correio Braziliense

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