quarta-feira, 10 de julho de 2013

FMI vê expansão menor do PIB brasileiro em 2013

Projeção de crescimento para o País foi reduzida de 3% para 2,5%, um recuo mais forte do que a revisão feita para a economia global

Denise Chrispim Marin

WASHINGTON - O Fundo Monetário Internacional (FMI) reduziu suas projeções de crescimento da economia do Brasil neste ano para 2,5% e, em 2014, para 3,2%. Os recuos - de 0,5 e 0,8 ponto percentual - foram mais profundos do que os estimados para o conjunto da economia mundial e devem ser combatidos, segundo a instituição, com estímulos ao investimento em infraestrutura e ao aumento da capacidade produtiva. A adoção de mais incentivos monetários, advertiu o Fundo, seria um caminho equivocado.

""Usar estímulos monetários adicionais seria errado", afirmou Thomas Helbling, chefe da Divisão de Estudos Econômicos Mundiais do FMI, durante a divulgação das novas projeções da instituição para 2013, e 2014. O documento foi intitulado Dores do Crescimento. "O crucial é tomar medidas para estimular o Produto Interno Bruto (PIB) potencial, como as Parcerias Público-Privadas no setor de infraestrutura", recomendou.

Na avaliação do FMI, a economia brasileira não está se valendo de todos os seus recursos de capital e de mão de obra. Ou seja, o PIB real está abaixo do PIB potencial Para aproximar essas duas curvas, o governo brasileiro concedeu incentivos fiscais a setores escolhidos e adotou medidas de estímulo à oferta de crédito.

O Banco Central reduziu a gradualmente a taxa básica de juros (Selic) até outubro do ano passado, quando atingiu 7,25% ao ano. Como resposta à inflação, a Selic foi mantida nesse nível até abril, quando aumentou para 7,5%. Desde maio, está em 8,0% ao ano.

Os instrumentos monetários, indicou o FMI, não devem mais ser usados para estimular a economia. Na área fiscal, indicou o Fundo, os instrumentos estariam igualmente esgotados. A queda do superávit primário das contas públicas é uma realidade, dados os benefícios tributários adicionais concedidos pelo governo e o recuo da arrecadação por causa da expansão mais fraca da economia. Helbling avisou que o resultado fiscal menor pode ser tolerado se não houver descompromisso do governo com a meta no futuro.

"Houve algum afrouxamento (fiscal) no passado, com reduções de impostos, e a expectativa é de um superávit (primário) um pouco abaixo neste ano também. Isso parece correto, desde que volte a subir depois."

Investimentos. Para o Fundo, claramente faltaram medidas governamentais de estímulo aos investimentos - tanto em infraestrutura quanto na expansão da capacidade produtiva do Brasil para médio e longo prazos.

O economista-chefe da instituição, Olivier Blanchard, alertou que a taxa de investimento baixa demais no Brasil causará problemas tanto na demanda, em curto prazo, quando na oferta, em médio prazo. Neste momento, é o principal fator limitador do crescimento da economia, que se expandirá a taxas bem abaixo das registradas há uma década.

Em abril, quando apresentou suas previsões para 2013 e 2014, o FMI previa crescimento de 3,0% para o Brasil neste ano e de 4,0%, para o próximo. As novas estimativas, comentou Helbling, não consideram o impacto das recentes manifestações populares no País sobre a economia real.

A média das avaliações do mercado, colhidas pelo Banco Central no relatório Focus de 5 de julho, trouxe uma expectativa pior para o desempenho da economia brasileira, Para este ano, crescimento de 2,34%, Para 2014, de 2,8%.

Os recuos nas projeções ao Fundo para o Brasil em 2013 e 2014 mostraram-se mais pesados do que para a economia mundial. Em abril, a estimativa era de crescimento global de 3,1%, neste ano, e de 4,0%, em 2014, puxada principalmente pelo desempenho das economias emergentes.
Passados três meses, o FMI reduziu em 0,2 ponto porcentual ambas as projeções, agora de 3,1% e de 3,8%.

Em um mea culpa, o documento Dores do Crescimento disse que, em abril, foi subestimada a recessão na Europa. Naquela ocasião, o banco central americano não sinalizava ainda com a redução gradual de seu afrouxo monetário. Nem o Bric (Brasil, Rússia, China e índia) indicava lentidão maior na expansão de suas economias.

Cenário negativo. As novas projeções, advertiu a instituição, podem piorar neste ano. Uma forte reversão do afrouxo monetário americano, por decisão do Federal Reserve, pode reverter maciçamente os fluxos de capitais de economias emergentes para os Estados Unidos. Os emergentes, observou Blanchard, devem se preparar para esse cenário. A preservação dos cortes draconianos nos gastos públicos dos EUA, a ser decidido no finai deste mês, agravaria a situação. O maior risco, entretanto, seria o esfriamento chinês.

"Depois de anos de forte crescimento, os Bric comecaram a correr em lombadas", resumiu Blanchard, para agregar sua preocupação com o fato de a inflação não ter caído, mesmo com crescimento mais baixo. "Isso tem uma implicação importante: o crescimento nos mercados emergentes continuará alto, mas substancialmente mais baixo do que antes da crise."

Para a China, o FMI puxou sua estimativa de crescimento neste ano de 8,1% para 7,8%. Para 2014, de 8,3% para 7,7%. A zona do euro terá uma queda no PIB de 0,6% neste ano, mas tende a dar uma pequena guinada e registrar crescimento de 0,9% no ano que vem. O Fundo puxou sua projeção para os Estados Unidos de 1,3% para 1,2%, neste ano. O recuo foi de 0,2 pontos na estimativa para 20L4, agora de 2,1%.

O Japão foi um raro caso de melhoria nas projeções, resultado das políticas adotadas pelo primeiro-minístto Shinzo Abe. Para este ano, a estimativa subiu de 1,5% para 2,0%. Mas, para 2014, recuou de 1,5% para 1,2%. O país, segundo o FMI, pode sofrer fuga de investimentos se as reformas estruturais prometidas não se tomarem realidade.

PRESTE ATENÇÃO

1. A revisão para baixo do crescimento da economia brasileira foi mais forte do que a feita para o conjunto da economia mundial. Segundo o FMI, a economia não está se valendo de todos os recursos de capital e mão de obra.

2. O Fundo alerta que o País não deve usar instrumentos monetários para estimular a economia. E mesmo na área fiscal, esses métodos já estariam esgotados.

3. O organismo internacional aponta que faltam medidas do governo brasileiro de estímulo aos investimentos tanto em infraestrutura quanto na expansão da capacidade produtiva do Brasil para médio e longo prazos.

Fonte: O Estado de S. Paulo

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