terça-feira, 6 de agosto de 2013

A metafísica da juventude nas ruas – Michel Zaidan Filho

Curiosa a frase de Dilma sobre o fim das manifestações de rua no Brasil. Segundo a Presidenta da República, que em outros momentos chegou a demonstrar mais respeito e preocupação com estas manifestações, o povo brasileiro não sabe protestar. E que ela e sua equipe já previam o fim dessas manifestações de rua. Então todas as aquelas promessas e declarações, feitas no calor da hora, eram só um mero jogo de cena, enquanto se realizava o espetáculo dlúdico-político das manifestações? - Bastava substituir através da mídia a transmissão de um show por outro, agora a da visita do papa "pop"?

É por essas e outras que não dá para esperar muita coisas dos chamados "poderes constituídos". Eles estão mais preocupados consigo mesmo. Com suas imagens públicas, seu nível de aprovação popular. Estão raciocinando segundo a lógica da sociedade do espetáculo: enquanto as câmeras de TVs retiverem a imagem dos manifestantes, há de se fazer alguma coisa. Depois, ninguém vai mais se lembrar de nada. É aí onde se enganam os ilustres poderes. Os compromissos públicos, acertados com a opinião pública, através das câmeras de TVs, por si só constituem um estímulo e o reforço para mais reivindicação, mais cobrança e, possivelmente, mais frustração política, cujo efeito é diretamente eleitoral, nas próximas eleições. Não entendem os ilustres parlamentares (e a chefe do Executivo) que se tornaram devedores públicos dos movimentos sociais? Que assinaram uma duplicata que todos os dias aumenta de valo r, diante do descalabro dos serviços públicos nas grandes cidades brasileiras?

Tome-se, como exemplo, o caso do Recife. Até os tubarões estão rindo à toa do descaso, da inoperância ou displicência do governo estadual com a segurança de banhistas e visitantes. Até o barco de pesquisas do O cenário, estava sem navegar, por falta de recursos públicos! O único pernambucano que acha a administração pública do estado "ótima" ou "boa" é o governador, que, neste quesito, se comporta como Nietzsche: "eu sou o bom", "eu sou o melhor", "eu sou o gênio" etc. Vive no mundo das falsas propagandas e acredita na ilusão que elas tentam vender aos cidadãos-consumidores. Não se trata ele no Hospital Miguel Arraes. Não passeia ele nas avenidas esburacadas e atravancadas do Recife. Não anda nas calçadas impossíveis da cidade: nem se submete ele e seus filhos à educação tecnológica de alta qualidades das escolas públicas do estado.

Devia fazer como o "superhomem" do filósofo alemão: subir a montanha, se isolar da população e se declarar a pessoa mais sábia e feliz do mundo. Afinal, como disse sua colega e aliada federal, o povo não sabe o que quer; não sabe o que é bom para si. Distribua-se um "tablet", um "bônus" de 700,00 e lhe proporcione os partidas de futebol, e está tudo muito bom. Não há de que se queixar.
Enganam-se uns e outros. Esperem para ver "quando o carnaval chegar", como diz Chico Buarque de Holanda.

Sociólogo e professor da Universidade Federal de Pernambuco

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