sexta-feira, 23 de agosto de 2013

Médicos cubanos: Governo diverge sobre salários

Secretário do Ministério da Saúde diz que médicos receberão o mesmo que em Cuba, mas ministro garante que remuneração é maior.

Governo não se entende sobre salário de cubanos

Ministro e secretário dão declarações divergentes; verba será repassada ao governo de Cuba, que fará os pagamentos

SÃO PAULO e BRASÍLIA - O governo deu ontem informações divergentes sobre o salário que os médicos cubanos vão receber para trabalhar no Brasil pelo programa Mais Médicos. Pela manhã, o secretário de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde, Jarbas Barbosa, disse que os médicos cubanos deverão ganhar o mesmo valor que recebem em Cuba. Médicos cubanos ouvidos pelo GLOBO disseram receber o equivalente a US$ 27 (R$ 60) na ilha.

Mas à noite, em entrevista ao "Jornal Nacional", o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, disse que os cubanos terão um padrão de remuneração superior ao que têm no próprio país.

- Posso te afirmar, ele (o cubano) terá um padrão de remuneração aqui no Brasil, para além do que pode receber na sua família, que é superior aos enfermeiros, aos técnicos de enfermagem, a agentes comunitários de saúde com quem esses médicos vão trabalhar - disse Padilha.

O salário de um profissional de enfermagem na rede pública do SUS pode chegar a R$ 3 mil. Embora o Mais Médicos vá pagar uma bolsa de R$ 10 mil mensais aos profissionais, no caso dos cubanos o salário é repassado ao governo da ilha, que se encarrega de pagar seus médicos.

Segundo Barbosa, 74% dos cubanos deverão trabalhar nas regiões Norte e Nordeste, em locais que não foram escolhidos nem pelos médicos do Mais Médicos.

- Em relação aos cubanos, é um acordo bilateral que o Brasil está procurando fazer com outros ministérios da Saúde, intermediado pela Organização Pan-Americana de Saúde. O governo brasileiro repassa o recurso para a Organização Pan-Americana, que destina ao Ministério da Saúde (de Cuba), que é quem paga os cubanos. Eles vão receber o mesmo valor que recebem em Cuba - disse o secretário, acrescentando não saber o salário pago.

Barbosa negou que os médicos estrangeiros venham trabalhar em regime de semiescravidão.

- Esses médicos estão vindo voluntariamente e receberão R$ 10 mil livres de qualquer imposto, terão a previdência paga pelo ministério e alimentação e moradia paga pelo município. Dificilmente isso se assemelha à escravidão - disse Barbosa, alegando que há 30 mil cubanos trabalhando em outros países.

O ministro das Relações Exteriores, Antonio Patriota, teve que rebater críticas da oposição. Na Comissão de Relações Exteriores da Câmara, o deputado Luiz Henrique Mandetta (DEM-MS) acusou o governo de, a exemplo da Venezuela, promover um escambo de médicos cubanos por investimentos brasileiros no Porto de Mariel, em Cuba.

- Não existe escambo, nem jamais passou pela cabeça de qualquer membro do governo a ideia de escambo por acesso a investimentos. São iniciativas que obedecem a lógicas distintas. A atração de médicos para o Brasil tem a ver com uma carência de médicos para regiões carentes, e alias é uma prática a que muitos países recorrem - disse Patriota, ressaltando que não há viés ideológico na escolha.

Os primeiros 400 médicos podem vir de Cuba em aviões da FAB. A chegada está prevista para este fim de semana.

Fonte: O Globo

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